Acessibilidade / Reportar erro

Relatório mundial de saúde 2000 - sistemas de saúde: aprimorando a performance

Panorama Internacional

Saúde Pública

RELATÓRIO MUNDIAL DE SAÚDE 2000 – SISTEMAS DE SAÚDE: APRIMORANDO A PERFORMANCE* * tradução livre.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1995, anualmente lança um report temático. O último, referente a 2001, diz respeito a Mental Health: New Understanding, New Hope. O de 2000 contempla os sistemas de saúde com o título acima exposto1. Na apresentação, a diretora geral da OMS, Gro Harlem Brundtland, diz que esse relatório é um marco miliário e que a avaliação dos sistemas de saúde é uma das prioridades da sua gestão. Os autores do trabalho, a partir de oito medidas de avaliação dos sistemas de saúde, listam 191 países, apontando, em ordem decrescente de melhor performance, o posto da cada país. França e Itália receberam os postos 1 e 2, respectivamente, ficando o Brasil com o 125º posto.

Comentário

É bastante usual em textos médicos reivindicar que a "OMS estima...."; a "OMS diz......". Isto é, sem qualquer criticismo, os dizeres da OMS são tidos, habitualmente, como verdades absolutas. No entanto, em relação a esta avaliação, a postura da comunidade científica brasileira foi diferente.

Uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz abriu um espaço para discussão do tema no seu site <<www.fiocruz.br/cict/dis/departamentosframe.htm>>. Um grupo interdisciplinar fez rigorosa avaliação da metodologia do trabalho, redundando em, pelo menos, duas publicações2,3. Nessas publicações, são apontadas, entre outras, as seguintes preocupações: a) não havia disponibilidade de dados para o cálculo das medidas para 70% - 89% dos países; b) informantes-chave eram provenientes de 35 países e mesmo sem ser representativos dos seus países, as suas informações foram generalizadas para o total de 191; c) há tratamento inadequado para as questões de desigualdade versus eqüidade; d) 26 das 32 referências bibliográficas dizem respeito a quatro documentos internos da OMS, publicados sem critério de revisão por pares, e 30 das 32 referências são de autoria dos responsáveis pelo documento; e) a adequação e a validade de determinadas medidas estatísticas de desigualdade em saúde foram completamente ignoradas; f) alguns indicadores referentes a indivíduos foram generalizados para o coletivo.

Diante da posição da delegação brasileira, em reunião do "Executive Board" da OMS, em janeiro de 2001, ficou decidido criar um comitê para reavaliar questões teóricas e metodológicas.

Assim, vale a lembrança de que a postura crítica sempre imperativa ao ler artigos científicos também é válida para documentos oriundos da OMS e de agências similares.

EUCLIDES AYRES DE CASTILHO

Referências

1. WHO. The World Report 2000. Geneva: WHO; 2000.

2. Almeida C, Braveman P, Gold MR, Szwarcwald CL, Ribeiro JM, Miglionico A, Millar JS, et al. Methodological concerns and recommendations on policy consequences of the World Health Report 2000. Lancet 2001; 357: 1692-7.

3. Szwarcwald CL. On the World Health Organization's measurement of health inequalities. J Epidemiol Community Health 2002; 56:177-82.

  • *
    tradução livre.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Set 2002
    • Data do Fascículo
      Jun 2002
    Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: ramb@amb.org.br