Sr. Editor,
Homem, 41 anos, com história de infecções de vias aéreas de repetição desde a infância e tosse crônica com alteração da voz há sete anos. Foi realizada laringotraqueobroncoscopia, que revelou lesões nodulares esbranquiçadas nas paredes anterolaterais da traqueia e na porção mais proximal dos brônquios principais, cujo material foi enviado para estudo histopatológico (Figuras 1A e 1B). A tomografia computadorizada (TC) mostrou diminutos nódulos submucosos, sésseis, subcentimétricos, alguns calcificados, nos diferentes níveis da traqueia, predominando nos dois terços inferiores, e também no brônquio principal direito. Não havia estreitamento luminal significativo e, tipicamente, poupava a parede membranosa posterior da traqueia (Figuras 1C e1D).
A: Laringotraqueobroncoscopia: nódulos esbranquiçados nas paredes anterolaterais da traqueia (setas). B:Histopatologia. HE, 20×. Focos de metaplasia escamosa na traqueia (seta). C,D: TC do tórax com contraste no plano axial (C) e após reformatação coronal (D) mostrando micronódulos, alguns calcificados, nas paredes anterolaterais da traqueia (setas).
O paciente permanece em acompanhamento ambulatorial com controle sintomático das queixas.
Traqueobroncopatia osteocondroplástica é uma doença benigna, crônica, rara, que acomete preferencialmente o sexo masculino (M:F = 3:1), com as manifestações predominando entre a quinta e a sétima décadas de vida(1,2). Diversos fatores têm sido associados, como infecções crônicas, agentes químicos ou medicamentosos, alterações degenerativas teciduais, desordens do metabolismo do cálcio e fósforo e amiloidose(3,4).
A doença é geralmente assintomática(1,2,5,6) e o seu diagnóstico, na maioria das vezes, é achado incidental em broncoscopias para investigação de outras afecções ou com propósito terapêutico ou ainda em séries de necropsia(1). Quando sintomática, a tosse é o principal achado, presente em cerca de 66% dos casos.
A laringotraqueobroncoscopia é o exame que, em geral, levanta a suspeita diagnóstica e o achado clássico é a presença de nódulos esbranquiçados, de contornos lisos, consistência endurecida, tipicamente nas paredes cartilaginosas dos anéis traqueais e das porções proximais dos brônquios principais(7,8).
A TC é um exame que contribui para a confirmação do diagnóstico(1), pelos seus achados, que compreendem espessamento da superfície interna da cartilagem traqueal com lesões nodulares irregulares, sésseis, calcificadas ou não, focal ou difusa, poupando a parede posterior (membranosa) da traqueia e levando a estreitamento do lúmen nas áreas acometidas(1,5,6,8,9). A TC é muito sensível na detecção da calcificação característica dos nódulos, na definição da extensão e distribuição das estenoses traqueobrônquicas, assim como na caracterização das complicações - atelectasias, bronquiectasias, pneumonias pós-obstrutivas(5,10).
O estudo histopatológico mostra que os nódulos são crescimentos osteocartilaginosos submucosos. Surgem combinações variáveis de tecido fibroso, cartilaginoso, ósseo, hematopoiético e matriz proteica acelular mineralizada. O epitélio que reveste esses nódulos pode ser normal, de aspecto inflamatório ou metaplásico(5,8).
Alguns autores consideram que os achados broncoscópicos e radiológicos são suficientes para firmar o diagnóstico, principalmente nos casos em que é difícil a realização da biópsia(1,5,8).
O prognóstico é bom, na maioria dos casos, e o tratamento só será requisitado quando houver complicações, principalmente estenose traqueal e/ou brônquica(11).
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jan-Feb 2016