RESUMO DE ARTIGO
Lesões torácicas congênitas: diagnóstico e caracterização com o uso da ressonância magnética no pré-natal
Juliana Mauro Caramel
Monitora de Radiologia da Faculdade de Medicina de Teresópolis (FMT) Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO)
Hubbard AM, Adzick NS, Crombleholme TM, et al. Congenital chest lesions: diagnosis and characterization with prenatal MR imaging. Radiology 1999;212:438.
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS: As massas mais comuns parecem ser hérnia diafragmática congênita (HDC), malformação cística adenomatóide congênita (MCAC) e seqüestração broncopulmonar (SBP). Todas apresentam risco de morte ou comprometimento respiratório ao nascer. A proposta deste estudo foi comparar a utilidade diagnóstica da ressonância magnética (RM) pré-natal e da ultra-sonografia (US) para avaliar tumores pulmonares e determinar se há valor adicional do uso da RM.
MATERIAIS E MÉTODOS: Dezoito mulheres grávidas com diagnóstico ultra-sonográfico de tumor pulmonar primário (16 MCAC, sendo oito à esquerda, seis à direita e dois bilaterais, e dois SBP) foram avaliadas com RM no pré-natal. Todas as RM estudadas foram interpretadas por um único radiologista (o primeiro autor do trabalho), que também analisou as US.
RESULTADOS: Nos dezoito fetos observaram-se três hérnias diafragmáticas congênitas (duas à esquerda e uma à direita), MCAC em nove fetos, SBP em dois, e cistos, estenoses brônquicas, atresia pulmonar e traqueal em um feto cada. O diagnóstico pela RM foi compatível em nove fetos, com o mesmo diagnóstico dado pela US, e discordou em outros nove. No acompanhamento, a RM diagnóstica se confirmou em cirurgias ou resultados histopatológicos em 17 fetos. A RM melhorou substancialmente o diagnóstico da US em termos de localização da massa em relação à topografia lobar e a outras estruturas anatômicas do pulmão, particularmente em grandes lesões, e ainda conseguiu avaliar a quantidade do volume normal ipsilateral e contralateral do pulmão. A seqüência RARE provou ser a melhor em qualidade e com produção mínima de artefato à movimentação; esta qualidade só era diminuída quando a mãe era obesa, por causa dos limites do abdome, e também nos casos de polidrâmnio, o qual permitia um aumento da mobilidade fetal. O ultra-som tinha sido utilizado em muitas instituições e a maioria dos diagnósticos incorretos foi devida à má interpretação dos achados ultra-sonográficos.
DISCUSSÃO: De nosso conhecimento, este é o primeiro artigo sobre o uso da RM na evolução do pré-natal de fetos com tumores no tórax. Em relação à US, o pulmão tem aspecto homogêneo e uma aparência moderadamente hiperecóica. Até agora a US não tem sido usada com acurácia na maturidade pulmonar fetal, ao contrário da RM, que pode medir o volume pulmonar e o tecido pulmonar necessário para sustentar a vida. O diagnóstico pré-natal de massas torácicas é importante, porque é possível saber a história natural dessas lesões. Embora a RM seja capaz de demonstrar o fluxo sanguíneo, nós não conseguimos demonstrar a anomalia dos vasos. A RM no pré-natal foi útil para a definição da anatomia das massas e lesões atípicas na US. Mesmo nas instituições onde a cirurgia fetal não é realizada, a RM é útil para maior definição da massa torácica, para confirmação do diagnóstico pré-natal. A acurácia desse diagnóstico e o conhecimento da historia natural das diferentes lesões puderam afetar o aconselhamento dos pais. Em muitos dos pacientes dessa série o diagnóstico errôneo foi estabelecido com base na US, o qual afetou as decisões dos pais. Por isso, muitos desses pais preferiram a nossa instituição e tiveram continuidade da gravidez e os bebês necessitaram de cirurgia após o parto. O resultado na maioria dos recentes artigos foi que grande parte das lesões não era letal.
CONCLUSÃO: O diagnóstico pré-natal das massas torácicas torna-se característico pela RM, sendo esta um importante método complementar associado ao ultra-som na abordagem diagnóstica e no correto aconselhamento e tratamento dos fetos com estas alterações.
Comentário sobre o artigo
Marcelo Souto Nacif
Professor de Radiologia da FMT-FESO
A possibilidade de uma intervenção pré-natal e/ou de um planejamento do parto com preparação para ressuscitação e imediata cirurgia mostra que já estamos, atualmente, podendo optar por tratamentos antes inimagináveis. Nesse estudo a RM ajudou a caracterizar as lesões fetais, além de confirmar ou mudar diagnósticos pré-natais, dados por outros métodos, contribuindo consideravelmente para a diferenciação da HDC dos tumores primários torácicos. Essas informações trazem efeito importante no aconselhamento pré-natal e no planejamento e manejo da gravidez e do tratamento.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
26 Abr 2004 -
Data do Fascículo
Fev 2004