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Administração por objetivos - o método 3-D

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Norbeho A . Torres

Administração por objetivos - o método 3-D

Por W. J. Reddin. 1. ed, em português. Do original Effective management by objectives -The 3-D Method of MBO. Tradução H. de Barros. Atlas, 1978. 256p.

Introdução - O Prof. William J. Reddin, do Departamento de Administração da Universidade de New Brunswick, Canadá, especialista em teoria das organizações e em mudança organizacional, é amplamente conhecido nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha, através dos seus.trabalhos como agente de mudanças em diversas organizações, tendo como base de sua atividade a sua teoria 3-D, que pela primeira vez incorporou aos estudos de comportamento e de estilo da figura central do líder uma nova dimensão que é a eficácia gerencial. Todos os modelos anteriores cuidavam do binômio produção/relações humanas, deixando de incluir qualquer critério de eficácia como característica primordial do desempenho gerencial.

Pode-se dizer que o trabalho do Prof. Reddin teve uma evolução oposta às demais teorias de administração por objetivos; como especialista em estudos do comportamento, ele procurou estruturar toda a teoria' de administração de uma organização nas relações entre chefe e subordinado, e essas relações são, na realidade, toda a base de seu trabalho, tendo como ponto central a eficácia gerencial.

A obra que aqui sintetizamos, apesar de suas falhas em termos de texto em português, devido a um tradução um pouco descuidada, apresenta-se como um dos melhores trabalhos em termos de APO, dando uma nova visão da administração das organizações. Caracteriza-se, também, pelo alto grau de aplicabilidade e praticidade, já que o autor deixa de lado todas as considerações teóricas a respeito do assunto, apresentando somente os conceitos que sejam de importância para o uso do método. Além disso, todo o traba lho baseia-se em casos reais e vivi dos' pelo autor, o que confere à obra muita riqueza de situações.

O trabalho divide-se, a nosso ver, em duas grandes partes: uma conceituai, na qual são apresenta das as bases do método, e uma se gunda parte que orienta a sua im plerríentação.

A administração por objetivos e o método 3-D -A APO teve um grande desenvolvimento a partir da década de 50, com os trabalhos de Peter F. Drucker, mais tarde com George Odióme e John Humble, entre outros. Atualmente, vem sendo utilizada em todo o mundo, nas maiores empresas.

Humble assim define a APO: "Um sistema dinâmico que integra as necessidades da empresa de atingir seus objetivos de lucro e de crescimento com a necessidade do gerente de contribuir e desenvolver-se. Ê um estilo exigente e compensador de se dirigir uma empresa". Esta definição volta-se, de modo essencial, para o planejamento empresarial.

Já a definição de Odiorne assim se apresenta: "(...) o superior e os gerentes subordinados de uma empresa, conjuntamente, definem seus objetivos comuns, definem as áreas mais importantes de responsabilidade de cada indivíduo, em termos dos resultados que dele são esperados, e utilizam essas medidas como guias para operar a unidade e avaliar a contribuição de cada um de seus membros". Notase, nesta definição, a ênfase que seu autor coloca na relação entre gerente e subordinados.

O autor do livro aqui analisado utiliza-se de conceitos mais próximos dos apresentados por Odiorne e apresenta sua definição de APO como sendo "O estabelecimento de áreas de eficácia para as posições gerenciais com as suas conversões periódicas em objetivos mensuráveis, limitados no tempo, unidos vertical e horizontalmente, e segundo um planejamento futuro". A, essência do método 3-D reside, portanto, na definição das áreas de eficácia para cada posição gerencial, e no conseqüente estabelecimento de objetivos, que devem ser quantificados ou mensuráveis. Na sua definição, o autor não coloca as relações chefe/subordinado, mas estas constituem toda a base para a implementação do método 3-D, como fica bastante claro no decorrer da obra.

Diversas são as definições de APO, e diversos, também, são os enfoques colocados nessas definições.- No entanto, alguns elementos são comuns a quase todas elas:

- objetivos estabelecidos para as posições;

- determinação conjunta de objetivos;

- associação de objetivos; .

- ênfase na medida e no controle;

- estabelecimento de um sistema de revisão e reciclagem;

- alto envolvimento do superior;

- alto apoio técnico nos estágios iniciais.

Contudo, o autor acrescenta uma nova dimensão a esses elementos, que é a atribuição de áreas de eficácia individuais e de responsabilidade de um único indivíduo em toda a organização; a partir das áreas de eficácia, são determinados os critérios ou métodos de medição e, posteriormente, definidos os objetivos para cada posição, por meio de um estreito relacionamento superior/subordinados; aliás, este relacionamento, como já foi dito, é a base para a operacionalização do método.

Aspectos centrais do método 3-D

- Os aspectos mais importantes utilizados pelo autor em sua teoria são os seguintes:

- eficácia gerencial;

- ênfase total nos resultados;

- separação clara entre os resultados de uma função e os insumos por ela utilizados. A APO eficaz não se preocupa com a administração dos insumos, mas sim com os resultados esperados para uma determinada posição;

- ênfase nas relações entre superior e subordinados;

- implementação por equipe, através dos conceitos de áreas de eficácia de unidades e da posterior atribuição de áreas de eficácia para cada posição.

Os três tipos de eficácia - O autor classifica o conceito de eficácia em três tipos, totalmente distintos: 1. Eficácia gerencial; não é um aspecto da personalidade do gerente; não é algo que o gerente possui; representa produto e não insumo; não é tanto o que o gerente faz, mas sim o que alcança.

Em síntese, a eficácia gerencial representa o nível em que o gerente alcança resultados efetivos e esperados para sua posição.

2. Eficácia aparente: expressões como "geralmente pontual", "respostas imediatas", "toma decisões rápidas", "tem boa redação", "bom em relações públicas", "cumpriu suas tarefas", entre outras, ilustram o conceito de eficácia aparente. A eficácia aparente relaciona-se muito com o conceito simples de eficiência; um gerente poderá ser 100% eficiente naquilo que faz, mas 0% eficaz, em termos dos resultados que sua posição deveria produzir.

Eficácia pessoal: refere-se, simplesmente, à satisfação de objetivos pessoais, acima dos objetivos da empresa; isto acontece em especial com homens ambiciosos, em uma empresa na qual as medidas administrativas de resultados sejam poucas e bem definidas.

A base de toda a teoria do método 3-D é a eficácia gerencial.

Áreas de eficácia comuns e específicas - A eficácia gerencial é obtida pplo alcance dos resultados nas áreas de eficácia de cada posição.

As áreas de eficácia podem ser comuns, como por exemplo: subordinados, inovação autodesenvolvimento, sistemas, etc; ou então podem ser específicas a cada posição, como por exemplo: estratégia empresarial (característica da alta direção), custo de vendas (característica de um executivo de marketing), etc.

Quase todas as posições gerenciais têm áreas de eficácia comuns e específicas; eventualmente, uma posição poderá ter somente áreas de eficácia comuns, mas é raro ocorrer isto.

O autor enfatiza o fato de que as áreas de eficácia são características de cada posição numa empresa, e variam de uma empresa para outra e mesmo de uma situação para outra, mostrando, assim, o caráter essencialmente dinâmico da APO eficaz.

Erros comuns na atribuição de áreas de eficácia - Após a definição dos conceitos e a exemplificação das áreas de eficácia, o autor apresenta alguns erros comuns na atribuição das mesmas, quais sejam:

1. Área de recursos: uma área de recursos é uma afirmação incorreta de uma área de eficácia que é baseada em atividades-meio, ou em recursos, ao invés de em resultados ou produtos.

2. Área de preocupação: é uma área que o gerente mostra como sendo sua, porque não espera que outro gerente, a quem realmente pertence a responsabilidade, lide eficazmente com ela sem intervenção.

3. Área de outro: é o caso em que o gerente mostra uma área como sendo sua, e sobre a qual ele não tem nenhum controle; isto é diferente de uma área de preocupação, no sentido de que emerge de uma confusão de onde reside o poder, ao invés de ser produto de uma desconfiança de competência ou interesse.

4. Área não-mensurável: é uma área de eficácia cujo objetivo associado não é mensurável. A medição e controle de objetivos é essencial na APO eficaz; pode ocorrer, no entanto, que o custo de mensuração seja muito elevado, em face dos benefícios que essa mensuração poderá trazer; neste caso, essa área de eficácia deverá provavelmente ser abandonada.

5. Área de tempo: representa uma área em que o gerente gasta grande parte do seu tempo, mas que não é uma área de eficácia, quase sempre refletindo uma fraca estrutura de organização.

Objetivos e medidas de desempenho - Com base nas áreas de eficácia, são determinados métodos de medicação e só então definidos os objetivos a serem alcançados. Um objetivo é um enunciado altamente específico sobre o que deve ser realizado para um método de medicação relacionado a uma área de eficácia; um único método de medição produz um único objetivo.

Os objetivos devem ser mensuráveis, ter o fator tempo associado ao seu alcance, ser quantificados e específicos; objetivos qualitativos geralmente não são necessários; os objetivos devem, além disso, ser centralizados em resultados realistas e atingíveis.

Planejamento - Os objetivos não são atingidos por si só; constituem simples previsões do que vai ocorrer, se nada for feito.

Para que um objetivo seja alcançado, é necessário que sejam planejados os meios para tal; só aqui é que entram as atividadesmeio e os recursos, e o planejamento é de responsabilidade do próprio gerente que deve atingir aqueles objetivos.

Em outras palavras, o planejamento não é função de um órgão ou departamento específico, mas sim de cada posição gerencial; pode, é claro, existir um órgão de assessoramento ao planejamento, mas este é de responsabilidade integral do gerente.

Implementação da APO eticaz

O autor reserva quase metade de sua obra para orientação à implementação bem sucedida da APO. Ele coloca como principais elementos do sucesso da APO os seguintes:

- descongelamento adequado;

- máximo de informação;

- ênfase no grupo;

- ênfase na eficácia;

- ênfase na situação,

- ponto de entrada (início da aplicação) adequado,

- ritmo apropriado de mudança;

- instrumentação e controle;

- ênfase na mudança;

- aceitação do lado humano.

Além da discussão dos aspectos acima, o autor apresenta todo um roteiro de trabalho para a implementação da APO pelo método 3 D.

Conclusão - Esta obra foi, para nós, uma das que mais contribuiu para uma visão cada vez mais clara da administração organizacional. Seu lado prático torna-a um poftencial ilimitado de aplicações. É provável que a empresa que se decida a implantar a APO tenha neste material uma de suas melhores contribuições. uma de suas melhores contribuições.

Além disso, todos os conceitos e exemplos sãc apresentados de forma bastante clara e de fácil leitura, podendo ser utilizados por qualquer gerente ou chefia, com expectativas de ótimos resultados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1979
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