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Anestesia em recém-nascido com síndrome de Klippel-Feil

Li com interesse o relato de caso descrito por Altay et al.11 Altay N, Yuce HH, Aydogan H, et al. Airway management in newborn with Klippel-Feil syndrome. Braz J Anesthesiol. 2016;66:551-3. sobre o manejo de anestesia em recém-nascido com síndrome de Klippel-Feil (SKF). Os autores apresentaram seu caso como “a criança mais jovem com KFS na qual a intubação oral foi feita”. Agradeço aos colegas pela descrição do tratamento desse caso desafiador, mas há alguns pontos que precisam ser discutidos.

Altay et al. fizeram uma intubação bem-sucedida na primeira tentativa com laringoscopia direta (LD), o que mostrou conformidade com a literatura. De acordo com a literatura, a SKF isolada pode não ser um preditivo de manejo difícil das vias aéreas em lactentes. Naguib et al.22 Naguib M, Farag H, Ibrahim Ael-W. Anaesthetic considerations in Klippel-Feil syndrome. Can Anaesth Soc J. 1986;33:66-70. relataram o caso de um menino de três semanas diagnosticado com SKF intubado com sucesso via LD. Creighton et al.33 Creighton RE, Relton JE, Meridy HW. Anesthesia for occipital encephalocoele. Can Anaesth Soc J. 1974;21:403-6. relataram os casos de oito lactentes com SKF (seis deles também com fenda palatina e muito provavelmente alguns eram recém-nascidos) nos quais a intubação oral ou nasal foi feita com LD e laringoscópio regular. Esses autores fizeram com sucesso a LD em paciente acordado, apesar das outras condições presentes que complicam a intubação, como fenda palatina e posição lateral, além da SKF.

Recentemente, fizemos uma revisão do manejo das vias aéreas e do sucesso da LD em crianças com SKF44 Bakan M, Umutoglu T, Zengin SU, et al. The success of direct laryngoscopy in children with Klippel-Feil syndrome. Minerva Anestesiol. 2015;81:1384-6. e descobrimos que não há na literatura relato que descreva ventilação difícil via máscara ou inserção malsucedida de máscara laríngea (ML). Além disso, não há relato de LD malsucedida em lactentes com SKF. Acreditamos que a taxa de sucesso da intubação traqueal via LD em idades precoces (provavelmente antes da adolescência) parece ter aumentado quando outros preditivos de intubação difícil não estão presentes. Esses achados podem nos encorajar na tentativa de LD em crianças com SKF isolada, embora anomalias das vias aéreas não sejam raras na SKF e devam ser investigadas antes da indução da anestesia. Além disso, uma LD anteriormente bem-sucedida não é garantia de sucesso na intubação, porque a fusão cervical pode piorar de modo progressivo ao longo do tempo e a LD vir a ser um desafio em idades mais avançadas.

Outro ponto é a atenção dos autores voltada principalmente para o manejo das vias aéreas da paciente, mas a técnica anestésica pode ser questionável. Sabendo que fornecer uma profundidade adequada da anestesia para prevenir o aumento da resistência vascular pulmonar associada aos estímulos cirúrgicos é um dos principais objetivos no manejo anestésico desses pacientes, qual foi a razão para o uso de sevoflurano como único agente anestésico em uma paciente cardíaca com hipertensão pulmonar persistente se uma extubação no pós-operatório imediato não foi planejada?

References

  • 1
    Altay N, Yuce HH, Aydogan H, et al. Airway management in newborn with Klippel-Feil syndrome. Braz J Anesthesiol. 2016;66:551-3.
  • 2
    Naguib M, Farag H, Ibrahim Ael-W. Anaesthetic considerations in Klippel-Feil syndrome. Can Anaesth Soc J. 1986;33:66-70.
  • 3
    Creighton RE, Relton JE, Meridy HW. Anesthesia for occipital encephalocoele. Can Anaesth Soc J. 1974;21:403-6.
  • 4
    Bakan M, Umutoglu T, Zengin SU, et al. The success of direct laryngoscopy in children with Klippel-Feil syndrome. Minerva Anestesiol. 2015;81:1384-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2017
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