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Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular

Lactose intolerance: changing paradigms due to molecular biology

Resumos

Na maioria dos mamíferos a atividade da enzima lactase diminui na parede intestinal após o desmame, caracterizando a hipolactasia primária que provoca sintomas de intolerância à lactose. A intensidade dos sintomas de distensão, flatulência, dor abdominal e diarreia variam, dependendo da quantidade de lactose ingerida, e aumentam com o passar da idade. A hipolactasia é determinada geneticamente, porém uma mutação ocorreu para que fizesse parte da humanidade tolerar o leite na idade adulta. O diagnóstico é feito por teste de tolerância, empregando a lactose como desafio. Com a descoberta dos finlandeses do polimorfismo associado com a persistência da lactase, principalmente no norte da Europa, o exame genético passou a ser outra ferramenta diagnóstica mais confortável para o intolerante. No Brasil, 43% dos brancos e dos mulatos têm alelo de persistência da lactase, sendo a hipolactasia mais frequente entre os negros e japoneses. Entretanto, na prática clínica indivíduos com hipolactasia podem ser orientados a consumir alguns derivados do leite e alimentos contendo lactose sem apresentar sintomas de intolerância, enquanto que outros terão que fazer restrição de lactose na dieta.

Intolerância à lactose; Fatores de lactose; Epidemiologia; Biologia molecular


In most mammals, lactase activity declines on the intestinal wall after weaning, characterizing primary hypolactasia that provokes symptoms of lactose intolerance. The intensity of symptoms of distention, flatulence, abdominal pain and diarrhea varies, according to the amount of ingested lactose, and increases with age. Hypolactasia is genetically determined; nonetheless, a mutation occurred that had made a part of mankind tolerate milk in adulthood. Diagnosis is made by a tolerance test, using the lactose challenge. With the discovery made by the Finns of polymorphism associated with lactase persistence, mainly, in Northern Europe, the genetic test was incorporated as a more comfortable diagnostic tool for the intolerant. In Brazil, 43% of Caucasian and Mulatto groups have lactase persistence allele, with hipolactasia more frequently found among Blacks and Japanese. However, in clinical practice people with hypolactasia may be advised to consume certain dairy products and food containing lactose without developing intolerance symptoms, whereas others will need a lactose restriction diet.

Lactose intolerance; Lactose factors; Epidemiology; Molecular biology


ARTIGO DE REVISÃO

Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular

Lactose intolerance: changing paradigms due to molecular biology

Rejane MattarI,* * Correspondência: Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 255, 9º andar, sala 9159 Cerqueira Cesar CEP: 05403-000 São Paulo - SP rejane-mattar@ig.com.br ; Daniel Ferraz de Campos MazoII

IDoutorado - Médica Assistente Doutora do Serviço de Gastroenterologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP, Responsável pelo Laboratório de Provas Funcionais do Aparelho Digestivo e Professora Colaboradora do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP, São Paulo, SP

IIDoutorando - Médico Gastroenterologista e Hepatologista Assistente do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP, São Paulo, SP

RESUMO

Na maioria dos mamíferos a atividade da enzima lactase diminui na parede intestinal após o desmame, caracterizando a hipolactasia primária que provoca sintomas de intolerância à lactose. A intensidade dos sintomas de distensão, flatulência, dor abdominal e diarreia variam, dependendo da quantidade de lactose ingerida, e aumentam com o passar da idade. A hipolactasia é determinada geneticamente, porém uma mutação ocorreu para que fizesse parte da humanidade tolerar o leite na idade adulta. O diagnóstico é feito por teste de tolerância, empregando a lactose como desafio. Com a descoberta dos finlandeses do polimorfismo associado com a persistência da lactase, principalmente no norte da Europa, o exame genético passou a ser outra ferramenta diagnóstica mais confortável para o intolerante. No Brasil, 43% dos brancos e dos mulatos têm alelo de persistência da lactase, sendo a hipolactasia mais frequente entre os negros e japoneses. Entretanto, na prática clínica indivíduos com hipolactasia podem ser orientados a consumir alguns derivados do leite e alimentos contendo lactose sem apresentar sintomas de intolerância, enquanto que outros terão que fazer restrição de lactose na dieta.

Unitermos: Intolerância à lactose. Fatores de lactose. Epidemiologia. Biologia molecular.

SUMMARY

In most mammals, lactase activity declines on the intestinal wall after weaning, characterizing primary hypolactasia that provokes symptoms of lactose intolerance. The intensity of symptoms of distention, flatulence, abdominal pain and diarrhea varies, according to the amount of ingested lactose, and increases with age. Hypolactasia is genetically determined; nonetheless, a mutation occurred that had made a part of mankind tolerate milk in adulthood. Diagnosis is made by a tolerance test, using the lactose challenge. With the discovery made by the Finns of polymorphism associated with lactase persistence, mainly, in Northern Europe, the genetic test was incorporated as a more comfortable diagnostic tool for the intolerant. In Brazil, 43% of Caucasian and Mulatto groups have lactase persistence allele, with hipolactasia more frequently found among Blacks and Japanese. However, in clinical practice people with hypolactasia may be advised to consume certain dairy products and food containing lactose without developing intolerance symptoms, whereas others will need a lactose restriction diet.

Key words: Lactose intolerance. Lactose factors. Epidemiology. Molecular biology.

INTRODUÇÃO

Conceito

Má absorção ou má digestão de lactose é a diminuição na capacidade de hidrolisar a lactose, que é resultante da hipolactasia. A hipolactasia significa diminuição da atividade de enzima lactase na mucosa do intestino delgado1, também denominada recentemente de "lactase não persistente"2. O aparecimento de sintomas abdominais por má absorção de lactose caracteriza a intolerância à lactose. A má absorção de lactose nem sempre provoca sintomas de intolerância à lactose1. Após o desmame, ocorre uma redução geneticamente programada e irreversível da atividade da lactase na maioria das populações do mundo, cujo mecanismo é desconhecido, resultando em má absorção primária de lactose3. Porém, a hipolactasia também pode ser secundária a doenças que causem dano na borda em escova da mucosa do intestino delgado ou que aumentem significativamente o tempo de trânsito intestinal, como nas enterites infecciosas, giardíase4, doença celíaca5, doença inflamatória intestinal (especialmente doença de Crohn), enterites induzidas por drogas ou radiação, doença diverticular do cólon6 e anemia (estudo em ratos, mostrando diminuição na expressão gênica)7. Diferentemente da hipolactasia primária do adulto, a hipolactasia secundária é transitória e reversível8.

Enzima lactase-florizina hidrolase da família 1 das glicosil hidrolases

A estrutura primária traduzida da enzima lactase-florizina hidrolase foi deduzida a partir de sequências de cDNA, apresentando 1927 aminoácidos (NP_002290.2- número de acesso no NCBI), sendo que as duas atividades de lactase e florizina hidrolase (glicosilceramidase) se localizam no mesmo polipeptídeo9. A estrutura inicial tem peso molecular de 215000 e, após ser processada provavelmente no complexo de Golgi, o peso molecular cai para 160000, se ancorando na membrana da borda em escova do enterócito10, porém em gel filtração apresenta 320000 de peso molecular, sugerindo a formação de dímeros11. É ancorada pelo segmento hidrofóbico próximo à região carboxi-terminal, tendo pequena região hidrofílica carboxi-terminal no citosol, com provável orientação amino-terminal fora e carboxi-terminal dentro da célula9.

Gene LCT que codifica lactase

Empregando sonda de cDNA humano do gene da lactase (LCT, NG_008104 - número de acesso no NCBI) em Southern blots, foi verificado que o mesmo está localizado no cromossomo 2q2112. O gene LCT compreende 17 exons em 49 kb, sendo traduzido em transcrito (RNAm) de 6 kb. A sequência de DNA do gene e do cDNA (tradução de RNAm em cDNA) que codifica a enzima lactase em indivíduos com hipolactasia, e naqueles com persistência da enzima lactase na idade adulta foi semelhante, concluindo que ambos os grupos apresentam lactases idênticas, mostrando que a diferença entre os dois grupos não estava na sequência da enzima13.

A descoberta genética na Finlândia revolucionou a intolerância à lactose primária do adulto

Enattah et al. (2002)14, usando desequilíbrio de ligação e análise de haplótipo de nove famílias finlandesas com hipolactasia, detectou dois polimorfismos LCT-13910C>T e LCT-22018G>A acima do lócus LCT, sendo que a variante polimórfica LCT-13910C>T apresentou associação completa à não persistência da enzima lactase em 236 indivíduos de quatro diferentes populações (França, América do Norte, Coreia e Alemanha). Os indivíduos com o genótipo CC apresentaram sintomas de intolerância à lactose, e aqueles com os genótipos CT e TT toleraram a lactose14, confirmando os achados publicados em 1973 por Sahi et al. de que a intolerância à lactose primária do adulto é traço recessivo.15

Estudos posteriores no Brasil16,17,18 e em outros países19-26 confirmaram a associação desse polimorfismo com a intolerância e tolerância à lactose, exceto na África.27,28 Essa região LCT-13910C>T funcionou in vitro como elemento cis capaz de aumentar diferentemente a atividade de transcrição do promotor do gene da lactase29 e se associou significantemente com maior expressão de RNAm do gene LCT na mucosa intestinal dos indivíduos com alelo de persistência da lactase, LCT-13910C>T e LCT-22018G>A, em relação aos que têm genótipo de hipolactasia, sugerindo que a ação seja em nível de regulação de transcrição do gene LCT30.

Esses polimorfismos estão situados em regiões intrônicas do gene MCM6 (manutenção de minicromossomo tipo 6); portanto, não interferem com a função deste gene. O polimorfismo LCT-13910C>T está localizado no intron 13, o LCT-22018G>A no intron 914. As variantes descritas na África foram a LCT-22018G>A no intron 9, LCT-14010G>C, LCT-13915T>G , LCT-13910C>T (traço europeu encontrado em menos de 14% dos Fulanis e Hausas de Camarões), e LCT-13907C>G no intron 1328. Esses alelos foram denominados de alelos de enzima lactase persistente, ou de lactasia persistente14.

O aparecimento desses alelos como parte do genoma humano suscitou diversas hipóteses. A primeira sugere que eram raros até o aparecimento do hábito de consumir leite não fermentado e laticínios no início do período Neolítico, aumentando a frequência por seleção natural. A outra hipótese seria a da existência prévia dos alelos, favorecendo a aquisição do hábito de consumir produtos lácteos31. Análise de DNA mitocondrial de oito esqueletos do período Neolítico e um do Mesolítico mostrou ausência do alelo de lactase persistente, favorecendo a primeira hipótese que tenham aparecido mais tarde com a introdução do consumo de laticínios31. Contudo, o estudo de variação de microsatélite intra-alélica de 794 cromossomos de Portugal, Itália, Camarões (Fulanis), São Tomé e Moçambique mostrou que o alelo LCT-13910T se originou na Eurásia antes do período Neolítico e após a emergência do homem moderno para África. Isto sugere que as variantes alélicas LCT-13910T e LCT-22018 se originaram de diferentes mutações, independentemente, na Europa e na África32, de duas populações que sofreram forte pressão da seleção natural pela dependência do consumo de leite e de seus derivados na idade adulta para sobreviver.33 Entretanto, a grande variabilidade nos genes que codificam as seis principais proteínas do leite de vaca observada no gado de regiões de pecuária do período Neolítico (cerca de 5000 anos atrás) em relação aos demais gados europeus coincidiu com a tolerância à lactose dos europeus de hoje. Portanto, a co-evolução de gene e cultura pode ter ocorrido também entre o gado e os seres humanos34.

Epidemiologia

Os estudos epidemiológicos mostram que as populações que nos seus primórdios dependiam da pecuária muito mais que da agricultura, e eram grandes consumidores de leite e laticínios em geral, apresentam menor prevalência de intolerância à lactose em relação àquelas que dependeram mais da agricultura para sobreviver, conforme está apresentado na Tabela 1.

No geral, a prevalência da hipolactasia primária do adulto varia no mundo, sendo em torno de 5% no nordeste da Europa próximo ao Mar do Norte, com a menor de todas encontrada na Dinamarca (4%), na Grã-Bretanha (5%), e na Suécia (1% a 7%). A prevalência da hipolactasia vai aumentando na direção do centro-sul da Europa para chegar próximo aos 100% na Ásia e Oriente Médio.53

Na África, com diferentes variantes alélicas, o genótipo de lactasia persistente foi mais frequente nos povos com tradição de pecuária em relação aos agricultores28. Embora no Brasil haja miscigenação racial com africanos, as evidências apontadas por DNA mitocondrial54 são de que os africanos trazidos para o Brasil vieram de regiões na África, onde o alelo LCT-13910T é prevalente. No nosso estudo37, o alelo LCT-13910T foi encontrado em 20% dos negros, sugerindo que tenha sido adquirido por miscigenação com Europeus ao longo dos séculos ao invés de ter sido trazido pelos fulanis africanos durante a escravidão.

Fisiopatologia

A lactose é encontrada apenas no leite materno, apresentando diferentes concentrações nos mamíferos. Em 100g de leite de vaca desnatado existe 4,9g de lactose55 e em 100 ml de leite humano, 7g de lactose56. O leite é o primeiro e único alimento do recém-nascido. Nos ratos e coelhos, a lactase não é detectada até alguns dias antes do nascimento, aumentando na fase tardia da gestação com pico logo após o nascimento. Já no intestino humano, os níveis de lactase são baixos até a 27ª-32ª semana de gestação, quando se elevam, rapidamente57, começando a cair por volta dos cinco anos de idade58. Desta forma, os bebês prematuros nascidos com 28 a 32 semanas de gestação têm atividade reduzida de lactase59, porém se forem de outra maneira saudáveis, o cólon pode recuperar os carboidratos não absorvidos, prevenindo a desnutrição e diarreia.

A enzima lactase hidrolisa a lactose em glicose e galactose que são absorvidas pela mucosa intestinal. A glicose entra para o pool de glicose do intestino, e a galactose é metabolizada no fígado para ser convertida em glicose, e entrar nesse pool. Caso a galactose não seja metabolizada no fígado, o é pelos eritrócitos, ou é eliminada na urina56. A concentração de enzima lactase na mucosa intestinal varia60, com atividade no duodeno 40% menor do que no jejuno61. A lactose, não sendo hidrolisada, não é absorvida no intestino delgado e passa rapidamente para o cólon. No cólon, a lactose é convertida em ácidos graxos de cadeia curta, gás carbônico e gás hidrogênio pelas bactérias da flora, produzindo acetato, butirato e propionato. Os ácidos graxos são absorvidos pela mucosa colônica, desta forma recuperando a lactose mal absorvida para utilização energética. Os gases, após absorção intestinal, são expirados pelo pulmão, servindo como ferramenta diagnóstica62. Esta fermentação da lactose pela flora bacteriana leva ao aumento do trânsito intestinal e da pressão intracolônica, podendo ocasionar dor abdominal e sensação de inchaço no abdome63. A acidificação do conteúdo colônico e o aumento da carga osmótica no íleo e cólon resultante da lactose não absorvida leva à grande secreção de eletrólitos e fluidos, além do aumento do trânsito intestinal, resultando em fezes amolecidas e diarreia60, 64. Apesar da falta de evidências, alguns autores acreditam que a absorção da lactose nos pacientes com hipolactasia poderia ser favorecida pela sua metabolização pela flora intestinal56.

Intolerância à lactose congênita

É herdada e autossômica recessiva, sendo uma condição extremamente grave. Caso não seja diagnosticada precocemente pode levar ao óbito. O recém- nascido apresenta diarreia líquida ao ser amamentado ou receber fórmulas, contendo lactose. O estudo genético realizado com 24 famílias finlandesas mostrou que se deve a mutações no gene LCT que codifica a enzima lactase. A grande maioria dos pacientes (84%) apresentou a mutação homozigota nonsense c.4170T→A (Y1390X), designada "Finmajor", resultando em códon de parada de síntese proteica no éxon 9, e proteína truncada com 537 aminoácidos65. Na Finlândia, a incidência é de 1:60.000, sendo diagnosticada em 42 pacientes de 35 famílias de 1966 até 2007. Com dieta restritiva de lactose os sintomas desaparecem e esses recém-nascidos têm crescimento normal66. A diferença entre a hipolactasia primária do adulto e a intolerância à lactose congênita é molecular: na primeira, a enzima lactase é normal, mas diminui a expressão ao longo da vida; na segunda a enzima lactase está ausente, ou é truncada66.

Métodos diagnósticos

Os testes de tolerância à lactose são realizados com desafio, o paciente ingere de 25g a 50g de lactose e se avalia os sintomas por duas a três horas. A técnica mais difundida nos laboratórios de análises clínicas é a por curva glicêmica. Nesta técnica, é coletada a glicemia em jejum e depois é feita uma curva. Se o paciente absorver a lactose, a glicemia deve se elevar de 1,4 mmol/l ou mais22.

O teste respiratório do hidrogênio expirado (realizado no Hospital das Clínicas da FMUSP) é considerado padrão-ouro para o diagnóstico de intolerância à lactose62,67, seguindo o primeiro Consenso de Roma para metodologia e indicações de teste respiratório do hidrogênio expirado para doenças gastrintestinais68. O paciente tem que fazer o preparo na véspera, só podendo ingerir dieta não fermentativa com restrição total de lactose, sem fumar (o cigarro aumenta o hidrogênio expirado). Deve também evitar antibióticos por um mês antes do exame (a presença da flora bacteriana é essencial para a produção do hidrogênio), não pode fazer exercícios físicos (aumentam o hidrogênio expirado) e tem que se apresentar para o exame com jejum de 10 a 12 horas, podendo ingerir água. A sensibilidade do exame é de 80% a 92,3% e a especificidade 100% com 25g de lactose, desde que o preparo esteja correto18 67. A flora bacteriana colônica fica com atividade diminuída em pH ácido (é esse o pH das fezes quando se dá a fermentação da lactose), podendo neste pH o exame ser falso-negativo62. O exame se baseia na produção de hidrogênio pela fermentação da lactose não absorvida: o hidrogênio entra na corrente sanguínea e é expirado pelo pulmão. O paciente sopra o basal, ingere a lactose, e depois sopra novamente após 60, 90, 120, 150 e 180 minutos, sendo considerado o exame positivo quando ocorre aumento de hidrogênio expirado em 20 ppm (partes por milhão) em relação ao valor basal. O paciente intolerante relata sintomas durante o exame, geralmente coincidindo com aumento do hidrogênio expirado. A leitura é feita em cromatógrafo gasoso específico para o hidrogênio18,67. Em aproximadamente 15% dos pacientes predomina flora produtora de metano: Methanobrevibacter smithii, o hidrogênio não se eleva62. Os pacientes com flora produtora de metano têm sintomas mais leves69.

Com a validação do polimorfismo LCT-13910C>T, o exame genético passou a incorporar a rotina de exames de laboratório para diagnosticar hipolactasia. Na Europa o exame é feito com kit MutaReal Lactase Test que utiliza o PCR em tempo real70, e com kit GenoType LCT que se baseia na hibridização dos produtos de PCR de PCR multiplex com sondas selvagens e mutantes aderidas às tiras de nitrocelulose71. O kit que emprega hibridização reversa não sofre interferência dos polimorfismos africanos observados nos pacientes da raça negra imigrantes da África que vivem na Europa, e que provocam um desvio da curva de melting por PCR em tempo real, sendo considerado melhor72.

No Brasil foi implantada na rotina laboratorial do Hospital das Clínicas da FMUSP técnica que emprega PCR convencional e tratamento do produto de PCR com enzima de restrição (RFLP-PCR). A concordância pelo Índice Kappa com teste respiratório do hidrogênio foi alta, apresentando 100% de sensibilidade e 96% de especificidade18. A técnica de PCR-RFLP também é utilizada por outros autores na Europa22,27,73.

O diagnóstico que se baseia em medir a atividade da enzima lactase em biópsia intestinal com kit Quick Lactase Test, embora também tenha apresentado sensibilidade e especificidade de 100% com teste genético de hipolactasia, é um exame invasivo74, dependendo de endoscopia para a coleta da biópsia da segunda porção do duodeno, e a atividade da enzima lactase no duodeno é menor que no jejuno61.

Sintomas

Os sintomas típicos incluem dor abdominal, sensação de inchaço no abdome, flatulência, diarreia, borborigmos e, particularmente nos jovens, vômitos. A dor abdominal pode ser em cólica e frequentemente é localizada na região periumbilical ou quadrante inferior. O borborigmo pode ser audível no exame físico e para o paciente. As fezes usualmente são volumosas, espumosas e aquosas. Uma característica importante é que estes indivíduos, mesmo com quadro de diarreia crônica, geralmente não perdem peso75. Em alguns casos a motilidade gastrintestinal está diminuída e os indivíduos podem se apresentar com constipação, possivelmente como consequência da produção de metano64.

Alguns autores também acreditam que a intolerância à lactose seja responsável por diversos sintomas sistêmicos, como dores de cabeça e vertigens, perda de concentração, dificuldade de memória de curto prazo, dores musculares e articulares, cansaço intenso, alergias diversas, arritmia cardíaca, úlceras orais, dor de garganta e aumento da frequência de micção76-79. Na presença de sintomas sistêmicos, é preciso avaliar se de fato decorrem da intolerância à lactose, se são sintomas coincidentes ou se decorrem de alergia à proteína do leite de vaca (que afeta até 20% dos pacientes com sintomas sugestivos de intolerância à lactose)64,80.

Existe uma grande variabilidade de sintomas entre os pacientes com intolerância à lactose. Os fatores responsáveis por esta variabilidade incluem a osmolalidade e conteúdo de gordura do alimento no qual o açúcar é ingerido, o esvaziamento gástrico, a sensibilidade à distensão abdominal produzida pela carga osmótica da lactose não hidrolizada no intestino delgado superior, o trânsito intestinal e a resposta do cólon à carga de carboidrato. De uma maneira geral, os alimentos com alta osmolalidade e conteúdo de gordura diminuem o esvaziamento gástrico e reduzem a gravidade dos sintomas induzidos pela lactose. Para alguns autores, a flora fecal poderia se adaptar ao aumento crônico da lactose na dieta, reduzindo a incidência e intensidade dos sintomas após carga do carboidrato80, porém a melhora dos sintomas pode ocorrer independente da adaptação bacteriana81, dificultando muitas vezes a suspeita diagnóstica de intolerância à lactose.

Tratamento

Nos pacientes com lactase não persistente, o tratamento é considerado exclusivamente naqueles com sintomas de intolerância à lactose. Inicialmente se recomenda evitar temporariamente leite e produtos lácteos da dieta para se obter remissão dos sintomas. Tal tarefa pode ser dificultada pela presença de alimentos com lactose não identificada na sua composição79. As maiores concentrações de lactose se encontram no leite e sorvete, enquanto que os queijos geralmente contêm quantidades menores (Tabela 2)82.

A exclusão total e definitiva da lactose da dieta deve ser evitada, pois pode acarretar prejuízo nutricional de cálcio, fósforo e vitaminas, podendo estar associada com diminuição da densidade mineral óssea e fraturas83. Além disto, a maioria das pessoas intolerantes à lactose pode ingerir 12 g / dia de lactose (equivalente a um copo de leite) sem apresentar sintomas adversos84. A presença de lactose na preparação de comprimidos também já foi avaliada como potencial desencadeante de sintomas em pacientes com intolerância a lactose, porém sem diferenças nos níveis de hidrogênio expirado ou nos sintomas em comparação com placebo85.

Para evitar os prejuízos nutricionais decorrentes da exclusão total e definitiva da lactose da dieta, após exclusão inicial de lactose, geralmente é recomendada a sua reintrodução gradual de acordo com o limiar sintomático de cada indivíduo86. Nesta fase, algumas medidas não farmacológicas podem auxiliar na elevação deste limiar e contribuir para adaptação à lactose, como por exemplo, a sua ingestão junto com outros alimentos, o seu fracionamento ao longo do dia e o consumo de produtos lácteos fermentados e maturados86.

Caso estas medidas não funcionem para reduzir os sintomas de intolerância à lactose, medidas farmacológicas podem ser adotadas. A terapia de reposição enzimática com lactase exógena (+β-galactosidase), obtida de leveduras ou fungos, constitui uma possível estratégia para a deficiência primária de lactose. Estes preparados comerciais de "lactase", quando adicionados a alimentos que contenham lactose ou ingeridos com refeições com lactose, são capazes de reduzir os sintomas e os valores de hidrogênio expirado em muitos indivíduos intolerantes à lactose. Entretanto, estes produtos não são capazes de hidrolisar completamente toda a lactose da dieta com resultados variáveis em cada paciente. As "lactases" exógenas estão disponíveis comercialmente na forma líquida e em cápsulas e tabletes, e possivelmente as diferentes preparações não são equivalentes. A enzima solúvel pode ser adicionada ao leite que é então refrigerado de um dia para o outro antes do uso (porém pouco prático para uso frequente). Existem também leites comerciais com baixo teor de lactose (pré-incubado com lactose já hidrolisada), porém não estão amplamente disponíveis em muitos restaurantes e lanchonetes. Apesar dos trabalhos enfatizarem a eficácia das formulações líquidas de "lactase" na melhora dos sintomas e na redução do hidrogênio expirado, a taxa real de eficácia apresenta resultados discrepantes, que decorrem do tipo de microorganismo utilizado, da contribuição da atividade residual da lactase da mucosa intestinal, e da dose de reposição utilizada87-89. As preparações em cápsulas e tabletes utilizadas na hora da refeição são mais caras que o leite pré-hidrolisado, porém são eficazes, palatáveis, de fácil uso e praticamente sem efeitos colaterais, sendo uma boa alternativa para reposição enzimática nos pacientes intolerantes à lactose86,90,91. Os sintomas da síndrome do intestino irritável e da intolerância à lactose são muito parecidos e de fato, as duas condições podem coexistir92. Nos pacientes com intolerância à lactose que não apresentam melhora com dieta restrita de lactose, a presença de síndrome do intestino irritável subjacente deve ser aventada.

A ingestão de pró-bióticos contendo lactase teria o potencial de auxiliar na digestão da lactose nos indivíduos intolerantes, no entanto os estudos que avaliaram o benefício de sua utilização apresentaram resultados discordantes. Desta forma, no momento, os pró-bióticos têm papel incerto no manejo da intolerância à lactose86.

Como mencionado previamente, nos pacientes com intolerância à lactose e redução do consumo de leite e derivados, é importante avaliar se a ingestão diária de cálcio está adequada. Nos adolescentes e adultos jovens geralmente se recomenda cálcio na dieta de 1200 a 1500mg por dia. Já nos adultos a quantia diária varia de acordo com o sexo e presença de menopausa. O cálcio deve ser suplementado caso esteja insuficiente na dieta, com monitorização e suplementação se necessário também de vitamina D. Iogurtes com culturas vivas que contém beta-galactosidase endógena são uma fonte alternativa de calorias e cálcio e podem ser bem tolerado por muitos pacientes intolerantes. Porém os iogurtes que contém leite ou seus derivados que foram adicionados de volta após a fermentação podem produzir sintomas86.

Conflito de interesse: Não há

Artigo recebido: 16/12/09

Aceito para publicação: 23/01/10

Trabalho realizado no Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

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    Correspondência: Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 255, 9º andar, sala 9159 Cerqueira Cesar CEP: 05403-000 São Paulo - SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      2010

    Histórico

    • Recebido
      16 Dez 2009
    • Aceito
      10 Jan 2010
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