Acessibilidade / Reportar erro

Brasil 500 anos. Nomenclatura anatômica de um jesuíta no tempo do Descobrimento

Brazil 500 Years. A jesuit anatomical nomenclature soonafter the Discovery

Resumos

Com o fito de facilitar aos padres as confissões de indígenas brasileiros, no início da colonização do Brasil pelos Portugueses e para auxiliar os índios em sua comunicação, PERO de CASTILHO, um jesuíta nascido em Vila do Espírito Santo, foi levado a preparar uma lista de nomes de partes do corpo humano. Essa lista, de termos Tupis (na língua nativa dos índios) e portugueses, das estruturas anatômicas, em ordem alfabética, parece ser a primeira Nomina Anatomica publicada no Brasil. Tal vocabulário bilingüe constitui um subsídio para o estudo de ambas as línguas faladas logo após o descobrimento do Brasil, e representa um documento de caráter religioso que contribui para a história da anatomia e da medicina.

História do Brasil; História da Terminologia Anatômica Brasileira; Pero de Castilho jesuíta; Religião, Medicina e Anatomia


The purpose of rendering easier for priests to hear confessions from Brazilian indians, in the beginning of the colonization of Brazil by the Portuguese, and in order to serve indians for better communication led Pero de Castilho, a jesuit born in Vila do Espírito Santo, to prepare a list of names of parts of the human body. Such a list of tupi (language of the native indians) and portuguese terms of anatomical structures, in alphabetical order, seems to be the first Nomina Anatomica published in Brazil. Such a bilingual vocabulary constitutes a subsidy for the study of both languages spoken soon after the discovery of Brazil and represents a religious related document that contributes to the history of anatomy and medicine.

Hystory of Brasil; Hystory of the Brazilian Anatomical Terminology; Religion, Anatomy and Medicine; Tupi Language anatomical terms; Pero de Castilho jesuit


Atualização

Brasil 500 anos. Nomenclatura anatômica de um jesuíta no tempo do Descobrimento

A.J.C. Bezerra*, R.F.A. Bezerra*, L.J.A. Di Dio**

*Universidade Católica de Brasília, **Universidade de Santo Amaro, Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

RESUMO: Com o fito de facilitar aos padres as confissões de indígenas brasileiros, no início da colonização do Brasil pelos Portugueses e para auxiliar os índios em sua comunicação, PERO de CASTILHO, um jesuíta nascido em Vila do Espírito Santo, foi levado a preparar uma lista de nomes de partes do corpo humano. Essa lista, de termos Tupis (na língua nativa dos índios) e portugueses, das estruturas anatômicas, em ordem alfabética, parece ser a primeira Nomina Anatomica publicada no Brasil. Tal vocabulário bilingüe constitui um subsídio para o estudo de ambas as línguas faladas logo após o descobrimento do Brasil, e representa um documento de caráter religioso que contribui para a história da anatomia e da medicina.

UNITERMOS: História do Brasil. História da Terminologia Anatômica Brasileira. Pero de Castilho jesuíta. Religião, Medicina e Anatomia. Tupi (nomes de estruturas anatômicas).

INTRODUÇÃO

Em 1613 ficou pronto para divulgação e elaboração de cópias o manuscrito de PERO de CASTILHO intitulado: "Nomes das partes do corpo humano, pella lingua do Brasil, cõ primeiras, segundas & terceiras pessoas & mais differenças q nelles ha; mujto necessarios aos confessores que se occupão no menisterio de ouuir confissões, & ajudar aos jndios onde de contino serue. Juntos por ordem alphabetica, pera mais facilmente se achare, & sabere; pello padre Pero de Castilho da Companhia de Iesu. Anno 1613"

O citado manuscrito, provavelmente a primeira "Nomina Anatomica" brasileira, totaliza 16 páginas. "Os nomes das partes do corpo humano" acham-se escritos em tupi estando ao lado de cada termo indígena seu correspondente em português.

É interessante saber que esta preciosidade histórica foi composta visando precipuamente facilitar os trabalhos de catequese dos tupi-guaranis, ou seja, auxiliar no ministério de ouvir confissões e ajudar os índios.

Segundo Ayrosa (1937), em seu trabalho sobre a obra de PERO de CASTILHO, os termos empregados podem refletir regionalismos. Possivelmente predomina no trabalho o tupi tal qual era falado no litoral, já que visava sobretudo facilitar seus irmãos de hábitos atuantes na costa do nordeste do Brasil. Com o passar dos séculos essa "Nomina Anatomica" tornou-se, também, um registro importante do português escrito no Brasil nos idos do século XVII.

PERO de CASTILHO escreveu sua "Nomina Anatomica", provavelmente, na Bahia ou Pernambuco quando exercia suas funções religiosas. Por ser de grande utilidade foi desdobrada rapidamente em várias cópias sendo que a uma delas, em Piratininga (São Paulo), foi acrescida, em 1622, de um vocabulário de termos anatômicos em português-tupi.

PERO de CASTILHO nasceu na Vila do Espírito Santo em 1572. Aos 15 anos, entrou para a Companhia de Jesus, na Bahia. Em 1606 já havia sido ordenado sacerdote e em 1608 tornou-se Coadjutor Espiritual. Em 1616 foi designado Superior da aldeia indígena de São João Baptista, anexa ao Colégio da Bahia. A última notícia que se teve de PERO de CASTILHO data de 1631 quando, aos 59 anos, encontrava-se atuando como jesuíta no Colégio de Pernambuco.

A "Nomina Anatomica" de PERO de CASTILHO, agora estudada, foi adquirida em Paris pelo bibliófilo Felix Pacheco que posteriormente a vendeu para a Divisão de Bibliotecas do Município de São Paulo, na época sob os cuidados e chefia de Rubens Borba de Morais.

Uma cópia encontra-se no Museu Britânico, em Londres, e integra o "Catálogo dos Manuscritus Portugueses". Esta provavelmente foi transcrita em parte por Ferreira França, em 1859, e incluída na sua publicação intitulada "Chrestomathia da Lingua Brasílica". Termos como "fél e beiços da parte de cima e unhas dos pés", em vez de unhas dos dedos dos pés tornam una as duas publicações.

PERO de CASTILHO, cujo maior título na hierarquia da Igreja foi de Provincial da Companhia de Jesus, deve ter sido, com grande probabilidade, o primeiro brasileiro nato que se deu ao trabalho científico-religioso de escrever uma "Nomina Anatomica".

O texto, compactado da primorosa obra de Plínio Ayrosa, é agora apresentado como grafada no manuscrito original, tanto em tupi quanto em português de 1613. Em seguida, a cada termo anatômico e entre parênteses, acrescentou-se o nome correspondente na Terminologia Anatomica (FCAT, 1998) vigente no ano 2000, meio milênio após a descoberta do Brasil. Ao lado de cada verbete, sempre que possível, foram feitos comentários objetivando enriquecer o texto.

A presente publicação dá seguimento aos nossos estudos e publicações sobre aspectos diversos da nomenclatura anatômica (Bezerra et al.,1987; 1991; 1993; 1994; Di Dio et al., 1997).

A ubiquidade da Anatomia humana e da terminologia anatômica, que começaram com o primeiro homem e a primeira mulher e com as primeiras palavras que aprenderam a pronunciar, tem a mesma história da humanidade. Os egípcios, por motivos religiosos, embalsamavam os mortos, designavam e descreviam as partes que manipulavam. Os gregos, com sua mitologia, com seu interesse médico, artístico, estético e filosófico legaram-nos numerosas denominações de estruturas anatômicas (Di Dio e Arantes, 1997). Com o decorrer dos tempos, dicionários de línguas primitivas, como dos índios Ianomanis, livros de natureza religiosa, a Bíblia, os Evangelhos, publicações artísticas e literárias (a descrição da anatomia do Diabo na Divina Commedia de Dante Alighieri, (Di Dio, 1984), sem contar obras científicas (por exemplo, a Terminologia Anatômica do FCAT, 1998, Di Dio, 1998). Entre essas variadas fontes de informação, destaca-se também pelo seu valor científico, o Kosher Code of the Orthodox Jew, traduzido por Levin e Boyden (1940), um rabino, Levin, e um anatomista, Boyden, que documentam a terminologia e os conceitos sanitários da época em que foi escrito e a contribuição religiosa para a história das ciências médicas.

 = Membri caput (glande). Cabeça do membro viril. A palavra caput, além de cabeça, também pode significar bola, grão, semente.

Ába = Cabello da cabeça (cabelo). Por abebô entende-se cabelo grande, cabeludo. Amotâba é bigode. Buço é apoãâba.

Acaiâ = Matrix in foeminis (útero). Enquanto no Dicionário Brasiliano-Português o termo é traduzido como "madre das mulheres", no Vocabulário de Piratininga aparece como "madre da molher ou de qualquer femea".

Acánga = Cabeça. O prefixo "a" significa cabeça e "cang" significa duro. Assim acánga deve ser traduzido, com mais exatidão, como crânio.

Acangapê = Casco da cabeça (calota craniana). A palavra deriva de acánga, mais pê, que significa casca, crosta. É interessante observar que api é couro cabeludo. Cui é pó. Caspa é apicui.

Aceôca = Garganta. Nos peixes têm o significado de guelras. Em outros animais goela ou papo.

Aceôcáýa = Campainha (úvula). Áýa significa pendente, suspenso.

Aceôpiáýa = Padar (palato). Piá parece ser corruptela de piaguá que pode ser traduzido por côncavo (céu da boca).

Açû = Mão esquerda. Deve ser a maneira coloquial de poaçû. Açû é grosseiro ou seja, poaçû é a mão sem destreza. Ecatuâba é a mão direita. Deriva de écatú (hábil, jeitoso, apto).

Agueâ = Dentes queixaes (dentes molares). Nas aves têm o significado de moela (que moe).

Aipi = Cacho do pescoço (proeminência laríngea). Api é saliência e ayê significa coisa arredondada.

Aiûra = Pescoço. Esta palavra parece resultar da união do termo guarani (ayú) e do tupi (ajúra).

Âjurû = Canalis membri (uretra peniana). Jurû ou iurû é boca no sentido de entrada ou do início do tubo digestório. Canal do membro (viril). O termo melhor define o óstio externo da uretra ou do meato urinário. Nesta oportunidade registre-se que o canto da boca é iurû ou iurupopi.

Âmopîra = coxa pella parte morta das nadegas (face posterior da extremidade proximal da coxa). Añã significa grossa (aqui no sentido de glúteos) e guîra o que fica localizado logo abaixo ou a coxa depois que morre a nádega.

Apecu = Língua. No sentido mais amplo é tudo que é achatado e comprido. Apecu apira é a ponta ou ápice da língua.

Apiçâ = Ouvidos (orelhas). Desta deriva apîçáy (surdo). Namby é o pavilhão auricular (da orelha externa) e apiçâcoâra é o meato acústico externo. Cerume é apiçâcoaruuma.

Apijguára = Cachagens (conchas nasais). Deriva de apijã (narinas). Apijguarába são os pêlos do nariz (vibrissas).

Apîra = Moleira (fontanela, fontículo). O significado geral é ápice, cume.

Apoã = Beiço de cima (lábio superior). O lábio inferior é tembê.

Aputuuma = Miolos. Deriva de pituu que quer dizer recheio mole (cérebro). Pode ser também miolo de pão e juízo no sentido figurado. Aputuumaôba significa saco dos miolos (meninges). Talvez medula dos ossos (tutano) e, por extensão, a medula da coluna vertebral, que os antigos consideravam um só osso longo, e que atualmente é a medula espinhal.

Arucánga = Costelas. Arucangira é cartilagem costal. Arucanguíra é o "vão das costellas debaixo" (espaço intercostal).

Atîba = Fontes (têmporas). Atibaiá são os cabelos das têmporas (costeletas).

Atiîba = Hombro (ombro). Região da espádua.

Atucupê = As costas. Escápula chama-se iibâpecãga.

Bi = Pee (pé). Biçâ é dedo do pé, na forma guarani. Na forma tupi é picú.

Biâ = Fígado. Biâupiâra é fel (bile).

Bicupê = Peito do pee. É o dorso do pé. Bipitéra é a "sola do pee" (planta).

Bîra = Pelle. Tegumento.

Bô = Mão. Bocupê ou pócupê significa costas da mão (dorso da mão). O oposto, palma da mão é popitê ou bopitéra.

Bopitâ = Punho.

Bopitéicâba = Riscos da palma da mão (Pregas palmares, linhas da palma da mão). Bopitéraiçâba é sinônimo.

Câba = Gordura (tecido adiposo). Tela subcutânea.

Câma = Peito, teta. Câma apoã é a ponta da teta (papila mamária, paoila da mama, mamilo).

Canga = Osso. Serve para osso em pessoa viva. O osso em um esqueleto (ossada) é canguêra.

Cuâ = Cintura.

Ieapaçâba = Curua do giolho (patela).

Iepotaçâba = Iuntas (articulação).

Iibâ = Braço. Iibâcánga é a cana do braço (úmero). Iibâguîra é sobaco (sovaco, axila) visto que guî significa embaixo. Iibâguirâba são os pêlos da axila ou hircos.

Iibâipi = Aarreigada do braço (ombro).

Iibaipiaiýa = Lagarto do braço (bíceps do braço). Para os músculos do compartimento anterior do braço usa-se também o termo iibâtupôyá (bucho do braço). Obviamente tem o sentido de ventre muscular. Músculo (diminutivo de mus, rato) do braço é o ratinho do braço, ou seja, o pequeno rato do braço.

Ibiyã = Entranhas (tripas, vísceras ou órgãos viscerais).

Iurû = Boca. Iurubôca = Abertura da boca (rima oris ou rima da boca).Também significa fenda, rachadura.

Iurumopê = Cantos da boca de fora (comissuras labiais).

Membinhemonhãgâba = Matrix in foeminis. O sentido é de lugar onde se gera o filho pois membir significa filho. O uso da palavra membir é privativa das mulheres da tribo. (Ver acaiâ).

Miçã = Dedo do pee. Qualquer dedo do pé.

Miçã apira = A ponta de dedo do pee. Apira é bico, ponta.

Miçã guaçû = Dedo polegar do pee. Guaçu é grosso. Dedão. (Halux ou grande dedo do pé).

Miçã guaçû Ibirixoâra = Dedo do pee junto ao polegar. Deriva de ibirichuar que significa vizinho.

Miçã mirî = Dedo memingo do pee. Minguinho (dedo mínimo). Ver Moã miri.

Miçã mitêra = Dedo do meyo. Deriva de pítera (meio).

Miçãpê = Unha do dedo do pee. Apê é a unha.

Miçãquitâ = Noos dos dedos dos pees. Quitã é nó, caroço, verruga. Poderia ser nós dos dedos, ao nível das articulações das falanges.

Mitâ = Calcanhar. Calcâneo.

Miteribirixoâra = Dedo que está junto ao dedo do meyo. Provavelmente subentende-se que esta palavra é precedida de miçã (dedo), pois seu significado literal é vizinho do meio.

Moã = Dedo da mão. Moãguaçû significa dedo grosso da mão.

Moã iepotaçâba = Junturas dos dedos da mão.

Moã miri = Dedo memingo da mão (dedo mínimo).

Moã mitêra = Dedo do meo da mão (dedo médio).

Moã miter ibirixoâra = O quarto dedo da mão (dedo anular).

Moape = Unhas da mão.

Moãpira = Ponta dos dedos das mãos.

Moãquitã = Os noos dos dedos das mãos. É mais utilizado no sentido das cabeças dos ossos do metacarpo.

Moataçâba = O espaço que ha nas costas entre as duas espaduas. Moatár é distante e hába é o lugar. Deve ser o lugar que não se alcança com a mão. Espaço inter-escapular.

Motiâ = Peitos. Do pescosso até o vasio (Parede anterior do tórax). Peito sem ser no sentido de mama. Motiââba são os pêlos do peito.

Muçuã = Espinhela (processo xifóide). O que se mexe, balança. Muçuã apira é a ponta da "espinhela".

Muruã = Embigo (umbigo). Mi ou mu pi significa centro e huã talo.

Muruãçáma = A tripa que fica pegada no embigo das crianças quando nace (cordão umbilical, atualmente o funículo umbilical). Çama é corda. Funículo é pequena corda, cordinha.

Muruã pôra = Os embigos que sae muyto fora per falta das parteiras (umbigo protruso). Pôra é saltar, pular. É interessante a atribuição de culpa às parteiras (não havia médicos? obstetras).

Nambi = Orelha. Pode ser alça, aba. É orelha por semelhança.

Nhiã = Coraçam (coração). Pode ser usada como vísceras. A pronúncia neã talvez designe mais precisamente coração. Nhiãbebúya ("bofes") tem o sufixo búya que significa que bôia, flutua. Talvez pulmões. Nhiãçáma (cordas do coraçam) são as cordas tendíneas visto que o sufixo isoladamente é fibra, corda.

Penarãga = Rodella do giolho. Rótula (rodinha) do joelho. Hoje, patela.

Perê = Baço ou passarinha.

Pî = Pee. Também é pé de mesa.

Piâ = Figado. Parece ser víscera de uma maneira geral. Piâupiâra significa fel (bile).

Piçã = Dedo do pee. Picupê é o peito do pé. Pipitêra é a sola do pé.

Pira = Pelle.

Piriquitic = Rim.

Pitâ = Calcanhar. Calcâneo.

Pitangurû = Matrix in foeminis. Pitang é criancinha. Urû deriva de rerú, criança, filho. Seu equivalente é pitangnhemonhãgâba (útero).

Pô = Mão. Ver também bô. Poã é dedo da mão. Poãbeigâba significa dedo indicador ou índice, index (mais precisamente é apontar com o dedo). Pobobôca ou pópitêjcâba quer dizer riscos (linhas) da palma da mão (pregas palmares).

Popitêra = Palma da mão. Pócupê significa costas da mão (dorso da mão).

Puçuã = Espinhela. Ver muçuã (processo xifoide, do esterno).

Puraq = Cotouello. Atualmente, região posterior do cúbito.

Puruã = Embigo. Ver muruã.

Sâba = Cabello do corpo, pello.

Sibâ = Testa. Fronte.

Tacapê = Espaço do embigo até a ventrecha (abdome). Ventrecha é barriga no popular. Ventre.

Tacô = Uirilha. Também quadris, ancas ou cadeiras, em ambos os sexos. Região inguinal.

Tacoâba = Pubes in foeminis. Monte púbico feminino, onde se encontra os pêlos (púbios). Região púbica da mulher.

Tacoaýa = Genitale viri. Aquãi é ponta, alongado. (órgão genital externo do homem, pênis)

Tacoayipitã âba = Pubes in maribus. Devia ser pubes in viri (pube do homem, do marido). Observe-se que Uûba é genitale viri (genital do homem) do ponto de vista metafórico, de uib flexa, haste, caniço, vara.

Táya = Dentes.

Taibira = Gengiuas. Na verdade pira ou bira é pele ou couro. Táiioâra é o alvéolo dental.

Táimitêra = Dentes dianteiros (incisivos).

Tapiâ = Testiculi, saculus. Também apiá. (Testículos, sáculo, pequeno saco, escroto, onde estão situados os testículos).

Tapiâçãma = As cordas do testiculi (funículo espermático).

Tapupê = Partes extera utrinque (vulva).

Tapupîiurû = Os vagis (óstio vaginal). Iurû é boca, entrada.

Teçâ = Olho.

Teçâîra = Minina do olho (pupila).

Teçâ obi = Bilida. Obi é verde ou azul. Faz alusão à íris.

Teçâ tinga = Bilida. Tinga é branco (esclera). Belida significa mancha esbranquiçada na córnea.

Tebîra = Nadegas. Tebi, ebi também significam nádegas. Glúteos, região glútea.

Teicoâra = Podex (intestino reto, ânus). Tei deriva de tebî, assento e coára orifício, buraco.

Tembê = Beiço embê é labio inferior.

Tenangupi = Quadril ou Tumbi = cadeiras (quadril), ancas.

Tendibâ = Barba, parte per onde soe nacer (queixo, mento).

Puraq, tendibagã ou tenybangâ = Cotovelo (cotovelo, esquina, ângulo). Região cubital, cúbito.

Tendipiã = Joelho ou tenypiã.

Tetê = Corpo humano.

Tetimã = Perna ou timã = perna.

Tetimã canga = Canella da perna (tíbia).

Tetimã iguâ = Barriga da perna (panturrilha) ou tetimã oô ou timãoô.

Tetimã iûra = Collo da perna (tornozelo).

Tetobapê = Face. Na verdade na frase tem sentido de bochecha.

Te = Nariz. É ponta, bico. Tiápira é a ponta do nariz.

Tiquê = Barriga, o interior (cavidade abdominal).

Tiguê poî = Tripas (intestino delgado, órgãos viscerais). Poî é fibra, filamento, fio, cordão.

Tiurû = Bexiga ou irû. Irû é recipiente, continente, vaso, depósito, bexiga urinária.

Toô = Carne humana (músculo). Oô é carnudo, encorpado.

Tobâ = Rosto humano (face, cara).

Topê = Capella dos olhos (órbita e pálpebra). Bainha, vagem.

Topeâba = Pestanas (cílios). Literalmente cabelo (âba) da palpebra.

Tumbiquira = Rabadilha (cóccix). Deriva de tumbiquir que significa ápice, ponta, rabo, cauda.

Ûba = Coxa da parte dianteira (coxa). Face anterior da coxa.

Ûba poã = Ponta da coxa junto ao giolho (extremidade distal da coxa).

Ûba poã aiýa = Lagarto (ventre muscular). Lagarto é toda parte muscular polpuda, carnuda dos membros inferiores. Ver Iibaipiaiýa.

SUMMARY

Brazil 500 Years. A jesuit anatomical nomenclature soonafter the Discovery.

The purpose of rendering easier for priests to hear confessions from Brazilian indians, in the beginning of the colonization of Brazil by the Portuguese, and in order to serve indians for better communication led Pero de Castilho, a jesuit born in Vila do Espírito Santo, to prepare a list of names of parts of the human body. Such a list of tupi (language of the native indians) and portuguese terms of anatomical structures, in alphabetical order, seems to be the first Nomina Anatomica published in Brazil. Such a bilingual vocabulary constitutes a subsidy for the study of both languages spoken soon after the discovery of Brazil and represents a religious related document that contributes to the history of anatomy and medicine.

KEY WORDS: Hystory of Brasil. Hystory of the Brazilian Anatomical Terminology. Religion, Anatomy and Medicine. Tupi Language anatomical terms. Pero de Castilho jesuit.

  • AYROSA, Plinio. - 1937 - Os Nomes das Partes do Corpo Humano pella lingua do Brasil de Pero de Castilho. - Săo Paulo, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais
  • BEZERRA, Armando J. C.; BEZERRA, Alexandre S. A.; DI DIO, L. J. A. - 1993 - Yanomani Indians and the Anatomical and Biomedical Terms in their Language. - Revista Chilena de Anatomia, 11(1):25-33, 1993.
  • BEZERRA, Armando J. C., BEZERRA, Alexandre S. A., LOPES, A. C., DI DIO, L. J. A.- 1994 - Anatomical terms of Yanomani Indians translated into Portuguese and English. - Revista Associaçăo Médica Brasileira, 40(3):179-185
  • BEZERRA, Armando J. C., DI DIO, L. J. A., PIVA-JR., Luis - 1991 - Anatomical Terms in Homer's Iliad. - Revista Chilena de Anatomia, 9:73-77
  • BEZERRA, Armando J. C., DI DIO, L. J. A., PIVA JR., Luis, OLIVEIRA, Suzana V. - 1987 - Anatomical Terminology according to Saint Luke. - Quaderni di Anatomia Pratica, 43:1-13
  • DI DIO, L.J.A. - 1984 - Anatomy in Dante's Inferno. - Verh. Anat. Gesellsch. 78:645-652
  • DI DIO, L.J.A. -1998 - Tratado de Anatomia Aplicada. - Săo Paulo, Editora Póluss, volume 1
  • DI DIO, L.J.A. e ARANTES, A. - 1997 - Globalizaçăo da Anatomia. História e Futuro da Linguagem das Cięncias Médicas. - Anais da XIII Reuniăo do Federative Committee on Anatomical Terminology, International Federation of Associations of Anatomists (Săo Paulo, Brasil, 25-28, 1997). - Săo Paulo, Editora Póluss
  • FCAT (Federative Committee on Anatomical Terminology) -1998 - Terminologia Anatomica.- Stuttgart, New York, G. Thieme Verlag
  • LEVIN, S.J. and BOYDEN, E.A. - 1940 - The Kosher Code of the Orthodox Jew. - Being a literal translation of the XVI-century codification of the Babylonian Talmud which describes such deficiencies as render animal unfit for food (Hilkot Terefot., Shulhan´Aruk); to which is appended a discussion of the Talmudic anatomy in the light of the science of its day and of the present time. - New York, Hermon Press

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Out 2000
  • Data do Fascículo
    Jun 2000
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br