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Evolução clínica e comportamento da função ventricular no pós-operatório tardio da cardiomioplastia

Clinical and ventricular function in the late follow-up of dynamic cardiomyoplasty

A cardiomioplastia tem sido proposta, como uma alternativa ao transplante cardíaco, no tratamento de pacientes com insuficiência miocárdica em fase avançada. O objetivo deste trabalho é estudar a evolução clínica e o comportamento da função ventricular no pós-operatório tardio desse procedimento em 34 pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada, que foram operados no período de maio de 1988 a setembro de 1994. Vinte e sete pacientes estavam em classe funcional III e 7 pacientes em classe IV no preoperatorio, apesar do uso de terapêutica clínica otimizada. A mortalidade hospitalar foi de 2,9% e 1 paciente que evoluiu em choque cardiogênico foi submetido a transplante cardíaco 42 dias após a cardiomioplastia. O tempo de seguimento pós-operatório variou entre 2 e 73 meses, com média de 27,4 meses. Aos 6 meses de pós-operatório, 12 pacientes estavam em classe funcional 1,15 pacientes em classe 11 e 3 pacientes em classe III (p=0,001) em relação ao pré-operatório. Quatorze pacientes faleceram até 5 anos de pós-operatório e os índices de sobrevida foram 84,7% em 1 ano, 67,7% em 2 anos e 39,6% aos 5 anos de seguimento, sendo que, em 9 pacientes, os óbitos ocorreram por progressão da insuficiência cardíaca, e 5 pacientes faleceram subitamente. A análise de regressão de Gox mostrou que a mortalidade nos pacientes operados em classe funcional IV foi 5,5 vezes maior do que nos pacientes operados em classe III (p=0,006), cuja sobrevida foi de 52,7% aos 5 anos de pós-operatório. O estudo sistemático da função ventricular através da angiografia com radioisótopos, da ecocardiografia com Doppler e do cateterismo cardíaco direito documentou a melhora da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (V E) de 19,8 ± 3 para 23,9 ± 7,2% (p<0,01), associada a modificações significativas do encurtamento segmentar do V E, do volume e do índice sistólico, da pressão arterial média, das pressões pulmonares e do índice de trabalho sistólico do V E, aos 6 meses de seguimento. No período pós-operatório tardio, a fração de ejeção e o encurtamento segmentar do V E tenderam a cair e retornaram a valores semelhantes aos do pré-operatório em 5 anos, sendo observada no mesmo período a manutenção dos benefícios hemodinâmicos demonstrados após o procedimento. A eletrocardiografia dinâmica mostrou que a incidência de arritmias ventriculares e de fibrilação atrial não se modificou após a cardiomioplastia. Finalmente, dos 5 pacientes que completaram 5 anos de seguimento, 3 faleceram por progressão de insuficiência cardíaca e 1 por morte súbita até os 73 meses de pós-operatório. Além disso, o estudo anatomopatológico mostrou a existência de infiltração gordurosa no enxerto muscular em 9 pacientes que faleceram entre 20 e 73 meses de pós-operatório, sendo observadas alterações mais intensas do enxerto em pacientes com maior tempo de seguimento. Em conclusão, a cardiomioplastia melhora a condição clínica e a função ventricular esquerda de pacientes com cardiomiopatia dilatada. A sobrevida no pós-operatório tardio do procedimento é limitada, no entanto, em pacientes operados em classe funcional IV. Além disso, os benefícios da cardiomioplastia sobre a função sistólica do VE podem estar restritos a poucos anos de pósoperatório, fato que parece estar associado à degeneração tardia do enxerto muscular.

Cardiomioplastia; Insuficiência cardíaca; Insuficiência cardíaca; Miocardiopatias


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