À BEIRA DO LEITO
Deve-se realizar a colecistectomia profilática durante a gastroplastia redutora para tratamento da obesidade mórbida?
Elias Jirjoss IliasI; Paulo KassabI; Carlos Alberto MalheirosII
IProfessor convidado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP
IIProfessor-adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP
A obesidade atinge grande parcela da população mundial, sendo hoje um dos maiores problemas de saúde pública na grande maioria dos países. A doença obesidade já não poupa nem as crianças. O sobrepeso em crianças vem aumentando gradativamente nos últimos anos, sendo considerado problema atual de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde, sobrepondo-se, inclusive, a enfermidades que, tradicionalmente, provocam graves danos à saúde, como a desnutrição e as doenças infecciosas. Estima-se que existam mais de 17,6 milhões de crianças menores de cinco anos com sobrepeso ou com risco de sobrepeso em todo o mundo. Segundo dados do National Center for Health Statistics (NCHS), uma em cada cinco crianças norte-americanas está com excesso de peso. Nos Estados Unidos, em crianças de 2 a 5 anos, segundo National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), 1999-2000, o excesso de peso foi encontrado em 20,6%, sendo 10,4% de sobrepeso propriamente dito. No Brasil, a situação não é diferente, sendo a incidência de obesidade em crianças muito alta, até mesmo na região Nordeste, onde historicamente existe ou existia um grande número de crianças desnutridas. Em estudo recente constatou-se que na cidade de Natal a prevalência de excesso de peso é alta em crianças entre 2 e 6 anos em todas as classes sociais mas em maior numero em estudantes de escolas privadas.
A obesidade é o maior fator de risco para o desenvolvimento de cálculos de colesterol. Cerca de 25% a 45% desta população apresentam colelitíase, sendo realizadas cerca de 750.000 colecistectomias por ano nos Estados Unidos, acarretando um custo de 8 a 10 bilhões de dólares ao sistema de saúde daquele país.
Em obesos mórbidos, se considerarmos os indivíduos já colecistectomizados e os que são diagnosticados previamente à cirurgia de gastroplastia, os índices de colecistopatia calculosa chegam a quase 50% dos pacientes.
Sabe-se que os pacientes submetidos à gastroplastia e que sofrem grande emagrecimento em curto espaço de tempo também estão sujeitos ao aparecimento da colelitíase, principalmente nos primeiros meses do pós-operatório. Alguns autores, na tentativa de prevenir o aparecimento de cálculos biliares após a cirurgia de redução gástrica, usaram o ácido ursodeoxicólico no pós-operatório por seis meses e obtiveram redução no aparecimento de cálculos, porém os resultados não podem recomendar o seu uso rotineiro. Outros autores estudaram a indicação de colecistectomia profilática por ocasião da cirurgia de redução gástrica. Os resultados se mostraram conflitantes principalmente devido ao surgimento de complicações atribuídas à colecistectomia e que poderiam ter sido evitadas caso a vesícula biliar não tivesse sido retirada de maneira profilática (vesícula sem a presença de cálculos).
Cabe lembrar, no entanto, que a dificuldade técnica na realização da colecistectomia em obesos pela via aberta, assim como as complicações inerentes à própria cirurgia podem levar ao aumento da morbi-mortalidade do procedimento combinado. Portanto, sugerimos que o cirurgião que optar pela colecistectomia durante a gastroplastia com vesícula biliar alitiásica, deverá discutir detalhadamente o procedimento com o seu paciente, colocando claramente os riscos e as possíveis complicações para evitar futuros problemas éticos e legais.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Fev 2010 -
Data do Fascículo
2009