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Farmacogenômica do sevoflurano: papel no delirium do despertar

Lemos com interesse o estudo prospectivo observacional feito por Ramroop et al.,11 Ramroop R, Hariharan S, Chen D. Emergence delirium following sevoflurane anesthesia in adults - a prospective observational study. Rev Bras Anestesiol. 2019;69:233-41. em que os autores pesquisaram a incidência de delirium do despertar após anestesia com sevoflurano em pacientes adultos. Depois de analisar os dados do estudo, os autores concluíram que os fatores responsáveis pelo delirium do despertar após sevoflurano são: pacientes idosos (idade > 65 anos), cirurgias de emergência, cirurgias de longa duração, etnia africana e número de tentativas de intubação. Outra explicação possível que deve ser considerada como responsável pelo delirium do despertar após anestesia com sevoflurano é o perfil farmacogenômico dos pacientes.

O metabolismo e a excreção são as vias de eliminação dos agentes anestésicos inalatórios, inclusive do sevoflurano. O único anestésico inalatório metabolizado por biotransformação enzimática era o metoxiflurano, que não está mais em uso clínico. Menos de 5% do anestésico inalatório é metabolizado no corpo e a eliminação é feita predominantemente pelos alvéolos pulmonares.22 Yasny JS, White J. Environmental implications of anesthetic gases. Anesth Prog. 2012;59:154-8. O sevoflurano tem eliminação parcial mínima (até 2%) pela da biotransformação mediada pela enzima CYP2E1 que pertence à família do citocromo.33 Cohen M, Sadhasivam S, Vinks AA. Pharmacogenetics in perioperative medicine. Curr Opin Anaesthesiol. 2012;25:419-27.

Variações genéticas na CYP2E1 foram descritas, mas a porcentagem de eliminação do sevoflurano por essa enzima parece insignificante isoladamente. Porém, essa contribuição da CYP2E1 pode ter resultados clínicos importantes na forma de delirium do despertar em pacientes com os fatores acima mencionados, descritos pelos autores com base em sua análise dos dados após a anestesia com sevoflurano. Até o presente momento, não há dados sobre variações nos genes que controlam a família do citocromo P450.44 Bains RK. African variation at Cytochrome P450 genes: evolutionary aspects and the implications for the treatment of infectious diseases. Evol Med Public Health. 2013;2013:118-34. Park et al.55 Park CS, Shin C, Jin Park H, et al. The influence of GABA A g2 genetic polymorphism on the emergence agitation induced by sevoflurane. Korean J Anesthesiol. 2008;55:139. sugeriram a possibilidade de um polimorfismo genético do ácido gama-aminobutírico (Gamma-aminobutyric acid - GABA) R2 que afetaria o desenvolvimento de agitação ao despertar quando o sevoflurano é usado em pacientes pediátricos. Contudo, esse polimorfismo não foi avaliado ou pesquisado em pacientes adultos.

Para concluir, acreditamos que a causa do delirium do despertar após anestesia com sevoflurano seja multifatorial em adultos. Além disso, as variações farmacogenéticas na CYP2E1 podem ter um papel significativo nessa manifestação indesejada do uso de sevoflurano durante a anestesia geral.

References

  • 1
    Ramroop R, Hariharan S, Chen D. Emergence delirium following sevoflurane anesthesia in adults - a prospective observational study. Rev Bras Anestesiol. 2019;69:233-41.
  • 2
    Yasny JS, White J. Environmental implications of anesthetic gases. Anesth Prog. 2012;59:154-8.
  • 3
    Cohen M, Sadhasivam S, Vinks AA. Pharmacogenetics in perioperative medicine. Curr Opin Anaesthesiol. 2012;25:419-27.
  • 4
    Bains RK. African variation at Cytochrome P450 genes: evolutionary aspects and the implications for the treatment of infectious diseases. Evol Med Public Health. 2013;2013:118-34.
  • 5
    Park CS, Shin C, Jin Park H, et al. The influence of GABA A g2 genetic polymorphism on the emergence agitation induced by sevoflurane. Korean J Anesthesiol. 2008;55:139.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Out 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2019

Histórico

  • Publicado
    10 Maio 2019
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