Àbeira do leito
Medicina Baseada em Evidências
COMO DIAGNOSTICAR ACIDOSE METABÓLICA EM PACIENTES GRAVES?
Acidose metabólica (AM) é um distúrbio fisiológico freqüentemente observado em pacientes internados em unidades de terapia intensiva ou avaliados em prontos-socorros. O seu pronto reconhecimento, bem como a identificação de sua provável etiologia, são fundamentais na avaliação desses pacientes. Em geral, acidose metabólica traduz uma situação que, no mínimo, requer pronta intervenção.
Habitualmente, utiliza-se dois métodos para se realizar o diagnóstico de AM: o primeiro utiliza a concentração do bicarbonato plasmático e "anion gap (AG)", e o segundo o base excess/deficit. Esses dois sistemas não consideram tampões plasmáticos não bicarbonatados, como por exemplo, as proteínas e o fósforo inorgânico. Entre as proteínas plasmáticas, aquela que mais interfere no equilíbrio ácido-base é a albumina, por funcionar como um ácido fraco não-volátil.
Hipoalbuminemia é extremamente freqüente em pacientes agudamente enfermos, o que pode confundir a análise da acidose metabólica tanto utilizando a avaliação do AG, quanto pelo emprego do base excess/deficit (o efeito alcalinizante da hipoalbuminemia pode contrabalançar a presença de ácidos fortes como lactato ou cetonas).
Assim, quando paciente apresenta hipoalbuminemia, a avaliação do BE não é suficiente para se chegar ao diagnóstico de acidose metabólica. Da mesma forma, quando a metodologia empregada se embasa na [BIC] ou no AG observado, a presença de hipoalbuminemia pode levar ao não diagnóstico ou mesmo a subestimação da acidose metabólica. Contudo, quando o AG é ajustado pela [Alb], esta avaliação se torna mais confiável. De forma complementar, a acidemia interfere per si no cálculo do AG. O quadro abaixo é útil para se corrigir o cálculo do AG e verificar se realmente o paciente AG alargado ou não.
A conduta, à beira do leito, deve ser direcionada pelo cálculo do AG corrigido. Inicialmente, calcula-se "normalmente" o AG, isto é, AG = (Na+ + K+) ¾ (Cl- + Bic). Após obter este valor, deve-se corrigi-lo pelos níveis plasmáticos de albumina, sendo que para queda de 1g de albumina plasmática, subtrai-se 2 pontos do AG calculado. Da mesma forma, deve-se corrigir o AG pelo pH, sendo que faixas de pH entre 7,20 e 7,30, diminui-se 1 ponto do AG calculado e para faixas entre 7,10 e 7,20, diminui-se 2 pontos. pH inferior a 7,10, deve-se diminuir 3 pontos.
Em resumo, não podemos considerar apenas a avaliação do bicarbonato e/ou do BE para se diagnosticar acidose metabólica. Devemos sempre verificar o pH e os níveis plasmáticos de albumina para, com mais precisão, diagnosticar acidose metabólica em pacientes gravemente enfermos.
ELIÉZER SILVA
MARCELINO DE SOUZA DURÃO JR
Referência
Fencl V, Jabor A, Kazda A, Figge J. Diagnosis of metabolic acid-base disturbances in critically ill patients. Am J Respir Crit Care Med 2000; 162:2246-51.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
23 Mar 2006 -
Data do Fascículo
Set 2002