RESUMO DE ARTIGO
Quando a apendicite é suspeitada em crianças
Douglas Teixeira Freire
Monitor de Radiologia da Faculdade de Medicina de Teresópolis (FMT) Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO)
Sivit CJ, Siegel MJ, Applegate KE, Newman KD. When appendicitis is suspected in children. RadioGraphics 2001;21:24762.
Apendicite aguda é a causa mais comum de abdome agudo na infância, e o diagnóstico tardio pode trazer sérias conseqüências, como perfuração, formação de abscesso, peritonite, sepse, obstrução intestinal e morte.
A radiografia abdominal convencional mostra-se relativamente pouco sensível e inespecífica para elucidar o diagnóstico, tendo valor quando há suspeita de obstrução intestinal ou perfuração do apêndice.
As vantagens do corte tomográfico incluem o diagnóstico precoce ou a visualização de outra condição que mimetize apendicite, reduzindo as laparotomias brancas e as taxas de perfuração e diminuindo os custos.
Ultra-sonografia (US) com compressão dosada
Sensibilidade de 85% e especificidade de 92% foram relatadas em uma meta-análise de estudos em adultos e crianças, entre 1986 e 1994.
Os exames são realizados com alta resolução e transdutor linear. Faz-se compressão dosada na parede anterior do abdome, resultando no deslocamento e compressão do intestino, com a visualização da veia ilíaca e do músculo psoas, com o apêndice anterior a essas estruturas. Primeiramente, deve-se identificar o cólon ascendente (aperistáltico e com gás e líquido), seguindo para íleo terminal (com peristalse ativa) e 12 cm abaixo para o apêndice. A técnica adequada pode ser realizada em 95% dos pacientes, sendo limitada quando há presença de dor intensa ou de obesidade.
O apêndice não perfurado aparece preenchido por líquido, não comprimido e como estrutura tubular em fundo cego. O diâmetro máximo é de 6 mm; a mucosa é representada por uma linha ecogênica interna. Tendo líquido no lúmen apendicular, uma imagem em alvo é caracterizada por mucosa e submucosa ecogênicas no plano axial. Pode ainda ocorrer o aparecimento de apendicolito, como um ponto ecogênico com sombra acústica, líquido pericecal ou periapendicular, aumento da ecogenicidade periapendicular representando infiltração, e nódulos linfáticos aumentados. O único sinal específico para apendicite aguda é o apêndice aumentado, não comprimido e medindo mais que 6 mm.
A perfuração ocorre em 23% a 73% das crianças. Os achados ultra-sonográficos incluem camada submucosa menos ecogênica, presença de líquido periapendicular ou pélvico, ou abscesso.
O uso da US com Doppler colorido auxilia no diagnóstico; embora não aumente a sensibilidade, pode aumentar a confiança do examinador. Em apendicite não perfurada mostra hiperemia de parede devido a hiperperfusão inflamatória. O fluxo colorido pode estar ausente no início do quadro ou limitado à ponta do apêndice. Na perfuração observa-se hiperemia no tecido periapendicular ou dentro de um abscesso bem definido.
Tomografia computadorizada (TC) helicoidal
Tem-se mostrado de alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico de apendicite aguda, com sensibilidade de 87% a 100% e especificidade de 89% a 98%, tendo ainda, como vantagens sobre a US, sensibilidade superior de contraste, ser pouco examinador dependente, e capacidade de visualização do ar, tecidos, gorduras e osso. A TC também é mais útil na avaliação das complicações, como fleimão e abscesso, podendo ainda identificar coleções líquidas e abscesso interalças.
As características tomográficas de apendicite aguda incluem um apêndice maior que 7 mm, parede espessada e apendicolito, ápice do ceco circunferencial ou focal espessado, gordura pericecal, parede intestinal adjacente espessada, líquido peritoneal livre, linfonodopatia mesentérica, fleimão intraperitoneal, ou abscesso, sendo específicos para apendicite o aumento do apêndice e a alteração no ápice cecal. A identificação do apendicolito não deve ser confundida com retenção de bário.
Comentário sobre o artigo
Marcelo Souto Nacif
Professor de Radiologia da FMT-FESO
Neste artigo é revisado o papel da imagem, a eficácia do diagnóstico ultra-sonográfico sob compressão dosada, o uso da TC para o diagnóstico, e as características das imagens na US e na TC.
Dessa forma, foi observado que a US sob compressão dosada e a TC helicoidal mostraram-se úteis na suspeita de apendicite aguda na criança, tendo a US, como principais vantagens, o baixo custo, a ausência de radiação ionizante e o acesso à vascularização apendicular pelo Doppler, além de ajudar no diagnóstico diferencial de doenças ginecológicas, enquanto a TC possui maior acurácia, não é tão dependente do examinador, revela a extensão da doença e possui boa utilidade em pacientes obesos, ao contrário da US.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
26 Abr 2004 -
Data do Fascículo
Fev 2004