Acessibilidade / Reportar erro

Adoção de redes sociais por cidadãos no Paraguai

Resumo

Este artigo tem como objetivo identificar os fatores associados ao uso das redes sociais pelos cidadãos paraguaios nas relações cidadão-governo. A coleta dos dados foi feita usando uma pesquisa com vinhetas na qual as respostas a quatro problemas com serviços públicos foram registrados. Também foram coletadas pontuações sobre a percepção de eficácia, capacidade, influência social, confiança no governo, confiança na infraestrutura das redes sociais e ansiedade em relação às redes sociais. Uma análise multivariada foi usada para testar as hipóteses. A percepção de eficácia, a influência social e a confiança nas infraestruturas das redes sociais estão significativamente correlacionadas com o uso que os cidadãos fazem das redes sociais para relatar problemas nos serviços públicos. Por outro lado, a capacidade, a confiança no governo e a ansiedade em relação às redes sociais não foram associadas ao uso das redes sociais pelos cidadãos. Os resultados nos incentivam a formular mais teorias e desvendar como a percepção de eficácia, a influência social e a confiança nas infraestruturas das redes sociais afetam o envolvimento e a participação digital do cidadão, e em que condições as plataformas proprietárias de redes sociais, como o Facebook e o Twitter, contribuem para uma democracia vibrante.

Palavras-chave:
redes sociais; governo eletrônico; democracia digital; democracia imperfeita; adoção; difusão; inovação

Abstract

This article aims to identify factors associated with the use of social media by Paraguayan citizens in their relationship with the government. We gathered data using a vignette survey, which recorded the responses to four public service problems and collected scores on perceived effectiveness, capability, social influence, trust in government, trust in social media infrastructure, and social media anxiety. Multivariate analysis was used to test the hypotheses. Perceived effectiveness, social influence, and trust in social media infrastructures were found to be significantly correlated with citizens’ use of such media to report public service issues. On the other hand, capability, trust in government, and social media anxiety were not found to be associated with citizens’ social media use. The results urge further theorization to disentangle how perceived effectiveness, social influence, and trust in social media infrastructures affect digital citizen engagement and participation and under what conditions proprietary social media platforms such as Facebook and Twitter contribute to a vibrant democracy.

Keywords:
social media; e-government; digital democracy; flawed democracy; adoption; diffusion; innovation

Resumen

Este artículo tiene como objetivo identificar qué factores están asociados con el uso de las redes sociales por parte de los ciudadanos paraguayos en las relaciones ciudadano-gobierno. Recopilamos datos mediante una encuesta basada en técnica de viñeta en la que se registraron las respuestas a cuatro problemas de servicio público, además de puntuaciones sobre la eficacia percibida, la capacidad, la influencia social, la confianza en el Gobierno, la confianza en la infraestructura de las redes sociales y la ansiedad con relación a las redes sociales. Se utilizó un análisis multivariado para probar las hipótesis. Se encontró que hay una correlación entre la efectividad percibida, la influencia social y la confianza en las infraestructuras de las redes sociales con el uso de las redes sociales por parte de los ciudadanos para informar sobre problemas de servicio público. Por otro lado, no se encontró que la capacidad, la confianza en el Gobierno y la ansiedad con relación a las redes sociales estuvieran asociadas con el uso de las redes sociales por parte de los ciudadanos. Los resultados nos instan a teorizar y desentrañar aún más cómo la efectividad percibida, la influencia social y la confianza en las infraestructuras propietarias de las redes sociales afectan el compromiso y la participación digital de los ciudadanos, y bajo qué condiciones las plataformas propietarias de las redes sociales propietarias ‒como Facebook y Twitter‒ contribuyen a una democracia vibrante.

Palabras clave:
redes sociales; gobierno electrónico; democracia digital; democracia imperfecta; adopción; difusión; innovación

1. INTRODUÇÃO

Em todo o mundo, as redes sociais têm sido adotadas pelos governos como uma inovação institucional e tecnológica e com o objetivo de promover um diálogo aberto entre governo e cidadãos (Bertot, Jaeger & Grimes, 2010Bertot, J. C; Jaeger, P. T; & Grimes, J. M. (2010). Using ICTs to create a culture of transparency: E-government and social media as openness and anti-corruption tools for societies. Government Information Quarterly, 27(3), 264-271.; Mergel, 2013Mergel, I. (2013). Social media adoption and resulting tactics in the U.S. federal government. Government Information Quarterly, 30(2), 123-130.; Thomas & Streib, 2005Thomas, J. C; & Streib, G. (2005). E-democracy, e-commerce, and e-research: Examining the electronic ties between citizens and governments. Administration and Society, 37(3), 259-280.). De forma geral, as plataformas proprietárias de redes sociais, como Twitter e Facebook, permitem que (1) agências governamentais disseminem informações de uma forma mais dinâmica do que se publicassem mensagens em sites do governo, (2) legisladores e cidadãos se engajem na coprodução de soluções para a sociedade e (3) cidadãos expressem preocupações sobre a má qualidade ou problemas nos serviços públicos que eles podem estar enfrentando, desempenhando assim um papel mais ativo nos assuntos públicos (Feeney & Porumbescu, 2020Feeney, M. K; & Porumbescu, G. (2020). The Limits of Social Media for Public Administration Research and Practice. Public Administration Review. Retrieved from https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1111/puar.13276
https://doi.org/10.1111/puar.13276...
).

Uma eterna questão nos estudos empíricos sobre inovações, incluindo, entre outras, as redes sociais, é como explicar a adoção e difusão de artefatos (Criado, Sandoval-Almazan & Gil-Garcia, 2013Criado, J. I; Sandoval-Almazan, R; & Gil-Garcia, J. R. (2013). Government innovation through social media. Government Information Quarterly, 30(4), 319-326.). Em estudos sobre a adoção e a difusão das redes sociais por governos locais europeus, pesquisadores correlacionaram a presença dos governos e a aplicação de princípios dialógicos em plataformas de redes sociais com fatores explicativos demográficos, socioeconômicos e políticos (Agostino, 2013Agostino, D. (2013). Using social media to engage citizens: A study of Italian municipalities. Public Relations Review, 39(3), 232-234.; Bonsón, Perea & Bednárová, 2019Bonsón, E; Perea, D; & Bednárová, M. (2019). Facebook Practices in Western European Municipalities: An Empirical Analysis of Activity and Citizens’ Engagement. Administration & Society, 49(3), 320-347.; Bonsón, Torres, Royo & Flores, 2012Bonsón, E; Torres, L; Royo, S; & Flores, F. (2012). Local e-government 2.0: Social media and corporate transparency in municipalities. Government Information Quarterly, 29(2), 123-132.; Faber, Budding & Gradus, 2020Faber, B; Budding, T; & Gradus, R. (2020). Assessing social media use in Dutch municipalities: Political, institutional, and socio-economic determinants. Government Information Quarterly, 37(3), 101484.; Hofmann, Beverungen, Räckers & Becker, 2013Hofmann, S; Beverungen, D; Räckers, M; & Becker, J. (2013). What makes local governments’ online communications successful? Insights from a multi-method analysis of Facebook. Government Information Quarterly, 30(4), 387-396.; Silva, Tavares Silva & Lameiras, 2019Silva, P; Tavares, A. F; Silva, T; & Lameiras, M. (2019). The good, the bad and the ugly: Three faces of social media usage by local governments. Government Information Quarterly, 36(3), 469-479.). Uma observação que ecoa em todos os estudos sobre o uso das redes sociais pelos governos é que a troca de informações é muito unidirecional (Alam & Lucas, 2011Alam, L; & Lucas, R. (2011). Tweeting government: A case of Australian government use of Twitter. In Proceedings of the IEEE9ºInternational Conference on Dependable, Autonomic and Secure Computing DASC 2011, Sydney, Australia.; Balaban, Abrudan, Iancu & Irimies, 2016Balaban, D; Abrudan, M; Iancu, I; & Irimies, C. (2016). Online Communication and PR in Romanian Public Administration. The Case Study of Public Institutions from Transylvania. Transylvanian Review of Administrative Sciences, 12(47), 20-34.) e a contribuição dos cidadãos tem sido pouco aproveitada (Bonsón et al., 2019Bonsón, E; Torres, L; Royo, S; & Flores, F. (2012). Local e-government 2.0: Social media and corporate transparency in municipalities. Government Information Quarterly, 29(2), 123-132.).

Com poucas exceções (Homburg, Moody, Yang & Bekkers, 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
; Lu, Zhang & Fan, 2016Lu, B; Zhang, S; & Fan, W. (2016). Social Representations of Social Media Use in Government: An Analysis of Chinese Government Microblogging From Citizens’ Perspective. Social Science Computer Review, 34(4), 416-436.) que discutiremos na seção dois, os estudos realizados até hoje não identificaram fatores que expliquem a intenção comportamental dos cidadãos de usar as redes sociais em diálogos com os governos (Gintova, 2019Gintova, M. (2019). Use of social media in Canadian public administration: opportunities and barriers. Canadian Public Administration, 62(1), 7-26.). Além disso, os estudos sobre a presença e as atividades dos governos em plataformas de redes sociais se concentraram em contextos com pontuações relativamente altas nos índices de democracia (Abu-Shanab, 2015Abu-Shanab, E. A. (2015). E-democracy: The fruit of e-government. International Journal of Technology and Globalisation, 8(1), 15-28.; Högström, 2013Högström, J. (2013). Classification and rating of democracy: a comparison. Taiwan Journal of Democracy, 9(2), 33-54.), havendo poucos estudos em ambientes de democracias imperfeitas (para exceções, consulte Triantafillidou, Lappas, Yannas & Kleftodimos, 2016Triantafillidou, A; Lappas, G; Yannas, P; & Kleftodimos, A. (2016). Greek Local E-Government 2.0: Drivers and Outcomes of Social Media Adoption. In M. Z. Sobaci (Ed.), Social Media and Local Governments: Theory and Practice (pp. 153-170). New York, NY: Springer.; Yang, Homburg, Moody & Bekkers, 2018Yang, Q; Homburg, V. M. F; Moody, R. F. I; & Bekkers, V. J. J. M. (2018). Microblogging and Authoritarian Governance Regimes: Results from a Survey on the use of Sina Weibo by Chinese Citizens. Electronic Journal of E-Government, 16(2), 159-167.).

Este artigo aborda essas lacunas na atual literatura e tem como foco o uso das redes sociais nas relações cidadão-governo no Paraguai, um país que tem enfrentado continuidades autoritárias persistentes desde o regime de Stroessner (1954-1989) em diante, incluindo uma baixa eficácia das instituições governamentais (Fournier & Burges, 2000Fournier, D; & Burges, S. (2000). Form before function: democratization in Paraguay. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies / Revue Canadienne Des Études Latino-Américaines Et Caraïbes, 25(49), 5-32.; Tartakoff, 2019Tartakoff, L. Y. (2019). Ecuador, Argentina, and Paraguay: At Last Immunity to Authoritarian Rule? Society, 56(1), 15-22.). Esta pesquisa aborda a seguinte questão: que fatores explicam o uso das redes sociais pelos cidadãos nas relações cidadão-governo no Paraguai? Adotamos uma abordagem dedutiva e quantitativa, com a qual formulamos e testamos hipóteses com dados de pesquisas originais coletados no Paraguai.

Este artigo busca contribuir para o debate científico ampliando a nossa compreensão das práticas participativas on-line dos cidadãos em um regime que apresenta características de uma “democracia iliberal” (Fournier & Burges, 2000Fournier, D; & Burges, S. (2000). Form before function: democratization in Paraguay. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies / Revue Canadienne Des Études Latino-Américaines Et Caraïbes, 25(49), 5-32.). O elemento diferencial deste artigo é que combinamos teorias muito utilizadas nos estudos sobre governo eletrônico, como o Modelo de Aceitação de Tecnologia e a Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (Araujo, Reinhard & Cunha, 2018Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.), com linhas de raciocínio originadas na teoria política e no institucionalismo (como ansiedade, confiança no governo e confiança nas infraestruturas das redes sociais) com o objetivo de compreender melhor a adoção e a difusão das redes sociais nas relações cidadão-governo.

O artigo foi estruturado da seguinte forma. Em primeiro lugar, descreveremos aspectos relevantes do sistema político no Paraguai (seção dois). Em seguida, iremos desenvolver hipóteses sobre a adoção das redes sociais pelos cidadãos paraguaios nas relações cidadão-governo (seção três), seguidas da análise dos dados da pesquisa e do teste das hipóteses na seção quatro. As conclusões e reflexões sobre os achados serão apresentadas na seção cinco.

2. ADOÇÃO E DIFUSÃO DAS REDES SOCIAIS PELOS CIDADÃOS NO PARAGUAI

2.1 Contexto: A democracia imperfeita do Paraguai

Uma vez que estudos demonstraram a relevância das variáveis demográficas, socioeconômicas e políticas na adoção das redes sociais, faremos um breve balanço das reformas institucionais que o Paraguai vivenciou nas últimas décadas.

O Paraguai se destaca pelo seu alto grau e longa história de centralização administrativa desde a sua independência em 1811, com recentes transformações territoriais que sinalizam para um papel ligeiramente mais importante dos governos locais (Sili, 2019Sili, M. (2019). Styles and logics of territorial action. The recent experience of the municipalities of Paraguay. Revista De Administração Pública, 53(5), 917-941.). A história do Paraguai no século XX é marcada pelo colapso do regime de Stroessner em fevereiro de 1989, quando uma longa ditadura de direita chegou ao fim. O país tem se caracterizado por um forte sistema bipartidário, com a Asociación Nacional Republicana (ANR, coloquialmente chamada de Partido Colorado) de caráter conservador de direita, no poder quase ininterruptamente desde 1947, e o Partido Liberal Radical Auténtico (PLRA) de caráter liberal que tem assumido o papel de oposição. A identificação dos eleitores paraguaios com o seu partido de escolha é muito forte e, muitas vezes, se perpetua por gerações nas famílias (Cañete-Straub, Miquel-Florensa, Straub & Van der Straeten, 2020Cañete-Straub, R; Miquel-Florensa, J; Straub, S; & Van der Straeten, K. (2020). Voting corrupt politicians out of office? Evidence from a survey experiment in Paraguay. Journal of Economic Behavior & Organization, 179, 223-239.).

Por mais de um século, o Paraguai tem sido uma das economias mais abertas da região, com um aparato governamental relativamente pequeno, mas altamente politizado, informal e ineficiente, em grande parte, devido às atividades de rent-seeking por funcionários do governo e à corrupção institucional através da qual as elites e os funcionários públicos se vinculavam ao regime político (Nickson & Lambert, 2002Nickson, A; & Lambert, P. (2002). State reform and the ‘privatized state’ in Paraguay. Public Administration and Development, 22(2), 163-174.). Embora a Constituição Nacional de 1992 forneça uma base institucional para uma democracia eleitoral (Fournier & Burges, 2000Fournier, D; & Burges, S. (2000). Form before function: democratization in Paraguay. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies / Revue Canadienne Des Études Latino-Américaines Et Caraïbes, 25(49), 5-32.; Setrini & Duarte-Recalde, 2019Setrini, G; & Duarte-Recalde, L. R. (2019). The development of participatory institutions in Paraguay: a tool for democratization or state control? Cahiers des Amériques Latines, 90(1), 39-57.) com um mandato presidencial com tempo limitado (Tartakoff, 2019Tartakoff, L. Y. (2019). Ecuador, Argentina, and Paraguay: At Last Immunity to Authoritarian Rule? Society, 56(1), 15-22.), continuidades autoritárias têm (1) sustentado a articulação de preferências e demandas de cidadãos através de práticas clientelistas em vez de canais oficiais dos partidos políticos (Setrini & Duarte-Recalde, 2019Setrini, G; & Duarte-Recalde, L. R. (2019). The development of participatory institutions in Paraguay: a tool for democratization or state control? Cahiers des Amériques Latines, 90(1), 39-57.), (2) limitado a competição entre vários partidos políticos e alimentado o sectarismo partidário (Fournier & Burges, 2000Fournier, D; & Burges, S. (2000). Form before function: democratization in Paraguay. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies / Revue Canadienne Des Études Latino-Américaines Et Caraïbes, 25(49), 5-32.) e (3) preservado as prerrogativas e hegemonia stronistas e do establishment militar (Fournier & Burges, 2000Fournier, D; & Burges, S. (2000). Form before function: democratization in Paraguay. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies / Revue Canadienne Des Études Latino-Américaines Et Caraïbes, 25(49), 5-32.)

Nas décadas de 1980 e 1990, uma coalizão externa formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e União Europeia (UE) pressionou por reformas da Nova Gestão Pública, incluindo a privatização de empresas estatais, reforma do serviço público e descentralização. De acordo com Nickson e Lambert, tantos os políticos do Partido Colorado, que governava o país, como os lobbies resistiram a essas reformas, uma vez que esses dois grupos haviam acumulado riquezas através do Estado (Nickson & Lambert, 2002Nickson, A; & Lambert, P. (2002). State reform and the ‘privatized state’ in Paraguay. Public Administration and Development, 22(2), 163-174.).

No Índice de Democracia da Economist Intelligence Unit de 2020 (Abu-Shanab, 2015Abu-Shanab, E. A. (2015). E-democracy: The fruit of e-government. International Journal of Technology and Globalisation, 8(1), 15-28.; Högström, 2013Högström, J. (2013). Classification and rating of democracy: a comparison. Taiwan Journal of Democracy, 9(2), 33-54.), o Paraguai obteve o 67º lugar (e foi classificado como uma “democracia imperfeita”) com a pontuação do processo eleitoral estando acima da média da democracia do país e a pontuação da cultura política abaixo da média da democracia do país. No Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional de 2020, o Paraguai obteve o 137º lugar (Transparência Internacional, 2021).

Com base nos desenvolvimentos mencionados acima, é possível descrever o Paraguai como um país com instituições fracas, com cidadãos que apresentam baixo grau de envolvimento público e uma confiança volátil nas instituições políticas. Este é o contexto do nosso estudo explicativo sobre a adoção das redes sociais pelos cidadãos paraguaios nas relações cidadão-Estado, cujas hipóteses serão desenvolvidas nas próximas subseções.

2.2 As redes sociais como inovação tecnológica e institucional

As redes sociais trazem a promessa de um engajamento cívico on-line mais inclusivo (Feeney & Porumbescu, 2020Feeney, M. K; & Porumbescu, G. (2020). The Limits of Social Media for Public Administration Research and Practice. Public Administration Review. Retrieved from https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1111/puar.13276
https://doi.org/10.1111/puar.13276...
), tanto para formas de participação “thin” (ou seja, mais pontual e individual) como “thick” (ou seja, mais deliberativa e baseada em grupo) (Leighninger, 2014Leighninger, M. (2014). What We’re Talking About When We Talk About the “Civic Field” (And why we should clarify what we mean). Journal of Public Deliberation, 10(1), 1-7.). Um exemplo do primeiro seria a criação de relatórios por cidadãos através de crowdsourcing sobre falhas de infraestrutura (Sjoberg, Mellon & Peixoto, 2017Sjoberg, F. M; Mellon, J; & Peixoto, T. (2017). The Effect of Bureaucratic Responsiveness on Citizen Participation. Public Administration Review, 77(3), 340-351.); um exemplo do segundo seria a busca através da internet por ideias fornecidas pelos cidadãos para uma nova constituição na Islândia (McNutt, 2014McNutt, K. (2014). Public engagement in the Web 2.0 era: Social collaborative technologies in a public sector context. Canadian Public Administration, 57(1), 49-70.). No contexto do Paraguai, as redes sociais podem ser interpretadas como um canal adicional de participação que potencialmente serve como uma alternativa à cadeia de comando clientelista semioficial que está tradicionalmente disponível para os cidadãos paraguaios que desejam comunicar reclamações, declarar preferências ou participar nos processos de tomada de decisão pública.

Neste estudo, nós nos limitamos a formas mais pontuais de participação dos cidadãos, em particular, a relatos de cidadãos sobre a má qualidade de serviços públicos. Essa escolha foi motivada pelo método de pesquisa dedutivo geral, que exige clareza em relação ao conteúdo da interação entre cidadãos e governo.

Para desenvolver as hipóteses sobre a adoção das redes sociais pelos cidadãos paraguaios nas relações cidadão-Estado em uma democracia imperfeita, baseamo-nos em dois corpos de conhecimento:

  1. Estudos mais genéricos sobre a adoção e difusão de serviços baseados na web nas relações entre cidadãos e governos (Azam, Qiang & Abdullah, 2013Azam, A; Qiang, F; & Abdullah, M. I. (2013). Determinants of e-government services adoption in Pakistan: An integrated model. Electronic Government, 10(2), 105-124.; Carter & Bélanger, 2005Carter, L; & Bélanger, F. (2005). The utilization of e-government services: citizen trust, innovation and acceptance factors. Information Systems Journal, 15(1), 5-25.; Horst, Kuttschreuter & Gutteling, 2007Horst, M; Kuttschreuter, M; & Gutteling, J. M. (2007). Perceived usefulness, personal experiences, risk perception and trust as determinants of adoption of e-government services in The Netherlands. Computers in Human Behavior, 23(4), 1838-1852.; Kurfalı, Arifoğlu, Tokdemir & Paçin, 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.; Rana, Dwivedi, Williams & Weerakkody, 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.; Venkatesh, Thong & Xu, 2016Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; & Xu, X. (2016). Unified Theory of Acceptance and Use of Technology: A Synthesis and the Road Ahead. Journal of the Association for Information Systems, 17(5), 328-376.), com especial atenção aos estudos sobre governo eletrônico no contexto ibero-americano (Araujo et al., 2018Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.; Cunha, Coelho & Przeybilovicz, 2017Cunha, M. A; Coelho, T. R; & Przeybilovicz, E. (2017). Get into the club: Positioning a developing country in the international e-Gov research. Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, 79(1), 1-21.); e

  2. Estudos sobre a adoção e difusão das redes sociais por usuários individuais em geral (Al-Debei, Al-Lozi & Papazafeiropoulou, 2013Al-Debei, M. M; Al-Lozi, E; & Papazafeiropoulou, A. (2013). Why people keep coming back to Facebook: Explaining and predicting continuance participation from an extended theory of planned behaviour perspective. Decision Support Systems, 55(1), 43-54.; Khan, 2017Khan, M. L. (2017). Social media engagement: What motivates user participation and consumption on YouTube? Computers in Human Behavior, 66, 236-247.; Lai & Shi, 2015Lai, I. K. W; & Shi, G. (2015). The impact of privacy concerns on the intention for continued use of an integrated mobile instant messaging and social network platform. International Journal of Mobile Communications, 13(6), 641-669.; Malinen, 2015Malinen, S. (2015, May). Understanding user participation in online communities: A systematic literature review of empirical studies. Computers in Human Behavior, 46, 228-238.).

2.3 Expectativa de desempenho

De acordo com diversos autores que trabalham a partir de um quadro de referência de Modelo de Aceitação de Tecnologia e Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (Araujo et al., 2018Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.; Venkatesh et al., 2016Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; & Xu, X. (2016). Unified Theory of Acceptance and Use of Technology: A Synthesis and the Road Ahead. Journal of the Association for Information Systems, 17(5), 328-376.), a primeira variante - e supostamente a mais influente - que explica a adoção de inovações (Venkatesh, Morris, G. Davis & F. Davis, 2003Wallander, L. (2009). 25 years of factorial surveys in sociology: A review. Social Science Research, 38(3), 505-520) é a eficácia percebida, definida como o grau em que um indivíduo espera que publicar uma mensagem nas redes sociais ajudará a resolver um problema com o qual esse indivíduo é confrontado. Nessa linha de raciocínio, os cidadãos só gastarão seu tempo e energia em atividades on-line se acreditarem que essas atividades vão render frutos e benefícios pessoais (Al-Debei et al., 2013Al-Debei, M. M; Al-Lozi, E; & Papazafeiropoulou, A. (2013). Why people keep coming back to Facebook: Explaining and predicting continuance participation from an extended theory of planned behaviour perspective. Decision Support Systems, 55(1), 43-54.). Em estudos sobre governo eletrônico, foi observada uma associação positiva entre (1) a eficácia percebida do governo eletrônico e (2) o uso (Carter, Schaupp Hobbs & Campbell, 2011Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.; Kurfalı et al., 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.; Rana et al., 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.). Em um estudo mais genérico sobre por que os usuários do Facebook normalmente continuam acessando a plataforma, Al-Debei et al. (2013)Abu-Shanab, E. A. (2015). E-democracy: The fruit of e-government. International Journal of Technology and Globalisation, 8(1), 15-28. descobriram que o valor percebido pelos usuários das plataformas de redes sociais é um fator importante e determinante na decisão desses usuários de continuar usando a plataforma (Al-Debei et al., 2013Abu-Shanab, E. A. (2015). E-democracy: The fruit of e-government. International Journal of Technology and Globalisation, 8(1), 15-28.).

Os elementos dessa linha de raciocínio levam à formulação da H1.

H1 - Quanto mais eficazes um cidadão achar que as redes sociais são, maior será a probabilidade de esse cidadão usar as redes sociais para abordar questões ou problemas nas relações cidadão-Estado.

2.4 Capacidade

Araujo et al. (2018Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.; Cunha et al., 2017Cunha, M. A; Coelho, T. R; & Przeybilovicz, E. (2017). Get into the club: Positioning a developing country in the international e-Gov research. Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, 79(1), 1-21.) sugerem o uso da abordagem das capacidades de Sen para compensar algumas das limitações de uma linha de raciocínio excessivamente racionalista e baseada em consequências, exemplificada pela ênfase na eficácia percebida como o fator dominante na explicação da adoção. Seguindo a abordagem das capacidades, a apropriação das redes sociais para participação requer que os cidadãos avaliem as suas capacidades em relação às redes sociais para decidir se devem e como devem usar as redes sociais para atingir o seu uso eficaz. Em estudos sobre adoção, os elementos da abordagem das capacidades foram utilizados pela hipótese de que a facilidade de uso de uma tecnologia está relacionada à adoção (Carter et al., 2011Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.; Carter & Bélanger, 2005; Rana et al., 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.), assim como as habilidades e conhecimentos dos usuários estão relacionados à apropriação da tecnologia (Carter et al., 2011Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.; Rana et al., 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.). Neste estudo, a capacidade em relação às redes sociais é definida como o grau em que um cidadão acredita que possui as habilidades e conhecimentos necessários para usar as redes sociais para iniciar um diálogo com agências ou autoridades governamentais relevantes. Em estudos sobre a adoção e difusão do governo eletrônico, foi evidenciado que a capacidade está significativamente correlacionada com as intenções dos cidadãos de usar os serviços do governo eletrônico (Carter et al., 2011Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.; Rana et al., 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.), enquanto que nenhum suporte foi observado em Kurfali et al. (2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.). Isso nos leva à formulação da H2.

H2 - Quanto mais avançada for a capacidade de um cidadão em relação às redes sociais, maior será a probabilidade de esse cidadão usar as redes sociais para abordar questões ou problemas nas relações cidadão-Estado.

2.5 Influência social

A influência social, definida como as normas mantidas pelas pessoas mais próximas e queridas, também deve afetar as decisões dos cidadãos de adotar tecnologias (Carter & Bélanger, 2005Carter, L; & Bélanger, F. (2005). The utilization of e-government services: citizen trust, innovation and acceptance factors. Information Systems Journal, 15(1), 5-25.; Homburg et al., 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
; Qin, Strömberg & Wu, 2017Qin, B; Strömberg, D; & Wu, Y. (2017). Why Does China Allow Freer Social Media? Protests versus Surveillance and Propaganda. Journal of Economic Perspectives, 31(1), 117-140.; Venkatesh et al., 2003Venkatesh, V; Morris, M. G; Davis, G; & Davis, F. (2003). User Acceptance of Information Technology: Toward a Unified View. MIS Quarterly, 27(3), 425-478.). A relevância da influência social para a adoção de tecnologias nas relações cidadão-Estado é confirmada em diversos estudos sobre a adoção do governo eletrônico (Carter & Bélanger, 2005Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.; Horst et al., 2007Horst, M; Kuttschreuter, M; & Gutteling, J. M. (2007). Perceived usefulness, personal experiences, risk perception and trust as determinants of adoption of e-government services in The Netherlands. Computers in Human Behavior, 23(4), 1838-1852.; Kurfalı et al., 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.; Rana et al., 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.). Isso nos leva à formulação da H3.

H3 - Quanto maior for o grau de influência social observado por um cidadão, maior será a probabilidade de esse cidadão usar as redes sociais para abordar questões ou problemas nas relações cidadão-Estado.

2.6 Confiança

De acordo com Meijer, Koops, Pieterson, Overman e ten Tije (2012Meijer, A. J; Koops, B; Pieterson, W. J; Overman, S; & ten Tije, S. (2012). Government 2.0: key challenges to its realization. Electronic Journal of e-Government, 10(1), 59-59-69.), a confiança mútua é um ingrediente essencial para qualquer relação cidadão-governo sólida e gera relações de informação e cooperação entre cidadãos e governos. Neste estudo, definimos confiança como a crença de um indivíduo (A) que existe apenas em referência a outros indivíduos ou instituições (B) (Homburg et al., 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
). Definimos confiança como a expectativa de A de que B não irá explorar as vulnerabilidades de A enquanto B tiver o poder para fazê-lo (Pavlou & Gefen, 2005Pavlou, P. A; & Gefen, D. (2005). Psychological Contract Violation in Online Marketplaces: Antecedents, Consequences, and Moderating Role. Information Systems Research, 16(4), 372-399.). A confiança gera a adoção de serviços eletrônicos por parte dos cidadãos (Carter et al., 2011Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.; Carter & Bélanger, 2005Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.; Horst et al., 2007Horst, M; Kuttschreuter, M; & Gutteling, J. M. (2007). Perceived usefulness, personal experiences, risk perception and trust as determinants of adoption of e-government services in The Netherlands. Computers in Human Behavior, 23(4), 1838-1852.; Kurfalı et al., 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.; Venkatesh, Thong, Chan, Hu & Brown, 2011Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; Chan, F. K. Y; Hu, P. J. H; & Brown, S. A. (2011). Extending the two-stage information systems continuance model: Incorporating UTAUT predictors and the role of context. Information Systems Journal, 21(6), 527-555.). Homburg et al. (2020) descobriram que nas relações cidadão-Estado na China, a confiança dos cidadãos em funcionários individuais estava positivamente associada à adoção do Weibo (o que demonstra a importância de relações pessoais quanxi densamente estabelecidas na China), enquanto que a confiança dos cidadãos nas instituições governamentais não estava associada de forma significativa à adoção (Homburg et al., 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
).

Uma inspeção mais detalhada dos estudos existentes revela que existem pelo menos duas conotações de confiança do indivíduo: a confiança no governo como uma instituição que fornece serviços públicos e cria valor público (Carter et al., 2011Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.; Carter & Bélanger, 2005Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.; McKnight, Choudhury & Kacmar, 2002McKnight, D. H; Choudhury, V; & Kacmar, C. (2002). Developing and validating trust measures for e-commerce: An integrative typology. Information Systems Research, 13(3), 334-359.; Welch, Hinnant & Moon, 2005Welch, E; Hinnant, C; & Moon, M. (2005). Linking citizen satisfaction with e-government and trust in government. Journal of Public Administration Research and Theory, 15(3), 371-391.), e a confiança nos conglomerados de provedores de internet, empresas de redes sociais e agências regulatórias que decidem sobre a privacidade e a segurança das comunicações e transações on-line (Kurfalı et al., 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.; Rana et al., 2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.; Venkatesh et al., 2011Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; Chan, F. K. Y; Hu, P. J. H; & Brown, S. A. (2011). Extending the two-stage information systems continuance model: Incorporating UTAUT predictors and the role of context. Information Systems Journal, 21(6), 527-555.). O segundo é relevante, uma vez que as plataformas de redes sociais são proprietárias e não necessariamente concebidas e construídas para fortalecer a democracia. Os usuários dependem dos esforços das empresas de redes sociais para, por exemplo, combater a “trollagem”, prevenir abusos e alavancar plataformas de redes sociais para permitir a participação democrática (Feeney & Porumbescu, 2020Feeney, M. K; & Porumbescu, G. (2020). The Limits of Social Media for Public Administration Research and Practice. Public Administration Review. Retrieved from https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1111/puar.13276
https://doi.org/10.1111/puar.13276...
). No nosso estudo, definimos confiança nas redes sociais e nas suas infraestruturas tecnológicas e empresariais como o grau em que um indivíduo acredita que, embora existam potenciais riscos no uso das redes sociais, ele não enfrentará consequências negativas. A confiança no governo é definida como o grau em que um indivíduo acredita que os governos agem de forma competente, justa e responsiva. Isso nos leva à formulação da H4 e H5.

H4 - Quanto maior for a confiança de um cidadão na infraestrutura das redes sociais, maior será a probabilidade de esse cidadão usar as redes sociais para abordar questões ou problemas nas relações cidadão-Estado.

H5 - Quanto maior for a confiança de um cidadão no governo, maior será a probabilidade de esse cidadão usar as redes sociais para abordar questões ou problemas nas relações cidadão-Estado.

2.7 Ansiedade em relação às redes sociais

Há outro elemento nas teorias sobre a adoção de tecnologia nas relações cidadão-Estado: a variável “ansiedade”. No uso cotidiano, confiança (consulte a seção 2.6) e ansiedade podem ser vistas como conceitos que se sobrepõem. Neste estudo, consideramos ansiedade em relação às redes sociais como uma emoção afetiva, negativa, internalizada e individual, enquanto que a confiança é considerada um atributo das relações sociais. Especialmente os primeiros modelos de adoção de tecnologia tinham a ansiedade em relação ao computador como um preditor para a adoção de tecnologias da informação e comunicação (Igbaria, 1990Igbaria, M. (1990). End-user computing effectiveness: A structural equation model. Omega, 18(6), 637-652.; Zmud, 1979Zmud, R. W. (1979). Individual Differences and Mis Success: a Review of the Empirical Literature. Management Science, 25(10), 966-979. Retrieved fromhttps://10.1287/mnsc.25.10.966
https://doi.org/10.1287/mnsc.25.10.966...
). O papel da ansiedade na interação dos usuários com as tecnologias também foi amplamente estudado em trabalhos sobre exclusão digital e terceira idade (Lee, Chen & Hewitt, 2011Lee, B; Chen, Y; & Hewitt, L. (2011). Age differences in constraints encountered by seniors in their use of computers and the internet. Computers in Human Behavior, 27(3), 1231-1237.; van Deursen & Helsper, 2015) e em um estudo sobre o uso do Weibo nas relações cidadão-Estado na China (Homburg et al., 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
). Aqui, a ansiedade se refere às emoções dos cidadãos em relação às consequências imprevistas e não controladas do uso das redes sociais (Qin et al., 2017Qin, B; Strömberg, D; & Wu, Y. (2017). Why Does China Allow Freer Social Media? Protests versus Surveillance and Propaganda. Journal of Economic Perspectives, 31(1), 117-140.). Em um estudo sobre a adoção de serviços de governo eletrônico na Índia, Rana et al. (2016Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.) concluíram que a ansiedade afetou negativamente a intenção comportamental dos cidadãos de usar os serviços governamentais on-line. Neste estudo, o nosso foco é a possível ansiedade em relação ao uso das redes sociais e definimos “ansiedade em relação às redes sociais” como uma emoção de excitação, afetiva, negativa e geral de um cidadão que é provocada pelas consequências do uso individual das redes sociais por parte dos cidadãos e que estão além do controle desse cidadão em particular. Isso nos leva à formulação da H4.

H6 - Quanto maior for a ansiedade em relação às redes sociais de um cidadão nas relações cidadão-Estado, menor será a probabilidade de esse cidadão usar as redes sociais para abordar questões ou problemas nas relações cidadão-Estado.

2.8 Variáveis de controle

Antes de colocar as hipóteses à prova, confrontando as hipóteses com os dados empíricos, identificamos controles com os quais poderíamos isolar efeitos da variável de interesses na variável dependente de possíveis fatores de confusão. Os estudos sobre adoção de tecnologia sugerem que as variáveis de controle relevantes incluem sexo (Venkatesh, Morris & Ackerman, 2000Venkatesh, V; Morris, M. G; & Ackerman, P. L. (2000). A Longitudinal Field Investigation of Gender Differences in Individual Technology Adoption Decision-Making Processes. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 83(1), 33-60.), idade (Liébana-Cabanillas, Sánchez-Fernández & Muñoz-Leiva, 2014Liébana-Cabanillas, F; Sánchez-Fernández, J; & Muñoz-Leiva, F. (2014). Antecedents of the adoption of the new mobile payment systems: The moderating effect of age. Computers in Human Behavior, 35, 464-478.) e nível de escolaridade (Yera, Arbelaitz, Jauregui & Muguerza, 2020Yera, A., Arbelaitz, O., Jauregui, O., & Muguerza, J. (2020). Characterization of e-Government adoption in Europe. Plos One, 15(4), e0231585.). Além disso, os estudos empíricos existentes sobre adoção usam idade, sexo e nível de escolaridade como covariáveis ou moderadores (Homburg et al., 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
; Silva et al., 2019Silva, P; Tavares, A. F; Silva, T; & Lameiras, M. (2019). The good, the bad and the ugly: Three faces of social media usage by local governments. Government Information Quarterly, 36(3), 469-479.; Van Schaik, 2009Van Schaik, P. (2009). Unified theory of acceptance and use for websites used by students in higher education. Journal of Educational Computing Research, 40(2), 229-257.; Venkatesh et al., 2003; Venkatesh et al., 2011). Estudos empíricos específicos desconsideraram o uso das variáveis idade, sexo e nível de escolaridade como moderadores devido à falta de motivações teóricas para a direção específica dos efeitos moderadores e porque, em conjuntos de dados empíricos, idade e sexo foram distribuídos de forma assimétrica, dificultando a testagem da moderação (Kurfalı et al., 2017Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.; Van Schaik, 2009). Por isso, no nosso estudo, evitamos testar a moderação com sexo, idade e nível de escolaridade e incluímos essas variáveis como covariáveis para aumentar a validade interna.

3. METODOLOGIA

3.1 Método de pesquisa

Levando em consideração o caráter dedutivo do objetivo da pesquisa, optamos por um método de pesquisa dedutivo, no qual usamos um questionário de pesquisa large-n on-line para coletar dados entre cidadãos paraguaios. Para medir a adoção das redes sociais em contextos realistas, apresentamos aos entrevistados vinhetas nas quais um protagonista é confrontado com uma questão ou problema específico relacionado à má qualidade de um serviço público e optou por atuar nas redes sociais para resolver o problema. O entrevistado é solicitado a avaliar o realismo percebido da situação (o que, neste estudo, é usado para fins de validação e não para testar hipóteses) e em que grau ele ou ela reagiria da mesma maneira se confrontado com a aquela situação.

O uso de vinhetas em pesquisas tem uma série de vantagens em relação a itens de pesquisa mais genéricos e abstratos, como, por exemplo, “Eu usaria as redes sociais para denunciar problemas em serviços públicos”. De acordo com Steiner, Atzmüller e Su (2017Steiner, P; Atzmüller, C; & Su, D. (2017). Designing Valid and Reliable Vignette Experiments for Survey Research: A Case Study on the Fair Gender Income Gap. Journal of Methods and Measurement in the Social Sciences, 7(2), 52-94.), a validade aumenta à medida que as respostas são inseridas em um contexto mais concreto e realista. Além disso, o impacto da desejabilidade social é limitado (Steiner et al., 2017; Wallander, 2009Wallander, L. (2009). 25 years of factorial surveys in sociology: A review. Social Science Research, 38(3), 505-520). As vinhetas estão no Apêndice (Quadro A).

3.2 Medição de variáveis

O uso das redes sociais é medido usando três itens através dos quais é medida a probabilidade dos entrevistados usarem as redes sociais. Um exemplo desses itens é “Eu também publicaria uma mensagem na página da agência nas redes sociais”. A expectativa de desempenho, capacidade, influência social e ansiedade foram medidos através de vários itens Likert que foram baseados em construtos de medição existentes encontrados em estudos inspirados pelo modelo de Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia, embora tenham sido ligeiramente adaptados para se adequarem ao contexto do uso das redes sociais nas relações cidadão-Estado.

A expectativa de desempenho foi medida usando quatro itens Likert. Um exemplo desses itens é “Publicar mensagens em contas públicas do governo em redes sociais ajudaria a resolver meus problemas” (Venkatesh et al., 2003Venkatesh, V; Morris, M. G; Davis, G; & Davis, F. (2003). User Acceptance of Information Technology: Toward a Unified View. MIS Quarterly, 27(3), 425-478.). A capacidade foi medida usando seis itens de Likert. Um exemplo desses itens é “Acho que as redes sociais são fáceis de usar” (Bamberg & Schmidt, 2003Bamberg, S; & Schmidt, P. (2003). Incentives, morality, or habit? Predicting students’ car use for University routes with the models of Ajzen, Schwartz, and Triandis. Environment and Behavior, 35(2), 264-285.; Venkatesh et al., 2003). A influência social foi medida usando três itens (Homburg et al., 2020Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
https://doi.org/10.1177/0020852319887480...
). Um exemplo é “Em geral, a maioria das pessoas ao meu redor usa as páginas de agências do governo nas redes sociais para se comunicar com o governo”. A ansiedade em relação às redes sociais é medida usando sete itens adaptados de (A. Osman, Barrios J. R. Osman, Schneekloth & Troutman, 1994Osman, A; Barrios, F. X; Osman, J. R; Schneekloth, R; & Troutman, J. A. (1994). The Pain Anxiety Symptoms Scale: Psychometric properties in a community sample. Journal of Behavioral Medicine, 17(5), 511-522.). Um exemplo desses itens é “Fazer o que os personagens das histórias fizeram pode resultar em graves problemas”. A confiança nas infraestruturas tecnológicas e empresariais das redes sociais foi medida através de três itens ligeiramente adaptados de Carter e Bélanger (2005Carter, L; & Bélanger, F. (2005). The utilization of e-government services: citizen trust, innovation and acceptance factors. Information Systems Journal, 15(1), 5-25.) e Zhou (2011Zhou, T. (2011). An empirical examination of initial trust in mobile banking. Internet Research, 21(5), 527-540.). Um exemplo desses itens é “Acredito que as estruturas legais e tecnológicas me protegem adequadamente de problemas nas redes sociais”. A confiança no governo foi medida usando itens adaptados de McKnight et al. (2002McKnight, D. H; Choudhury, V; & Kacmar, C. (2002). Developing and validating trust measures for e-commerce: An integrative typology. Information Systems Research, 13(3), 334-359.). Um exemplo desses itens é “Acredito que o meu governo comunica informações de forma honesta”. Todos os itens do questionário estão listados no Apêndice (Quadro B).

3.3 Coleta de dados

Para coletar os dados, a Qualtrics ficou encarregada de distribuir um questionário on-line entre um painel de cidadãos paraguaios com 18 anos ou mais. O questionário foi redigido em espanhol e pré-testado por um falante nativo de espanhol. Os dados não foram coletados através de river-sampling, mas sim através de painéis de pesquisa ativamente gerenciados e de confirmação dupla, o que significa que os entrevistados tiveram que se inscrever e fornecer informações pessoais antes de se tornarem elegíveis para a inclusão em painéis de pesquisa aleatórios. Isso permite a composição de um painel muito mais representativo do que com dados extraídos através de river-sampling. Para evitar a autosseleção, os convites para pesquisas não incluíam detalhes específicos sobre o conteúdo da pesquisa. Ao contrário, as informações eram muito gerais. Os dados foram coletados entre 23 de julho e 30 de julho de 2020. A análise dos dados foi realizada com o SPSS 27.

4. ACHADOS

4.1 Triagem de dados

Antes de realizar qualquer análise estatística, os dados foram selecionados em relação à usabilidade. Removemos os dados de dois entrevistados porque havia variação zero nas pontuações dos itens Likert (todos uns e cinco). Nenhum valor atípico óbvio em termos de idade foi identificado. Durante a triagem de variáveis, não foram detectados valores ausentes. No total, 298 observações úteis puderam ser registradas no conjunto de dados.

4.2 Viés do método comum

Um possível risco na coleta de dados com um método transversal, como uma pesquisa, é a ocorrência de viés do método comum ou common method bias (P. M. Podsakoff, MacKenzie, Lee & N. P. Podsakoff, 2003Podsakoff, P. M; MacKenzie, S. B; Lee, J; & Podsakoff, N. P. (2003). Common Method Biases in Behavioral Research: A Critical Review of the Literature and Recommended Remedies. Journal of Applied Psychology, 88(5), 879-903.). Verificamos o viés do método comum inspecionando a variância total em uma análise de componentes principais não rotacionados de todos os itens Likert no conjunto de dados. Se um fator contribui com mais de 50% da variação, há motivos para presumir que há problemas associados ao viés do método comum. Em nosso conjunto de dados, o primeiro fator foi responsável por 11,9% da variância total, o que implica que nenhum dos fatores explica a maioria da variância e provavelmente não houve viés do método comum durante o processo de coleta de dados.

4.3 Realismo

Para verificar o realismo percebido e a relevância das vinhetas, analisamos as pontuações de realismo relatadas (medidos em uma escala Likert de cinco pontos e dois itens) para cada uma das vinhetas. A consistência da medição do realismo foi de aceitável a bom e os níveis de realismo relatados foram muito satisfatórios (Tabela 1). Com base nos níveis relatados de realismo de todas as vinhetas usadas no questionário, não encontramos nenhuma razão para excluir vinhetas específicas da análise.

TABELA 1
REALISMOPERCEBIDO, PONTUAÇÃO 1-5, PARA DIVERSAS VINHETAS, ALFA DE CRONBACH (αC), MÉDIA (M) E DESVIO PADRÃO (DP)

4.4 Dados demográficos na amostra

Foi registrado um total de 298 respostas úteis na pesquisa. A Tabela 2 mostra uma comparação das características da amostra e estimativas conhecidas das mesmas características na população paraguaia. Embora haja uma pequena, mas notável diferença entre os níveis de escolaridade na amostra e as estimativas conhecidas em relação aos níveis de escolaridade da população de 2012, e levando em consideração que na prática da pesquisa toda amostra apresenta algum tipo de erro amostral, decidimos não realizar pós-estratificação nem descartar a amostra e incluir todas as 298 respostas na análise.

TABELA 2
CARACTERÍSTICASDA AMOSTRA (ESTATÍSTICAS POPULACIONAIS DERIVADAS DE), PORCENTAGENS E MEDIANA (UNITED NATIONS, 2021United Nations. (2021). UN Data. UN Data, A world of information. Retrieved fromhttp://data.un.org/iso/py
http://data.un.org/iso/py...
)

4.5 Análise: construção de escala e resultados de regressão

Como as pesquisas empíricas existentes sobre redes sociais nas relações cidadão-Estado no Paraguai são escassas, realizamos uma análise de componentes principais para identificar a estrutura subjacente das variáveis medidas no conjunto de dados (Tabela 3). Todos os itens Likert mostraram uma correlação de pelo menos 0,3 com pelo menos um outro item, sugerindo fatorabilidade. A medida de Kaiser-Meyer-Olkin para a adequação da amostra foi de 0,835 (bem acima do mínimo exigido de 0,6) e o teste de esfericidade de Bartlett foi significativo (χ2 (630) = 7095,766, p < 0,001). Todas as comunalidades estavam acima de 0,3, confirmando novamente que cada item compartilhou pelo menos alguma variação comum com pelo menos um outro item. Dadas as considerações acima mencionadas, a análise fatorial foi considerada adequada para todos os itens.

Ao longo da análise fatorial real com rotação varimax, não foi possível realizar uma estrutura fatorial simples com todos os itens incluídos. Após a eliminação de ARS1, ARS3, ARS5 e ARS7, pode ser identificada uma solução de 10 fatores com a qual 77,1% da variância total pode ser explicada.

TABELA 3
MATRIZDE COMPONENTES ROTACIONADOS (ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS, ROTAÇÃO VARIMAX)

A Tabela 4 mostra a confiabilidade das escalas, pontuações médias e desvios padrão de todas as variáveis, correlações bivariadas entre as variáveis independentes e fatores de inflação da variância (VIF) dos fatores independentes.

TABELA 4
DESCRITIVOS (*P < 0,05; ** P < 0,01; *** P < 0,001) ALFA DE CRONBACH (αC), MÉDIA (M) E DESVIO PADRÃO (DP)

A análise de regressão múltipla foi considerada adequada para testar as hipóteses. Os pressupostos do modelo para tal análise foram atendidos: as correlações entre as variáveis independentes e as pontuações dos fatores de inflação de variância relativamente baixas não sinalizam problemas com a multicolinearidade; a homocedasticidade foi verificada usando um gráfico de dispersão de resíduos padronizados e valores previstos e nenhuma anomalia foi encontrada. Foram verificados erros independentes usando a estatística de Durbin-Watson e os valores de 1,95, 1,85, 2,02, 2,09 e 1,98 (para as pontuações de uso das redes sociais nas respectivas vinhetas e nas vinhetas combinadas) não revelaram problemas associados a esse pressuposto. A inspeção dos gráficos Q-Q revelou uma distribuição relativamente normal e, portanto, pode-se concluir que esse pressuposto também foi atendido.

A equação de regressão para estimar os coeficientes padronizados b (com V i,j referindo-se à resposta V do entrevistado i à j-ésima vinheta) está expressa na Equação 1.

V i , j = b 1 , j . S E X O i + b 2 , j . I D A D E i + b 3 , j . E S i + b 3 , j . E P i + b 4 , j . C A P i + b 5 , j . I S i + b 6 , j . C R S i + b 7 , j . C N G i + b 8 , j . C N G i + b 9 , j . A R S i + b 0 , j + ε i , j

Equação 1: equação de regressão para testar as hipóteses com coeficientes de regressão não padronizados (SEXO representa sexo, IDADE representa idade, ES representa ensino superior, EP representa eficácia percebida, CAP representa capacidade, IS representa influência social, CRS representa confiança na infraestrutura das redes sociais, CNG representa confiança no governo, ARS representa ansiedade em relação às redes sociais).

A Tabela 5 resume os resultados das análises de regressão com as quais os coeficientes das variáveis independentes são estimados. A tabela apresenta coeficientes padronizados estimados β para cada uma das variáveis independentes x k .(com βj,k=bj,k.SXkSVj). A coluna à direita apresenta coeficientes padronizados para a equação com respostas para quatro vinhetas combinadas como variável dependente.

TABELA 5
RESULTADOSDA REGRESSÃO COM COEFICIENTES PADRONIZADOS (β) (*P < 0,05; ** P < 0,01; *** P < 0,001)

Isso nos leva às seguintes conclusões em relação às nossas hipóteses: encontramos uma sustentação limitada para a hipótese um (eficácia percebida) uma vez que, na vinheta “buraco”, assim como nas respostas combinadas, puderam ser observadas correlações significativas. A hipótese três (influência social) foi corroborada com base de suporte em três das quatro vinhetas e todas as vinhetas combinadas; a hipótese quatro (confiança na infraestrutura das redes sociais) foi corroborada com base de suporte em três das quatro vinhetas e todas as vinhetas combinadas. As hipóteses dois (capacidades), cinco (confiança no governo) e seis (ansiedade em relação às redes sociais) não foram corroboradas.

5. CONCLUSÕES E DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo contribuem para explicar por que os cidadãos paraguaios adotam plataformas de redes sociais para se envolverem na participação política on-line. A análise multivariada de dados de pesquisa com vinhetas indica que nem as capacidades, nem a confiança no governo, nem a ansiedade em relação às redes sociais estão significativamente relacionadas ao uso das plataformas de redes sociais pelos cidadãos para interagir com o governo. Em vez disso, a análise de regressão múltipla sugere que o preditor mais forte para a participação “thin” dos cidadãos nas redes sociais na democracia imperfeita do Paraguai é a crença dos cidadãos nas plataformas das redes sociais como um ambiente robusto e seguro para compartilhar experiências ou opiniões pessoais. Neste contexto, pode ser relevante observar que as plataformas das redes sociais não foram necessariamente concebidas e construídas para permitir ou promover a participação política, e que o escândalo da Cambridge Analytica mostrou que as empresas de redes sociais nem sempre expressaram interesses sinceros em controlar a manipulação dos seus usuários ou têm dificuldades em fazer isso (Feeney & Porumbescu, 2020Feeney, M. K; & Porumbescu, G. (2020). The Limits of Social Media for Public Administration Research and Practice. Public Administration Review. Retrieved from https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1111/puar.13276
https://doi.org/10.1111/puar.13276...
). Além disso, a “participação thin” também está associada às expectativas dos cidadãos sobre o que as pessoas mais próximas e queridas esperam que eles façam e as suas expectativas sobre os resultados das suas atividades nas redes sociais.

Os resultados apresentados acima levam a uma série de conclusões para pesquisadores e profissionais da área de redes sociais e participação política.

Para os pesquisadores, isso implica um desafio de, por meio de métodos de pesquisa mais qualitativos e indutivos, desvendar os mecanismos e linhas de raciocínio que relacionam a participação digital nas plataformas de redes sociais com as expectativas dos cidadãos em relação às pessoas mais próximas e queridas sobre participar digitalmente ou não, as suas expectativas de segurança e robustez das plataformas de redes sociais e as expectativas dos cidadãos sobre como suas atividades on-line estão vinculadas a resultados. O contexto paraguaio, com a sua forte transferência intergeracional de valores políticos e democráticos e instituições formais relativamente fracas, poderia ser usado como um teste interessante para um estudo sobre e como a influência social interage com a participação em geral e a participação nas plataformas de redes sociais em particular. Seguramente, visões institucionais sobre redes sociais, com foco em como as crenças dos cidadãos e regras formais e informais afetam o uso de tecnologias, são pontos promissores para melhorar a nossa compreensão de como a tecnologia e as instituições estão inter-relacionadas, assim como para atenuar as diferenças epistemológicas entre as disciplinas acadêmicas de sistemas de administração pública e dos sistemas de informação (Orlikowski & Barley, 2001Orlikowski, W. J; & Barley, S. R. (2001). Technology and Institutions: what can Research on Information Technology and Research on Organizations Learn from each Other? MIS Quarterly, 25(2), 145-165.).

Para profissionais que desejam estimular a participação política nas plataformas de redes sociais, os resultados deste estudo sugerem que devem ser levadas em consideração as consequências de longo prazo do uso das plataformas proprietárias de redes sociais, tais como Facebook e Twitter, como infraestruturas para o envolvimento e a participação do cidadão e que as proteções legais e tecnológicas das plataformas de redes sociais como condições para a participação política devem ser levadas a sério. Negligenciar a robustez das plataformas de redes sociais pode gerar canais não confiáveis para a participação em democracias imperfeitas e, consequentemente, a exacerbação, em vez de mitigação, de instituições deficientes e déficits democráticos.

As conclusões acima devem ser compreendidas à luz das limitações.

Em primeiro lugar, nós nos limitamos explicitamente a formas “thin” de participação e os comportamentos de participação on-line “thick” (como apelos ao voto, voluntariado e protestos) podem ser explicados através de variáveis e linhas de raciocínio diferentes.

Em segundo lugar, a variância explicada nos nossos modelos (14% para a vinheta do passaporte e 27% para todas as vinhetas combinadas) deixa espaço para a inclusão de outras variáveis explicativas. Uma possível via para selecionar variáveis adicionais a serem incluídas em futuras pesquisas poderia ser a revisão dos trabalhos de Malinen sobre a participação do usuário em comunidades on-line (Malinen, 2015Malinen, S. (2015, May). Understanding user participation in online communities: A systematic literature review of empirical studies. Computers in Human Behavior, 46, 228-238.). Embora Malinen tenha como foco comunidades on-line, como a Wikipedia e plataformas de compartilhamento de fotos, as suas descobertas podem inspirar pesquisas sobre a interação em plataformas de redes sociais iniciadas pelo governo. Malinen analisou achados de pesquisas que sugerem que traços de personalidade (neuroticismo, agradabilidade, extroversão e conscienciosidade) podem afetar a participação digital, assim como os graus de valores materialistas dos indivíduos. Sem dúvida, a existência de canais alternativos para descarregar a raiva ou pedir soluções para problemas relacionados aos serviços públicos que os cidadãos enfrentam (pense na acessibilidade de ouvidores em vários níveis de governo) também poderia ser usada para explicar melhor o uso das redes sociais pelos cidadãos nas relações cidadão-governo no Paraguai e em várias outras regiões.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi apoiado pelo programa de pesquisa e inovação Horizonte 2020 da União Europeia ao abrigo do acordo de subvenção n.º 857622 “ERA Chair in E-Governance and Digital Public Services - ECePS".

APÊNDICE

QUADRO A
VINHETAS

QUADRO B
MEDIÇÃOUSADA NO QUESTIONÁRIO

QUADRO B
- continuação

REFERENCES

  • Abu-Shanab, E. A. (2015). E-democracy: The fruit of e-government. International Journal of Technology and Globalisation, 8(1), 15-28.
  • Agostino, D. (2013). Using social media to engage citizens: A study of Italian municipalities. Public Relations Review, 39(3), 232-234.
  • Al-Debei, M. M; Al-Lozi, E; & Papazafeiropoulou, A. (2013). Why people keep coming back to Facebook: Explaining and predicting continuance participation from an extended theory of planned behaviour perspective. Decision Support Systems, 55(1), 43-54.
  • Alam, L; & Lucas, R. (2011). Tweeting government: A case of Australian government use of Twitter. In Proceedings of the IEEEInternational Conference on Dependable, Autonomic and Secure Computing DASC 2011, Sydney, Australia.
  • Araujo, M. H; Reinhard, N; & Cunha, M. A. (2018). Electronic government services in Brazil: An analysis based on measures of access and users’ internet skills. Revista de Administração Pública, 52(4), 676-694.
  • Azam, A; Qiang, F; & Abdullah, M. I. (2013). Determinants of e-government services adoption in Pakistan: An integrated model. Electronic Government, 10(2), 105-124.
  • Balaban, D; Abrudan, M; Iancu, I; & Irimies, C. (2016). Online Communication and PR in Romanian Public Administration. The Case Study of Public Institutions from Transylvania. Transylvanian Review of Administrative Sciences, 12(47), 20-34.
  • Bamberg, S; & Schmidt, P. (2003). Incentives, morality, or habit? Predicting students’ car use for University routes with the models of Ajzen, Schwartz, and Triandis. Environment and Behavior, 35(2), 264-285.
  • Bertot, J. C; Jaeger, P. T; & Grimes, J. M. (2010). Using ICTs to create a culture of transparency: E-government and social media as openness and anti-corruption tools for societies. Government Information Quarterly, 27(3), 264-271.
  • Bonsón, E; Perea, D; & Bednárová, M. (2019). Facebook Practices in Western European Municipalities: An Empirical Analysis of Activity and Citizens’ Engagement. Administration & Society, 49(3), 320-347.
  • Bonsón, E; Torres, L; Royo, S; & Flores, F. (2012). Local e-government 2.0: Social media and corporate transparency in municipalities. Government Information Quarterly, 29(2), 123-132.
  • Cañete-Straub, R; Miquel-Florensa, J; Straub, S; & Van der Straeten, K. (2020). Voting corrupt politicians out of office? Evidence from a survey experiment in Paraguay. Journal of Economic Behavior & Organization, 179, 223-239.
  • Carter, L; & Bélanger, F. (2005). The utilization of e-government services: citizen trust, innovation and acceptance factors. Information Systems Journal, 15(1), 5-25.
  • Carter, L; Schaupp, C. L; Hobbs, J; & Campbell, R. (2011). The role of security and trust in the adoption of online tax filing. Transforming Government: People, Process and Policy, 5(4), 303-318.
  • Criado, J. I; Sandoval-Almazan, R; & Gil-Garcia, J. R. (2013). Government innovation through social media. Government Information Quarterly, 30(4), 319-326.
  • Cunha, M. A; Coelho, T. R; & Przeybilovicz, E. (2017). Get into the club: Positioning a developing country in the international e-Gov research. Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, 79(1), 1-21.
  • Faber, B; Budding, T; & Gradus, R. (2020). Assessing social media use in Dutch municipalities: Political, institutional, and socio-economic determinants. Government Information Quarterly, 37(3), 101484.
  • Feeney, M. K; & Porumbescu, G. (2020). The Limits of Social Media for Public Administration Research and Practice. Public Administration Review Retrieved from https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1111/puar.13276
    » https://doi.org/10.1111/puar.13276
  • Fournier, D; & Burges, S. (2000). Form before function: democratization in Paraguay. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies / Revue Canadienne Des Études Latino-Américaines Et Caraïbes, 25(49), 5-32.
  • Gintova, M. (2019). Use of social media in Canadian public administration: opportunities and barriers. Canadian Public Administration, 62(1), 7-26.
  • Hofmann, S; Beverungen, D; Räckers, M; & Becker, J. (2013). What makes local governments’ online communications successful? Insights from a multi-method analysis of Facebook. Government Information Quarterly, 30(4), 387-396.
  • Högström, J. (2013). Classification and rating of democracy: a comparison. Taiwan Journal of Democracy, 9(2), 33-54.
  • Homburg, V; Moody, R; Yang, Q; & Bekkers, V. (2020). Adopting microblogging solutions for interaction with government: survey results from Hunan province, China. International Review of Administrative Sciences Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0020852319887480
    » https://doi.org/10.1177/0020852319887480
  • Horst, M; Kuttschreuter, M; & Gutteling, J. M. (2007). Perceived usefulness, personal experiences, risk perception and trust as determinants of adoption of e-government services in The Netherlands. Computers in Human Behavior, 23(4), 1838-1852.
  • Igbaria, M. (1990). End-user computing effectiveness: A structural equation model. Omega, 18(6), 637-652.
  • Khan, M. L. (2017). Social media engagement: What motivates user participation and consumption on YouTube? Computers in Human Behavior, 66, 236-247.
  • Kurfalı, M; Arifoğlu, A; Tokdemir, G; & Paçin, Y. (2017). Adoption of e-government services in Turkey. Computers in Human Behavior, 66(1), 168-178.
  • Lai, I. K. W; & Shi, G. (2015). The impact of privacy concerns on the intention for continued use of an integrated mobile instant messaging and social network platform. International Journal of Mobile Communications, 13(6), 641-669.
  • Lee, B; Chen, Y; & Hewitt, L. (2011). Age differences in constraints encountered by seniors in their use of computers and the internet. Computers in Human Behavior, 27(3), 1231-1237.
  • Leighninger, M. (2014). What We’re Talking About When We Talk About the “Civic Field” (And why we should clarify what we mean). Journal of Public Deliberation, 10(1), 1-7.
  • Liébana-Cabanillas, F; Sánchez-Fernández, J; & Muñoz-Leiva, F. (2014). Antecedents of the adoption of the new mobile payment systems: The moderating effect of age. Computers in Human Behavior, 35, 464-478.
  • Lu, B; Zhang, S; & Fan, W. (2016). Social Representations of Social Media Use in Government: An Analysis of Chinese Government Microblogging From Citizens’ Perspective. Social Science Computer Review, 34(4), 416-436.
  • Malinen, S. (2015, May). Understanding user participation in online communities: A systematic literature review of empirical studies. Computers in Human Behavior, 46, 228-238.
  • McKnight, D. H; Choudhury, V; & Kacmar, C. (2002). Developing and validating trust measures for e-commerce: An integrative typology. Information Systems Research, 13(3), 334-359.
  • McNutt, K. (2014). Public engagement in the Web 2.0 era: Social collaborative technologies in a public sector context. Canadian Public Administration, 57(1), 49-70.
  • Meijer, A. J; Koops, B; Pieterson, W. J; Overman, S; & ten Tije, S. (2012). Government 2.0: key challenges to its realization. Electronic Journal of e-Government, 10(1), 59-59-69.
  • Mergel, I. (2013). Social media adoption and resulting tactics in the U.S. federal government. Government Information Quarterly, 30(2), 123-130.
  • Nickson, A; & Lambert, P. (2002). State reform and the ‘privatized state’ in Paraguay. Public Administration and Development, 22(2), 163-174.
  • Orlikowski, W. J; & Barley, S. R. (2001). Technology and Institutions: what can Research on Information Technology and Research on Organizations Learn from each Other? MIS Quarterly, 25(2), 145-165.
  • Osman, A; Barrios, F. X; Osman, J. R; Schneekloth, R; & Troutman, J. A. (1994). The Pain Anxiety Symptoms Scale: Psychometric properties in a community sample. Journal of Behavioral Medicine, 17(5), 511-522.
  • Pavlou, P. A; & Gefen, D. (2005). Psychological Contract Violation in Online Marketplaces: Antecedents, Consequences, and Moderating Role. Information Systems Research, 16(4), 372-399.
  • Podsakoff, P. M; MacKenzie, S. B; Lee, J; & Podsakoff, N. P. (2003). Common Method Biases in Behavioral Research: A Critical Review of the Literature and Recommended Remedies. Journal of Applied Psychology, 88(5), 879-903.
  • Qin, B; Strömberg, D; & Wu, Y. (2017). Why Does China Allow Freer Social Media? Protests versus Surveillance and Propaganda. Journal of Economic Perspectives, 31(1), 117-140.
  • Rana, N. P; Dwivedi, Y. K; Williams, M. D; & Weerakkody, V. (2016). Adoption of online public grievance redressal system in India: Toward developing a unified view. Computers in Human Behavior, 59, 265-282.
  • Setrini, G; & Duarte-Recalde, L. R. (2019). The development of participatory institutions in Paraguay: a tool for democratization or state control? Cahiers des Amériques Latines, 90(1), 39-57.
  • Sili, M. (2019). Styles and logics of territorial action. The recent experience of the municipalities of Paraguay. Revista De Administração Pública, 53(5), 917-941.
  • Silva, P; Tavares, A. F; Silva, T; & Lameiras, M. (2019). The good, the bad and the ugly: Three faces of social media usage by local governments. Government Information Quarterly, 36(3), 469-479.
  • Sjoberg, F. M; Mellon, J; & Peixoto, T. (2017). The Effect of Bureaucratic Responsiveness on Citizen Participation. Public Administration Review, 77(3), 340-351.
  • Steiner, P; Atzmüller, C; & Su, D. (2017). Designing Valid and Reliable Vignette Experiments for Survey Research: A Case Study on the Fair Gender Income Gap. Journal of Methods and Measurement in the Social Sciences, 7(2), 52-94.
  • Tartakoff, L. Y. (2019). Ecuador, Argentina, and Paraguay: At Last Immunity to Authoritarian Rule? Society, 56(1), 15-22.
  • Thomas, J. C; & Streib, G. (2005). E-democracy, e-commerce, and e-research: Examining the electronic ties between citizens and governments. Administration and Society, 37(3), 259-280.
  • Transparency International. (2021). Country data: Paraguay Retrieved fromhttps://www.transparency.org/en/countries/paraguay
    » https://www.transparency.org/en/countries/paraguay
  • Triantafillidou, A; Lappas, G; Yannas, P; & Kleftodimos, A. (2016). Greek Local E-Government 2.0: Drivers and Outcomes of Social Media Adoption. In M. Z. Sobaci (Ed.), Social Media and Local Governments: Theory and Practice (pp. 153-170). New York, NY: Springer.
  • United Nations. (2021). UN Data. UN Data, A world of information. Retrieved fromhttp://data.un.org/iso/py
    » http://data.un.org/iso/py
  • Van Deursen, A. J. A. M; & Helsper, E. J. (2015). A nuanced understanding of Internet use and non-use among the elderly. European Journal of Communication, 30(2), 171-187.
  • Van Schaik, P. (2009). Unified theory of acceptance and use for websites used by students in higher education. Journal of Educational Computing Research, 40(2), 229-257.
  • Venkatesh, V; Morris, M. G; & Ackerman, P. L. (2000). A Longitudinal Field Investigation of Gender Differences in Individual Technology Adoption Decision-Making Processes. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 83(1), 33-60.
  • Venkatesh, V; Morris, M. G; Davis, G; & Davis, F. (2003). User Acceptance of Information Technology: Toward a Unified View. MIS Quarterly, 27(3), 425-478.
  • Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; Chan, F. K. Y; & Hu, P. J. H. (2016). Managing citizens’ uncertainty in e-government services: The mediating and moderating roles of transparency and trust. Information Systems Research, 27(1), 87-111.
  • Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; Chan, F. K. Y; Hu, P. J. H; & Brown, S. A. (2011). Extending the two-stage information systems continuance model: Incorporating UTAUT predictors and the role of context. Information Systems Journal, 21(6), 527-555.
  • Venkatesh, V; Thong, J. Y. L; & Xu, X. (2016). Unified Theory of Acceptance and Use of Technology: A Synthesis and the Road Ahead. Journal of the Association for Information Systems, 17(5), 328-376.
  • Wallander, L. (2009). 25 years of factorial surveys in sociology: A review. Social Science Research, 38(3), 505-520
  • Welch, E; Hinnant, C; & Moon, M. (2005). Linking citizen satisfaction with e-government and trust in government. Journal of Public Administration Research and Theory, 15(3), 371-391.
  • Yang, Q; Homburg, V. M. F; Moody, R. F. I; & Bekkers, V. J. J. M. (2018). Microblogging and Authoritarian Governance Regimes: Results from a Survey on the use of Sina Weibo by Chinese Citizens. Electronic Journal of E-Government, 16(2), 159-167.
  • Yera, A., Arbelaitz, O., Jauregui, O., & Muguerza, J. (2020). Characterization of e-Government adoption in Europe. Plos One, 15(4), e0231585.
  • Zhou, T. (2011). An empirical examination of initial trust in mobile banking. Internet Research, 21(5), 527-540.
  • Zmud, R. W. (1979). Individual Differences and Mis Success: a Review of the Empirical Literature. Management Science, 25(10), 966-979. Retrieved fromhttps://10.1287/mnsc.25.10.966
    » https://doi.org/10.1287/mnsc.25.10.966
  • [Versão traduzida]

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2021

Histórico

  • Recebido
    03 Nov 2020
  • Aceito
    04 Maio 2021
Fundação Getulio Vargas Fundaçãoo Getulio Vargas, Rua Jornalista Orlando Dantas, 30, CEP: 22231-010 / Rio de Janeiro-RJ Brasil, Tel.: +55 (21) 3083-2731 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rap@fgv.br