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O desemprego

FORUM DE OPINIÕES

O desemprego

"Quero congratular-me com V. S.as pela oportunidade e excelência da cobertura dos problemas da mão-de-obra em São Paulo, abordados no n.º 12 da RAE. Com efeito, o artigo do Prof. Figueiredo, "Rotação de Mão-de-Obra Industrial em São Paulo'', e o do Prof. Rattner, "Um Inquérito Sobre o Desemprègo em São Paulo", refletem um trabalho consciencioso de pesquisa.

"Entretanto, gostaria que V. S.as esclarecessem uma dúvida que me ocorreu durante a leitura dêsses artigos. Ambos apresentam indicações sobre o volume de desemprêgo em São Paulo, mas sob ângulos e segundo orientações inteiramente diversos. Para o Prof. Rattner o nú mero total de desempregados em São Paulo registrado em setembro de 1964 poderia atingir a casa dos 60 000 (pág. 165), enquanto que para o Prof. Figueiredo o desemprêgo friccionai diário em São Paulo no "Período 2" (de 26-4-1961 a 25-4-1962) poderia ser da ordem de 26 670 desempregados (pág. 38). Como se relacionam essas estimativas?"

Campinas, SP

LUPERCIO GOMES DA COSTA

Resposta:

Os trabalhos mencionados pelo Sr. Gomes da Costa constituem tentativas de estimar o volume de desemprêgo em São Paulo, assunto em que a escassez de estatísticas oficiais é alarmante.

Além de serem diferentes os períodos a que se referem as duas pesquisas (1964 e 1961-1962), devemos esclarecer que a não-coincidência das estimativas entre si seria jus tificável mesmo que os levantamentos fossem feitos na mesma época, porquanto se valem de fontes diferentes para medir coisas diferentes.

Existem diversos tipos de desemprêgo em qualquer sistema económico: 1) o desemprêgo demográfico causado por un excessivo crescimento populacional em relação às ofertas de emprego que a economia proporciona; 2) o desemprego tecnológico, causado pela automação da indústria e conseqüente liberação de mão-de-obra; 3) o desemprêgo migratório, causado por um influxo excessivo da mão-de-obra de outras regiões em determinado mercado de trabalho; 4) o desemprêgo "disfarçado", que se reflete no emprêgo excessivo de mão-de-obra em certos setores da ecomomia; 5) o desemprêgo conjuntural, ocasionado pela reação das atividades econômicas e conseqüente dispensa de mão-de-obra com diminuição das ofertas de emprêgo; 6) o desemprêgo "friccional", causado pela incidência excessiva de dispensas e admissões de empregados, devida, em parte, a fatôres externos da economia e, em parte, a fatôres internos da organização das emprêsas; 7) o desemprêgo "voluntário", de pessoas que estão no processo de escolha de novos empregos e, voluntariamente, ficam deso cupadas durante certo período.

O artigo "Inquérito sôbre o Desemprêgo em São Paulo" procurou medir, particularmente, a extensão do desemprêgo conjuntural, refletido na retração da mão-de-obra industrial empregada pelas emprêsas, segundo os levantamentos do SENAI. O artigo "Rotação da Mão-de-Obra Industrial em São Paulo" tentou dimensionar o problema do desemprêgo friccionai no mercado de trabalho paulista, segundo dados colhidos das "relações-de-dois-terços" de 1961-62. É evidente que fatôres tecnológicos também influenciam os dados do SENAI, assim como ê óbvio que fatôres conjunturais exercem influência sôbre o volume de dispensas de empregados, o que dificulta, sobremaneira, a conciliação dos números e a estimativa global do desemprêgo, como seria desejável. É importante ressaltar, ainda, o fato de que um dos artigos procurou registrar a diminuição das ofertas de emprêgo na indústria de São Paulo, enquanto que o outro tentou estimar o número de pessoas desempregadas por dia em determinada época, tratando-se, portanto, de tipos bastante distintos de abordagem.

Admitimos que os dados disponíveis no Brasil são ainda insuficientes para que se possa aferir as verdadeiras dimensões do fenômeno do desemprêgo entre nós. Acreditamos que o processo de avaliação do desemprêgo é o adotado pelo instituto censitário do govêrno norte-americano, que, através de questionários preenchidos mensalmente junto a uma amostra da população urbana e rural, consegue estimativas globais de desemprêgo por sexo, idade, ramo de atividade, região e ocupação. A Secretaria do Trabalho e o Departamento de Estatística do Estado de São Paulo já realizaram, utilizando essa técnica, pesquisas exploratórias no Município de São Paulo, e só podemos desejar que as autoridades dêem todo o seu apoio a iniciativas como essa, que tendem a preencher uma lacuna na nossa estrutura estatística.

São Paulo, SP

ORLANDO FIGUEIREDO

HENRICH RATTNER

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1964
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