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Neovagina: dilatação progressiva ou cirurgia?

À BEIRA DO LEITO

GINECOLOGIA

Neovagina: dilatação progressiva ou cirurgia?

Vicente Renato Bagnoli; Angela Maggio da Fonseca; Paulo Augusto de Almeida Junqueira

M.J.R., 17 anos, branca, procedente de Minas Gerais, estudante. A menor procurou ginecologista em sua cidade, há um ano, por não ter menstruado até a presente idade e também por ter tentado manter relação sexual algumas vezes, sem sucesso. O profissional fez diagnóstico de agenesia vaginal e encaminhou-a para o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para a realização de neovagina.

Exame físico da 1ª consulta: altura 1,68 m, peso 53 kg, diferenciação morfológica feminina compatível com a idade. Exame ginecológico mostrou mamas desenvolvidas (Tanner V), pêlos sexuais desenvolvidos (Tanner V), abdome n.d.n, órgãos sexuais externos: formações labiais e clitóris normais, vestíbulo vulvar com meato uretral normal, ausência de hímen e vagina, com presença apenas de fosseta do 1/3 distal com 2 x 2 cm. Toque retal não realizado. A paciente trouxe os seguintes exames: ultra-som pélvico com ausência de imagem uterina e de vagina, ovário direito 3,3x1,4x1,3 cm e ovário esquerdo com 2,3x2,2x1,5 cm; Ultra-som de vias urinárias: rim pélvico esquerdo de volume diminuído e rim pélvico com volume normal à direita. Dosagens plasmáticas: FSH 7,4 mUI/ml; LH 12,3 mUI/ml e estradiol 111 pg/ml. Cromatina sexual positiva e cariótipo leucocitário 46, XX.

A avaliação do caso confirmou o diagnóstico de ginatresia não obstrutiva (agenesia útero-vaginal) e indicou-se a neovagina pela técnica de dilatação progressiva de Frank. Após seis meses de tratamento, observou-se vagina de 4 cm por 8 cm de profundidade, referindo a paciente atividade sexual, com penetração normal, libido e orgasmo presentes.

Este caso leva a duas reflexões importantes: a primeira, que o diagnóstico de portadoras de amenorréia primária com diferenciação sexual normal pode ser feita somente pelo ultra-som pélvico e de vias urinárias (associação de malformações em 30% dos casos) não necessitando outros exames que onerem a propedêutica sem qualquer benefício. A segunda reflexão relaciona-se ao tratamento, pois havendo fosseta vaginal, mesmo que mínima, permite utilizar a técnica de Frank, que é muito mais simples e praticamente desprovida de complicações, podendo ser realizada em qualquer idade. Deve-se indicar técnicas cruentas como a de McIndoe apenas para os casos de ausência total de vagina, como nos casos de pseudo-hermafroditismo masculino, pois nestas técnicas as complicações são significativas, principalmente estenose, só devendo ser realizadas quando a menina já estiver com orgãos genitais desenvolvidos e preferencialmente quando houver desejo de iniciar a atividade sexual.

Referência

1. Lodovici O, Bagnoli VR, Fonseca AM, Halbe HW, Pinotti JA. Princípios básicos do tratamento cirúrgico. In: Bagnoli VR, Fonseca AM. Malformações genitais congênitas. São Paulo: Ed. Roca; 1993. p. 205-37.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Abr 2003
  • Data do Fascículo
    Jan 2003
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