EDITORIAL
Embolização dos miomas uterinos sintomáticos. Indicação baseada em evidências científicas
Francisco César Carnevale
Chefe do Serviço de Radiologia Intervencionista do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InRad/HC-FMUSP), São Paulo, SP, Brasil. E-mail: fcarnevale@uol.com.br
A radiologia intervencionista tem conquistado grande espaço entre as diversas especialidades médicas. Sem dúvida, dentro da ginecologia, o grande avanço é a embolização dos miomas uterinos, que tem beneficiado número crescente de pacientes sintomáticas. Aproximadamente 600 mil mulheres são submetidas a histerectomias anualmente nos EUA. No Brasil, os números são imprecisos e, infelizmente, não há estatísticas de quantas mulheres se submetem à histerectomia, mas sabe-se que a minoria tem o conhecimento da opção pelos procedimentos minimamente invasivos que preservam o útero.
Os tratamentos tradicionais para as pacientes sintomáticas são o medicamentoso, a miomectomia e a histerectomia. Todos eles apresentam bons resultados, no entanto, cada um com sua indicação específica.
A embolização dos miomas uterinos é um procedimento minimamente invasivo e está sendo utilizado com grande sucesso por muitos médicos em todo o mundo. Além da preservação do útero, redução do tamanho dos miomas e do útero, a técnica permite que a paciente volte a menstruar normalmente, tenha recuperação precoce e, graças ao grande avanço dos novos agentes embolizantes, mantenha a possibilidade de futura fertilidade.
A técnica, empregada para o tratamento de outros tipos de hemorragias, foi inicialmente realizada pelo médico francês Jacques Ravina, em 1991, e chegou ao Brasil há menos de dez anos. O procedimento da embolização consiste em introduzir um microcateter na artéria femoral, fazendo com que ele chegue até as artérias uterinas nutridoras dos miomas. Realiza-se a minuciosa avaliação angiográfica do útero, dos miomas e das estruturas adjacentes, como os ovários e a bexiga. Procede-se, a seguir, à desvascularização seletiva dos miomas, com a preservação da nutrição arterial uterina. Hoje em dia, isto é realmente possível, graças ao grande avanço dos novos agentes embolizantes, como as microesferas calibradas. São materiais com grande poder de seletividade pelos miomas que receberam a aprovação específica para esta indicação pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA.
A técnica tem evoluído tanto, que alguns grupos têm realizado a embolização dos miomas uterinos em regime de day-hospital. Trata-se de grande avanço cirúrgico com redução de custos, rápido retorno às atividades sociais e laborais e, principalmente, melhora da qualidade de vida.
O resultado da embolização pode ser notado imediatamente após o procedimento, quando já se observa a interrupção dos episódios de metrorragia. Porém, deve-se lembrar que a redução do tamanho uterino, dos miomas e, conseqüentemente, dos sintomas normalmente se faz durante os dois primeiros anos após a intervenção.
A embolização dos miomas uterinos não é mais um procedimento experimental. A qualidade e o valor das publicações científicas que avaliam a eficácia da embolização são semelhantes às publicações que avaliaram os outros métodos (miomectomia e histerectomia). Há dados consistentes com relação ao controle sintomático, à redução do volume uterino, dos miomas e ao alto grau de satisfação das pacientes submetidas à terapêutica.
A integração do radiologista, seja aquele envolvido na avaliação diagnóstica (pela ultra-sonografia ou ressonância magnética) e intervencionista, com o ginecologista é essencial para o sucesso do tratamento.
Assim sendo, pode-se questionar: O que é necessário para a maior propagação do método? A conscientização por parte de todos de que a embolização dos miomas uterinos é altamente eficaz no controle dos sintomas, na redução do tamanho dos miomas e do útero, estética (sem corte e cicatriz), preserva a feminilidade e não castra a mulher e o seu parceiro.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
19 Nov 2007 -
Data do Fascículo
Out 2007