Acessibilidade / Reportar erro

Biópsias percutâneas mamárias

As biópsias percutâneas da mama guiadas por exames de imagem (estereotaxia, ultrassonografia e ressonância magnética) são talvez uma das maiores conquistas dos especialistas em imagem da mama, assim como a cirurgia conservadora, introduzida por Umberto Veronesi, foi para o cirurgião. Por meio dessas biópsias é possível diagnosticar o câncer de mama e o médico planejar, junto com a paciente, a cirurgia a ser realizada. A mulher tem tempo de assimilar um diagnóstico de câncer, sendo um ganho emocional importante. A biópsia percutânea tem, ainda, a vantagem de diminuir o número de indicações cirúrgicas e de aumentar a chance do diagnóstico precoce.

Até um passado recente, o padrão ouro na avaliação das alterações não palpáveis encontradas nos exames por imagem era o agulhamento pré-cirúrgico, feito por método de imagem, seguido da cirurgia. Mesmo assim, a literatura mostra falha em remover a lesão na cirurgia, por diferentes motivos(11 Moitinho MSP, Elias S, Kemp C, et al. Acurácia diagnóstica da biópsia percutânea com agulha grossa orientada por estereotaxia nas lesões mamárias categoria BI-RADS® 4. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29:608-13.,22 Canella EO. Percutaneous biopsy in radiological imaging of the breast. Radiol Bras. 2016;49(2):ix.). Em 1990, Steve Parker publicou o primeiro trabalho comparando a core biopsy com a biópsia cirúrgica, demonstrando ser um procedimento seguro e reprodutível. Em 1995, Parker introduziu a biópsia a vácuo, com a finalidade de obtenção de quantidade maior de material, aproximando mais a correlação imagem/histopatologia(22 Canella EO. Percutaneous biopsy in radiological imaging of the breast. Radiol Bras. 2016;49(2):ix.

3 Liberman L. Centennial dissertation. Percutaneous imaging-guided core breast biopsy: state of the art at the millennium. AJR Am J Roentgenol. 2000;174:1191-9.
-44 Rageth CJ, O'Flynn EA, Comstock C, et al. First International Consensus Conference on lesions of uncertain malignant potential in the breast (B3 lesions). Breast Cancer Res Treat. 2016;159:203-13.). Essas técnicas se desenvolveram, foram avaliadas e comparadas entre si e com a biópsia cirúrgica. Elas também nos ensinaram quais os diagnósticos menos confiáveis por esta abordagem e quais necessitam prosseguimento na investigação cirúrgica e quais não(11 Moitinho MSP, Elias S, Kemp C, et al. Acurácia diagnóstica da biópsia percutânea com agulha grossa orientada por estereotaxia nas lesões mamárias categoria BI-RADS® 4. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29:608-13.

2 Canella EO. Percutaneous biopsy in radiological imaging of the breast. Radiol Bras. 2016;49(2):ix.

3 Liberman L. Centennial dissertation. Percutaneous imaging-guided core breast biopsy: state of the art at the millennium. AJR Am J Roentgenol. 2000;174:1191-9.
-44 Rageth CJ, O'Flynn EA, Comstock C, et al. First International Consensus Conference on lesions of uncertain malignant potential in the breast (B3 lesions). Breast Cancer Res Treat. 2016;159:203-13.).

A análise de custo também demonstrou que este é menor na biópsia percutânea do que na cirúrgica, além de evitar internação, afastamento do trabalho e cicatrizes e deformidades na mama(33 Liberman L. Centennial dissertation. Percutaneous imaging-guided core breast biopsy: state of the art at the millennium. AJR Am J Roentgenol. 2000;174:1191-9.).

A biópsia percutânea da mama demonstrou, por meio de múltiplos trabalhos, baixas taxas de falso-negativos, sendo um procedimento seguro que, entretanto, necessita protocolos para otimizar a escolha do método para diferentes lesões, correlação entre a imagem e o diagnóstico histopatológico das lesões benignas e malignas e seguimento das pacientes com diagnóstico de benignidade(11 Moitinho MSP, Elias S, Kemp C, et al. Acurácia diagnóstica da biópsia percutânea com agulha grossa orientada por estereotaxia nas lesões mamárias categoria BI-RADS® 4. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29:608-13.,55 Berg WA. Current status of supplemental screening in dense breasts. J Clin Oncol. 2016. pii: JCO658674. [Epub ahead of print].).

Talvez o maior problema encontrado não seja a segurança do método e sim sua indicação. Muitas interpretações errôneas dos achados de imagem levam a indicações inadequadas de biópsias, aumentando seu número, principalmente na ultrassonografia. Nesta, o valor preditivo positivo das biópsias varia de 9% a 12%, mas um trabalho realizado em Connecticut, após a introdução da legislação sobre a mama densa, demonstrou que com maior experiência e confiança no método, foi possível aumentar o valor preditivo positivo de 6,5% para 25%(55 Berg WA. Current status of supplemental screening in dense breasts. J Clin Oncol. 2016. pii: JCO658674. [Epub ahead of print].).

O trabalho publicado neste número da Radiologia Brasileira, “Biópsia a vácuo guiada por ressonância magnética: experiência e resultados preliminares de 205 procedimentos”(66 Carneiro GAC, Arantes Pereira FP, Lopes FPPL, et al Magnetic resonance imaging-guided vacuum-assisted breast biopsy: experience and preliminary results of 205 procedures. Radiol Bras. 2018;51:351-7.), realizado em clínica privada, demonstra todos os requisitos exigidos para este tipo de biópsia: indicação geralmente adequada, com uma taxa de malignidade de 21%; método ideal (biópsia a vácuo), visto que as lesões só eram vistas na ressonância magnética, sendo esta a abordagem adequada neste caso; domínio da técnica. A biópsia a vácuo guiada por ressonância magnética não está disponível facilmente em nosso meio, principalmente em razão do seu custo. Este é um trabalho importante, pois traz este procedimento para mais perto de nossa realidade, com resultados comparáveis aos da literatura, podendo ser reprodutível com sucesso. Ainda no trabalho avalia-se a utilização correta da classificação BI-RADS na ressonância magnética, demonstrando mais uma vez, como já mencionado, a importância da análise da imagem para sua classificação e indicação de investigação.

O acompanhamento das pacientes com diagnóstico de benignidade é importante e, assim como mencionamos no início, a biópsia percutânea da mama revolucionou a especialidade, mas necessita de comprometimento do radiologista e abordagem multidisciplinar com o patologista e o cirurgião.

REFERENCES

  • 1
    Moitinho MSP, Elias S, Kemp C, et al. Acurácia diagnóstica da biópsia percutânea com agulha grossa orientada por estereotaxia nas lesões mamárias categoria BI-RADS® 4. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29:608-13.
  • 2
    Canella EO. Percutaneous biopsy in radiological imaging of the breast. Radiol Bras. 2016;49(2):ix.
  • 3
    Liberman L. Centennial dissertation. Percutaneous imaging-guided core breast biopsy: state of the art at the millennium. AJR Am J Roentgenol. 2000;174:1191-9.
  • 4
    Rageth CJ, O'Flynn EA, Comstock C, et al. First International Consensus Conference on lesions of uncertain malignant potential in the breast (B3 lesions). Breast Cancer Res Treat. 2016;159:203-13.
  • 5
    Berg WA. Current status of supplemental screening in dense breasts. J Clin Oncol. 2016. pii: JCO658674. [Epub ahead of print].
  • 6
    Carneiro GAC, Arantes Pereira FP, Lopes FPPL, et al Magnetic resonance imaging-guided vacuum-assisted breast biopsy: experience and preliminary results of 205 procedures. Radiol Bras. 2018;51:351-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2018
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br