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Perímetro do abdômen é o melhor indicador antropométrico de riscos para doenças cardiovasculares

Abdominal perimeter is the best anthropometric risk indicator of cardiovascular diseases

Resumos

Os objetivos deste estudo foram: a) verificar a prevalência de gordura corporal inadequada por meio do índice de massa corpórea (IMC), perímetro do abdômen (PAB) e gordura corporal relativa (G%), e indicadores bioquímicos de risco para doenças cardiovasculares; b) analisar quais indicadores de gordura corporal refletem melhor os fatores bioquímicos. Em 125 homens foram mensurados: IMC, G%, PAB, glicemia, triglicerídeos, colesterol total, lipoproteínas de alta densidade (HDL) e lipoproteínas de baixa densidade (LDL). Mais da metade da amostra (56,8%) apresentou baixos valores de HDL e elevados valores de IMC (58,4%) e G% (53,6%). Menor prevalência de sujeitos foi observada com elevados valores de LDL (40,8%), PAB (38,4%), triglicerídeos (34,8%), glicemia (27,2%) e colesterol total (15,2%). O PAB associou-se com quatro indicadores bioquímicos, enquanto que a G% com três e o IMC somente com dois. A prevalência dos fatores de risco foi elevada. O PAB >92cm mostrou-se o melhor indicador de gordura, apontando que os homens estão expostos a elevados valores de LDL, colesterol total, triglicerídeos e glicemia.

Cardiopatias; Obesidade; Dislipidemias; Antropometria; Topografia da gordura


The objectives of this study were: a) to determine the prevalence of inadequate body fat determined based on body mass index (BMI), abdominal perimeter (AP) and relative body fat (%F), and biochemical indicators of cardiovascular risk, and b) to examine which body fat indicators better reflect the biochemical factors. BMI, %F, AP, glucose, triglycerides, total cholesterol, high-density lipoprotein (HDL), and low-density lipoprotein (LDL) were measured in 125 men. More than half the sample (56.8%) had low HDL and high BMI (58.4%) and %F (53.6%). There was a lower percentage of subjects with elevated LDL (40.8%), AP (38.4%), triglycerides (34.8%), glucose (27.2%), and total cholesterol (15.2%). AP was associated with four biochemical markers, whereas %F was associated with three and BMI with only two. The prevalence of risk factors was high. An AP >92 cm proved to be the best fat indicator, demonstrating that men are exposed to high levels of LDL, total cholesterol, triglycerides, and glucose.

Heart diseases; Obesity; Dyslipidemias; Anthropometry; Fat topography


ARTIGO ORIGINAL

Perímetro do abdômen é o melhor indicador antropométrico de riscos para doenças cardiovasculares

Abdominal perimeter is the best anthropometric risk indicator of cardiovascular diseases

Maria Fátima GlanerI; Andreia PelegriniII, III; Thales Boaventura Rachid NascimentoIV

IUniversidade Estadual de Londrina. Centro de Educação Física e Esporte. Departamento de Educação Física. Londrina, Paraná, Brasil

IIUniversidade Federal de Santa Catarina. Centro de Desportos. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Florianópolis, SC. Brasil

IIIUniversidade Estadual do Oeste do Paraná. Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras. Colegiado de Educação Física. Marechal Cândido Rondon, PR.Brasil

IVBolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Brasília, DF. Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria Fátima Glaner Quadra 201, Lote 6, Bloco B - apt. 803 CEP: 71937-540 - Águas Claras / Brasília - DF E-mail: mfglaner@gmail.com

RESUMO

Os objetivos deste estudo foram: a) verificar a prevalência de gordura corporal inadequada por meio do índice de massa corpórea (IMC), perímetro do abdômen (PAB) e gordura corporal relativa (G%), e indicadores bioquímicos de risco para doenças cardiovasculares; b) analisar quais indicadores de gordura corporal refletem melhor os fatores bioquímicos. Em 125 homens foram mensurados: IMC, G%, PAB, glicemia, triglicerídeos, colesterol total, lipoproteínas de alta densidade (HDL) e lipoproteínas de baixa densidade (LDL). Mais da metade da amostra (56,8%) apresentou baixos valores de HDL e elevados valores de IMC (58,4%) e G% (53,6%). Menor prevalência de sujeitos foi observada com elevados valores de LDL (40,8%), PAB (38,4%), triglicerídeos (34,8%), glicemia (27,2%) e colesterol total (15,2%). O PAB associou-se com quatro indicadores bioquímicos, enquanto que a G% com três e o IMC somente com dois. A prevalência dos fatores de risco foi elevada. O PAB >92cm mostrou-se o melhor indicador de gordura, apontando que os homens estão expostos a elevados valores de LDL, colesterol total, triglicerídeos e glicemia.

Palavras-chave: Cardiopatias; Obesidade; Dislipidemias; Antropometria; Topografia da gordura.

ABSTRACT

The objectives of this study were: a) to determine the prevalence of inadequate body fat determined based on body mass index (BMI), abdominal perimeter (AP) and relative body fat (%F), and biochemical indicators of cardiovascular risk, and b) to examine which body fat indicators better reflect the biochemical factors. BMI, %F, AP, glucose, triglycerides, total cholesterol, high-density lipoprotein (HDL), and low-density lipoprotein (LDL) were measured in 125 men. More than half the sample (56.8%) had low HDL and high BMI (58.4%) and %F (53.6%). There was a lower percentage of subjects with elevated LDL (40.8%), AP (38.4%), triglycerides (34.8%), glucose (27.2%), and total cholesterol (15.2%). AP was associated with four biochemical markers, whereas %F was associated with three and BMI with only two. The prevalence of risk factors was high. An AP >92 cm proved to be the best fat indicator, demonstrating that men are exposed to high levels of LDL, total cholesterol, triglycerides, and glucose.

Key words: Heart diseases; Obesity; Dyslipidemias; Anthropometry; Fat topography.

INTRODUÇÃO

O excesso de gordura corporal é fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis, como as cardiovasculares, o diabetes e a hipertensão arterial1. O acúmulo excessivo de gordura na região central do corpo é um dos indicadores para o diagnóstico da síndrome metabólica2 e está relacionado ao surgimento de dislipidemias3 e ao diabetes4.

Elevados valores de triglicerídeos, colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e glicemia em jejum, e baixos valores de lipoproteínas de alta densidade (HDL), são fatores bioquímicos de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas5,6. Estudos4,7-9 demonstram o relacionamento de diferentes indicadores de gordura corporal, como o índice de massa corporal (IMC), o perímetro do abdômen (PAB) e a gordura corporal relativa (G%), com os fatores bioquímicos de risco para as doenças cardiovasculares, no entanto, os resultados são contraditórios. Os pontos de corte destes indicadores, também, podem não ser os mais apropriados para determinados grupos populacionais10,11. No caso da G%, a técnica usada para sua quantificação deve ser a mesma que derivou os pontos de corte. Por um lado, as técnicas de campo, como a antropometria, baratas e são realizáveis em larga escala. Por outro lado, as técnicas laboratoriais são relativamente mais acuradas, porém com menor aplicabilidade, como a absortometria de raio X de dupla energia (DXA).

Os estudos previamente citados, envolvendo fatores bioquímicos de risco cardiovascular e indicadores de gordura, são, em grande parte, realizados em populações homogêneas e de raça pouco mesclada. Existe a necessidade de evidências envolvendo amostras da população brasileira, a qual é predominantemente multirracial. Diante do exposto, e em razão dos fatores bioquímicos de risco serem processos assintomáticos, que podem permanecer assim por longos períodos, os objetivos deste são: a) verificar a prevalência de gordura corporal inadequada por meio do IMC, PAB e G%, e indicadores bioquímicos de risco para doenças cardiovasculares; b) analisar quais indicadores de gordura corporal refletem melhor os fatores bioquímicos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Amostra

A amostra inicial foi composta por 200 funcionários de uma metalúrgica, todos voluntários, que atuam na administração, manufatura, transporte e venda do metal. Foram excluídos da amostra os sujeitos que se enquadraram em uma ou mais das categorias seguintes: não seguiram o jejum alimentar de 12h; usavam repositores hormonais orais ou injetáveis, remédios antilipêmicos e para o controle do diabetes; fumavam; ingeriam bebidas alcóolicas de forma regular (mais do que dois dias na semana); apresentaram mal estar agudo como vertigens ou febre, ou crônico, como esclerose das veias dos braços; possuiam triglicérides >400mg/dL. A amostra final foi composta por 125 homens, com idade média de 35,6 (desvio padrão= 10,7) anos. A maioria deles é advinda da região Nordeste (48,3%) seguida da Centro-Oeste (35,3%); 15,3% são da região Sudeste e 1,1% da região Sul do Brasil.

Procedimentos para coleta

Durante uma aula de ginástica laboral, todos os funcionários da empresa foram informados previamente sobre o propósito em questão e orientados para seguir o jejum alimentar de 12h. Todos que concordaram em participar assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que detalhava os procedimentos que seriam realizados para a coleta de dados, e que lhes garante o total anonimato. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (Parecer nº 04/2005), consoante à Declaração de Helsinki.

Coleta de dados

A massa corporal (MC) e a estatura (ES) foram mensuradas em uma balança Filizola (escala de 0,1 kg) com estadiômetro acoplado (escala de 0,5 cm). O índice de massa corporal foi obtido pela expressão: IMC= MCkg / ESm². O perímetro do abdômen (PAB) foi medido, com uma fita métrica, a 2,5cm acima da cicatriz umbilical. Todas as medidas antropométricas seguiram os procedimentos descritos em Petroski12.

A gordura corporal total, expressa em termos relativos (G%), foi obtida por absortometria de raio X de dupla energia (DXA). Todos os procedimentos descritos no manual do equipamento (Lunar, DPX-IQ, software v. 4.7e) foram seguidos rigorosamente. As medidas antropométricas e análise dos exames de DXA para obter a G% foram feitas por um único avaliador, cujo erro técnico de medida é inferior a 1% para as variáveis antropométricas e, <1,6% (coeficiente de variação) para a G% via DXA.

Para obter os valores de glicemia, triglicerídeos, colesterol total e HDL foi coletado sangue em uma das veias da fossa antecubital do braço. Aproximadamente, 3 mL de sangue foram coletados em cada tubo a vácuo (Bencton Dickinson), um com EDTA e outro com fluoreto. Os tubos com o sangue foram colocados em uma caixa térmica com gelo. O tempo entre a coleta e a centrifugação não excedeu a 2h. Para as análises bioquímicas, foi usado um espectrofotômetro semi-automático da Bioplus, modelo BIO-2000. Os reagentes bioquímicos usados foram da marca Doles. Foram seguidos todos os procedimentos descritos pelos fabricantes do espectrofotômetro e dos reagentes. Os valores das LDL foram obtidos usando os resultados de triglicerídeos (TG), colesterol total (CT) e HDL, a partir da fórmula [LDL= CT-(HDL+TG÷5)] de Friedewald, Levy e Fredrickson13.

A categorização considerada normal, usada nas análises estatísticas, foi: HDL>40mg/dL; LDL >100mg/dL; colesterol total <200mg/dL; triglicerídeos <150mg/dL; glicemia <100mg/dL e PAB <92cm, conforme a International Diabetes Federation - IDF14. Esta sugere: para sul americanos deve ser adotado o mesmo (90cm) ponto de corte que para os sul asiáticos; para europeus 94cm. Devido as características da amostra, optou-se por um ponto de corte intermediário, 92cm. Ainda, o IMC foi considerado normal, sendo <25kg/m2, conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde15, e a G% <19%16. Valores opostos a estes compuseram a categoria elevada.

Análise estatística

Todas as variáveis, exceto massa corporal e estatura, foram trabalhadas de forma dicotômica: normal e elevado ou baixo. Utilizou-se o teste qui-quadrado para comparar as freqüências entre as categorias das variáveis antropométricas e os indicadores de risco cardiovascular. A associação entre o desfecho/acontecimento (indicadores de risco cardiovascular) e as variáveis independentes/fator (antropometria) foi analisada por meio da análise de regressão logística. Em todas as análises foi fixado o nível de significância de 5% (p < 0,05 ou IC 95%). Para as análises, foi usado o Statistical Package for the Social Sciences - versão 15.0, com licença de uso.

RESULTADOS

A tabela 1 apresenta as características antropométricas, G% e bioquímicas da amostra. Os valores médios do IMC e da G% indicam um quadro de sobrepeso, enquanto o HDL está abaixo do recomendado. Os valores médios do PAB e demais variáveis bioquímicas estão conforme os valores de referência normais14.

As associações entre os indicadores de gordura e os fatores de risco para as doenças cardiovasculares estão na tabela 2. Foi verificada associação entre: o IMC com a LDL (χ2= 5,27; p= 0,017) e os triglicerídeos (χ2= 8,84; p= 0,002); o perímetro do abdômen com a LDL (χ2= 5,76; p= 0,014), colesterol total (χ2= 8,54; p= 0,004), triglicerídeos (χ2= 10,5; p= 0,001) e glicemia (χ2= 4,18; p= 0,034); a G% com a LDL (χ2= 10,0; p= 0,001), colesterol total (χ2= 11,6; p <0,0001) e triglicerídeos (χ2= 11,7; p= 0,001). Mais da metade da amostra apresentou valores elevados de IMC (58,4%), G% (53,6%) e HDL (56,8%); seguido da LDL (40,8%), PAB (38,4%), triglicerídeos (34,8%), glicemia (27,2%) e colesterol total (15,2%). Maior proporção de indivíduos com IMC >25kg/m2 tinha LDL e triglicerídeos elevados. Os indivíduos com PAB >92cm, também, em maior proporção, tiveram LDL, colesterol total, triglicerídeos e glicemia elevados. Entre aqueles com %G >19%, encontrou-se maior proporção de sujeitos com LDL, colesterol total e triglicerídeos elevados.

Na tabela 3, estão apresentadas as associações (regressão logística), do IMC, PAB e G% com os demais fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Encontrou-se associação entre o IMC com a LDL [OR= 2,40; IC (95%): 1,13-5,11; p <0,05] e os triglicerídeos [OR= 3,24; IC (95%): 1,47-7,16; p <0,05]. Houve associação entre o perímetro do abdômen e, o LDL [OR= 2,46; IC (95%): 1,17-5,16; p <0,05], o colesterol total [OR= 4,4; IC (95%): 1,54-12,54; p <0,05], os triglicerídeos [OR= 3,43; IC (95%): 1,60-7,33; p <0,05] e a glicemia [OR= 2,29; IC (95%): 1,03-5,11; p <0,05]. A G% associou-se com as variáveis LDL [OR= 3,33; IC (95%): 1,56-7,11; p <0,05], colesterol total [OR= 9,52 (95%): 2,10-43,27; p <0,05] e triglicerídeos [OR= 3,79; IC (95%): 1,73-8,27; p <0,05].

DISCUSSÃO

Os objetivos deste estudo foram: a) verificar a prevalência de gordura corporal inadequada por meio do IMC, PAB e G%, e indicadores bioquímicos de risco para doenças cardiovasculares; b) analisar quais indicadores de gordura corporal refletem melhor os fatores bioquímicos. Constatou-se que mais da metade da amostra (56,8%) apresentou baixos valores de HDL e elevados valores de IMC (58,4%) e G% (53,6%). Menor prevalência de sujeitos foi observada com elevados valores de LDL (40,8%), PAB (38,4%), triglicerídeos (34,8%), glicemia (27,2%) e colesterol total (15,2%). As prevalências dos fatores de risco correspondentes aos analisados em outros estudos são inferiores17,18 e superiores19,20, inclusive em relação a siderúrgicos e metalúrgicos21. Isto retrata a grande variabilidade entre amostras de diferentes regiões do Brasil, mesmo com ocupações similares. A comparação com outros estudos/amostras é afetada por fatores individuais diversificados, além dos diferentes pontos de corte usados em cada estudo. Hábitos alimentares, características étnicas e genéticas podem influenciar os fatores de risco para doenças cardiovasculares. Por essa razão, as prevalências e associações constatadas no presente estudo representam uma população masculina com características semelhantes às da amostra em questão. Ainda, reporta-se a necessidade de planejamento de ações direcionadas/específicas à prevenção e ao monitoramento destes fatores de risco, considerando as diferenças demográficas, sócioeconômicas e de estilo de vida22,23. Consequentemente, o panorama das doenças cardiovasculares pode ser modificado drasticamente nas próximas cinco décadas22.

Inicialmente, os resultados demonstram associação entre os indicadores de gordura corporal e bioquímicos, conforme evidenciado em outros estudos1,4,20. De modo geral, indivíduos com IMC >25kg/m2, G% >19% e PAB >92cm apresentam um maior risco de ser acometidos por doenças cardiovasculares. Proporções significativas de sujeitos com estas características antropométricas apresentaram elevados valores de LDL, triglicerídeos, colesterol total e glicemia. No entanto, as associações entre as frequências dos indicadores antropométricos e bioquímicos apontam que o PAB é o melhor indicador, seguido da G%, ficando o IMC por último. Em outro estudo24, com delineamento diferenciado do presente, foi evidenciado que o PAB, medido 2,5cm acima da cicatriz umbilical, explicou 78% da G% abdominal, medida por DXA, em homens. Na mesma amostra, as dobras cutâneas abdominal (67%), suprailíaca (53%) e axilar média (66%) explicaram a G% abdominal em menor magnitude.

O PAB associou-se com quatro, dos cinco indicadores bioquímicos, enquanto que a G% com três e o IMC somente com dois. Estes resultados corroboram as evidências existentes7,9,20,25. O PAB (>90 cm) também tem se mostrado um preditor independente de ocorrência de desfechos como angina, intervenção coronária percutânea e óbito, em homens após intervenção coronária percutânea, enquanto o IMC não foi preditor em nenhum dos sexos26. A gordura acumulada no tronco, medida por DXA, também explicou diretamente e significativamente o colesterol total, triglicerídeos, HDL e LDL, enquanto a G% não apresentou a mesma capacidade27. Os resultados obtidos no presente estudo, mais as evidências reportadas em outros, apontam que uma medida antropométrica simples - PAB, se mostra mais eficiente do que a G% obtida por um procedimento laboratorial, de custo elevado e pouca aplicabilidade.

Em adição, os resultados da análise logística mostram que o IMC >25kg/m2 duplica as chances para apresentar LDL elevado e triplica para os triglicerídeos. A G% >19% indica grande potencial para elevação do colesterol total (9,52), triglicerídeos (3,79) e LDL (3,33); enquanto, o PAB >92cm duplica as chances para apresentar as LDL e glicemia elevadas, triplica para os triglicerídeos e quadruplica para colesterol total elevados. Estes fatores de risco se manifestam tanto em homens que estão nos limiares inferiores, dos pontos de corte, como nos que estão acima16.

O PAB foi o único indicador de gordura corporal que se associou com a glicemia, reforçando o papel determinante do acúmulo de gordura na região central do corpo e também na gênese do diabetes mellitus 2 4,9,28.

No Brasil, tem-se observado o uso frequente do ponto de corte >102 cm para o PAB, sendo um dos critérios para o diagnóstico da síndrome metabólica2. A IDF14 recomenda para o mesmo propósito PAB >94 cm para homens europeus, e >90 cm para homens sul-asiáticos/chineses, sul-americanos/africanos e japoneses. Como a amostra deste estudo é miscigenada, optou-se por um ponto de corte intermediário (PAB >92 cm). Evidências em outros estudos dão suporte à utilização de um ponto de corte inferior a 102 cm9,25,26. Indivíduos com maior propensão ao surgimento de alterações metabólicas, em razão do acúmulo de gordura na região central do corpo, poderiam ser identificados em estágios mais precoces quando usado o PAB >92 cm. Em oposição, se usado o PAB >102 cm, sujeitos podem ser identificados em estágios mais avançados, favorecendo possíveis complicações de maior gravidade.

A principal limitação do presente estudo deve-se a grande diversidade étnica (miscigenação) da amostra, característica de Brasília - DF, por agregar em curto espaço de tempo, pessoas oriundas de diferentes regiões do Brasil, pode gerar interpretações menos acuradas. Tal fato se processa pela particularidade de cada etnia, que pode refletir: quantidades e deposição de gordura corporal diferentes para uma mesma medida, quando comparada a outras etnias29; distintos hábitos alimentares e comportamentos sócioculturais, como a prática de exercícios físicos. Agregado a isto, reforça-se a necessidade de mais estudos buscando identificar/estabelecer pontos de corte mais acurados, para os diferentes fatores de risco cardiovascular, em função da diversidade étnico-cultural da população brasileira. Por outro lado, Brasília - DF, é um nicho brasileiro que favorece, em uma amostragem, uma representação nacional, possibilitando, desta forma, uma representação mais aproximada do que seria uma evidência obtida em uma única amostra oriunda das diferentes regiões do país.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos mostram que a prevalência dos fatores de risco, gordura corporal inadequada e fatores bioquímicos, foi alta. O PAB >92 cm mostrou-se o melhor indicador em relação à G% >19% e ao IMC >25 kg/m2, apontando que os homens estão expostos a apresentar quatro fatores elevados (LDL, colesterol total, triglicerídeos e glicemia), dos cinco analisados.

Recebido em 27/04/10

Revisado em 15/06/10

Aprovado em 22/07/10

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  • Endereço para correspondência:
    Maria Fátima Glaner
    Quadra 201, Lote 6, Bloco B - apt. 803
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Set 2011
    • Data do Fascículo
      Fev 2011

    Histórico

    • Revisado
      15 Jun 2010
    • Recebido
      27 Abr 2010
    • Aceito
      22 Jul 2010
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