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Administração de materiais: uma abordagem logística

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt Ernst Weil

Dias, Marco Aurélio Pereira. Administração de materiais: uma abordagem logística. São Paulo, Atlas, 1983. Brochura, ilustrado, sumário. 532 p.

O livro que no mercado nacional mais se aproxima deste é o de José Carlos Fernandes, Administração de material, um enfoque sistemático, de 1981. Não há livro traduzido que possa cobrir os mesmos vastos assuntos da obra de Marco Aurélio Pereira Dias. Portanto, estamos frente a uma obra que não tem concorrência, e para a qual, só por este motivo, deve estar assegurado sucesso comercial.

Diversos fatos positivos caracterizam esta obra:

1. Cobre toda área para um curso de 60 a 90 horas/aula de administração de material e de logística.

2. Tem inúmeros exemplos práticos resolvidos e no fim do capítulo apresenta questões e exercícios não resolvidos.

3. Evita, a não ser em pouquíssimos casos, problemas que exigem conhecimentos matemáticos superiores ao nível colegial.

4. A impressão é boa, clara e as figuras são abundantes, quando necessárias (não há figuras e fotos desnecessárias para encher páginas).

5. Tratando-se de uma obra de logística resume com desembaraço a inter-relação entre administração de material, finanças, vendas, distribuição etc. Isso era de se esperar pelos títulos do autor, economia com pós-graduação em engenharia econômica e especialização em administração de empresas.

O livro tem sete grandes capítulos, alguns com a extensão suficiente para se transformar em livros. São os seguintes:

Capítulo I: Introdução

Capítulo II: Dimensionamento e controle de estoques

Capítulo III: Armazenamento de materiais

Capítulo IV: Movimentação de materiais

Capítulo V: Administração de compras

Capítulo VI: Distribuição e transporte

Capítulo VII: Computadores na administração de materiais.

O primeiro grande defeito do livro consiste em não apresentar índice remissivo. Faz falta, quando se procura cobrir, em mais de 500 páginas, tantos assuntos ligados à área. O segundo grande defeito: a bibliografia não é geral e encontra-se no fim de cada capítulo, o que provoca repetição. Por exemplo, a bibliografia do capítulo IV é idêntica linha por linha à do capítulo III. Além disso, não é aconselhável colocar numa bibliografia (repetida duas vezes) "Revista Transporte Moderno, diversos". Na realidade, transita na revista em questão um tal número de dados, explicações etc, que qualquer estudioso da área gostaria de saber onde poderia colher mais dados - e o autor o frustra nessa pesquisa. Como exemplo, dou os Hoverpallets da p. 272, que o autor introduz como pesquisa da Clark e da General Motors, sem citar especificamente na bibliografia ou em nota de rodapé de onde veio a figura 4.32, com três gráficos, que certamente não são de pesquisa original do autor. Além de tudo, na falta de uma fotografia e descrição completa, não sei como a bomba de ar comprimido acompanha a Hoverpallet. Tal como aconteceu no capítulo final com a IBM, o autor deveria ter pedido autorização a Clark ou a General Motors para reproduzir um folheto deles.

Um grande defeito, de um livro de administração de materiais que nunca pode ser criticado é o excesso de matéria existente, que deve ser apresentado. Esta obra fez muitas escolhas, e na opinião do resenhista umas acertadas outras não. Infelizmente, quando a cobertura do assunto é fraca, o autor outra vez não recorre à bibliografia para que o leitor interessado, estudioso ou prático da indústria possa formar seus próprios conhecimentos. Assim, na p. 339 temos o título "Análise de valor". Mas o assunto coberto no capítulo é a engenharia econômica, enquanto a análise de valor fica (mal) apresentada, com lacunas em uma página, e meia. Miles da General Eletric deveria estar na bibliografia, mas não se encontra. Exemplos de value analysis nacionais já são abundantes na indústria automobilística e eletrodoméstica.

Outro exemplo interessante de falha na escolha de quanto aprofundar determinado assunto temos logo no início, p. 43, onde a apresentação da média com ponderação exponencial não é suficientemente profunda, apesar de esta vez Brown encontrar-se na bibliografia (Statistical forecasting). Em seguida, o autor trata do método dos mínimos quadrados. Dada a exiguidade do espaço alocado (posto à disposição), teria sido melhor colocar uma boa referência bibliográfica e - por que não - em 1983, uma referência a programas de software existentes para o TI 58 e 59, ou para as HP de bolso, que realizam hoje todo cálculo para a previsão estatística.

O que especialmente caracteriza o livro é que ele é moderno. Assim, na p. 116 encontramos o M.R.P. (Materials Requirement Planning) que, como acontece em nove entre 10 tradutores, cai no absurdo do português "Planejamento dos requerimentos de materiais". Requirement é "necessidade". O autor, dá um excelente quadro do sistema de informação do M.R.P. bem como um exemplo prático. Como acontece em todo livro, o artigo completo publicado há alguns anos na revista Exame sobre o M.R.P., traduzido da Harvard Business Review, não consta da bibliografia. Mas ao menos estamos em presença de alguém que colocou esse tópico muito moderno no seu livro. '*

Além de ser moderno, o livro é completo. Até menciona o uso da teoria de filas (com um exemplo e um caso) na distribuição. Portanto, a administração de material, neste caso, com a logística dirigindo, nos mostra a redução de custos no enchimento de peruas de sorvete. Uma menção especial deve ser feita ao último capítulo, cuja utilidade é extraordinária. O autor conseguiu autorização para reproduzir um volume da IBM-G51-0039, Visão Global, COPICS, e assim termina num nível de informação de produtor de hardware e software (IBM) o livro de logística. O estilo destoa algo do conteúdo do livro. Mas o que falta são observações críticas sobre o uso desse sistema. O resenhista conhece uma série de outros sistemas software, tais como o IMPACT da IBM, que tem 10 anos a mais do que o COPICS, todos com vantagens e desvantagens. Como todos eles se baseiam num fato que falta ao livro - a saber a separação, ou melhor, a tentativa de isolamento, dos fatores que influem na demanda: o fator sazonal, o fator tendência do mercado, o fator grande ciclo econômico e o fator aleatório - talvez o leitor menos avisado precise de senso crítico para se defender de uma superespecialização computadorizada de seu planejamento de materiais. Mas o sistema é capaz de resolver os problemas de compras em 70 a 80% dos casos. Não funciona para a demanda diária de algum produto, mas para a média da demanda. Conhecidas as limitações, o uso será melhor e mais útil com satisfação do freguês (da IBM).

Tenho um reparo para o dado da p. 49 sobre como calcular o custo de manter estoque, a taxa de armazenagem. Num tempo de inflação, no qual a mercadoria que está em estoque se valoriza passo a passo com a inflação, o custo de juros não deve incluir a taxa inflacionária, mas somente o custo real do dinheiro. Então temos juro pedido menos taxa de inflação = juro efetivo (ou real). Isso precisa ser esclarecido. O livro expõe (p. 49): "Comparando a estrutura de custo, percebe-se, claramente, o efeito da inflação sobre a taxa de juros e sobre o efeito (sic?) no custo de armazenagem. Por esta razão, é necessário reduzir ao máximo (sic?) o volume de estoque. É lógico que isto não pode alterar o nível de produção da empresa."

Infelizmente, devemos evitar generalizações - elas são tão cômodas. Em 1980, o governo, numa administração por objetivos, que também foi usada em 1973, fixou a taxa de inflação no início do ano em 45%. O resultado final do ano (100%) mostrou que o empresário deveria ter trabalhado o ano todo com o máximo de estoque, já que este se valorizava na razão de 6% ao mês, enquanto o dinheiro no banco, mesmo com correção monetária de 45% não custava mais de 3 a 4%. A fórmula do lote econômico, neste ano bissexto, tornou-se uma raiz imaginária, já que o juro (custo do estoque) era negativo.

Também, quando não se quer ter estoque, muda todo o perfil de planejamento da produção, a fábrica trabalhará somente sob a encomenda, o que afeta o nível de produção da empresa.

Finalmente, na página citada, o Prof. Marco Aurélio coloca 4% de seguros no custo de armazenagem e 5% de obsolescência. O custo de seguro da mão-de-obra do almoxarifado está incluído em encargos sociais do custo de estocagem, restando somente a taxa relativa ao armazém (depósito) e o conteúdo. Essa taxa regula, respectivamente, na maioria dos casos, em 0,40% e 0,50% ao ano, o último sobre o conteúdo do prédio, o que seriam compras totais do ano dividido pelo giro, e produtos também divididos pelo giro. O valor raramente ultrapassa 0,2% por cruzeiro comprado e estocado por ano.

Quanto à obsolescência (e, eventualmente, deterioração, que falta no livro) 5% é exagerado, a não ser em magazines de moda, butiques, e certos produtos eletrônicos. Taxas de 0,5% de deterioração de 0,5% de obsolescência são mais comuns. Mas trata-se de detalhes. O que surpreende é que o autor tratou de tantos assuntos, inclusive localização de empresas dessa vez com bibliografia adequada), métodos de movimentação e de estocagem física etc.

O que realmente é importante num curso de administração de material nas nossas escolas de administração pública e de empresas? Cada professor dá a ênfase que acredita ser a melhor para o desenvolvimento do aluno. Assim, o livro presente pode ser recomendado para cursos de graduação e o aluno não ficará decepcionado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1983
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