SOUSA, Construtores de Brasília

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Pedro Jacobi

Professor na EAESP/FGC e na PUC/SP. Pesquisador no Cedec

SOUSA, Nair Heloísa Bicalho. Construtores de Brasília. Petrópolis, Vozes, 1983. 195 p.

Num país pouco dado a recuperar sua história, e muito menos a dos seus protagonistas subalternos, este livro certamente nos permite ampliar o nosso horizonte de percepção em torno do cotidiano de vida dos trabalhadores urbanos brasileiros.

O tema dos operários da construção civil tem sido muito pouco estudado, salvo algumas exceções, como é o caso do trabalho de Lícia Valladares sobre os quebra-quebras da construção civil do metrô do Rio de Janeiro, onde a autora constata a emergência de uma consciência nos operários sobre a sua potencialidade enquanto protagonistas capazes de reivindicar e mobilizar-se coletivamente.¹

Este livro de Nair Bicalho representa, portanto, uma excelente oportunidade de se compreender de que forma se dá o processo de formação da consciência de classe dos operários da construção civil em Brasília, permitindo recuperar a história das condições de vida e de trabalho deste setor de classe que tem representado e ainda representa parcela significativa do total da força de trabalho da capital da República. Porém a autora transcende em muito as nossas expectativas, na medida em que o livro nos apresenta, através do discurso, as representações dos operários sobre o seu trabalho diário, assim como da sua participação no processo produtivo nos diferentes períodos, mostrando como, apesar de estarem restritos aos canteiros das obras, têm uma nítida percepção das contradições que permeiam as relações de trabalho e o grau de exploração cotidiano da sua força de trabalho.

Construtores de Brasília também nos introduz o tema da participação político-sindical na década de 60; através da fala do operário, a autora consegue discutir este tema, trazendo a sugestiva possibilidade intelectual de recuperar a epopéia da construção da nova capital. Pela voz daqueles que, distantes da sua opulência e megalomania, concentrados nos distantes redutos de pobreza que constituem as cidades satélites, vemos que as condições de exploração e de miséria dos setores menos privilegiados da classe trabalhadora se reproduzem igualmente em todas as metrópoles brasileiras.

Este livro traz, portanto, uma contribuição importante para a reconstituição da história urbana brasileira, sobre a qual tanto se tem falado da perspectiva das elites dominantes, mas muito pouco da das classes populares.

1

In :

Cidade, povo e poder. Vários autores. São Pauto, Cedec/Paz e Terra. 1982.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Jun 2013
• Data do Fascículo
  Jun 1984