Acessibilidade / Reportar erro

Ritual patropi: algumas considerações em torno da corrente prafrente

ARTIGOS

Ritual patropi: algumas considerações em torno da corrente prafrente

José Paulo Carneiro Vieira

Professor-Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

1. Introdução de praxe

O objetivo é discutir, com a máxima liberdade possível, o futebol brasileiro e os seus mitos. Como é de praxe, sou obrigado a reconhecer que a análise não atinge senão um aspecto parcial e segmentário do tema mais amplo. Assim sendo, o futebol será analisado fundamentalmente do ponto de vista dos que consomem: os torcedores. Os que o praticam, o organizam, o difundem ou o manipulam só serão analisados e discutidos na medida em que seja necessário para o entendimento dos fenômenos que ocorrem ao nível da torcida. O artigo é fruto de muita reflexão, alguma leitura, e informações coletadas de maneira livre e pouco ordenada. É fruto também de experiência pessoal do autor, que é amante do esporte bretão e torce pelo São Paulo Futebol Clube; isto confere ao trabalho, em algumas passagens, um certo tom de autocrítica.

Sinto-me obrigado a repetir a afirmação que aparece em qualquer elaboração intelectual que se preze: os erros e deficiências "porventura" encontrados no decorrer da análise são, obviamente, de minha inteira responsabilidade e devo agradecer a todo um exército anônimo, sem o qual não se teria tornado possível a elaboração deste trabalho. Em particular devo fazer o agradecimento de praxe ao espírito tolerante e liberalidade de minha esposa, que me permitiu freqüentar os estádios, aos domingos, e ver terríveis mesas-redondas esportivas e videotapes pela televisão durante a semana.

2. Futebol não tem lógica?

Neste trabalho não será analisado o futebol em si mesmo, mas sim em relação aos significados que lhe são atribuídos por força das condições histórico-sociais em que ocorre a sua prática. Os significados mudam quando mudam essas condições histórico-sociais, mudando concomitantemente as suas funções não esportivas e a sua importância cultural. A prática do futebol é relativamente complexa, muito rica e diversificada, quer em termos dos tipos de personagens que exige, quer em termos do sistema de normas que define os seus princípios organizadores. Por esta razão, o futebol apresenta-se como manancial fértil para a criação, transformação, destruição e multiplicação de significados, Não há, portanto, uma vinculação necessária entre o futebol e significados específicos, que lhe sejam inerentes.

Nesta perspectiva, o futebol será analisado e discutido como instrumento eficaz de fixação de crenças e significados, de extrema relevância dentro da lógica do subdesenvolvimento. Isto porque a carência deste tipo de instrumento é um característico central da situação subdesenvolvida. Supondo-se que a vida nacional exige formas adequadas para a sua expressão, pode-se interpretar o futebol como uma forma que, na sua versão nativa, contribui para que haja algum tipo de vida nacional. Os tipos de vida, cultura e caráter expressos, podem variar no tempo e no espaço, pois o futebol é uma espécie de recipiente que aceita diferentes tipos de conteúdo. E é essencialmente por esta razão que o futebol vem variando tanto como produto e expressão cultural, desde que foi transplantado para o nosso país até os nossos dias.

O desenvolvimento do futebol no Brasil está intimamente relacionado com a necessidade de acomodação de muitos elementos contraditórios da nossa formação social e cultural. Válvula de escape para a neutralização ou adiamento de choques e conflitos de todo tipo, o futebol vem-se constituindo cada vez mais em poderoso fator de estabilidade social. Como afirma Gilberto Freyre, o futebol "...tornouse o meio de expressão (...) de energia psíquica e de impulsos irracionais que sem o desenvolvimento do futebol - ou de algum equivalente de futebol - na verdadeira instituição nacional que é hoje, entre nós, teriam provavelmente assumido formas de expressão violentamente contrárias à moralidade dominante em nosso meio".

Todavia, as energias psíquicas e os impulsos irracionais - os quais Gilberto Freyre explica a partir dos elementos primitivos que formaram a cultura brasileira - podem, talvez, aparecer como uma das origens, e não a mais importante, das tensões controladas, estabilizadas ou sublimadas através do futebol. Os desequilíbrios estruturais e a inadequada e limitada oferta de oportunidades do nosso sistema social aparecem como outro fator dos conflitos e tensões que são "trabalhados" pelo futebol.

A contribuição do futebol à preservação da moralidade dominante, que Gilberto Freyre observa com tanto entusiasmo, não ocorre necessariamente de forma consciente e deliberada. Há muitos fatores imponderáveis e muitos fora de alcance do controle humano, que dificultam a realização de qualquer projeto de manipulação deliberada do futebol com objetivos extra-esportivos. Qualquer tentativa de manipulação envolve um risco considerável, uma vez que há limites à variação de significados que podem ser atribuídos ao mesmo, e que estes significados são condicionados em função de um fator dificilmente controlável: a imprevisibilidade do jogo. No entanto, a grande penetração do futebol junto às massas e a facilidade de associá-lo a diferentes significados torna aparentemente interessante e útil a sua manipulação do ponto de vista de classe dominante. O futebol permite analogias e simplificações grosseiras e superficiais e mudanças relativamente rápidas de significados, com o objetivo de influir - conservando ou transformando - na ideologia do homem comum. Estes significados deixam de brotar da prática esportiva em si, passando a emergir ou desaparecer em função dos interesses que a cercam e dominam. Passam da categoria de simples significados, derivados da interpretação do fato esportivo, à categoria de mitos culturais, refletindo problemas, necessidades e contradições da sociedade mais ampla. Por um lado, são mitos que refletem, deturpam, simplificam e mistificam o senso comum e a visão de mundo por ele informada. Por outro lado, são mitos que possibilitam àqueles que os abraçam viver um tipo de experiência do qual nunca desfrutariam em termos concretos, mas que está ao alcance de todos, no mundo da fantasia. Provavelmente, viver fantasticamente essas experiências é melhor do que não vivê-las, ao menos dos pontos de vista da profilaxia das doenças mentais e do controle social num quadro cultural como o nosso. Ajuda a superar a escassez de elementos da cultura nativa, tanto no que diz respeito a normas como no que se refere a valores. Contribui para a fixação de padrões de comportamento coletivo, para a definição de crenças e aspirações individuais e para a identificação dos meios e recursos adequados e disponíveis para a realização dessas aspirações.

3. É o futebol que imita a vida...

Extraído de um anúncio de televisão que busca uma analogia entre o esforço coletivo posto em prática no futebol e o esforço coletivo necessário para o desenvolvimento nacional, o título acima é complementado pela observação, contida no mesmo anúncio, de que "da participação de todos depende o bem-estar de cada um". O anúncio em pauta chama a atenção para a possibilidade de comparações e relacionamentos entre futebol e vida cotidiana num nível muito mais rico e complexo do que aquele do próprio anúncio.

De fato, como esporte de equipe que é, o futebol imita a vida ao simular sistematicamente a reconciliação do individualismo e da luta pela sobrevivência com a solidariedade grupai e o trabalho em conjunto.

Em suma, o futebol imita a vida ao estabelecer um conjunto de meios, legitimados ou não, orientados para a consecução de um objetivo central: a realização do princípio da sobrevivência dos mais aptos, através de um trabalho solidário de equipe. Como na vida cotidiana, uma variedade quase infinita de recursos é empregada na prática esportiva; é a combinação original e eficiente de recursos que vai determinar os mais aptos e os menos aptos, acarretando o sucesso ou o fracasso, a ascensão ou o declínio, a estagnação ou o progresso. A violência física, o esforço sem limites, a malícia e a dramaturgia, o poder do dinheiro, a capacidade de influenciar a política esportiva são recursos tão importantes quanto a habilidade técnica, a inteligência, a performance brilhante, a capacidade coletiva e tática, e a estabilidade emocional. E talvez o acaso e a chance sejam fatores ainda mais importantes do que os acima enumerados.

O ponto de partida da analogia entre futebol e vida é a semelhança dos recursos empregados e resultados obtidos. Os processos econômicos, políticos, sociais e culturais mais comuns e mais importantes obedecem a mecanismos básicos muito semelhantes aos do jogo de futebol, o qual permite a representação concentrada, codificada e simplificada dessas situações. Esta propriedade faz do futebol um poderoso instrumento de simulação da vida real e é, provavelmente, uma das razões básicas do magnetismo exercido pelo futebol sobre as massas.

Todavia, é bom lembrar que, para a grande maioria das pessoas, a vida real que o futebol simula não é tão rica e variada quanto as alternativas do jogo; nem tão densa, nem tão emocionante, nem tão surpreendente. Um jogo de futebol pode ser visto como um processo multiplicador de situações problemáticas, em que um grande número de decisões individuais ocorre incessante e simultaneamente. O problema maior é a articulação das decisões individuais ao nível da equipe e a adequação desta soma de decisões, tendo em vista os processos decisórios do adversário. Quando esta articulação não ocorre, ou é inadequada na situação do jogo, a equipe tende a fracassar. De qualquer maneira, é importante notar que há um número muito grande de decisões relevantes que são tomadas antes e durante os noventa minutos de jogo de futebol. Obviamente, a vida diária do homem comum não oferece tantas oportunidades de decisão relevante, de surpresa e de variação. Sob este ângulo de análise, observa-se que o futebol não somente imita, mas enriquece e complementa a vida. A rotina e a "mesmice" da vida diária são sacudidas durante o tempo do jogo, quando se rompem os processos monótonos e padronizados que a vida em sociedade impõe à maioria das pessoas. O caráter transitório desta ruptura com a rotina não anula e sim reforça a sua importância. Para os atores - jogadores, juiz, técnicos etc. - as decisões tomadas durante o jogo são relevantes de um ponto de vista objetivo, pois suas carreiras dependem disso. Para os espectadores, os eventos do jogo só têm relevância de um ponto de vista subjetivo, na medida em que ocorra a identificação espectador-ator. Por meio desta identificação, o espectador consegue "viver" situações novas, que o confortam quando volta às situações religiosamente rotinizadas e repetitivas, assim que o jogo termina.

Em suma, pela riqueza das situações criadas, pela variedade de recursos exigidos e pelo inesperado dos resultados alcançados, o futebol é um esporte que imita e complementa a vida. É uma forma de experiência e expressão eclética e flexível, que permite ampla liberdade quando se procura vinculá-la a significados específicos. É uma forma permanentemente em busca de novos significados. Mudam as condições históricas, permanece o futebol, e mudam os seus significados e funções sociais. Amplia o seu alcance social conquistando novos grupos e classes sociais, quer como torcedores, quer como praticantes. Aparece ao senso comum como esporte democrático por excelência, pois supera barreiras de todo tipo, sendo cada vez mais o esporte das multidões, prática que se realiza...

4. Sem distinção de classe...

...cor, ou nacionalidade. Desta maneira, o futebol foi assumindo, no Brasil, posição de destaque como argumento utilizado por todos os interessados em defender a idéia, um pouco vaga e confusa, de que somos uma democracia racial. O lado contrário foi sendo ocupado pelos saudosistas e inconformados, que não conseguiam explicar a infiltração da plebe num esporte que tinha por finalidade precípua divertir as altas rodas. Para estes, não era lógico que houvesse tal "mistura", que possibilitava "até" a negros a participação em um esporte de cunho marcadamente aristocrático. Levando-se em conta as origens estrangeiras recentes do futebol, tornava-se ainda mais difícil explicar sua fácil aceitação. No entanto, a rapidez da popularização do futebol transplantado fez com que as suas origens logo fossem esquecidas e que ele passasse a ser visto como expressão típica da nacionalidade. O grande rapidez deste processo de assimilação pode ser vista como resultante fragilidade do sistema cultural nacional. Como já foi dito anteriormente, a escassez de instrumentos de afirmação da cultura e do caráter nacional é uma deficiência típica dos países subdesenvolvidos. O futebol transplantado veio, desta forma, ocupar um lugar vago, cujo preenchimento se fazia premente.

Na fase inicial de transplantação, o futebol era fundamentalmente um instrumento de discriminação e diferenciação social.

O ano de 1923 foi muito importante para a afirmação do negro no futebol, quando um time do Rio vindo da Segunda Divisão, o Vasco da Gama, e constituído principalmente de negros e mulatos, tornou-se campeão, superando os tradicionais times constituídos de filhos de boas famílias. Em 1927 o episódio repete-se com o São Cristóvão, time mestiço que ganha o campeonato, enquanto o Vasco ficava como vice. A partir dessa data todos os clubes tradicionais foram, aos poucos, "escurecendo-se", admitindo mulatos e negros como jogadores. Em 1933 veio a profissionalização e muitos filhos das boas famílias não sentiam mais ambiente para continuar jogando, como foi o caso de Veloso: "Essa vida (a do jogador profissional) seria intolerável para mim, porque eu amo a festa, a dança, o convívio social."

A partir da profissionalização, o negro passou a ser visto como a origem de todas as virtudes e de todos os males do futebol brasileiro, indo com facilidade da posição de ídolo de milhões à de bode expiatório. Por esta razão, procurava esquecer que era preto, perder a cor, ou tornar-se "colored". Como Robson, jogador do Fluminense do início dos anos 50: "eu já fui preto e sei o que é isso". Ou como Barbosa, Bigode e Juvenal, os três bodes expiatórios do Brasil por ocasião da derrota contra os uruguaios, no campeonato do mundo de 1950. A ascensão gradativa e difícil do negro sofreu violento retrocesso em 1950, com a derrota brasileira na Copa do Mundo. Como explica Mário Filho: "E vinham as acusações do brasileiro contra os brasileiros. O brasileiro que acusava os brasileiros naturalmente desabafava para ficar de fora. Ou ver se ficava de fora. A verdade é que somos uma subraça. Uma raça de mestiços. Uma raça inferior. Na hora de agüentar o pior a gente se borrava todo. Como Barbosa quando estreara no escrete brasileiro. Enquanto dependermos do negro vai ser assim."

Da crença na integração nacional em torno da identidade cultural sugerida pelo futebol deriva a imagem de uma sociedade aberta e sem barreiras para a ascensão social do pobre, do humildes ou do preto. Os grupos marginais são integrados socialmente quando passam a acreditar na possibilidade de repetir a façanha do supercraque que venceu começando do nada.

Em suma, enquanto instituição social, o futebol opera como processo de fixação de três níveis distintos, embora relacionados entre si, de significados: a) o nível da identidade cultural (o que somos); b) o nível da percepção dos oportunidades concretas (o que podemos vir a ser) e, c) o nível da integração social e da "experiência" participafória (todos somos). Três tipos básicos de crenças são produzidos, cada um correspondendo a um desses níveis. Assim, temos respectivamente: a) a crença na civilização tropical ("sub-raça" ou "super-raça"); b) a crença na sociedade aberta e na ascensão social, e c) a crença na democracia social e racial.

Popularizado e transformado no esporte nacional, o futebol constitui-se em gigantesca missa pagã "patropi", num ato redentor afirmativo da identidade e da integração do país, e da ascensão social do povo. Uma missa na qual se criam, se afirmam e se celebram valores e virtudes que qualificam e diferenciam ideologicamente a sociedade e o homem brasileiro em face dos demais. Um ato redentor extremamente maleável, pois os instrumentos e a substância da redenção são mutáveis e adaptáveis às circunstâncias históricas. Um ritual "patropi" flexível, que funciona como um sistema de produção-transformação-distribuição-destruição de significados ...

5. Celebrando mitos...

... para todos os gostos e ao alcance de todos. A afirmação da nacionalidade ocorre tanto em termos de definição do caráter psicossocial do homem, como em termos das crenças e valores gerais da cultura nacional. Como celebração do caráter a exaltação da ginga e do bamboleio, do "jeito" e da malandragem, da alegria e do espírito gozador, da malícia e da esperteza nata, encontra o altar ideal tanto no gramado verde de um estádio repleto como na várzea esburacada de um bairro operário. Como celebração da cultura, a complexidade dos fatores condicionantes do futebol possibilita a exaltação da Sorte e da Fatalidade como a causa determinante do Destino. Daí deriva, com facilidade, a crença na impossibilidade total de controlar o Acaso e a Chance, como os elementos determinantes das oportunidades que p indivíduo tenha na vida. Toda esta perspectiva existencial é confirmada e reforçada por meio das ocorrências inesperadas de um jogo de futebol. Talvez mais do que no estádio e na várzea, esta confirmação ocorra no futebol da porta de fábrica, ou no futebol de rua, praticado com bola de meia pelos moleques. Estes têm-se mostrado locais dos mais adequados para a descoberta e proclamação da verdade inamovível de muitas das nossas crenças e das vantagens comparativas de muitos característicos típicos da nossa formação histórica. O processo através do qual isto ocorre é bastante simples de ser compreendido: estabelece-se, em primeiro lugar, uma vinculação obrigatória entre futebol e uma série de virtudes e qualidades vistas como absolutamente necessárias à sua prática, Em segundo lugar proclama-se o nosso como o melhor futebol do mundo. Logo, as virtudes e qualidades vinculadas à prática do futebol passam à categoria de tipicamente nacionais, uma vez que, tendo o monopólio do melhor futebol do mundo, necessariamente temos o monopólio das virtudes exigidas pela sua prática. Contudo, é interessante repetir que essas virtudes variam, de sociedade para sociedade, ou dentro de uma mesma sociedade, com o passar dos anos. Assim sendo, pode-se destacar no mínimo três tipos básicos de futebol-esporte com as respectivas virtudes necessárias à sua prática: a) futebol "prá homem" - com base em recursos físicos, agressividade, "garra", violência e saúde de ferro. Exemplos deste tipo são o futebol brasileiro do início do século ("ganha mas não leva") e o futebol uruguaio até recentemente; b) futebol-arte - com base em improvisação, habilidade, inspiração, talento, inteligência, individualismo, malícia etc. Um tipo de futebol exibicionista, jogado para a platéia, que muitas vezes torna-se muito pouco prático, brilhante mas derrotado; c) futebol de conjunto - os principais recursos são o entendimento entre os jogadores e a capacidade de realizar esquemas táticos previamente planejados. O funcionamento orgânico da equipe, a divisão do trabalho e a especialização são os característicos desta prática.

É claro que a classificação acima é mais um instrumento de análise do que o retrato de uma dada realidade. Toda equipe, em qualquer lugar, usa alguma combinação dos recursos e virtudes pertencentes às três categorias. A classificação auxilia a destacar tendências predominantes e a enumerar de maneira mais completa os recursos utilizados no jogo. As próprias exigências do "futebol de conjunto" determinam que na mesma equipe estejam presentes praticantes do "futebol-arte" e do "futebol prá homem". O futebol brasileiro, que até agora não foi questionado enquanto futebol-arte, tem sido palco de muitas discussões sobre o brio, a garra e a agressividade nacional, e sobre a nossa incapacidade nata de trabalhar em conjunto. Muitas dúvidas têm surgido sobre a covardia ou coragem do brasileiro a partir de situações do jogo que exigiam muita luta, tenacidade e valentia; é necessário reconhecer que nem sempre houve resposta positiva dos jogadores a esse tipo de exigência. Desta maneira, assim como virtudes eram celebradas, defeitos e falhas eram lamentados. Um ato redentor completo, com arrependimento dos pecados, absolvição e ressurreição da nacionalidade, por intermédio das virtudes nacionais exibidas pelo futebolarte. Sem deixar de haver, também, maneiras de disfarçar o que era visto como vício e pecado, mascarando-os e convertendo-os em virtude, sem necessidade de confessionário e reconhecimento de culpa. A dificuldade de admitir, em muitas ocasiões, a falta de "garra", o "corpo-mole", a "tremedeira", o medo do risco e a má-vontade, pode ser superada com eufemismos: paciência do jogador esperto que espera o momento exato de dar o cheque mate. A esperteza nacional é celebrada mesmo nessas circunstâncias. O jogador apático muitas vezes passa a ser visto como aquele que guarda forças para o momento em que a sua contribuição e o seu esforço fizerem-se mais necessários... O mesmo comportamento de um jogador pode ser visto como exibicionista, individualista, narcisista e egoísta, ou ser pura e simplesmente convertido em método de atrair a atenção dos adversários para si, com o intuito de criar oportunidades de gol para os companheiros. A conversão da virtude em defeito ou do defeito em virtude depende muito da interpretação subjetiva do espectador, que é sempre parcial e variável.

Devido à grande variedade de recursos e à maneira subjetiva e circunstancial pela qual eles são identificados, às vezes corno virtudes e às vezes como falhas inaceitáveis, o futebol constitui-se num jogo dificílimo de se interpretar, prever e controlar. É por isso que os fatores imponderáveis que determinam o rumo dos acontecimentos são encarados como Sorte ou Azar, Chance ou Fatalidade, Destino ou Acaso. São esses os deuses e demônios do futebol, remetendo-o de volta às suas origens alguns séculos atrás. Por volta do século XII ou XIII, "o futebol era um ritual mágico, onde a bola representava o sol (tido como a origem da vida e do crescimento) e devia ser enfiada na meta como parte desse rito da fertilidade. Os campos eram orientados no sentido leste-oeste e todos os habitantes praticavam, ao mesmo tempo, o que poderíamos chamar de futebol de massa, sendo de esperar que os que mais se destacassem nos chutes a gol tivessem as melhores colheitas. O jogo não tinha regras e o juiz era o Senhor".

"... A sorte está sempre em primeiro lugar, qualquer que seja a carreira", afirma Pelé, que aponta como fatores principais necessários para que um jogador atinja o grau técnico que ele atingiu, "treinar muito e ter boa sorte. O resto é com Deus".

A urbanização dos valores culturais rurais dá-se, em grande parte, pelo futebol. A idéia de que "não paga a pena" pois as coisas acontecem porque "Deus quis assim" e "é preciso resignação para alcançar o céu" é adaptada, dinamizada e secularizada no meio urbano: é preciso ficar de olho para as oportunidades que aparecem na vida da gente. As chances demoram mas aparecem, e isto não acontece todos os dias. Deixando passar, pode ser difícil que venha outra. A idéia de "Deus quis assim" é substituída pela idéia do "se Deus quiser". Como geralmente Deus quer, pois é pai e brasileiro, as coisas passam a depender mais do senso de oportunidade das pessoas, da capacidade de resposta positiva às chances que surgem. A afirmação de que as chances surgem tem um sentido literal, isto é, elas não são construídas ao dia a dia, ou no trabalho árduo. A construção do Destino ocorre em alguns poucos grandes momentos que acontecem em uma vida inteira. A vida é vista como um jogo e as suas possíveis variações para melhor ou para pior dependem do acaso. A ascensão socioeconômica depende menos de trabalho e tenacidade, pois "quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro", e mais da capacidade de "viração", do oportunismo, do jogo do bicho, da loteria federal, da especulação da Bolsa de Valores e, ultimamente, no caso específico do futebol, da Loteria Esportiva. Num país de experts do futebol como é o nosso, prever acertadamente 13 resultados de jogos de futebol não parece ser proeza notável, à primeira vista. Do ponto de vista do torcedor, a loteria esportiva torna mais palpável a possibilidade da mudança de vida, agora auxiliado por um tipo de sorte que não se apresenta mais na sua forma pura e incontrolável, pois é supostamente fundamentada em conhecimento do assunto, habilidade e capacidade de previsão. A. concepção mais atual de sorte e chance está vinculada à idéia de habilidade e especialização, tanto dentro como fora do campo. O jargão "sorte tem quem sabe" tem sido repetido, ultimamente com grande freqüência, evidenciando a preocupação de explicar os fatores imponderáveis do sucesso (sorte) a partir de característicos empíricos definidos (habilidade, força física etc).

A contrapartida, ao nível da torcida, dos mitos que celebram a rápida ascensão socioeconômica dos jogadores, é a crença em uma ascenção socioeconômica ainda mais rápida e milagrosa dos torcedores, pelas muitas fontes dos milagres entre as quais destaca-se, como última moda, a Loteria Esportiva. O torcedor celebra, na ascensão do jogador de origem humilde, a possibilidade de glória e dinheiro sem necessidade de trabalho árduo e desagradável. O jogador é visto como alguém que enriquece e se torna célebre fazendo o que gosta. Obviamente esta não é a realidade da imensa maioria, nem de jogadores, nem de torcedores. À semelhança e em virtude do que ocorre dentro dos gramados, em termos de ascensão socioeconômica de alguns poucos, desenvolve-se uma atitude especulativa em face da vida, com adoção de uma "filosofia da viração" e de uma "ética da malandragem" que se baseiam na esperança de que a força das circunstâncias opere o milagre de transformar o torcedor-gata-borra-Iheira em Cinderela. Os recursos que uma sociedade como a nossa oferecem para a concretização deste tipo de milagre produzem exemplos isolados mas muito freqüentes, que evidenciam a sua viabilidade. O ferroviário e o borracheiro que ganharam na Loteria Esportiva, o offoce-boy que ganhou no jogo do bicho, o jogador "grosso e sortudo" que se mantém nas melhores equipes e o "virador" semi-analfabeto mas "vivo", que conseguiu enriquecer em alguma atividade medíocre, são exemplos que sugerem, a todo momento, a mesma pergunta: "por que razão não pode acontecer também comigo?"

Estabelecida, para o torcedor, a crença em uma sociedade aberta, e enquanto aguarda que esta abertura o atinja, ele desenvolve mecanismos de participação e relacionamento com outros torcedores e com os jogadores em campo, resultando em uma série de adaptações de recompensas de caráter psicológico.

Em ambos os casos (integração e decisão) a experiência de participação está sendo chamada de ilusória por ser uma experiência estanque e compartimentada - não tem nada a ver com a vida diária - e por envolver um tipo de participação que ocorre num nível pura e exclusivamente psicológico.

5.1 EXPERIÊNCIA ILUSÓRIA DE INTEGRAÇÃO

Os torcedores tendem a se auto-identificar como um grupo homogêneo, independentemente de classe social, cor, nacionalidade ou qualquer outro fator de diferenciação. Do presidente-torcedor à turma dos "duros" (os torcedores sem ingresso que entram de graça no segundo tempo dos jogos), a massa sente-se una e coesa. As bandeiras agitadas, a capacidade coletiva de verbalização ("bicha, bicha, bicha!") a relativa permissividade (oral) do comportamento no estádio, quando o palavrão e um exibicionismo primitivo emergem com mais liberdade, o sofrimento e o regozijo em comum são fatores importantes desse sentimento de união e fraternidade. Como todo corintiano bem sabe, a torcida que sofre unida permanece unida e do ponto de vista da torcida, todos são iguais perante o jogo, independentemente do geral, arquibancada ou numerada.

Propiciando uma definição bastante clara do "nosso grupo" e do "outro grupo", o futebol permite a simultânea realização do instinto agonístico de sobrevivência dos mais aptos e da necessidade de reconciliação e fraternidade. São celebradas, ao mesmo tempo, as virtudes fraternais praticadas dentro do "nosso grupo", e as virtudes competitivas praticadas pelo "nosso grupo" contra o "outro grupo". O sentimento de igual entre desiguais que o "nosso grupo" promove traz recompensas e ajustamentos psicossociais para todos: o "cartola" e o frequentador da numerada sentem-se liberais, democráticos, tolerantes, altruístas no domingo de futebol. Depois de passarem a semana inteira procurando diferenciar-se, estabelecer distâncias convenientes e reforçar a sua própria posição, chega o domingo, oferecendo-lhes uma oportunidade preciosa para simular exatamente o contrário. O torcedor sem ingresso e o torcedor de geral sentem-se participantes de uma experiência que atinge também a gente mais rica, mais sofisticada, mais culta, mais influente, ou mais qualquer outra coisa. Disso decorre um sentimento de que no fundo, nem que seja bem no fundo, somos todos iguais. Em resumo, o torcedor de classe alta sente-se igual, sem necessidade de abdicar da sua posição de classe; o torcedor de classe baixa sente-se igual, apesar da sua posição de classe. É uma experiência integrativa importantíssima pois os torcedores "vivem" ilusoriamente situações que lhes são, em termos concretos, absolutamente estranhas e inacessíveis. Esta é o que se pode chamar de experiência ilusória de identificação. Por ser uma experiência mental de fixação de identidade e ocorrer num mundo de ilusão e fantasia, a experiência ilusória dá ao torcedor a possibilidade de assumir os aspectos positivos da participação, sem necessidade de arcar com o lado negativo da mesma.

A experiência ilusória diferenciadora fixa uma espécie de perfil psicológico do torcedor de cada time e permite que pessoas em situação de vida extremamente semelhante sintam-se mentalmente em posições inteiramente diferentes. Isto ocorre, por exemplo, com torcedores humildes de clubes vistos como de elite, que se sentem inteiramente diferenciados dos seus pares que torcem para clubes de massa (São Paulo e Fluminense, como clubes de elite, contrapondo-se a Coríntians e Flamengo como clubes de massa, exemplificam uma situação em que isto pode ocorrer).

Em resumo, o futebol é um poderoso instrumento que possibilita a manifestação da dialética identificação-diferenciação, a qual é importante fator de estabilidade social e "paz para o trabalho". Ao nível da torcida, é uma rara ocasião de manifestação simultânea daquilo que Durkheim chama de solidariedade mecânica (integração da massa) e de um tipo de competição mental e verbal que transforma um estado de violência selvagem em "violência canalizada, regulamentada, lícita e legitimada".

5.2 EXPERIÊNCIA ILUSÓRIA DE DECISÃO

Tanto o "torcedor-sofredor", que celebra com religiosa regularidade uma espécie de ritual do fracasso e dependência, quanto o "torcedor-esnobador", que celebra o ritual da dominação e do sucesso, representam um mesmo fenômeno, visto de dois ângulos diferentes: a experiência ilusória de decisão. Os atores do jogo de futebol participam de um triplo processo, concentrado e multiplicativo, de formação de atitudes, tomada de decisão e implementação de ação, o qual é extremamente rico e variado. Quer a identificação se dê com os perdedores ou com os ganhadores, ela sempre permite ao espectador usufruir de tipos de experiência desligados da sua vida diária. O campo de futebol é uma espécie de mercado do comprador, onde há oferta ilimitada de personagens e padrões de comportamento para todos os gostos, desde o cafajeste e mau caráter até o profissional correto e bom colega de profissão; desde o boêmio inveterado até o paide-famllia e bom cidadão; desde o tímido e inibido até o exibicionista e narcisista; desde o submisso até o autoritário; desde o perna-de-pau grosso até o supercraque virtuoso; desde o manso e calmo até o machista e violento. O torcedor participa de todos estes tipos de atitude, decisão e ação, usufruindo de experiências arriscadas, cheias de incerteza, problemática e subjetivamente relevantes. Ao mesmo tempo, na experiência de que o torcedor participa, o risco e o custo são gerados de maneira controlada, procurando atingi-lo sem afetar a sua vida diária de maneira significativa. O futebol "proporciona excitação sem custo, na medida em que o consumidor consegue identificar-se com os protagonistas".

"Chega-se a uma divisão romântica do mundo ao se buscar aonde está a 'ação'. De um lado encontram-se os lugares seguros e silenciosos, o lar, o bem definido papel nos negócios, na indústria, e nas profissões; do outro lado, estão todas as atividades relevantes, exigindo que o indivíduo se exponha e enfrente riscos a qualquer momento. Quase todas as fantasias comerciais derivam deste contraste. O respeito próprio dos delinqüentes, criminosos, jogadores e esportistas deriva deste contraste. Talvel esta seja a recompensa que eles obtêm em troca do uso que os outros fazem do ritual da sua performance."

A oferta de locais onde existe "ação" é muito abundante, no mundo atual. "Em toda parte proporciona-se a dupla oportunidade de identificação com personagens - reais ou fictícios que se envolvem em riscos variados - e de participação ilusória nestas situações."

Tanto a experiência ilusória de decisão quanto a de integração se estruturam em torno da crença em um elemento comum: a sorte "de um herói de origem modesta que triunfe sobre as dificuldades que nós próprios sofremos... Este último elemento (a sorte) é aquele que abre mais generosamente as portas do sonho ao alcance de todas as imaginações e de todas as bolsas... Esta magia primária, que se traduz, à vista dos faustos de um Eldorado para espíritos pobres, por um inevitável 'por que não eu também-", tem incontestáveis virtudes sedativas. Ela adormece a multidão dos azarentos e dos medíocres".

O caráter ritual do futebol torna-se ainda mais significativo na medida em que se desenvolve a integração nacional dos meios de comunicação. Por maiores e mais repletos que estejam os estádios, o futebol permaneceria um rito de minorias, não fosse o rádio e a televisão. Em particular, as recentes expansões de rede e alcance da televisão brasileira, que hoje cobre praticamente todo o território nacional, tem um extraordinário significado na transformação do futebol, de esporte popular em fenômeno de massa. O futebol, enquanto fenômeno de massa, é produto da interação de dois tipos diferentes de organização: a organização do futebol e a do mass-media.

Com a modernização do mass-media, o sistema de produção-transformação-distribuição-destruição de mitos modifica-se e desenvolve-se brutalmente, enquanto sistema de massa. Surgem novas oportunidades de centralização, controle e manipulação desse sistema, como objetivos políticos de mobilização nacional, formação de opinião pública, adesão política da população à elite do poder etc. Nesta fase, acentuam-se as funções do futebol como instrumento de afirmação e integração nacional, embora mudem os significados transmitidos. Numa fase de "ame-o ou deixe-o", de verde-amarelismo e de novo ufanismo, o futebol exerce um papel ideológico preponderante, entrando com firmeza e determinação...

6. Na onda do "ninguém segura"

O tipo de futebol analisado até agora caracteriza-se basicamente como um suporte popular, quer se trate de prática espontânea que surge nas ruas e nas várzeas, quer se trate do futebol profissional, que se organiza em torno e em função dos estádios disponíveis. Em qualquer caso, o futebol-esporte popular é uma manifestação territorialmente confinada, isto é, os fenômenos mais significativos e relevantes relacionados com a sua prática ocorrem dentro do campo ou dentro do estádio. Somente com o advento da televisão é que o futebol espetáculo de massa substitui o futebol esporte popular. O impacto da comunicação de massa com televisão é muito mais intenso e qualitativamente diferente do impacto do rádio e da imprensa esportiva. Com a TV e o VT o futebol chega a extremos, enquanto a) forma simulação; b) capacidade de difusão; e c) possibilidade de interpretação mais racional dos eventos do jogo.

6.1 SIMULAÇÃO

O videotape ê o meio por excelência do desenvolvimento do futebol enquanto forma de simulação. Em primeiro lugar, porque evita a evasão da platéia fisicamente presente, a qual é condição necessária para a realização do show, quer do ponto de vista econômico quer do ponto de vista estético, uma vez que a platéia integra-se como elemento componente do espetáculo. Em segundo lugar, é meio de simulação porque possibilita a superação da dimensão tempo, trazendo para o presente acontecimentos do passado: o sucesso da não-divulgação deliberada dos resultados dos jogos antes da apresentação do VT evidencia a fácil e rápida aceitação, por parte do torcedor, das regras do jogo da simulação. A ele importa torcer, mesmo que saiba que está presenciando um espetáculo "com cartas marcadas", na medida em que é um jogo previamente realizado. A experiência de participação torna-se ilusória no seu mais alto grau, pois o torcedor está participando de algo que não está mais ocorrendo.

6.2 . DIFUSÃO

Contribuindo decisivamente para uma tremenda ampliação da platéia, e tornando-se um processo pioneiro de sociedade de massa dentro de uma sociedade subdesenvolvida, o futebol passa a ser vinculado a novos símbolos e significados enfatizando cada vez menos a celebração de categorias muito abstratas (como a Sorte e o Destino) e muito personificadas (os ídolos). Em vez disso, procura celebrar, cada vez mais, valores supostamente coletivos, atribuindo ao comportamento da massa virtudes quase imbatíveis. A vontade coletiva é uma fonte de energia que se comunica a todos e a cada um, gerando invencibilidades que se preservam a qualquer preço. O poder do pensamento coletivo é insuperável e não há recursos de nenhum tipo que possam opor-se, com sucesso, à onipotência da "corrente prafrente". O dogmatismo vinculado a este tipo de visão de mundo pode tornar-se agente de profundas instabilidades e reações do tipo "ganha mas não leva", caso o dogma seja rompido. A "corrente prafrente" determina, necessariamente, a vitória e ai do adversário que ousar impedi-la. A violência que vem aumentando dia a dia nos campos de futebol e o comportamento primitivo da torcida no campeonato mundial de basquete ilustram bastante bem esta tendência.

6.3. RACIONALIDADE

Ao mesmo tempo, a utilização do "vamos ver outra vez como foi que ele fez" aumenta grandemente as possibilidades de interpretação racional do jogo e limita bastante a possibilidade da crônica especializada de conduzir a opinião pública esportiva da forma que bem entender. Para manter, em algum grau, a sua capacidade de influenciar, o jornalismo esportivo falado e escrito precisa simultaneamente adequar-se à imagem transmitida e ir de encontro às necessidades psicológicas dos torcedores, os conhecidíssimos "amigos ouvintes e telespectadores do Brasil". Ser bem sucedido na crônica esportiva torna-se bem mais difícil, exigindo grande capacidade de controlar fatores múltiplos e complexos e de conciliar dois processos simultâneos que muitas vezes se chocam e se contradizem: a realidade da imagem e as realidades subjetivas (paixões, euforia, desespero, etc.) dos que a consomem.

Uma vez que as realidades subjetivas são tão intensas e sensíveis quanto a realidade da imagem, e que elas são variáveis e heterogêneas ao nível da massa torcedora, o cronista especializado vê-se diante de um impasse que pode ser enfrentado de duas maneiras basicamente diferentes: esvaziar totalmente o seu discurso de conteúdo, passando a mero "fazedor de média", ou correr sérios riscos de sobrevivência profissional.

Em suma, a mudança de condições para interpretação do jogo restringe a liberdade anterior de extrema variação dos significados direta e intimamente vinculados ao mesmo. Os significados do futebol passam a ser menos diretamente vinculados ao jogo e mais intimamente vinculados à torcida, suas aspirações e sua identidade. Assim sendo, a crescente racionalidade de interpretação do jogo condiciona e modifica a celebração de significados, a qual passa a ser canalizada para aparentes valores da massa. Esta estratégia é bem sucedida devido ao processo intenso de difusão e à aceitação cada vez maior de processos de simulação dentro do futebol-espetáculo. Entre os principais instrumentos que se têm mostrado úteis e eficientes para a fixação de um processo ritual novo está o culto do supercraque.

Tudo indica que ídolos do tipo Garrincha, Leônidas e Friedenreich representam uma fase superada do futebol brasileiro. Idolos de carne e osso, com virtude e defeitos igualmente celebrados, não podem mais fazer parte de um ritual redentor da multidão, que objetiva proclamar as excelências de uma super-raça. Torna-se necessário produzir ídolos completamente integrados, social e psicologicamente, na sociedade grandiosa e vocacionada para o futuro que eles representam.

O culto aos ídolos é desenvolvido de forma a identificá-los total e definitivamente com o homem médio, comum ou normal. Aumenta a tendência a simplificações grosseiras e generalizações desenfreadas. Ou o jogador é bom em tudo, dentro e fora do campo, ou então não é bom em nada. Bom em tudo significa, aqui, apresentar todas as supostas virtudes do homem médio de maneira extremada. O ídolo tende a ser visto como alguém exageradamente normal, médio e comum em tudo. Ele só se torna Incomum, anormal e fora de série pelo exagero dos seus traços comuns. Obviamente, a pressão nesse sentido é tanta que o ídolo tende a assimilar e internalizar os papéis é status que lhe são atribuídos através do mass-media. Ninguém melhor que Pelé para exemplificar este processo de produção-assimilação do ídolo-meio-termo: "...mas eu ainda sou do tempo do the ladies first... Fico no meio-termo. Se a calça, por exemplo, é boca de sino, não mando fazê-la nem apertada nem boca de sino... O melhor mesmo, Antoine, é cada macaco no seu galho... O Acostumei-me. E não posso mentir: é agradável ser ídolo... Repito que não entendo nada de política. Mas, se fosse ao contrário, eu escolheria uma quarta posição: seria, principalmente, honesto... Graças a Deus, não faltam 'pelés' no Brasil."

A existência de "pelés" em abundância no Brasil, proclamada por Pelé, aparece como explicitação clara do significado da experiência ilusória na fase do futebol espetáculo de massa. O "Rei" é o testemunho vivo de uma super-raça de "reis" em formação. Pelé é "filtrado" através do mass-media, que faz passar por lente de aumento as suas virtudes normais do homem comum (reais ou atribuídas), mas retém escondidos os defeitos, dúvidas e dificuldades do ser humano. Somente os problemas de divindade são reafirmados, como o rancor dos invejosos e medíocres e a impossibilidade de sossego e vida privada. "De qualquer maneira, não posso reclamar... Fomos nós que escolhemos a nossa profissão. Fomos nós que sonhamos em nos tornarmos um dia, ídolos. Fomos nós que chegamos ao sucesso. Não podemos reclamar dele. Temos que agüentar."

O terceiro característico do ídolo aparece quando ele propõe, em nome da nacionalidade, uma mensagem nova ao mundo: "Eu tenho muita fé no Brasil, Piazza. Talvez, hoje, ele seja subdesenvolvido. Ou melhor: um país em desenvolvimento. Mas eu tenho fé no futuro. Sei que o Brasil ainda será o maior país do mundo... Acho que os homens e a vida não podem para... Meus irmãos de raça, no mundo inteiro, são os homens em geral. A raça humana... Será que vocês não sabem que, aqui, não há os problemas raciais, como em algumas outras partes do mundo?"

Morando num país tropical, abençoado por Deus, o ídolo reconhece mas não se abala, porque é otimista, os problemas dolorosos, mas meramente transitórios, da nação que tem para o mundo a mensagem maior da reconciliação entre os homens. Completa-se assim a figura do supercraque, definida em função de três característicos centrais atuais: meio-termo, conformado e patriota.

Nesta fase, o futebol simula, cada vez mais, característicos de vanguarda e modernidade, tanto na sua organização quanto em relação aos valores que celebra. "Esporte é cultura"

O funcionamento deste gigantesco sistema típico de uma sociedade de massa dentro de uma sociedade subdesenvolvida impõe grandes esforços de modernização e profissionalização das principais estruturas e personagens responsáveis pelo seu dinamismo. Em especial os dirigentes, jogadores e a crônica especializada vêm passando por algumas transformações significativas.

Em relação ao dirigente a tendência é de surgimento de dois tipos básicos: o empresário racional do futebol moderno e o dirigente líder, disciplinador etc.

Em relação à crônica especializada, algumas modificações substanciais vêm ocorrendo nos últimos anos: a observação de algumas mesas-redondas na TV vem mostrando uma espécie de conflito de gerações dentro da crônica.

landra, popular e gozadora, menos narrativa é mais adaptada à realidade do futebol-show ou futebolespetáculo. Representam o papel do torcedor, identificando-se em termos de preferências clubísticas, e não respeitam muito a experiência alardeada pelos mais velhos. O denominador comum a todos eles - velha e jovem guarda - é uma tremenda necessidade de auto-afirmação e promoção pessoal, que transforma esses programas de mesa redonda num festival de confete, fofoca e exibicionismo. Como exceção raríssima a essa regra, pode-se falar também em um tipo de crônica circunspecta, que procura exercer uma função complementar à função essencial realizada pela imagem.

Ocupando uma posição estratégica em todo o complexo sistema em pauta, a crônica exerce um papel de extraordinária importância como mecanismo de filtragem e integração cultural. Padronizando um jargão esportivo que transmite emoções e aspirações relativamente homogêneas para qualquer indivíduo ou classe social, a crônica especializada vem contribuindo eficazmente para a sedimentação desta fase, do novo ufanismo que atravessa o país, tornando-se um importante traço de união que vai desde o "presidente-pé-quente" dos cronistas mais afoitos até os torcedores-duros que só vêem o segundo tempo dos jogos.

Em suma, na era do futebol-espetáculo, a crônica especializada é o elo mágico que faz formar de repente aquela corrente prafrente, fazendo parecer que todo o Brasil deu a mão. Até que o "mediador da contenda trile o seu apito", quando "se fecham as cortinas" termina o jogo e todos regressamos à vida de todos os dias.

1 Freyre, Gilberto. In: prefácio da primeira edição de O negro no futebol brasileiro, de Mário Filho. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964.

2 Magnane, Georges. Sociologia do esporte. São Paulo, Perspectiva, 1969. É a fonte dos principais conceitos utilizados nesta seção.

3 Goffman, Erving. Where the notion is. Interaction ritual: essays on face-to-face behavior. Garden City, Anchor Books, 1967. Define este tipo de identificação entre o espectador e o ator com experiência ilusória, típica das situações e locais "onde existe ação".

  • 1 Freyre, Gilberto. In: prefácio da primeira edição de O negro no futebol brasileiro, de Mário Filho. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964.
  • 2 Magnane, Georges. Sociologia do esporte. São Paulo, Perspectiva, 1969.
  • 3 Goffman, Erving. Where the notion is. Interaction ritual: essays on face-to-face behavior. Garden City, Anchor Books, 1967.
  • 4 Mário Filho. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964.
  • 15 Um novo grito de guerra no Rio: Mata! Revista Placar, n. 61, p. 2-3, 14 maio 1971.
  • 1
  • 2
    Como esporte de competição, o futebol imita a vida ao institucionalizar e legitimar formas específicas de esforço e agressividade, tendo em vista fins escassos, que não podem ser compartilhados por todos: o gol, a vitória, o sucesso do supercraque, a ascensão social da gente humilde etc. Da mesma maneira que, na vida real, o sistema de normas que rege a prática do futebol condiciona e limita a agressividade legítima, mas tolera, a não ser em casos extremos, a transgressão sistemática desses limites. Como na vida real, as normas existem para serem mais obedecidas pelos que não têm inteligência, sagacidade, esperteza ou poder para infringi-las vitoriosamente. Institucionaliza-se uma espécie de direito à violação das normas (desde que com habilidade), como instrumento adequado e necessário para a consecução dos objetivos da equipe.
  • 3
  • 4
    Originariamente, sua prática no Brasil derivou das necessidades de lazer da colônia estrangeira, aqui radicada, no início do século, em virtude da penetração dos grupos internacionais, que já se faziam representar no início da
    nossa formação econômica urbana. Obviamente, a primeira adesão que o novo esporte recebeu partiu do desejo mútuo de integração entre, de um lado, os membros da burguesia e da aristocracia nativas, e de outro, os estrangeiros recém-chegados. Ainda assim, permanecia o futebol um esporte das altas rodas. A penetração dos primeiros representantes da plebe neste meio extremamente fechado foi um acontecimento que se revestiu de tons dramáticos, principalmente no que diz respeito à participação e afirmação do negro no futebol brasileiro. Tornou-se o futebol o foco por excelência de manifestações racistas, em uma sociedade mestiça. Os negros e mestiços que passaram pelo futebol brasileiro nos primeiros 30 anos deste século enfrentaram toda sorte de dificuldades. Muitos não suportaram, procurando de todas as formas disfarçar a cor, o cabelo, o nariz achatado. Procuravam esquecer que eram negros, na medida em que alcançavam relativo sucesso. Pó-de-arroz no rosto (caso de Carlos Alberto do Fluminense) longos tratamentos de alisa cabelo na hora de entrar em campo (Friedenreich), gorro na cabeça para disfarçar, eram recursos comuns à época. Entre os que não utilizavam esses recursos, a maioria não conseguia adaptar-se e abandonava tudo, enquanto outros tornavam-se violentos em campo, principalmente na caça aos companheiros de cor que se disfarçavam, por vergonha. Mais tarde um pouco, até o recurso da operação plástica passou a ser utilizado.
  • 5
    O jogador tornava-se um empregado do clube, que não tinha direito a nada disso.
  • 6
    1950 foi um ano-chave no sentido de evidenciar a importância que o futebol estava assumindo como instrumento de fixação de uma identidade cultural. Mostrou também como essa identidade cultural é frágil e flexível, dependendo do resultado numérico de 90 minutos de jogo. A partir desse resultado, todo um povo analisa-se, autocritica-se e difine-se. Numa fração de segundo, crenças e idéias que vêm firmando-se devagar no consenso geral são "definitivamente" sedimentadas, ou "definitivamente" destruídas. Definitivamente significa, neste caso, até o próximo jogo em que estiver novamente em cheque toda a "alma da nação". Provocando solidariedade na vitória e na derrota, o futebol consegue manter-se como instrumento de uma aparente integração nacional enquanto faz variar os significados culturais dele derivados em função dos resultados obtidos. Se em 1950 nos tornamos uma sub-raça e em 1954 fomos confirmados como tal, em 1958, 1962 e 1970 nos tornamos o cadinho cultural (versão nativa do melting pot americano) que depurou e adotou todas as virtudes e qualidades de todas as raças e nacionalidades de que somos fruto; mas, é claro que sem assimilar as falhas e defeitos respectivos. Com a mesma facilidade com que nos tornamos, de repente, "raça" inferior, passamos, circunstancialmente a "raça" superior...
  • 7
    A deusa Fortuna ainda hoje coloca-se bem no centro da celebração do rito mágico. Rituais de toda espécie multiplicam-se objetivando a captação de recursos sobrenaturais que auxiliem a vencer. Mesmo os mais céticos não escapam dessa influência. Promessas, "despachos", mandingas, benzimentos, comportamentos e atitudes que se padronizam e se repetem de vitória em vitória pois "deram sorte", fazem parte do arsenal de recursos que cada time procura acumular. A competição dentro do campo começa fora dele muito antes do jogo, nos terreiros e encruzilhadas. Por causa disso já se afirmou que "se macumba desse resultado o campeonato baiano terminava empatado". Práticas supersticiosas ocorrem tanto no campeonato baiano quanto na seleção brasileira, e, no mínimo, têm um poderoso efeito tranqüilizador dando autoconfiança aos jogadores e permitindo um melhor desempenho em campo. Na perspectiva do jogador, todas as melhores qualidades e virtudes não servem para nada, todo esforço é nulo e todo e qualquer recurso é ineficiente caso a Sorte e a Chance não ajudem. Mérito sem "estrela" não serve para nada, ao passo que "estrela" sem mérito já serve para alguma coisa. O jogador precisa ser, antes de mais nada, um predileto dos deuses. Desde a primeira chance para fazer carreira até tornar-se um ídolo das multidões, o jogador já conta ou não com a Sorte e o Acaso para cumprir o seu Destino de Supercraque.
  • 8
    O jogador que dispõe desses fatores passa incólume pelos jogos mais violentos, consegue fazer as melhores jogadas nos momentos mais necessários, muda de clube na hora certa, evitando a decadência. Relaciona-se bem com o técnico, os dirigentes e os jornalistas, e é permanentemente incentivado e prestigiado. Todavia, a Sorte não é o elemento determinante do rumo dos acontecimentos somente no que diz respeito ao jogador e à equipe. Ela funciona também nos níveis da nação e da torcida. A Sorte Nacional consiste em uma espécie subdesenvolvida da velha idéia do Destino Manifesto, tão a gosto dos americanos do norte, com a vantagem de termos "nacionalizado" um aliado poderoso: Deus é brasileiro e a nossa vocação grandiosa manifesta-se através de várias formas de ufanismo.
  • 9
    O mecanismo de participação dos torcedores, a partir das relações que estabelecem entre si, pode ser chamado de experiência ilusória de integração e se apresenta sob duas formas: identificação ("nosso" grupo) e diferenciação ("outro" grupo). A fixação de mecanismos de participação dos torcedores a partir das relações que estabelecem com os jogadores e com o juiz pode ser chamada de experiência ilusória de decisão, uma vez que a torcida se associa, fundamentalmente, ao processo contínuo e intenso de tomada de decisões que ocorre dentro do campo. Quando se associa às decisões que prevalecem durante o jogo, o torcedor participa de uma experiência ilusória de decisão dominante. Ao associar-se às decisões mal sucedidas e neutralizadas, o torcedor participa de uma experiência ilusória de decisão dependente.
  • 10
  • 11
    A identificação torna-se tanto mais fácil quanto mais variada for a oferta de tipos e personagens e quanto mais pontos em comum o espectador descobrir entre o personagem e ele próprio. O princípio que rege a identificação reduz o ator a alguém igual a "mim " embora diferente de "mim" devido ao Acaso, Chance, ou qualquer outro fator que escapa ao "meu" controle. Não sou "eu", mas bem que poderia ser. O jogador é ator de um tipo de "ação" que envolve risco e conseqüência; é ao mesmo tempo um semideus que deixa transparecer característicos reveladores da sua condição adicional de homem comum. Como todos os indivíduos Ijgados a este tipo de "ação", os jogadores distanciam-se dos aspectos mais substanciais, repetitivos e padronizados do comportamento social na vida cotidiana. Todavia, este distanciamento possibilita-lhes perceber com mais clareza as limitações e o sentido incompleto da vida sem "ação" para a maioria das pessoas. Por isso mesmo, esse distanciamento possibilita-lhes suprir essa necessidade dos outros ao se tornarem os agentes da realização das ilusões e fantasias dos torcedores. Os códigos de conduta que não são praticados na vida diária podem ser reafirmados, no lugar em que existe "ação", como experiência ilusória.
  • 12
  • 13
    O futebol é, provavelmente, um dos instrumentos mais importantes entre os que proporcionam oportunidades deste tipo.
  • 14
  • 15
  • 16
  • 17
  • 18
    O ídolo-meio-termo se transforma em ídolomeio-termo-conformado.
  • 19
  • 20
    e a sociedade mobiliza-se para o futuro, procurando realizar a sua vocação, pois "sorte tem quem sabe" e todos sabem que o nosso destino grandioso é um dado irrecusável do Destino... Esta é uma faca de dois gumes, pois a mobilização da sociedade através da dinamização de setores exclusivamente ligados ao consumo e ao lazer pode gerar a elevação do nível de aspirações sem a concomitante elevação do nível de esforço produtivo necessário para satisfazê-las.
  • 21
    O primeiro responsabiliza-se mais pelos aspectos financeiros, enquanto o segundo cuida da organização interna dos clubes. O disciplinador aparece como a contrapartida do desenvolvimento ainda incipiente do jogador profissionalizado, cada vez mais consciente dos seus direitos e disposto a superar o sistema escravista que rege as relações de trabalho no futebol profissional. O jogador reivindicativo, que procura tirar o máximo proveito de uma situação, momentaneamente favorável do mercado, ou o que não se submete a técnicos e dirigentes autoritários, tende a ser visto como indisciplinado, rebelde, boêmio, etc. É julgado a partir de critérios amadorísticos e enquadrado dentro do processo de generalização desenfreada anteriormente descrito: se não é todo bom, significa que é todo ruim. Nesta fase de reorganização modernizada, de futebol-empresa, os valores autoritários estão na moda; atualmente, um dos maiores elogios que se pode fazer a um técnico ou supervisor é afirmar que se trata de um disciplinador autêntico, ou nato, ou treinado, ou qualquer outra coisa.
  • 22
    Os da velha guarda utilizam-se de uma verbosidade bacharelesca, pomposa e ornamental, como é o caso de Geraldo José de Almeida. "Sem patriotadas", procuram representar o papel de observadores imparciais do espetáculo, e transmitir aos espectadores a idéia de que são entendidos e especializados devido aos longos anos passados como "homens-do-esporte". Os da jovem guarda utilizam uma terminologia mais ma
  • futebol brasileiro.

    4 Mário Filho. O negro no Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964. Fornece o material histórico sumariado nesta seção.
    5 Idem. p. 219.
    6 Idem. p. 335.
    7 Lobo, Luís. Os perigos do homem com a boca no apito. In: Senhor, v. 1, n. 2, p. 91, fev. 1971.
    8 Pelé no paredão mundial, entrevista para a revista
    Manchete em fins de 1970.
    9 Goffman, Erving. op. cit. Fornece os principais conceitos, adaptados e utilizados de acordo com as necessidades deste artigo.
    10 Magnane, Georges. op. cit. Parte 1, cap. 3.
    11 Goffman, Erving. op. cit., p. 263.
    12 Goffman, Erving. op. cit. p. 268.
    13 Ibid. p. 262.
    14 Magnane, Georges. op. cit. p. 99-100.
    15 Um novo grito de guerra no Rio: Mata! Revista
    Placar, n. 61, p. 2-3, 14 maio 1971.
    16 Revista
    Intervalo, Concurso II Copa Mancada, número de junho a dezembro de 1970, apresenta abundantes exemplos do completo esvaziamento do discurso da crônica especializada.
    17 Revista Manchete. cit.
    18 Idem.
    19 Idem.
    20 Lema da equipe de esporte da TV Cultura, Canal 2, São Paulo.
    21 A Revista
    Placar vem focalizando com freqüência os cartolas e os disciplinadores. Após longa série de artigos sobre os cartolas em geral e o presidente Wadi Helu do Coríntians, em particular, está concentrando sua atenção no violento lustrich, ex-técnico do Flamengo. Ver Revista
    Placar, n. 53 e 61 , mar./maio 1971.
    22 Os principais programas observados foram: "No campo do 13" (canal 13, SP) e "Futebol é com Onze" (canal 11, SP).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Maio 2015
    • Data do Fascículo
      Set 1972
    Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: rae@fgv.br