Acessibilidade / Reportar erro

Queda do pé após raquianestesia

Caro Editor,

Relatamos um caso de pé caído após raquianestesia. A incidência de lesão de nervo relacionada à raquianestesia é inferior a 1:10.000 e a maioria das incidências tem etiologia desconhecida.11. Nirmala BC, Gowri Kumari. Foot drop after spinal anaesthesia: a rare complication. Indian J Anaesth. 2011;55:78-9. and 22. Ghai A, Hooda S, Kumar P, Kumar R, Bansal P. Bilateral foot drop following lower limb orthopedic surgery under spinal anesthesia. Can J Anesth. 2005;52:550. No entanto, se um paciente se queixar de dor ou parestesia durante a raquianestesia, deve ser observado em busca de qualquer déficit neurológico indesejável. Relatamos um caso que envolve um possível traumatismo por agulha ou lesão da estrutura neural relacionada ao anestésico local e subsequente "pé caído".

Uma paciente saudável, 31 anos, foi programada para procedimento de fissurectomia anal. A paciente não tinha comorbidade clínica. Os exames de hemograma completo e os parâmetros de coagulação estavam normais. Após obter o termo de consentimento informado assinado, e depois de uma noite de jejum, a paciente foi preparada para a operação. A monitoração de rotina (pressão arterial não invasiva, eletrocardiografia e oximetria de pulso) foi feita em sala de cirurgia.

Após concluir todos os cuidados de assepsia, uma agulha Quincke de calibre 27G foi inserida no interespaço de L4-L5. Quando a agulha entrou no espaço subaracnóideo, a paciente teve uma reação espasmódica brusca que foi seguida de parestesia e dor. Imediatamente, a agulha foi um pouco retraída e, quando a dor diminuiu, a raquianestesia foi administrada com 10 mg de bupivacaína a 0,5% (2 mL) (Marcaine(r) pesada, AstraZeneca, Istambul, Turquia). Para se obter um bloqueio em sela, a paciente foi mantida em posição sentada por cinco minutos e depois posicionada em pronação para a cirurgia.

Para sedação no período perioperatório, midazolam (3 mg) foi administrado por via intravenosa. A operação durou 30 minutos. A paciente foi levemente sedada e esteve confortável durante o procedimento.

Na sexta hora de pós-operatório, a paciente notou que não conseguia mover seu pé esquerdo. Após exame neurológico com toque leve, picada de agulha e vibrações, a paciente relatou total ausência de sensações. Todos os reflexos estavam normais, exceto pelos reflexos do joelho, tornozelo e da planta do pé, que estavam ausentes na perna esquerda. Havia também uma queda persistente do pé esquerdo com flexão plantar (0/5), embora o pé direito estivesse normal. Porque o exame de RM estava normal, uma intervenção cirúrgica não foi programada. Tratamento com metilprednisolona (250 mg) e vitaminas do complexo B (Bemiks(r), Zentiva, Istambul, Turquia) foi iniciado.22. Ghai A, Hooda S, Kumar P, Kumar R, Bansal P. Bilateral foot drop following lower limb orthopedic surgery under spinal anesthesia. Can J Anesth. 2005;52:550. and 33. Reynolds F. Damage to the conus medullaris following spinal anaesthesia. Anaesthesia. 2001;56:238-47. O tratamento com dexametasona (16 mg) e complexo B continuou por cinco dias. Fisioterapia foi programada e a paciente recebeu alta hospitalar. Após três meses de fisioterapia, os sintomas da paciente tiveram uma melhoria acentuada.

Após raquianestesia, o trauma mecânico resultante de uma agulha ou da deposição acidental de medicamentos inadequados é a causas mais provável de complicações neurológicas. Como em muitos dos casos relatados,11. Nirmala BC, Gowri Kumari. Foot drop after spinal anaesthesia: a rare complication. Indian J Anaesth. 2011;55:78-9. 22. Ghai A, Hooda S, Kumar P, Kumar R, Bansal P. Bilateral foot drop following lower limb orthopedic surgery under spinal anesthesia. Can J Anesth. 2005;52:550. and 33. Reynolds F. Damage to the conus medullaris following spinal anaesthesia. Anaesthesia. 2001;56:238-47. não podemos explicar o fator etiológico exato que levou às complicações neurológicas que incluíram parestesia e dor.

A orientação da agulha também é um fator importante no que diz respeito à profundidade e extensão da lesão do nervo. A inserção transversal da agulha está associada a uma taxa maior de lesão do nervo, enquanto a inserção horizontal é menos perigosa. Durante a aplicação de raquianestesia, a parestesia associada ao movimento da agulha pode lesionar o nervo. A intensidade da parestesia é um forte indicador de lesão do nervo. A debilidade e defeitos sensoriais podem ser duradouros.44. Auroy Y, Narchi P, Messiah A, Litt L, Rouvier B, Samii K. Seri- ous complications related to regional anaesthesia: results of a prospective survey in France. Anaesthesiology. 1997;87:479-86.

Recomendamos um breve exame neurológico dos membros inferiores antes de um protocolo de raquianestesia e, em uma situação de queda do pé relacionada à raquianestesia, um diagnóstico urgente é necessário e um processo de tratamento é fundamental para melhores resultados em longo prazo.

References

  • 1. Nirmala BC, Gowri Kumari. Foot drop after spinal anaesthesia: a rare complication. Indian J Anaesth. 2011;55:78-9.
  • 2. Ghai A, Hooda S, Kumar P, Kumar R, Bansal P. Bilateral foot drop following lower limb orthopedic surgery under spinal anesthesia. Can J Anesth. 2005;52:550.
  • 3. Reynolds F. Damage to the conus medullaris following spinal anaesthesia. Anaesthesia. 2001;56:238-47.
  • 4. Auroy Y, Narchi P, Messiah A, Litt L, Rouvier B, Samii K. Seri- ous complications related to regional anaesthesia: results of a prospective survey in France. Anaesthesiology. 1997;87:479-86.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2015
Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjan@sbahq.org