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The end of a tradition: culture change and development in the município of Cunha, São Paulo, Brazil

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

The end of a tradition: culture change and development in the município of Cunha, São Paulo, Brazil

Manoel Tosta Berlinck

The end of a tradition: culture change and development in the municipio of Cunha, São Paulo, Brazil

Por Robert W. Shirley. New York, London, Columbia University Press, 1971. 304 p., US$ 10.00.

Cunha foi o local do primeiro estudo de comunidade realizado no Brasil: o de Emílio Willems, Cunha: tradição e transição em uma cultura rural do Brasil (1947); que provocou um notável impacto na vida intelectual paulista - chamou a atenção da intelligentzia urbana para a cultura camponesa existente no estado.

O trabalho de Willems surgiu num momento em que estudos de comunidade começavam a ser considerados importantes e alguns anos depois diversos outros semelhantes, feitos no Brasil, foram publicados por Charles Wagley, Marvin Harris, Donald Pierson e Anthony Leeds. Mas deve-se dizer que a metodologia de estudos de comunidades nunca foi popular entre os cientistas sociais brasileiros que têm preferido uma abordagem mais ampla de estudos de problemas sociais. Apesar disso, diversos brasileiros como, por exemplo, Oracy Nogueira, Fernando Altenfelder Silva, Esdras Borges Costa, Afonso Trujillo Ferrari e Gioconda Mussolini realizaram estudos de comunidade. Não há dúvida, entretanto, de que o documento mais importante sôbre a cultura caipira é de Antonio Cândido: Os parceiros do Rio Bonito: estudo sabre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida (1964)

Os estudos de comunidade, por serem intensamente descritivos, constituem fontes valiosas de informações sôbre a realidade brasileira e servem como instrumentos para análises teóricas. Assim, seria quase impossível realizar-se análise sôbre a estrutura de parentesco, sôbre padrões de comportamento religioso ou de estratificação social sem se referir a êles.

Mas, nesse quadro geral, Cunha constitui uma exceção porque não é só a primeira comunidade brasileira a ser estudada. É, também, a mais estudada comunidade. Depois de Willems, Pierre Monbeig, Carlos Borges Schmidt, Alceu Maynard de Araujo e Mario Wagner Vieira da Cunha escreveram sôbre ela. E agora, surge o trabalho de Shirley.

The end of a tradition é resultado de pesquisa realizada em 1965 e foi apresentado originalmente como tese de doutorado junto ao Departamento de Antropologia da Columbia University.

O autor descreve as transformações acontecidas em Cunha como resultado do processo de industrialização de São Paulo. Assim, o livro não é uma réplica do estudo de Willems, mas utiliza-se dele para analisar as mudanças socioeconómicas ocorridas em Cunha entre 1947 e 1965. E quais foram elas? A primeira e mais evidente dá-se ao nível da economia. Há uma grande divisão da terra devido às leis de herança do Brasil e uma grande expansão do emprêgo urbano. Além disso, a economia de Cunha, que era basicamente isolada e auto-suficiente, passa a integrar-se no mercado regional do vale do Paraíba e da região metropolitana de São Paulo. A segunda grande transformação de Cunha é no seu sistema de estratificação social. A elite cunhense era agrária e local. Hoje, a mesma elite é urbana e origina-se de fora da cidade. Essa modificação deve-se à expansão das funções do estado, que implanta em Cunha uma burocracia moderna. Como resultado disso, as autoridades locais deixaram de ser dependentes dos fazendeiros e êstes perderam poder.

A tese central defendida por Shirley é, portanto, a de que o processo de industrialização de uma sociedade agrária provoca a urbanização e a integração de comunidades isoladas em uma rede urbana mais ampla, ao mosmo tempo que o sistema de estratificação ao nível local sofre um processo de diferenciação e especificação funcional.

A grande dificuldade em pesquisas de tal natureza é o de se saber se as transformações específicas que existem na comunidade são generalizáveis para o resto do País ou se são, apenas, fenômenos locais. Além disso, um estudo de comunidade como o de Shirley não permite inferências sôbre a velocidade e a intensidade das mudanças socioeconómicas. É até mesmo possível que Cunha não seja uma "comunidade típica" do estado de São Paulo, pois localiza-se em região social e economicamente periférica.

Mas, apesar dessas dificuldades metodológicas, o livro de Robert W. Shirley contém hipóteses interessantes sôbre o processo de modernização da sociedade brasileira.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1972
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