Resumo
Objetivo:
Este artigo tem como objetivo analisar as estratégias utilizadas pela Vale durante os dois primeiros anos após o desastre da barragem de Brumadinho para lidar com as críticas da sociedade civil perante os desdobramentos causados pelo rompimento.
Originalidade/valor:
O artigo contribui para a compreensão dos processos estratégicos utilizados por grandes empreendimentos para responder aos desastres ambientais e aos demais danos decorrentes de atividades e acidentes de trabalho causados por essas organizações. É demonstrado como tais estratégias conseguem ser aplicadas e obter sucesso porque se vinculam a ações e articulações com atores-chave, que são envolvidos e cooptados em processos econômicos, políticos e sociais anteriores à ocorrência do desastre.
Design/metodologia/abordagem:
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso, na qual participaram cidadãos de Brumadinho e grupos de mobilização locais. As entrevistas realizadas com dez cidadãos do município e a análise documental permitiram um volume de informações dos diversos atores que participam do emaranhado que envolve as ações relacionadas a esse desastre.
Resultados:
A empresa utiliza mecanismos que imputam às pessoas atingidas o desânimo e a descrença, fomentando a política da resignação por meio de inúmeras estratégias de burocratização, sofrimento social e mental, e violações de direitos que postergam as ações de reparação aos atingidos. O artigo demonstra como o contexto de desastres tecnológicos envolve um processo político, econômico, institucional e social marcado por violações, influências e injustiças com comunidades e pessoas, cujo início é anterior aos desastres.
Palavras-chave
desastre-crime; Brumadinho; mineração; políticas de resignação; violações de direitos