RESENHA BIBLIOGRÁFICA
From Ceasar to the mafia
Manoel Tosta Berlinck
From Ceasar to the mafia
Por Luigi Borzini. Nova York, Bantarm Books, Inc., 1972, 369 p.
Este é o segundo livro que Barzíni escreve sobre a Itália. No primeiro - Os italianos - o autor realiza uma incursão sobre o "caráter nacional", assunto que constitui um dos interesses centrais da psicologia social norte-americana, mas que nunca adquiriu status científico. Neste livro, Barzini continua a sua incursão.
A noção de caráter nacional está para a psicologia social assim como as bruxas estão para os espanhóis: "yo no lo creo, pero que las hay, las hay". Por isso, com algumas raras exceções, os psicólogos sociais preferem enfrentar a noção de caráter nacional através de alguns "traços de personalidade" que, segundo eles, podem ser medidos e servem para "explicar" estruturas sociais.
Os exemplos mais conhecidos desse tipo de abordagem reducionista são os trabalhos de David C. McClelland e Everett E. Hagen. Ambos procuram "explicar" o subdesenvolvimento a partir da falta de "motivação para a realização" que acreditam existir em sociedades subdesenvolvidas. Outros trabalhos interessantes que utilizam o mesmo tipo de abordagem são o de Roberto Fillol, sobre o caráter nacional argentino e o de Banfield, sobre o italiano do sul. Dante Moreira Leite em seu livro sobre a noção de caráter nacional realizou um trabalho completo de revisão de definições e metodologias mostrando que se trata de assunto controvertido, tanto na psicologia social como na sociologia.
Sabe-se, entretanto, que o poder explicativo desse conceito é inexistente mas a sua tradição weberiana lhe dá uma força teórica muito grande entre os cientistas sociais-liberais.
Barzini não é um cientista social e sim um jornalista e político liberal com evidentes dotes literários, que domina perfeitamente o inglês e que escreve para uma audiência anglo-saxônica. Por isso, ele pode realizar incursões sobre o caráter social italiano e ser best sei ler nos Estados Unidos.
From Ceasar to the Mafia é um conjunto de artigos que o autor publicou em revistas norte-americanas nos últimos três ou quatro anos e é composto de três partes; pessoas, lugares e acontecimentos e problemas.
Quando Barzini escreve sobre pessoas, lugares ou acontecimentos, o jornalista aparece e o seu estilo elegante ajuda-o a produzir trabalhos que o leitor sente grande prazer em ler. Assim, o artigo sobre Curzio Malaparte, com quem conviveu, revela um observador penetrante e um excelente retratista da personalidade alheia. Ou então, quando procura desvendar o "mistério" de Lampedusa acaba por produzir uma interpretação interessante das causas que provocam o aparecimento de um escritor que escreve um único livro e que, no entanto, é uma obra-prima.
O artigo sobre Gramsci é bastante revelador da natureza da ideologia liberal de Barzini. O autor reconstrói um Gramsci idealista, um filósofo que conseguiu estabelecer uma ponte entre o hegelianismo e o marxismo, ou seja, um Gramsci que Barzini gostaria de ser. Não obstante, a admiração e o respeito pelo político italiano transformam o artigo numa análise provocativa e estimulante.
Quando Barzini escreve, entretanto, sobre problemas, a sua ideologia liberal impossibilita uma análise mais penetrante e, por isso, os artigos dessa parte do livro não convencem o leitor mais crítico. Assim, quando discute o problema do Mezzogiorno ou a ineficiência do parlamento italiano consegue, apenas, perceber os aspectos mais superificiais dessas situações. Ele acredita, por exemplo, que a ineficiência do parlamento é causada, em grande parte, pelas instalações físicas precárias onde o parlamento se encontra. Na parte sobre problemas, o artigo mais interessante e o menos superficial é o que se refere às contradições vividas pelo Partido Comunista Italiano.
Enfim, From Ceasar to the Máfia não é um livro que agrada completamente o leitor mais crítico, mas entretém, diverte, estimula e informa o leitor. E o que mais deve-se querer de um livro?
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
14 Maio 2015 -
Data do Fascículo
Dez 1972