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Risco de vida residual para o desenvolvimento de hipertensão em homens e mulheres adultos

Panorama Internacional

Clínica Médica

RISCO DE VIDA RESIDUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE HIPERTENSÃO EM HOMENS E MULHERES ADULTOS

Neste recente estudo de seguimento da coorte de Framingham, do qual participaram indivíduos de 55-65 anos de idade, foi estimado que o risco no tempo restante de vida de desenvolver hipertensão arterial (> 140/90 mm Hg) foi de 90%, tanto para indivíduos a partir de 55 como 65 anos de idade. Mais da metade dos participantes desenvolveram hipertensão em 10 anos. A probabilidade de receber medicação anti-hipertensiva foi de 60%. O risco de desenvolver hipertensão no estadio 2 (> 160/110 mm Hg) variou de 35% a 44% nos diferentes grupos etários. O risco de hipertensão aumentou 60% (nos homens) no período de 1976-1998 comparado a 1952-1975, mas permaneceu inalterado nas mulheres. O risco de hipertensão arterial estadio 2 (> 160/110 mm Hg) diminuiu 35-57%, provavelmente devido ao aumento acentuado do tratamento medicamentoso em indivíduos com hipertensão.

Comentário

A principal medida usada neste estudo é a probabilidade de um indivíduo desenvolver hipertensão em seu tempo restante de vida (estatística de risco no tempo de vida). Este tipo de medida de risco não havia sido usado anteriormente em estudos de hipertensão, sendo melhor que medidas de prevalência para descrever aspectos epidemiológicos da doença. Foram selecionados participantes que atingiram a idade de 55 ou 65 anos sem ter hipertensão arterial, e foi estimado seu risco de desenvolver hipertensão até a idade de 80 e 85 anos, respectivamente (esperança de vida para esses grupos etários no EUA). O método de estimativa de risco residual no tempo de vida é uma modificação do método de Kaplan-Meier, usando-se idade e não o período calendário como escala de tempo. Taxas de hipertensão foram calculadas com o número de pessoas que desenvolvem hipertensão num dado intervalo de idade como numerador e o total de pessoas-ano de participantes em risco no intervalo como denominador.

O risco de desenvolver hipertensão foi similar para indivíduos de 55 ou 65 anos de idade, indicando que, a longo prazo, este risco não aumenta necessariamente com a idade. O risco de desenvolver hipertensão no período contemporâneo (1976-98 vs. 1952-75) foi maior em homens que em mulheres, talvez relacionado ao aumento no índice de massa corporal observado particularmente nos homens nesse período.

Este estudo não confirma o recente declínio da prevalência de hipertensão mostrado em outros estudos americanos (NHANES), talvez porque se refira apenas a pacientes brancos com mais de 55 anos. Como neste estudo não foram avaliados outros fatores de risco como obesidade, história familiar de hipertensão, ingestão de sódio e potássio na dieta e o consumo de álcool, o risco de hipertensão para um indivíduo em particular não pode ser estimado com precisão.

O achado de que 9 em 10 adultos (> 55 anos) desenvolverão hipertensão durante o período restante de vida re-enfatiza a importância da hipertensão como um imenso problema de saúde pública. Apesar do risco de hipertensão no estádio 2 ter diminuído acentuadamente nas últimas décadas, o risco de hipertensão no estádio 1 (> 140-90 mm Hg) permaneceu inalterado e deve ser objeto de preocupação. Sabemos que uma proporção substancial das doenças cardiovasculares são atribuídas a hipertensão arterial no estádio 1. Esforços devem ser dirigidos para a prevenção primária da hipertensão.

Como mais da metade do risco de hipertensão é observado nos 10 primeiros anos do tempo restante de vida, para pessoas de 55-65 anos de idade, é primordial encorajar indivíduos de meia idade não hipertensos a adotar medidas relacionadas ao estilo de vida para manter um ótimo nível de pressão arterial e previr o desenvolvimento de hipertensão. A estratégia de esperar o aparecimento da hipertensão para apenas então tomar medidas para prevenir sua piora ou tratá-la não parece judiciosa ou custo-efetiva.

RICARDO SESSO

Referência

Vasan RS, Beiser A, Seshadri S, Larson MG, Kannel WB, D'Agostino RB, et al. Residual lifetime risk dor developing hypertension in middle-aged women and men. The Framingham Heart Study. JAMA 2002;287:1003-10.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jan 2003
  • Data do Fascículo
    Dez 2002
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