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Precisamos de um novo conceito: de exame complementar para gerador de valor

O uso de tecnologia de diagnóstico por imagem na medicina baseada em valor é tema recorrente em debates associativos, acadêmicos e eventos do mercado de saúde. Seu direcionador principal é a premissa que todos os envolvidos na cadeia de valor devem propor soluções que otimizem a melhora dos desfechos em saúde, alinhando expectativas de todos os envolvidos na jornada. Na prática, o custo/desperdício dessas tecnologias prevalecem como “vilão” na equação.

Provar valor em radiologia e diagnóstico por imagem não é tarefa trivial. Embora o conceito de medicina baseada em valor esteja sendo exaustivamente discutido, na prática a forma e a intensidade que o radiologista adere a esse conceito não têm sido amplamente estudadas. Alguns falam em “entender melhor os pacientes”, outros em “medir mais a performance no trabalho”. A sensação é que a nossa especialidade está numa encruzilhada para o destino final, sem forças (ou foco) para escolher a próxima estrada a percorrer.

Nesse contexto, usar uma tecnologia moderna de imagem para detectar uma doença que carece de biomarcador assertivo poderia ser um exemplo de medicina baseada em valor? Otimizar o uso dessa tecnologia para detectar o maior numero de pacientes com dada enfermidade e excluir outras possibilidades diagnósticas não adiciona valor à cadeia do diagnóstico e tratamento da doença?

Em artigo publicado no número anterior da Radiologia Brasileira, Abreu Junior et al.(11 Abreu Junior L, Godoy LL, Vaz LPS, et al. Optimization of magnetic resonance imaging protocol for the diagnosis of transient global amnesia. Radiol Bras. 2019;52:161-5.) demonstram, numa série de pacientes atendidos em emergência de um hospital terciário de referência no país, que o uso da difusão por ressonância magnética detecta alterações relacionadas a uma amnésia global transitória e que a otimização do protocolo (ajustando o valor de b na sequência em estudo) aumentou a sensibilidade do método naquela população. Embora não tenha sido o objetivo do estudo, seria interessante saber o quanto dessas informações baseadas na imagem: 1) modificaram o diagnóstico clínico preliminar; 2) reduziram o custo com exames desnecessários; 3) reduziram o tempo de internação hospital; e 4) auxiliaram o sistema em estabelecer insights sobre prognóstico e recorrência de eventos futuros similares.

O uso da difusão por ressonância magnética na amnésia global transitória não é um exemplo recente de aplicações do método em neurologia, mas pode ser um poderoso instrumento para demonstrarmos o “valor” de uma tecnologia extraordinária, além de seu papel tradicional (e restrito) de ferramenta diagnóstica. O momento de demonstrarmos que a radiologia é muito mais que um conjunto de exames complementares que auxiliam o diagnóstico já passou. Precisamos evoluir conceitualmente no papel da radiologia (e radiologistas) na medicina baseada em valor. Urgentemente.

REFERENCE

  • 1
    Abreu Junior L, Godoy LL, Vaz LPS, et al. Optimization of magnetic resonance imaging protocol for the diagnosis of transient global amnesia. Radiol Bras. 2019;52:161-5.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2019
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