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UMA CONTRIBUIÇÃO À ESTRUTURA TEÓRICA PARA A CAPACIDADE DINÂMICA COGNITIVA

RESUMO

Objetivo:

Contribuir para a estrutura teórica da capacidade dinâmica cognitiva.

Originalidade/valor:

Este artigo fornece uma revisão das fontes e características das capacidades gerenciais cognitivas, aponta suas dimensões específicas de análise e explora as possibilidades de pesquisa associadas a abordagens como mudanças estratégicas, modelos de negócios e desempenho da firma.

Design/metodologia/abordagem:

Este trabalho utiliza-se do conceito de modelo mental, entendido aqui como estruturas de conhecimento simplificadas ou representações cognitivas sobre o funcionamento do ambiente empresarial (Gary & Wood, 2011Gary, M. S., & Wood, R. E. (2011). Mental models, decision rules, and performance heterogeneity. Strategic Management Journal, 32(6), 569-594. doi:10.1002/smj.899
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), para expor o encadeamento lógico das reflexões teóricas e formulação de proposições.

Resultados:

As contribuições principais deste estudo são as seguintes: 1. a reformulação do conceito de capacidade dinâmica cognitiva; 2. a inclusão dos conceitos de processamento mental controlado e automático no modelo proposto; 3. a inclusão das variáveis experiência, tempo, confiança da equipe e complexidade; e 4. a formulação de cinco propo­sições para subsidiar aplicações empíricas futuras. A análise sugere oportunidade de pesquisa sobre a relação entre capacidades dinâmicas gerenciais, cognitivas e organizacionais, e suas contribuições conjuntas para mudanças estratégicas nos modelos de negócios e no desempenho da firma.

PALAVRAS-CHAVE
Modelo mental; Capacidade cognitiva; Capacidade gerencial; Atividades mentais; Microfundamentos

ABSTRACT

Purpose:

The study seeks to contribute to the theoretical structure of cognitive dynamic capability.

Originality/value:

The study provides a review of the sources and characteristics of cognitive management capabilities, points out their specific dimensions of analysis, and explores the research possibilities associated with approaches such as strategic changes and the performance of the firm.

Design/methodology/approach:

This work uses the concept of mental models, understood as simplified knowledge structures or cognitive representations about the functioning of the business environment to expose the logical chain of theoretical reflections and formulation of propositions.

Findings:

The main contributions of this study are: 1. the reformulation of the concept of cognitive dynamic capability; 2. the inclusion of the concepts of controlled and automatic mental processing in the proposed model; 3. the inclusion of the variables experience, time, team confidence and complexity; and 4. the formulation of five propositions to support future research. We suggest an opportunity for research on the relationship between cognitive management capabilities and organizational dynamic capabilities, and their joint contribution to strategic changes in business models and firm performance.

KEYWORDS
Mental model; Cognitive capability; Management capability; Mental activities; Microfoundations

1. INTRODUÇÃO

Recentemente as discussões na área da estratégia estão sendo direcio­nadas para a compreensão de aspectos cognitivos dos gestores responsáveis pelas decisões estratégicas das organizações, abrindo espaço para abordagens teóricas focadas no indivíduo (Powell, 2014Powell, T. C. (2014). Strategic management and the person. Strategic Organization, 12(3), 200-207. doi:10.1177/1476127014544093
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) como a neuroestratégia (Powell, 2011Powell, T. C. (2014). Strategic management and the person. Strategic Organization, 12(3), 200-207. doi:10.1177/1476127014544093
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) e as capacidades gerenciais cognitivas (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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).

Nesse sentido, o papel do gestor individual começou a assumir maior importância em uma literatura emergente sobre os microfundamentos das capacidades dinâmicas para adaptação e mudança organizacional (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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; Powell, 2014Powell, T. C. (2014). Strategic management and the person. Strategic Organization, 12(3), 200-207. doi:10.1177/1476127014544093
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).

Adner e Helfat (2003)Adner, R., & Helfat, C. E. (2003). Corporate effects and dynamic managerial capabilities. Strategic Management Journal, 24(10), 1011-1025. doi:10.1002/smj.331
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argumentam que alguns gestores podem ter “capacidade dinâmica gerencial”, o que lhes permite construir, integrar, reconfigurar e reposicionar os recursos e as capacidades organizacionais. Adner e Helfat (2003)Adner, R., & Helfat, C. E. (2003). Corporate effects and dynamic managerial capabilities. Strategic Management Journal, 24(10), 1011-1025. doi:10.1002/smj.331
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observam ainda que as capacidades dinâmicas gerenciais dependem, em parte, da cognição gerencial, no entanto os fundamentos cognitivos da capacidade dinâmica gerencial permanecem, em grande parte, inexplorados (Eggers & Kaplan, 2013Eggers, J. P., & Kaplan, S. (2013). Cognition and capabilities: A multi-level perspective. Academy of Management Annals, 7(1), 295-340. doi:10.5465/19416520.2013.769318
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).

Os estudos anteriores demonstraram que a heterogeneidade da cognição da alta gestão está associada à heterogeneidade de esforços e resultados de mudanças estratégicas (Castanias & Helfat, 1991Castanias, R. P., & Helfat, C. E. (1991). Managerial resources and rents. Journal of Management, 17(1), 155-171. doi:10.1177/014920639101700110
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; Lieberson & O’Connor, 1972Lieberson, S., & O’Connor, J. F. (1972). Leadership and organizational performance: A study of large corporations. American Sociological Review, 37(2), 117-130. doi:10.2307/2094020
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; Zhang, Li, Ullrich, & Dick, 2015Zhang, X. A., Li, N., Ullrich, J., & Dick, R. van (2015). Getting everyone on board: The effect of differentiated transformational leadership by CEOs on top management team effectiveness and leader-rated firm performance. Journal of Management, 41(7), 1898-1933. doi:10.1177/0149206312471387
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). No entanto, relativamente pouco dessa pesquisa se concentrou diretamente nos aspectos das atividades mentais (ou processos mentais) da cognição (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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; Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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) que envolvam aquisição, organização e processamento de informações.

Helfat e Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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, visando estruturar um modelo para aplicação empírica, propõem o conceito de “capacidades gerenciais cognitivas”, ainda não validado empiricamente. Em resumo, há necessidade de uma melhor compreensão das capacidades gerenciais cognitivas no que se refere à construção, estruturação, identificação e modelagem que permitam a integração com áreas importantes do conhecimento estratégico, como mudanças estratégicas, modelo de negócios e desempenho da firma.

Uma carência identificada reside na existência incipiente de procedimentos metodológicos viáveis para coletar, organizar e analisar dados de origem cognitiva para o campo da estratégia (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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). Nesse sentido, este trabalho utiliza-se do conceito de modelo mental, entendido aqui como estruturas de conhecimento simplificadas ou representações cognitivas sobre o funcionamento do ambiente empresarial (Gary & Wood, 2011Gary, M. S., & Wood, R. E. (2011). Mental models, decision rules, and performance heterogeneity. Strategic Management Journal, 32(6), 569-594. doi:10.1002/smj.899
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), para expor o encadeamento lógico das reflexões teóricas e a formulação de proposições deste estudo. Dito isso, questiona-se: Haveria elementos adicionais na estrutura da capacidade dinâmica cognitiva de Helfat e Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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?

Nesse sentido, o objetivo do trabalho é contribuir para a estrutura teórica da capacidade dinâmica cognitiva de Helfat e Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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, definida aqui como a capacidade de um gestor individual para realizar uma ou mais atividades mentais que compõem a cognição. De modo específico, este estudo: 1. fornece uma revisão das fontes e características das capacidades gerenciais cognitivas, 2. aponta suas dimensões específicas de análise e 3. explora as possibilidades de pesquisa associadas a abordagens como mudanças estratégicas, modelos de negócios e desempenho da firma.

Esta pesquisa contribui teoricamente ao reformular o conceito de capacidade dinâmica cognitiva, ao propor cinco proposições para subsidiar aplicações empíricas futuras e ao explicitar, no modelo teórico proposto, o papel dos processamentos mental automático e controlado.

2. ATIVIDADES MENTAIS E COGNIÇÃO EM ESTRATÉGIA

Atualmente existem diversas correntes teóricas que buscam compreender fenômenos ligados à pesquisa em estratégia pela investigação de aspectos relacionados às atividades cerebrais, mentais ou cognitivas. Podem-se destacar, por exemplo, duas delas: a neuroestratégia (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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) e a capacidade dinâmica cognitiva (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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).

Powell (2011)Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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, ao propor um novo campo da estratégia denominado de neuroestratégia, sugere que os pesquisadores busquem inspiração em subáreas da neurociência comportamental, como a neuroeconomia e o neuromar­keting. Consiste, principalmente, em analisar o funcionamento do cérebro do tomador de decisão estratégica quando exposto a situações manipuladas.

Essas pesquisas, via de regra, são empreendidas pelo uso de equipamentos modernos de geração de imagem (por exemplo, ressonância magnética por imagem). Os sujeitos da pesquisa são submetidos a situações adversas, e depois seus cérebros são escaneados e as imagens analisadas conforme as alterações cerebrais são constatadas. As teorias da estratégia usam frequentemente construtos psicológicos não observados para explicar o comportamento observado (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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). Uma das formas de a neurociência contribuir para a pesquisa social é ligando construtos mentais não observados com eventos fisiológicos no cérebro (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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).

Nos últimos anos, os neurocientistas estudam o cérebro em vários níveis de análise: molecular, celular, sistêmico e comportamental. A neurociência comportamental inclui disciplinas como neuroeconomia e neuromarketing, que ligam a atividade no cérebro a reputação, status, cooperação, confiança e altruísmo (neurociência social); aprendizagem, percepção, memória e tomada de decisão (neurociência cognitiva); e sensações, paixões, sentimentos e estados motivacionais (neurociência afetiva) (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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). Claramente, algumas dessas áreas abordam problemas de pesquisa na gestão estratégica e sugerem a possibilidade de vincular a estratégia e a neurociência.

No entanto, há dúvidas se os processos dentro do cérebro podem realmente se configurar como unidade de análise principal na gestão estratégica (Rumelt, Schendel, & Teece, 1994Rumelt, R. P., Schendel, D., & Teece D (Eds.). (1994). Fundamental issues in strategy: A research agenda. Boston, MA: Harvard Business School Press.). Alguns cientistas sociais não estão convencidos. Gul e Pesendorfer (2008)Gul, F. & Pesendorfer, W. (2008). The case for mindless economics. In A. Caplin & A. Schotter (Eds). The Foundations of Positive and Normative Economics. New York: Oxford University Press:. 3-39. argumentam que a neurociência não pode testar modelos econômicos porque eles não fazem previsões sobre o cérebro. Os economistas geralmente se preocupam com as condições e escolhas observadas - por exemplo, o impacto de um aumento de impostos na poupança - e não com os processos intervenientes (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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).

Suspeitas semelhantes poderiam ser levantadas sobre a neuroestratégia. Pode-se argumentar, por exemplo, que a neuroestratégia não pode responder a questões estratégicas porque o gerenciamento estratégico não faz perguntas sobre o cérebro. Os pesquisadores da estratégia sempre se preocuparam com os processos de decisão interpostos, dando igual peso às estratégias e aos resultados (Fredrickson & Mitchell, 1984Fredrickson, J. W., & Mitchell, T. R. (1984). Strategic decision processes: Comprehensiveness and performance in an industry with an unstable environment. Academy of Management Journal, 27(2), 399-423. doi:10.23 07/255932
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). Se a neurociência dá uma visão genuína dos mecanismos de escolha estratégica, ela tem relevância direta para a pesquisa em estratégia (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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).

Outra abordagem teórica cujo enfoque está na cognição do gestor é a capacidade dinâmica cognitiva proposta por Helfat e Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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. Na ciência cognitiva, um campo multidisciplinar que inclui inteligência artificial e psicologia cognitiva (Luger, 1994Luger, G. F. (1994). Cognitive science: The science of intelligent systems. San Diego, CA: Academic Press.), o termo “cognição” aplica-se a qualquer tipo de operação mental ou “estrutura” mental; não se referindo às estruturas físicas no cérebro (ao contrário da neuroestratégia), mas às representações das informações processadas pela mente (Schneider & Angelmar, 1993Schneider, S. C., & Angelmar, R. (1993). Cognition in organizational analysis: Who’s minding the store? Organization Studies, 14(3), 347-374. doi:10.1177/017084069301400302
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).

O termo “cognição” abrange dois significados: 1. atividades mentais (também denominadas “processos mentais” ou “operações mentais”) e 2. estruturas mentais (ou representações). A pesquisa em gestão concentrou-se fortemente na segunda compreensão da cognição, também conhecida como estrutura de conhecimento (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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; Schilling, 2018Schilling, M. A. (2018). The cognitive foundations of visionary strategy. Strategy Science, 3(1), 335-342. doi:10.1287/stsc.2017.0044
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).

Nesse processo de transição do foco na tarefa e nas rotinas para a compreensão das atividades mentais dos gestores que pensam, idealizam e são responsáveis pela execução das estratégias em uma empresa, Helfat e Peteraf (2015, p. 835)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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propõem o conceito de “capacidade dinâmica cognitiva” como “a capacidade de um gestor individual para realizar uma ou mais das atividades mentais que compõem a cognição”. Essa definição de capacidade cognitiva está direcionada para as atividades ou funções que a cognição realiza. O cérebro humano desempenha muitas atividades mentais diferentes, como aquelas envolvendo atenção, percepção e resolução de problemas (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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).

A pesquisa em psicologia e campos relacionados distingue dois modos de processamento mental de informações (Stanovich & West, 2000Stanovich, K. E., & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: Implications for the rationality debate? Behavioral and Brain Sciences, 23(5), 645-665. doi:10.1017/CBO9780511808098.026
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). Um, predominantemente automático, é denominado processamento mental do sistema 1 (Kahneman, 2011Kahneman, D. (2011). Thinking fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.; Stanovich & West, 2000Stanovich, K. E., & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: Implications for the rationality debate? Behavioral and Brain Sciences, 23(5), 645-665. doi:10.1017/CBO9780511808098.026
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), no qual as atividades mentais automáticas permitem respostas rápidas a estímulos e dados externos (Schneider & Shiffrin, 1977Schneider, W., & Shiffrin, R. M. (1977). Controlled and automatic human information processing: I. Detection, search, and attention. Psychological Review, 84(1), 1-66. doi:10.1037/0033-295X.84.1.1
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). O outro modo de processamento é muitas vezes referido como processamento mental “controlado” ou “deliberativo” ou como “função executiva”, denominado processamento mental do sistema 2 (Kahneman, 2011Kahneman, D. (2011). Thinking fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.; Stanovich & West, 2000Stanovich, K. E., & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: Implications for the rationality debate? Behavioral and Brain Sciences, 23(5), 645-665. doi:10.1017/CBO9780511808098.026
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).

Apesar da defesa contundente de Powell (2011)Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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sobre a importância da neuroestratégia para a descoberta de novos conhecimentos na área da estratégia, esta é uma área que ainda se mostra pouco desenvolvida e que convence poucos pesquisadores a enveredar por ela. Levando-se em consideração que a capacidade dinâmica cognitiva (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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) encontra-se mais desenvolvida e apresenta maior potencial de aplicação empírica imediata do que a neuroestratégia (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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), as seções a seguir foram desenvolvidas para descrever o modo de operação empírica do primeiro conceito.

3. CAPACIDADE DINÂMICA COGNITIVA

As capacidades cognitivas podem melhorar por meio da prática, um fenômeno que caracteriza de forma semelhante o desenvolvimento das capacidades estudadas no gerenciamento estratégico. Por exemplo, Ericsson e Lehmann (1996)Ericsson, K. A., & Lehmann, A. C. (1996). Expert and exceptional performance: Evidence of maximal adaptation to task constraints. Annual Review of Psychology, 47(1), 273-305. verificaram, em estudos observacionais e de laboratório, que o desempenho da memória melhora com a prática e o treinamento.

Posner, DiGirolamo e Fernandez-Duque (1997)Posner, M. I., DiGirolamo, G. J., & Fernandez-Duque, D. (1997). Brain mechanisms of cognitive skills. Consciousness and Cognition, 6(2), 267-290. doi:10.1006/ccog.1997.0301
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, por exemplo, consideram que “a prática pode alterar o tamanho ou o número de áreas cerebrais envolvidas e as vias utilizadas” no desempenho de “habilidades cognitivas” (por exemplo, leitura) que requerem atenção. Achados como esses sugerem que, se alguns indivíduos praticarem uma determinada atividade mental com mais frequência do que outros (por exemplo, uso frequente de memória de curto prazo por garçons), eles provavelmente desenvolverão melhores capacidades cognitivas desse tipo.

As próximas seções foram desenvolvidas para detalhar os elementos mais relevantes, identificados na literatura, visando explicar e descrever a capacidade dinâmica cognitiva.

3.1 Processos mentais controlados e automáticos

A heterogeneidade de capacidades cognitivas parece envolver tanto processos mentais controlados quanto automáticos (Kahneman, 2011Kahneman, D. (2011). Thinking fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.; Stanovich & West, 2000Stanovich, K. E., & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: Implications for the rationality debate? Behavioral and Brain Sciences, 23(5), 645-665. doi:10.1017/CBO9780511808098.026
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). As pesquisas têm mostrado que os indivíduos diferem em sua dependência de diferentes tipos de processos automáticos versus controlados (Weber & Johnson, 2009Weber, E. U., & Johnson, E. J. (2009). Mindful judgment and decision making. Annual Review of Psychology, 60, 53-85. doi:10.1146/annurev.psych.60.110707.163633
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).

O desenvolvimento da experiência inicialmente depende do processamento mental controlado (sistema 2), porém o processamento mental se torna automático com a prática (Larrick & Feiler, 2016Larrick, R. P., & Feiler, D. C. (2016). Expertise in decision making. In G. B. Keren & G. Hu (Eds.). The Wiley-Blackwell Handbook of Judgment and Decision Making (pp. 696-721). Malden, MA: Blackwell.). Em particular, a prática altera a natureza das “operações cognitivas” melhorando a velocidade e a suavidade do processamento mental, reduzindo as demandas que essas operações colocam na capacidade do cérebro (Ericsson, 2016Ericsson, K. A. (2016). Summing up hours of any type of practice versus identifying optimal practice activities: Commentary on Macnamara, Moreau, & Hambrick (2016). Perspectives on Psychological Science, 11(3), 351-354. doi:10.1177/1745691616635600
https://doi.org/10.1177/1745691616635600...
). A descoberta de que a prática em um domínio específico pode levar à automatização no processamento mental sugere que as diferenças entre os indivíduos na extensão da experiência anterior dentro de um domínio podem levar à heterogeneidade na dependência do processamento automático versus controlado.

A maior dependência de processos automáticos tem vantagens e desvantagens. Como observado, os processos automáticos melhoram a velocidade dos processos mentais e colocam menos demanda na capacidade do cérebro. No entanto, os processos mentais automáticos também podem levar a vieses na tomada de decisões (Kahneman, 2011Kahneman, D. (2011). Thinking fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.; Kahneman, Slovic, & Tversky, 1982Kahneman, D., Slovic, P., & Tversky, A. (1982). Judgment under uncertainty: Heuristics and biases. New York: Cambridge University Press.). Embora a pesquisa sugira que os processos mentais controlados possam ter o potencial de intervir em tais vieses e anulá-los (Stanovich & West, 2000Stanovich, K. E., & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: Implications for the rationality debate? Behavioral and Brain Sciences, 23(5), 645-665. doi:10.1017/CBO9780511808098.026
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), os indivíduos parecem diferir em sua capacidade de fazê-lo (Weber & Johnson, 2009Weber, E. U., & Johnson, E. J. (2009). Mindful judgment and decision making. Annual Review of Psychology, 60, 53-85. doi:10.1146/annurev.psych.60.110707.163633
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), fornecendo ainda outra fonte de heterogeneidade nas capacidades cognitivas.

Assim, podem-se encontrar estudos que buscam a aproximação entre cognição e estratégia (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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; Schilling, 2018Schilling, M. A. (2018). The cognitive foundations of visionary strategy. Strategy Science, 3(1), 335-342. doi:10.1287/stsc.2017.0044
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). Schilling (2018)Schilling, M. A. (2018). The cognitive foundations of visionary strategy. Strategy Science, 3(1), 335-342. doi:10.1287/stsc.2017.0044
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apresenta os fundamentos cognitivos da estratégia visionária (abstração, idealismo, caminho de raciocínio analítico), enquanto Helfat e Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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propõem o conceito de capacidade dinâmica cognitiva que compreende percepção e atenção; resolução de problemas e racionalidade; linguagem e comunicação; e cognição social. Nas próximas seções, detalharemos este último conceito, além de contribuirmos com a inserção dos conceitos de processamento metal automático (sistema 1) e processamento mental controlado (sistema 2) que não foram incluídos no modelo de Helfat & Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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.

3.2 Percepção e atenção

A Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association - APA, 2018American Psychological Association (2018). Glossary of psychological terms. Recuperado de http://www.apa.org/research/action/glossary.aspx? tab=16
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) define a percepção como as atividades ou os processos mentais “que organizam a informação (na imagem sensorial) e interpretam-na como tendo sido produzida por propriedades de (objetos ou) eventos no mundo externo (tridimensional)”. A percepção é considerada uma atividade mental intimamente relacionada à atenção, o que implica a seleção de informações relevantes (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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).

Na psicologia, a percepção geralmente se distingue da sensação, que se refere à experiência ou ao sentimento subjetivo que ocorre quando os receptores sensoriais são ativados. Gazzaniga (2014)Gazzaniga, M. S. (Ed.). (2014). Handbook of cognitive neuroscience. London: Springer. observa que, enquanto a essência da sensação é a detecção, a essência da percepção é a construção de informações úteis e significativas sobre um ambiente particular. A percepção envolve uma série de funções mentais, incluindo aquelas relacionadas ao reconhecimento de padrões (National Advisory Mental Health Council - NAMHC, 1996National Advisory Mental Health Council (1996). Basic behavioral science research for mental health: Perception, attention, learning, and memory. American Psychologist, 51(2), 133-142.) e interpretação de dados (APA, 2018American Psychological Association (2018). Glossary of psychological terms. Recuperado de http://www.apa.org/research/action/glossary.aspx? tab=16
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).

Assim, conhecimento prévio, expectativa e crença guiam as atividades da percepção mental. Um relatório de resumo da força-tarefa de comportamento básico da NAMHC (1996, p. 133)National Advisory Mental Health Council (1996). Basic behavioral science research for mental health: Perception, attention, learning, and memory. American Psychologist, 51(2), 133-142. afirma que o cérebro humano combina dados perceptivos do ambiente com “conhecimento, crenças e expectativas para fazer suposições razoavelmente informadas” sobre o que está presente no meio ambiente. Em relação ao reconhecimento de padrões, os especialistas diferem dos novatos (aqueles sem conhecimento ou experiência especializada) “em grande parte, em termos de quantos padrões eles podem reconhecer rapidamente e responder adequadamente” (NAMHC, 1996National Advisory Mental Health Council (1996). Basic behavioral science research for mental health: Perception, attention, learning, and memory. American Psychologist, 51(2), 133-142., p. 133).

Em um estudo clássico de reconhecimento de padrões entre especialistas e novatos, Chase e Simon (1973a, p. 57)Chase, W. G., & Simon, H. A. (1973a). Perception in chess. Cognitive Psychology, 4(1), 55-81. doi:10.1016/0010-0285(73)90004-2
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pediram aos jogadores de xadrez que realizassem uma “tarefa de percepção” que exigisse a reconstrução de uma posição de xadrez. O estudo evidenciou que os jogadores de xadrez mais experientes perceberam trechos mais longos de jogadas - “constelações familiares ou significativas de peças que já estão estruturadas na memória de longo prazo” (Chase & Simon, 1973bChase, W. G., & Simon, H. A. (1973b). The mind’s eye in chess. In W. G. Chase (Ed.). Visual information processing (pp. 215-281). New York: Academic Press., p. 217) - criando, mais rapidamente, reconhecimento de padrões. Como observaram Chase e Simon (1973a, p. 56)Chase, W. G., & Simon, H. A. (1973a). Perception in chess. Cognitive Psychology, 4(1), 55-81. doi:10.1016/0010-0285(73)90004-2
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, esse rápido reconhecimento de padrões depende do processamento automático acumulado por anos de prática constante. Estudos subsequentes replicaram esse fenômeno não só no xadrez, mas também em outras aplicações, como os jogos eletrônicos (Ericsson, 2016Ericsson, K. A. (2016). Summing up hours of any type of practice versus identifying optimal practice activities: Commentary on Macnamara, Moreau, & Hambrick (2016). Perspectives on Psychological Science, 11(3), 351-354. doi:10.1177/1745691616635600
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).

Esses estudos sugerem que o conhecimento específico do contexto e a experiência no reconhecimento de padrões podem fornecer um fator atenuante, embora as crenças prévias subjetivas possam distorcer as percepções, particularmente quando a informação é ambígua (Powell, Lovallo, & Caringal, 2006Powell, T. C., Lovallo, D., & Caringal, C. (2006). Causal ambiguity, management perception, and firm performance. Academy of Management Review, 31(1), 175-196. doi: 10.2307/20159191
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). Além disso, o fato de que o conhecimento adquirido a partir da experiência anterior molda a percepção de novas experiências aponta a dependência de caminho: as experiências anteriores moldam novas percepções, que então se tornam parte da base de experiência para a subsequente atividade perceptual (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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).

A capacidade cognitiva da percepção afeta a percepção das oportunidades de múltiplas formas. Reconhecer padrões emergentes no ambiente, por exemplo, é essencial para a detecção de oportunidades (George, Parida, Lahti, & Wincent, 2016George, N. M., Parida, V., Lahti, T., & Wincent, J. (2016). A systematic literature review of entrepreneurial opportunity recognition: Insights on influencing factors. International Entrepreneurship and Management Journal, 12(2), 309-350. doi:10.1007/s11365-014-0347-y
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). Interpretar esses dados também é crítico tanto para o reconhecimento de oportunidades quanto para a criação de oportunidades.

O reconhecimento rápido ou a criação de novas oportunidades também são relevantes, particularmente se as empresas podem obter vantagens em longo prazo (Chen, Delmas, & Lieberman, 2015Chen, C. M., Delmas, M. A., & Lieberman, M. B. (2015). Production frontier methodologies and efficiency as a performance measure in strategic management research. Strategic Management Journal, 36(1), 191-236. doi:10.1002/smj.2199
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). De forma semelhante, o reconhecimento de padrões também pode facilitar o reconhecimento precoce das ameaças ambientais e permitir respostas mais efetivas e oportunas. Nesse sentido, tem-se como proposição:

  • P1: Gestores mais experientes têm mais capacidade para perceber padrões mais rápido que gestores menos experientes (ver Figura 3.2.1).

Figura 3.2.1
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA P1 E P2

A APA (2018) define a atenção como “um estado de conscientização focalizada em um subconjunto de informações perceptivas disponíveis”. A atenção é crítica para a percepção. A atenção determina quais estímulos são reconhecidos e identificados, por meio do ato de se concentrar em informações específicas (Pearson & Kosslyn, 2015Pearson, J., & Kosslyn, S. M. (2015). The heterogeneity of mental representation: Ending the imagery debate. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(33), 10089-10092. doi:10.1073/pnas.1504933112
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). Posner e Petersen (1990)Posner, M. I., & Petersen, S. E. (1990). The attention system of the human brain. Annual Review of Neuroscience, 13(1), 25-42. doi:10.1146/annurev.ne.13.030190.000325
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apontam três principais funções que têm sido preeminentes nas contas cognitivas da atenção: 1. orientação para eventos sensoriais, 2. detecção de sinais para processamento focal (consciente) e 3. manutenção de um estado vigilante ou alerta.

Até certo ponto, o cérebro pode atender à informação contida nos estímulos sensoriais por meio de atividades mentais automáticas. Os processos mentais automáticos ajudam a conservar o uso da capacidade limitada de atenção cerebral (Weber & Johnson, 2009Weber, E. U., & Johnson, E. J. (2009). Mindful judgment and decision making. Annual Review of Psychology, 60, 53-85. doi:10.1146/annurev.psych.60.110707.163633
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). Por exemplo, um fenômeno chamado pop-out ocorre quando um estímulo difere suficientemente dos que o rodeiam e agrupa nossa atenção automaticamente (Pearson & Kosslyn, 2015Pearson, J., & Kosslyn, S. M. (2015). The heterogeneity of mental representation: Ending the imagery debate. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(33), 10089-10092. doi:10.1073/pnas.1504933112
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). Em contraste, durante a busca ativa de uma característica, objeto ou evento particular, o cérebro depende do processamento controlado para focalizar a atenção (Posner & Fernadez-Duque, 1999Posner, M. I., & Fernadez-Duque, D. (1999). Attention in the human brain. In R. A. Wilson & F. C. Keil (Eds.). The MIT encyclopedia of the cognitive sciences. Cambridge, MA: MIT Press.).

Posner e Petersen (1990)Posner, M. I., & Petersen, S. E. (1990). The attention system of the human brain. Annual Review of Neuroscience, 13(1), 25-42. doi:10.1146/annurev.ne.13.030190.000325
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propuseram a existência de um “sistema atencional executivo” que pode desempenhar um papel orquestrando várias partes de um sistema atencional dentro do cérebro (Rueda, Posner, & Rothbart, 2005Rueda, M. R., Posner, M. I., & Rothbart, M. K. (2005). The development of executive attention: Contributions to the emergence of self-regulation. Developmental Neuropsychology, 28(2), 573-594. doi:10.1207/s15326942 dn2802_2
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). A prática e o treinamento podem melhorar as capacidades de atenção, fornecendo uma fonte de dependência de caminho.

Ocasio e Joseph (2018)Ocasio, W., & Joseph, J. (2018). The attention-based view of great strategies. Strategy Science, 3(1), 289-294. doi:10.1287/stsc.2017.0042
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propõem a visão baseada na atenção (VBA). Segundo os autores, as origens das ideias por trás de uma grande estratégia são menos importantes do que a capacidade da empresa de sustentar a atenção concentrada no desenvolvimento, na implementação e na elaboração de boas ideias em uma agenda estratégica distintiva para a criação de valor.

A transformação das ideias em uma ótima estratégia é moldada pela identidade da empresa e pelos padrões correspondentes de atenção organizacional (Ocasio & Joseph, 2018Ocasio, W., & Joseph, J. (2018). The attention-based view of great strategies. Strategy Science, 3(1), 289-294. doi:10.1287/stsc.2017.0042
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). Além disso, as grandes estratégias enfocam a atenção na criação de valor para o cliente - mediante a proposta de valor da em- presa e os modelos de negócios. Grandes estratégias emergem de uma agenda estratégica focada, comunicada e distribuída em toda a empresa (Ocasio & Joseph, 2018Ocasio, W., & Joseph, J. (2018). The attention-based view of great strategies. Strategy Science, 3(1), 289-294. doi:10.1287/stsc.2017.0042
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).

A atenção é um tópico de interesse na gestão estratégica (Ocasio & Joseph, 2018Ocasio, W., & Joseph, J. (2018). The attention-based view of great strategies. Strategy Science, 3(1), 289-294. doi:10.1287/stsc.2017.0042
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) e na neurociência cognitiva (Posner, 2004Posner, M. I. (Ed.). (2004). Cognitive neuroscience of attention. New York: Guilford Press.). Na estratégia, a atenção levanta questões em vários aspectos: identificação do problema (Starbuck & Milliken, 1988Starbuck, W. H., & Milliken, F. J. (1988). Executives’ perceptual filters: What they notice and how they make sense. In D. C. Hambrick (Ed.). The executive effect: Concepts and methods for studying top managers (pp. 35-65). Greenwich, CT: JAI Press .); resolução de problemas (Bower, 1967Bower, J. L. (1967). Strategy as a problem-solving theory of business planning. Boston: Harvard Business School Press.; Newell & Simon, 1972Newell, A., & Simon, H. A. (1972). Human problem solving. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.); alocação de recursos (Ansoff, 1965Ansoff, H. I. (1965). Corporate strategy. New York: McGraw-Hill.; Bower, 1970Bower, J. L. (1970). Managing the resource allocation process. Boston: Harvard Business School Press.); diagnóstico de questões estratégicas (Dutton, Fahey, & Narayanan, 1983Dutton, J. E., Fahey, L., & Narayanan, V. K. (1983). Toward understanding strategic issue diagnosis. Strategic Management Journal, 4(4), 307-323. doi:10.1002/smj.4250040403
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); e mindfulness (atenção plena) organizacional (Hyland, Lee, & Mills, 2015Hyland, P. K., Lee, R. A., & Mills, M. J. (2015). Mindfulness at work: A new approach to improving individual and organizational performance. Industrial and Organizational Psychology, 8(4), 576-602. doi:10.1017/iop.2015.41
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). Esses tópicos oferecem muitos pontos de contato com a neurociência cognitiva (Powell, 2011Powell, T. C. (2011). Neurostrategy. Strategic Management Journal, 32(13), 1484-1499. doi:10.1002/smj.969
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).

Detectar oportunidades e ameaças em um ambiente incerto, complexo e muitas vezes acelerado exige capacidades cognitivas agudas em relação à atenção. Ao se concentrar em estímulos relevantes, a atenção pode facilitar o escaneamento ambiental. Além disso, o componente de alerta da atenção pode facilitar a detecção e criação de novas oportunidades, enquanto a capacidade de orientação atende à informação relevante. Dessa forma, a capacidade cognitiva da atenção fornece uma base para capacidades dinâmicas de detecção gerencial. Nesse sentido, tem-se como proposição:

  • P2: Quanto maior a atenção de um gestor, maior a capacidade de percepção dele para resolver problemas (ver Figura 3.2.1).

3.3 Resolução de problemas e racionalidade

Para Gazzaniga (2014)Gazzaniga, M. S. (Ed.). (2014). Handbook of cognitive neuroscience. London: Springer., resolução de problemas refere-se a como encontrar um caminho em torno de um obstáculo para alcançar um objetivo em que um obstáculo denota um problema. O raciocínio refere-se a avaliar informações, argumentos e crenças para tirar uma conclusão ou usar informações para determinar se uma conclusão é válida ou razoável (Gazzaniga, 2014Gazzaniga, M. S. (Ed.). (2014). Handbook of cognitive neuroscience. London: Springer.).

O Dicionário Oxford de Psicologia (Colman, 2006Colman, A. M. (2006). A dictionary of psychology (2nd ended.). Oxford, UK: Oxford University Press.) fornece uma definição um pouco mais restrita de “raciocínio” como atividades mentais “direcionadas para encontrar soluções para problemas aplicando regras de lógica formais ou algum outro procedimento racional”. Dada a estreita relação entre resolução de problemas e raciocínio, ambos são discutidos juntos.

O processamento mental controlado entra em jogo na aplicação de regras formais de lógica ou outras abordagens racionais para resolver problemas e está associado a fatores como “inteligência fluida” e “disposições de pensamento racional” (também denominados “estilos cognitivos”) (Stanovich, 2009Stanovich, K. E. (2009). What intelligence tests miss: The psychology of rational thought. New Haven, CT: Yale University Press., pp. 28-40). A inteligência fluida baseia-se na memória de curto prazo e envolve a capacidade de raciocinar sem depender fortemente de conhecimentos ou procedimentos previamente aprendidos (Pearson & Kosslyn, 2015Pearson, J., & Kosslyn, S. M. (2015). The heterogeneity of mental representation: Ending the imagery debate. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(33), 10089-10092. doi:10.1073/pnas.1504933112
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).

Em contraste, as disposições de pensamento têm a ver com as “propensões cognitivas” de uma pessoa, como tendências para “pensar amplamente sobre um problema antes de responder, calibrar a força da opinião de alguém de acordo com a quantidade de evidência disponível, pensar sobre as consequências futuras antes de agir [...] e explicitamente ponderar prós e contras de uma situação” (Stanovich, 2009Stanovich, K. E. (2009). What intelligence tests miss: The psychology of rational thought. New Haven, CT: Yale University Press., pp. 31-32). Esses fatores estão envolvidos na capacidade de regular o nosso pensamento e de substituir as respostas automáticas (Stanovich, 2009Stanovich, K. E. (2009). What intelligence tests miss: The psychology of rational thought. New Haven, CT: Yale University Press.).

Além da dependência do processamento controlado, a resolução de problemas pode utilizar um “processamento heurístico” mais automático, “projetado para levá-lo ao ponto certo ao resolver um problema ou tomar uma decisão” (Stanovich, 2009Stanovich, K. E. (2009). What intelligence tests miss: The psychology of rational thought. New Haven, CT: Yale University Press., p. 23). Para Gigerenzer e Gaissmaier (2011)Gigerenzer, G., & Gaissmaier, W. (2011). Heuristic decision making. Annual Review of Psychology, 62, 451-482. doi:10.1146/annurev-psych-120709-145346
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, a heurística é constituída por processos cognitivos empregados em decisões não racionais, sendo definidas como estratégias que ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida. Em vez de confiar em uma extensa análise de múltiplas possibilidades, essa abordagem baseia-se em atalhos (Pearson & Kosslyn, 2015Pearson, J., & Kosslyn, S. M. (2015). The heterogeneity of mental representation: Ending the imagery debate. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(33), 10089-10092. doi:10.1073/pnas.1504933112
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). O cérebro pode confiar em heurísticas ao trabalhar com problemas mal definidos (Pearson & Kosslyn, 2015Pearson, J., & Kosslyn, S. M. (2015). The heterogeneity of mental representation: Ending the imagery debate. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(33), 10089-10092. doi:10.1073/pnas.1504933112
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) ou na resolução de problemas bem definidos, mas complexos, como os encontrados no xadrez (Pearson & Kosslyn, 2015Pearson, J., & Kosslyn, S. M. (2015). The heterogeneity of mental representation: Ending the imagery debate. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(33), 10089-10092. doi:10.1073/pnas.1504933112
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).

Frederick (2005, p. 26)Frederick, S. (2005). Cognitive reflection and decision making. The Journal of Economic Perspectives, 19(4), 25-42. doi:10.1257/089533005775196732
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propôs um “teste de reflexão cognitiva” para medir o grau em que um indivíduo usa processamento automático versus controlado na tomada de decisão. Com esse teste, Frederick (2005)Frederick, S. (2005). Cognitive reflection and decision making. The Journal of Economic Perspectives, 19(4), 25-42. doi:10.1257/089533005775196732
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descobriu que os indivíduos que dependiam mais fortemente do processo mental controlado (ou seja, demonstraram uma maior reflexão cognitiva) estavam mais dispostos a diferir as recompensas monetárias quando isso proporcionava um ganho substancialmente maior e foram menos sujeitos a preconceitos em relação à tomada de risco para ganhos versus perdas. Esses resultados sugerem que os benefícios do processamento mental controlado contrariam possíveis vieses na tomada de decisões para uma revisão abrangente de tais tendências (Kahneman, 2011Kahneman, D. (2011). Thinking fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.; Waraich, 2016Waraich, T. N. (2016). Cognitive reflection and decision making (Doctoral dissertation, Lahore School of Economics, Lahore, Pakistan).).

Em outro estudo, Payne, Bettman e Johnson (1988)Payne, J. W., Bettman, J. R., & Johnson, E. J. (1988). Adaptive strategy selection in decision making. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, 14(3), 534-552. doi:10.1037/0278-7393.14.3.534
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investigaram a tomada de decisão quando os indivíduos enfrentavam restrições de tempo e tiveram que escolher o resultado mais valorizado entre os conjuntos de recompensas monetárias com diferentes probabilidades de ocorrência. Eles descobriram que algumas heurísticas levaram a resultados que eram tão ou mais precisos do que os obtidos usando o processamento mental controlado na mesma situação, ao mesmo tempo que exigiam um esforço mental substancialmente menor (Payne et al., 1988Payne, J. W., Bettman, J. R., & Johnson, E. J. (1988). Adaptive strategy selection in decision making. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, 14(3), 534-552. doi:10.1037/0278-7393.14.3.534
https://doi.org/10.1037/0278-7393.14.3.5...
). Esses resultados sugerem que a eficácia do processamento automático versus o controlado na resolução de problemas pode depender em parte das características da situação, como a pressão do tempo.

As decisões para aproveitar as oportunidades por meio de investimentos estratégicos provavelmente exigem habilidades de raciocínio e resolução de problemas para desenvolver opções de investimento e avaliar seu potencial de lucro. O design do modelo de negócios também pode exigir capacidades de resolução de problemas, na medida em que modelos de negócios bem-sucedidos possuem uma lógica subjacente (Wirtz, Pistoia, Ullrich, & Göttel, 2016Wirtz, B. W., Pistoia, A., Ullrich, S., & Göttel, V. (2016). Business models: Origin, development and future research perspectives. Long Range Planning, 49(1), 36-54. doi:10.1016/j.lrp.2015.04.001
https://doi.org/10.1016/j.lrp.2015.04.00...
). O design e a execução bem-sucedidos de modelos de negócios exigem que vários elementos do design se encaixem, envolvendo ajuste estratégico e complementaridade entre atividades (Foss & Saebi, 2017Foss, N. J., & Saebi, T. (2017). Fifteen years of research on business model innovation: How far have we come, and where should we go? Journal of Management, 43(1), 200-227. doi:10.1177/0149206316675927
https://doi.org/10.1177/0149206316675927...
).

Uma capacidade cognitiva para resolução de problemas pode ajudar os gestores a juntar as inúmeras características de um modelo de negócios. A capacidade de raciocínio da inteligência fluida pode ajudar a resolver problemas relacionados tanto ao investimento estratégico quanto ao design do modelo de negócios.

As disposições de pensamento que promovem uma análise cuidadosa de opções alternativas podem ajudar a aproveitar as oportunidades também. Além disso, embora o uso de processamento mental controlado possa ajudar os gestores a se proteger contra os vícios cognitivos na avaliação das opções de investimento, as heurísticas podem se revelar particularmente efetivas em algumas situações, como quando os gestores enfrentam pressões de tempo rigorosas para tomar decisões ou quando os problemas são complexos ou maldefinidos. Nesse sentido, formulam-se as proposições 3a e 3b (ver Figura 3.3.1):

Figura 3.3.1
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA P3A E P3B

  • P3a: Quanto menor for o tempo para um gestor decidir, menor será a capacidade cognitiva para ele resolver problemas.

  • P3b: A complexidade dos problemas modera a relação entre o tempo para um gestor decidir e a capacidade cognitiva para ele resolver problemas.

3.4 Linguagem e comunicação

A capacidade cognitiva no domínio da linguagem está intimamente relacionada com outras capacidades cognitivas. No entanto, com base em testes, medições e estudos observacionais de habilidades linguísticas, Carroll (1993)Carroll, J. B. (1993). Human cognitive abilities: A survey of factor-analytic studies. Cambridge, UK: Cambridge University Press. argumenta que as habilidades de linguagem tendem a coexistir separadamente de outras habilidades. Com base em uma análise de fatores de dados de testes de avaliação psicopedagógica e outras fontes, Carroll (1993)Carroll, J. B. (1993). Human cognitive abilities: A survey of factor-analytic studies. Cambridge, UK: Cambridge University Press. fornece evidências de que, na maioria dos casos, o fator do domínio do idioma é diferenciado de outros fatores, como os relacionados ao raciocínio, à memória e à velocidade perceptiva.

O domínio da linguagem engloba uma série de capacidades cognitivas. Carroll (1993)Carroll, J. B. (1993). Human cognitive abilities: A survey of factor-analytic studies. Cambridge, UK: Cambridge University Press. diferencia a linguagem oral (ouvir e falar) da linguagem escrita e impressa (leitura e escrita) e a recepção de idioma (audição e leitura) da produção de linguagem (fala e escrita). Com base em uma síntese de pesquisas sobre habilidades linguísticas, Dörnyei e Ryan (2015)Dörnyei, Z., & Ryan, S. (2015). The psychology of the language learner revisited. London: Routledge. argumentam que a extensão do processamento controlado no uso da linguagem varia de acordo com o tipo de habilidade linguística. Escrever, por exemplo, apresenta-se mais aderente ao processamento mental controlado do que ao falar (Dörnyei & Ryan, 2015Dörnyei, Z., & Ryan, S. (2015). The psychology of the language learner revisited. London: Routledge.).

O comportamento não verbal, como as expressões faciais e os gestos, também podem transmitir uma variedade de informações, incluindo aquelas em relação a opiniões, valores, estados cognitivos, como compreensão ou confusão, estados físicos como fadiga e emoções (DePaulo, 1992DePaulo, B. M. (1992). Nonverbal behavior and self-presentation. Psychological Bulletin, 111(2), 203-243. doi:10.1037/0033-2909.111.2.203
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). As pessoas podem usar comportamentos não verbais em vez da comunicação verbal ou para complementá-la (DePaulo, 1992DePaulo, B. M. (1992). Nonverbal behavior and self-presentation. Psychological Bulletin, 111(2), 203-243. doi:10.1037/0033-2909.111.2.203
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).

Ao revisar essa evidência, DePaulo (1992)DePaulo, B. M. (1992). Nonverbal behavior and self-presentation. Psychological Bulletin, 111(2), 203-243. doi:10.1037/0033-2909.111.2.203
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argumenta que os comportamentos não verbais variam ao longo de um “continuum de controlabilidade”. Ou seja, alguns comportamentos não verbais são em grande parte automáticos, enquanto outros têm potencial para o autocontrole deliberado. DePaulo (1992)DePaulo, B. M. (1992). Nonverbal behavior and self-presentation. Psychological Bulletin, 111(2), 203-243. doi:10.1037/0033-2909.111.2.203
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também aponta para pesquisas sugerindo que, com a prática, comportamentos não verbais deliberados podem se tornar automáticos.

A reconfiguração de ativos pode depender criticamente da capacidade dos gestores para persuadir outros em sua empresa a empreender novas iniciativas. A linguagem pode ser usada para comunicar objetivos amplos e abrangentes, de modo a promover o alinhamento entre partes diferentes de uma empresa (Barnard, Barnard, & Andrews, 1968Barnard, C. I., Barnard, C. I., & Andrews, K. R. (1968). The functions of the executive (Vol. 11). Cambridge, MA: Harvard University Press.)

O estilo de comunicação dos principais gestores em geral e a forma como eles comunicam uma visão para a empresa em particular podem inspirar os trabalhadores, incentivar a iniciativa e impulsionar o crescimento empresarial (Mayfield, Mayfield, & Sharbrough, 2015Mayfield, J., Mayfield, M., & Sharbrough III, W. C. (2015). Strategic vision and values in top leaders’ communications: Motivating language at a higher level. International Journal of Business Communication, 52(1), 97-121. doi:10. 1177/2329488414560282
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). A habilidade gerencial no uso do idioma, como por meio de conversas improvisadas, fluxo de palavras e articulação na conversa, pode afetar a resposta dos trabalhadores às iniciativas de mudança.

A comunicação não verbal, como por meio de expressões faciais e gestos, pode afetar ainda mais a resposta do trabalhador. Além disso, o uso metafórico da linguagem por CEOs e empresários pode facilitar a mudança estratégica dentro das organizações e direcionar o alinhamento orientando os membros para objetivos comuns (Hill & Levenhagen, 1995Hill, R. C., & Levenhagen, M. (1995). Metaphors and mental models: Sensemaking and sensegiving in innovative and entrepreneurial activities. Journal of Management, 21(6), 1057-1074. doi:10.1016/0149-2063(95) 90022-5
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). Assim, com base na pesquisa em ciência cognitiva, Shaw, Brown e Bromiley (1998)Shaw, G., Brown, R., & Bromiley, P. (1998). Strategic stories: How 3M is rewriting business planning. Harvard Business Review, 76(3), 41-42. aconselham os gestores a aprimorar suas habilidades de contar histórias como um meio de motivar e mobilizar uma organização em torno de um novo plano estratégico. Outros observaram a importância da narrativa gerencial na transferência de conhecimento (Swap, Leonard, & Mimi Shields, 2001Swap, W., Leonard, D., & Mimi Shields, L. A. (2001). Using mentoring and storytelling to transfer knowledge in the workplace. Journal of Management Information Systems, 18(1), 95-114. doi:10.1080/07421222.2001.11045668
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), impulsionando a inovação e persuadindo os outros a seguir sua liderança (Conger, 1998Conger, J. A. (1998). The necessary art of persuasion. Harvard Business Review, 76(3), 84-95.). Dessa forma:

  • P4: Quanto maior for a capacidade de comunicação do gestor, maior será sua capacidade de: a. percepção e atenção e b. resolução de problemas (ver Figura 3.4.1).

Figura 3.4.1
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA P4A E P4B

3.5 Cognição social

A cognição social é um fenômeno complexo que engloba muitos tipos de atividade mental, como atenção e memória (Fiske, 2018Fiske, S. T. (2018). Controlling other people: The impact of power on stereotyping. In J. DeLamater & J. Collett (Eds.). Social cognition (pp. 101-115). New York: Routledge.), com estreitas ligações à emoção e ao sistema afetivo do cérebro (Fiske, 2018Fiske, S. T. (2018). Controlling other people: The impact of power on stereotyping. In J. DeLamater & J. Collett (Eds.). Social cognition (pp. 101-115). New York: Routledge.). Com base em evidências da ciência do desenvolvimento, da psicologia social e da neurociência, Decety e Sommerville (2003)Decety, J., & Sommerville, J. A. (2003). Shared representations between self and other: A social cognitive neuroscience view. Trends in Cognitive Sciences, 7(12), 527-533. doi:10.1016/j.tics.2003.10.004
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argumentam que o processamento de informações socialmente relevantes ocorre em áreas específicas do cérebro, sugerindo que as capacidades cognitivas sociais desempenham uma função cognitiva distinta. Ou seja, as atividades mentais envolvidas na cognição social, como as de atenção, percepção e raciocínio, parecem se relacionar especificamente com os aspectos sociais do ambiente externo de um indivíduo (Greifeneder, Bless, & Fiedler, 2017Greifeneder, R., Bless, H., & Fiedler, K. (2017). Social cognition: How individuals construct social reality. London: Psychology Press.).

As capacidades cognitivas sociais parecem implicar processamento mental automático e controlado. Por exemplo, a atribuição de intenções a outros parece ser automática (Kolb & Whishaw, 2009Kolb, B., & Whishaw, I. (2009). Fundamentals of human neuropsychology. New York: Worth Publishers.). Bargh e Chartrand (1999)Bargh, J. A., & Chartrand, T. L. (1999). The unbearable automaticity of being. American Psychologist, 54(7), 462-479. observam que a pesquisa sugere, em geral, que a percepção social é amplamente automática. Em contraste, o processamento controlado entra em jogo na definição de metas para o comportamento social e automonitoramento do progresso para alcançar esses objetivos (Moskowitz, 2005Moskowitz, G. B. (2005). Social cognition: Understanding self and others. New York: Guilford Press.).

Bargh e Chartrand (1999)Bargh, J. A., & Chartrand, T. L. (1999). The unbearable automaticity of being. American Psychologist, 54(7), 462-479., no entanto, argumentam que objetivos como a formação de impressões também podem ser ativados automaticamente e que a prática na formação de metas nas mesmas circunstâncias pode levar à automatização. Em geral, com base em uma análise de estudos de imagem cerebral relacionados à cognição social, Lieberman (2007)Lieberman, M. D. (2007). Social cognitive neuroscience: A review of core processes. Annual Review of Psychology, 58, 259-289. doi:10.1146/annurev.psych.58.110405.085654
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argumenta que uma série de capacidades cognitivas sociais pode envolver tanto processos automáticos quanto controlados. A imagem cerebral mostrou que a confiança está associada a mecanismos neurológicos específicos e a atividades mentais associadas que permitem que as pessoas atribuam crédito ou culpa por resultados compartilhados (Tomlin et al., 2006Tomlin, D., Kayali, M. A., King-Casas, B., Anen, C., Camerer, C. F., Quartz, S. R., & Montague, P. R. (2006). Agent-specific responses in the cingulate cortex during economic exchanges. Science, 312(5776), 1047-1050. doi:10.1126/science.1125596
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).

A capacidade cognitiva social inclui a capacidade de compreender o ponto de vista dos outros e, portanto, também oferece o potencial de influenciar o comportamento de outras pessoas (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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). As capacidades cognitivas sociais dos principais executivos podem permitir que eles influenciem os membros organizacionais para promover a reconfiguração de ativos. Essas capacidades podem ajudar os gestores a promover a cooperação. A cooperação é frequentemente associada à confiança entre os membros da organização, e a confiança também pode servir para reduzir os custos de coordenação (Zhong, Su, Peng, & Yang, 2017Zhong, W., Su, C., Peng, J., & Yang, Z. (2017). Trust in interorganizational relationships: A meta-analytic integration. Journal of Management, 43(4), 1050-1075. doi:10.1177/0149206314546373
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). A capacidade dos principais gestores para confiar e promover a confiança provavelmente dependerá em parte de suas capacidades cognitivas sociais, uma vez que a confiança exige entendimentos mútuos. Desse modo, tem-se como quinto pressuposto:

  • P5: Quanto maior for a capacidade cognitiva social do gestor, maior será o nível de confiança compartilhado por sua equipe (ver Figura 3.5.1).

Figura 3.5.1
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA P5

Os gestores também podem utilizar capacidades cognitivas sociais ao tentarem superar a resistência organizacional à mudança. Esses recursos podem fornecer informações sobre como os membros da organização veem a mudança, o que, por sua vez, pode permitir que os principais gestores ofereçam melhores incentivos para mudar ou enquadrar suas comunicações sobre mudança de forma mais eficaz.

A expressão “mudança estratégica” vem sendo amplamente abordada nas pesquisas sobre capacidades dinâmicas gerencial e cognitiva (Helfat & Martin, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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). As mudanças estratégicas referem-se às mudanças que precisam ser implementadas em organizações que estão submetidas a um ambiente complexo e mutante, fazendo-se necessária a interlocução entre o conceito de capacidade dinâmica cognitiva e as mudanças estratégicas, pois esses dois conceitos foram relacionados em 21 pesquisas documentadas no levantamento bibliográfico de Helfat & Martin (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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entre os anos de 1980 e 2013.

As capacidades cognitivas sociais também podem ser importantes para gerenciar as relações de poder entre os membros da organização (Casciaro et al., 2015Casciaro, T., Barsade, S. G., Edmondson, A. C., Gibson, C. B., Krackhardt, D., & Labianca, G. (2015). The integration of psychological and network perspectives in organizational scholarship. Organization Science, 26(4), 1162-1176. doi:10.1287/orsc.2015.0988
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), o que é importante para superar a inércia organizacional e as barreiras à mudança (Heyden, Fourné, Koene, Werkman, & Ansari, 2017Heyden, M. L., Fourné, S. P., Koene, B. A., Werkman, R., & Ansari, S. (2017). Rethinking “top-down” and “bottom-up” roles of top and middle managers in organizational change: Implications for employee support. Journal of Management Studies, 54(7), 961-985. doi:10.1111/joms.12258
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).

Os argumentos que precederam a exposição teórica que embasa as proposições foram condensados na Figura 3.5.2. Desse modo, além dos processamentos mental automático e controlado, a existência de experiência prévia, as limitações de tempo, o nível de complexidade dos problemas e o nível de cooperação e confiança da equipe podem exercer ou receber influências das capacidades de percepção e atenção, resolução de problemas, racionalidade e linguagem e comunicação e cognição social.

Figura 3.5.2
MODELO MENTAL DE APLICAÇÃO DA CAPACIDADE DINÂMICA COGNITIVA

Na Figura 3.5.2, as setas contínuas representam as cinco proposições formuladas. A direção das setas indica as possíveis relações de dependência entre as variáveis. Os sinais nos extremos das setas apontam se a relação é positiva ou negativa entre as variáveis. As setas pontilhadas indicadas no framework indicam possíveis contatos identificados na literatura entre os processamentos mentais automáticos e controlados e os demais construtos. Indicar esse ponto de contato já é uma contribuição, embora não tenha sido possível formular proposições, que é uma das limitações deste estudo. Juntas, essas variáveis representam, teoricamente, a capacidade dinâmica cognitiva do gestor.

Claramente, essas não são as únicas proposições que poderiam ser formuladas no processo de melhorar a pesquisa sobre capacidades dinâmicas cognitivas. Elas representam, provavelmente, um bom ponto de partida para futuros esforços de pesquisa, pois abrangem conhecimentos da psicologia cognitiva aplicada ao contexto das capacidades dinâmicas.

4. IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E EMPÍRICAS

A capacidade dinâmica cognitiva destaca-se pelo fato de que as capacidades em geral abrangem a capacidade de realizar não só atividades físicas, mas também mentais. Para os gestores confrontados com a necessidade de desenvolver e implementar mudanças estratégicas e reconfigurar modelo de negócios, esse conceito torna-se mais coerente e alinhado, assumindo uma importância peculiar.

A partir da reflexão teórica realizada, foi possível estabelecer um conceito alinhado com o modelo mental proposto. Nesse sentido, foi aqui conceituada a capacidade dinâmica cognitiva como a capacidade de um gestor individual para realizar atividades mentais automáticas e controladas, cujas consequências se refletem em mudanças estratégicas nos modelos de negócios e no desempenho da firma.

Analisou-se ainda o papel dos processos mentais automático e controlado e como eles se interligam a aspectos como percepção e atenção, resolução de problemas e racionalidade, linguagem e comunicação, e cognição social. A partir dessa análise, foi possível formular cinco proposições que permitiram explicitar as relações e possíveis implicações entre os construtos apresentados (ver Figura 3.5.2). Ressalte-se que a formulação dessas proposições extrapolou a contribuição inicial de Helfat e Peteraf (2015)Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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, tendo em vista que as autoras não as formularam explicitamente, embora tenham apresentado diversos exemplos de aplicações empíricas, principalmente ligados à área da psicologia, nem propuseram direcionamento e sinal entre elas, incluindo a força da moderação.

O estudo demonstrou ainda como a heterogeneidade e a dependência do caminho associado às capacidades cognitivas provavelmente produzirão heterogeneidade de capacidades gerenciais dinâmicas entre os gestores (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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; Levine, Bernard, & Nagel, 2017Levine, S. S., Bernard, M., & Nagel, R. (2017). Strategic intelligence: The cognitive capability to anticipate competitor behavior. Strategic Management Journal, 38(12), 2390-2423. doi:10.1002/smj.2660
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). Embora alguns gestores possivelmente tenham capacidades cognitivas mais eficazes do que outros, isso não implica simplesmente que alguns gestores são mais inteligentes do que outros. O que constitui a inteligência é um tema de debate contínuo. Além disso, outros fatores, como as disposições de pensamento, são distintos da inteligência, mas são particularmente importantes para a resolução de problemas e capacidades de raciocínio (Helfat & Peteraf, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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; Schilling, 2018Schilling, M. A. (2018). The cognitive foundations of visionary strategy. Strategy Science, 3(1), 335-342. doi:10.1287/stsc.2017.0044
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).

Além disso, os gestores podem não ser igualmente qualificados em todos os tipos de atividade mental. Se alguns tipos de capacidade cognitiva são mais importantes para determinadas capacidades dinâmicas do que para outras e são distribuídos de forma heterogênea entre os gestores, aqueles com capacidades superiores para detectar oportunidades, por exemplo, podem não ter necessariamente capacidades superiores para reconfigurar modelos de negócios.

Pesquisas relacionadas sugerem que os empresários envolvidos na detecção de oportunidades e os gestores de organizações maduras que precisam realizar uma reconfiguração do modelo de negócios diferem em sua cognição (especificamente, suas heurísticas e vieses de tomada de decisão) (Busenitz & Barney, 1997Busenitz, L. W., & Barney, J. B. (1997). Differences between entrepreneurs and managers in large organizations: Biases and heuristics in strategic decision-making. Journal of Business Venturing, 12(1), 9-30. doi:10.1016/S0883-9026(96)00003-1
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). Nesse sentido, seria útil investigar como as capacidades cognitivas contribuem para a heterogeneidade das capacidades gerenciais dinâmicas em diferentes tipos de organização.

No que diz respeito às capacidades gerenciais dinâmicas para detectar oportunidades e reconfigurar negócios, enfatizam-se as maneiras pelas quais a gestão estratégica pode moldar aspectos do contexto organizacional, como incentivando a cooperação, diminuindo a resistência à mudança, projetando um modelo de negócios para um novo empreendimento e investindo em novas habilidades e ativos. Isso sugere que as capacidades cognitivas gerenciais podem funcionar como mediadores da relação entre as mudanças no contexto organizacional e a mudança estratégica, o que, por sua vez, pode afetar o desempenho da organização.

Embora seja possível apontar exemplos preeminentes de CEOs que reestruturaram com sucesso suas organizações, como Lou Gerstner na IBM (Harreld, O’Reilly, & Tushman, 2007Harreld, J. B., O’Reilly, C. A., & Tushman, M. L. (2007). Dynamic capabilities at IBM: Driving strategy into action. California Management Review, 49(4), 21-43. doi:10.2307/41166404
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) e Steve Jobs na Apple (Streeter, 2015Streeter, T. (2015). Steve Jobs, romantic individualism, and the desire for good capitalism. International Journal of Communication, 9, 3106-3124.), outros CEOs tiveram menos sucesso - como os CEOs da Kodak que não acreditaram nas forças das mudanças em seu setor, o que acabou em declaração de falência da empresa. Esse final triste para uma empresa icônica levanta a questão de saber se os CEOs da Kodak não possuíam as capacidades cognitivas e outras capacidades gerenciais dinâmicas necessárias ou se o contexto organizacional teria prejudicado até mesmo o CEO mais qualificado. Ou seja, até mesmo executivos com capacidades cognitivas superiores podem enfrentar limites relativos às suas percepções e leituras do ambiente. Tais limites podem surgir de desentendimentos entre coalizões políticas enraizadas em uma organização, identidade organizacional rígida ou recursos financeiros insuficientes, para citar apenas algumas possibilidades. Obter uma melhor compreensão dos limites que alguns contextos organizacionais podem colocar em capacidades gerenciais dinâmicas e das fontes desses limites seria um esforço frutífero.

Ademais, em uma análise da transição da IBM para a computação mainframe, Taylor e Helfat (2009)Taylor, A., & Helfat, C. E. (2009). Organizational linkages for surviving technological change: Complementary assets, middle management, and ambidexterity. Organization Science, 20(4), 718-739. doi:10.1287/orsc.1090.0429
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registraram maneiras pelas quais grupos de gerentes intermediários ajudaram a transformar cognição organizacional compartilhada. A comunicação repetida com outros na organização, um aspecto das capacidades cognitivas para a reconfiguração, foi fundamental na promoção dessa mudança - sugerindo que a consideração explícita das capacidades cognitivas no nível do gerente médio poderia fornecer informações adicionais sobre o processo de mudança estratégica.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo se concentrou nas capacidades cognitivas do gestor. Outras pessoas podem afetar mudanças estratégicas nas organizações, incluindo membros da equipe de gerenciamento superior, gerentes gerais da unidade de negócios (Martin, 2011Martin, J. A. (2011). Dynamic managerial capabilities and the multibusiness team: The role of episodic teams in executive leadership groups. Organization Science, 22(1), 118-140. doi:10.1287/orsc.1090.0515
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) e gestores intermediários (Taylor & Helfat, 2009Taylor, A., & Helfat, C. E. (2009). Organizational linkages for surviving technological change: Complementary assets, middle management, and ambidexterity. Organization Science, 20(4), 718-739. doi:10.1287/orsc.1090.0429
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). Analisar as capacidades cognitivas dos gestores abaixo do nível superior executivo enriquece a compreensão das mudanças estratégicas (Helfat & Martin, 2015Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2015). Managerial cognitive capabilities and the microfoundations of dynamic capabilities. Strategic Management Journal, 36(6), 831-850. doi:10.1002/smj.2247
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). Por exemplo, em um estudo de capacidades gerenciais dinâmicas no nível de gerente geral em empresas de software multibusiness, Martin (2011)Martin, J. A. (2011). Dynamic managerial capabilities and the multibusiness team: The role of episodic teams in executive leadership groups. Organization Science, 22(1), 118-140. doi:10.1287/orsc.1090.0515
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verificou que os gerentes trabalhavam esporadicamente como equipes para detectar e aproveitar oportunidades, mas não investigou o papel da cognição.

A análise também sugere proposições empiricamente testáveis. Por exemplo, as organizações que possuem gestores com capacidades cognitivas superiores para detecção e apreensão podem ser mais propensas a obter vantagens por antecipação de movimentos. Os gestores que prestam mais atenção e percebem mais precisamente as mudanças emergentes na tecnologia e na demanda dos clientes são mais propensos a sentir novas oportunidades e, portanto, podem se mover mais rapidamente. Ao aproveitarem as novas oportunidades, os gestores que possuem capacidades superiores de resolução de problemas e raciocínio são susceptíveis a fazer investimentos mais astutos e conceber melhores modelos de negócios, aumentando a probabilidade de que suas empresas possam obter vantagens em longo prazo ao se moverem antecipadamente. Além disso, quando as condições mudam o suficiente para justificar a reconfiguração de ativos estratégicos, as organizações podem realizar essas reconfigurações de forma mais rápida quando os gestores possuem capacidade de comunicação, linguagem e cognição social superior.

Este trabalho contribui na medida em que fornece uma revisão das fontes e características da capacidade dinâmica cognitiva, explica e modela as capacidades gerenciais cognitivas e aponta o papel dos aspectos cognitivos relativos às mudanças estratégicas e aos modelos de negócios. Em termos de gestão, demonstra como a cognição pode ajudar a explicar por que alguns gestores têm capacidades mais efetivas para antecipar as demandas, interpretá-las e responder a elas em um ambiente em evolução.

Finalmente, esta análise sugere uma oportunidade de pesquisa sobre a relação entre capacidades gerenciais cognitivas e capacidades dinâmicas or- ­ganizacionais, e suas contribuições conjuntas para mudanças estratégicas nos modelos de negócios e no desempenho da firma. Por exemplo, os recursos gerenciais dinâmicos e as capacidades cognitivas gerenciais subjacentes podem ajudar a criar, ampliar ou modificar as capacidades organizacionais (incluindo as dinâmicas) que, por sua vez, afetam o desempenho da firma. Além disso, as capacidades dinâmicas organizacionais e suas rotinas subjacentes podem envolver entradas e decisões gerenciais (por exemplo, escolha de projetos de pesquisa e desenvolvimento, aquisição de ativos, parcerias com fornecedores), de modo que as capacidades gerenciais dinâmicas e suas capacidades cognitivas associadas se entrelaçam com capacidades organizacionais dinâmicas. Desatacar as relações entre as capacidades gerenciais e organizacionais, teórica e empiricamente, continua a ser um terreno ainda pouco explorado e importante para futuras pesquisas.

  • Elnivan M. Souza, Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas, Universidade de Fortaleza (Unifor); e Sérgio Henrique A. C. Forte, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas (FGV).
  • Elnivan M. Souza é agora coordenador de pesquisa e professor do campus Dom Luis do Centro Universitário Christus (Unichristus); Sérgio Henrique A. C. Forte é agora professor titular do Centro de Ciências de Comunicação e Gestão da Universidade de Fortaleza (Unifor).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2018
  • Aceito
    20 Fev 2019
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