RESUMO
Este artigo teve como objetivo avaliar a frequência de homens e mulheres, as médias da prova de ingresso e de nota de candidatura ao ensino superior, bem como a opção de candidatura, em todos cursos de esporte, em Portugal. Os dados foram coletados no site da Direção-Geral do Ensino Superior. Os resultados mostram que há diferenças estatisticamente significativas em termos de representatividade de género, favoráveis aos homens em todos os cursos esportivos. Não obstante as mulheres apresentarem médias de ingresso e de nota de candidatura iguais ou superiores às dos homens, são estes que mais frequentemente são colocados em todas as opções de candidatura. As mulheres parecem continuar a evitar as áreas do esporte como áreas do ensino superior.
Palavras-chave:
Ensino Superior; Esporte; Desigualdade de gênero; Escolha da profissão
ABSTRACT
This article aimed to evaluate the frequency of men and women, the averages of the entrance test and application grade to higher education, as well as the option of applying, in all sport courses, in Portugal. The data was collected on the website of the General Directorate for Higher Education. The results show that there are statistically significant differences in terms of gender representation, favorable to men in all courses in sports. Despite the fact that women have average entry and application grade averages equal to or higher than those of men, these are the ones that are most frequently placed in all application options. Women seem to continue to avoid areas of sport as areas of higher education.
Keywords:
Higher Education; Sports; Gender inequality; Career choice
RESUMEN
Este artículo tuvo como objetivo evaluar la frecuencia de hombres y mujeres, los promedios de la prueba de ingreso y la calificación de la aplicación a la educación superior, así como la opción de postularse en los cursos de deporte, en Portugal. Los datos se recogieron en la página web de la Dirección General de Educación Superior. Resultados muestran que existen diferencias estadísticamente significativas relativas a la representación de género, favorables a los hombres en todos los cursos. A pesar de que las mujeres tienen las mismas o mejores tasas de ingreso y calificación de candidatura que los hombres, son ellos que se colocan con mayor frecuencia en todas las opciones de candidatura. Las mujeres parecen seguir evitando el deporte como área de educación superior.
Palabras clave:
Educación Superior; Deporte; Desigualdad de género; Selección de profesión
INTRODUÇÃO
Embora as mulheres sejam cada vez mais participativas na vida esportiva, profissional e acadêmica (IPDJ, 2020IPDJ: Instituto Português do Desporto e Juventude. Estatísticas: praticantes federados [Internet]. Lisboa; 2020 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://ipdj.gov.pt/estatísticas
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; FFMS, 2020aFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. Estudantes matriculados pela 1,ª vez no ensino superior: total e por sexo. Lisboa; 2020a., bFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. Diplomados no ensino superior: total e por sexo. Lisboa; 2020b., cFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. População activa: total e por sexo. Lisboa; 2020c.), continua a destacar uma sub-representação destas nas áreas de estudo e nas profissões relacionadas ao esporte.
No nível esportivo, as estatísticas mostram que a participação das portuguesas no esporte federado passou de 18,6% em 2003 para 30,43% em 2018 (IPDJ, 2020IPDJ: Instituto Português do Desporto e Juventude. Estatísticas: praticantes federados [Internet]. Lisboa; 2020 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://ipdj.gov.pt/estatísticas
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). No nível profissional, em 2020, 49,3% da população ocupada eram mulheres (FFMS, 2020cFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. População activa: total e por sexo. Lisboa; 2020c.). E, no nível acadêmico, o número de mulheres nas universidades portuguesas é ligeiramente maior do que o dos homens, tanto na entrada quanto na saída da academia. Em 2020, 55,29% dos estudantes matriculados pela primeira vez nas universidades eram mulheres, e 58,49% dos estudantes que recebem o diploma de ensino superior, também eram mulheres (FFMS, 2020aFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. Estudantes matriculados pela 1,ª vez no ensino superior: total e por sexo. Lisboa; 2020a., bFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. Diplomados no ensino superior: total e por sexo. Lisboa; 2020b.).
No entanto, entrar no mercado de trabalho e progressão de carreira, as restrições pelas quais as mulheres passam são mais do que evidentes. Vários autores relatam a existência de discriminação contra mulheres tanto na contratação quanto na promoção e colocação em um lugar de topo (Cunningham e Singer, 2010Cunningham GB, Singer JN. “You’ll face discrimination wherever you go”: student athletes’ intentions to enter the coaching profession. J Appl Soc Psychol. 2010;40(7):1708-27. http://dx.doi.org/10.1111/j.1559-1816.2010.00636.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1559-1816.20...
; Hinojosa-Alcalde et al., 2017Hinojosa-Alcalde I, Andrés A, Serra Payeras P, Vilanova A, Soler S, Norman L. Understanding the gendered coaching workforce in Spanish sport. Int J Sports Sci Coach. 2017;13:485-95.; Hindman e Walker, 2020Hindman LC, Walker NA. Sexism in professional sports: how women managers experience and survive sport organizational culture. J Sport Manage. 2020;34(1):64-76. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2018-0331.
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). Na área do esporte, as estatísticas de género do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) mostram que, entre 2012 e 2014, a nível europeu, o número de mulheres que trabalham nessa área diminuiu, enquanto o número de homens aumentou. Com base nos dados disponíveis de sete Estados-Membros da União Europeia, estima-se que apenas 20% a 30% de todos os treinadores esportivos na Europa são mulheres (European Commission, 2014European Commission. Gender equality in sport proposal for strategic actions 2014-2020 [Internet]. Brussels; 2014 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://ec.europa.eu/assets/eac/sport/events/2013/documents/20131203-gender/final-proposal-1802_en.pdf
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).
Por sua vez, as mulheres treinadoras esportivas são mais numerosas nos esportes que têm uma elevada proporção de participantes do sexo feminino (e.g., dança, ginástica, patinagem artística), trabalhando predominantemente em competições a nível local e regional (Banu-Lawrence et al., 2020Banu-Lawrence M, Frawley S, Hoeber L. Women and leadership development in australian sport organizations. J Sport Manage. 2020;34(6):568-78. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0039.
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). Em Portugal, segundo dados do Comité Olímpico (2013Comité Olímpico. A igualdade de género no esporte. Estrelas de Papel; 2013.), a participação das mulheres no treino esportivo era de apenas 16%.
Dados do relatório sobre mulheres no poder e na tomada de decisões, elaborado pelo EIGE, mostram que, a nível europeu, em média, as mulheres ocupam 14% das posições de decisão nas confederações esportivas olímpicas continentais. Nas 28 confederações analisadas, um total de 91 mulheres, apenas uma mulher ocupou o cargo de presidente, e oito, vice-presidente. No governo, apenas 6 dos 28 ministros responsáveis pelo esporte eram mulheres (European Commission, 2014European Commission. Gender equality in sport proposal for strategic actions 2014-2020 [Internet]. Brussels; 2014 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://ec.europa.eu/assets/eac/sport/events/2013/documents/20131203-gender/final-proposal-1802_en.pdf
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). Em Portugal, segundo estudo da Informa D&B (2013Informa D&B. Informa D&B Database-Portuguese. Lisboa; 2013.), em 2012 o percentual de mulheres em funções de gestão e gestão esportiva foi de 31,1%.
Por estarem em desvantagem nessas áreas, as mulheres que têm sucesso em suas carreiras, no entanto, veem seu capital social menor e mais difícil de aumentar do que os homens. Tudo isso leva à percepção de que, para serem aceitas e obter o mesmo reconhecimento que os homens nessas áreas, as mulheres precisam trabalhar muito mais (Hindman e Walker, 2020Hindman LC, Walker NA. Sexism in professional sports: how women managers experience and survive sport organizational culture. J Sport Manage. 2020;34(1):64-76. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2018-0331.
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; Micelotta et al., 2018Micelotta E, Washington M, Docekalova I. Industry gender imprinting and new venture creation: the liabilities of women’s leagues in the sports industry, entrepreneurship. Theory Pract. 2018;42(1):94-128. http://dx.doi.org/10.1177/1042258717732778.
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; Saavedra et al., 2010Saavedra L, Taveira MC, Silva AD. A subrepresentatividade das mulheres em áreas tipicamente masculinas: Factores explicativos e pistas para a intervenção. Rev Bras Orientaç Prof. 2010;11(1):49-59.).
DESIGUALDADES DE OPORTUNIDADES ENTRE HOMENS E MULHERES
A literatura (por exemplo, Chang et al., 2021Chang Y, Schull V, Kihl LA. Remedying stereotype threat effects in spectator sports. J Sport Manage. 2021;35(2):172-84. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0011.
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; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
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; Padavic et al., 2020Padavic I, Ely RJ, Reid E. Explaining the persistence of gender inequality: the work-family narrative as a social defense against the 24/7 work culture. Adm Sci Q. 2020;65(1):61-111. http://dx.doi.org/10.1177/0001839219832310.
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; Serra Payeras et al., 2018Serra Payeras P, Soler S, Prat M, Vizcarra MT, Garay B, Flintoff A. The (in)visibility of gender knowledge in the Physical activity and sport science degree in Spain. Sport Educ Soc. 2018;23(4):324-38. http://dx.doi.org/10.1080/13573322.2016.1199016.
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, 2019Serra Payeras P, Soler Prat S, Vilanova Soler A, Hinojosa-Alcalde I. Masculinización en estudios de las ciencias de la actividad física y el deporte. Apunt Educ Física Deport. 2019;1(135):9-25. http://dx.doi.org/10.5672/apunts.2014-0983.es.(2019/1).135.01.
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) aponta a existência de diversos fatores na origem das desigualdades de oportunidades profissionais entre homens e mulheres no esporte, seja a escolha dos estudos universitários, o tipo de prática esportiva ou o desempenho das profissões esportivas, e a maioria desses fatores encontra fundamentado no facto de que o género é socialmente construído.
Embora os homens e as mulheres sejam mais semelhantes do que os seus traços e competências, a realidade é que os diferentes comportamentos e perspetivas face aos diferentes papéis da vida continuam a condicionar as escolhas de carreira das mulheres, que continuam a eleger, na sua maioria, áreas tradicionalmente femininas (Betz e Hackett, 1981Betz NE, Hackett G. The relationship of career-related self-efficacy expectations perceived career options in college women and men. J Couns Psychol. 1981;28(5):399-410. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5.399.
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; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
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; Padavic et al., 2020Padavic I, Ely RJ, Reid E. Explaining the persistence of gender inequality: the work-family narrative as a social defense against the 24/7 work culture. Adm Sci Q. 2020;65(1):61-111. http://dx.doi.org/10.1177/0001839219832310.
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; Saavedra et al., 2010Saavedra L, Taveira MC, Silva AD. A subrepresentatividade das mulheres em áreas tipicamente masculinas: Factores explicativos e pistas para a intervenção. Rev Bras Orientaç Prof. 2010;11(1):49-59.; Stickel e Bonett, 1991Stickel SA, Bonett RM. Gender differences in career self-efficacy: combining a career with home and family. J Coll Student Dev. 1991;32(4):297-301.). Seja porque eles se mostram mais seguros, na medida em que são percebidos como mais fáceis de combinar com responsabilidades domésticas e familiares (Stickel e Bonett, 1991Stickel SA, Bonett RM. Gender differences in career self-efficacy: combining a career with home and family. J Coll Student Dev. 1991;32(4):297-301.), ou porque, desde cedo, estereótipos tradicionais de papéis de género estão enraizados, muitas vezes levando a crenças como “essa é a profissão de um homem”, ou “Eu nunca serei capaz de alcançar o sucesso do meu semelhante”, minando as crenças das mulheres de que elas podem seguir com sucesso uma carreira não tradicional (Betz e Hackett, 1981Betz NE, Hackett G. The relationship of career-related self-efficacy expectations perceived career options in college women and men. J Couns Psychol. 1981;28(5):399-410. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5.399.
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; Cunningham e Singer, 2010Cunningham GB, Singer JN. “You’ll face discrimination wherever you go”: student athletes’ intentions to enter the coaching profession. J Appl Soc Psychol. 2010;40(7):1708-27. http://dx.doi.org/10.1111/j.1559-1816.2010.00636.x.
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; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
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).
No caso específico do esporte, acrescem ainda as associações do esporte a características consideradas masculinas, como a força física e resistência, a velocidade e um espírito competitivo (Chang et al., 2021Chang Y, Schull V, Kihl LA. Remedying stereotype threat effects in spectator sports. J Sport Manage. 2021;35(2):172-84. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0011.
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). Guillet et al. (2006)Guillet E, Sarrazin P, Fontayne P, Brustad RJ. Understanding female sport attrition in a stereotypical male sport within the framework of Eccles’s Expectancy–Value model. Psychol Women Q. 2006;30(4):358-68. http://dx.doi.org/10.1111/j.1471-6402.2006.00311.x.
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descobriram que as mulheres com pontuação alta numa escala de feminilidade eram mais propensas a abandonar os esportes considerados mais masculinos. Estas descobertas são apoiadas por Crane e Temple (2015)Crane J, Temple V. A systematic review of dropout from organized sport among children and youth. Eur Phys Educ Rev. 2015;21(1):114-31. http://dx.doi.org/10.1177/1356336X14555294.
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, que num estudo sobre evasão de esportes organizados, demonstraram que a percepção de competência e a pressão para se conformar aos estereótipos de género estavam entre os cincos principais fatores associados ao dropout esportivo. As meninas revelaram que se sentiam pressionadas a serem femininas e, se percebessem que o esporte que praticavam as impedia de ser femininas, eram mais propensas a desistir.
Ao mesmo tempo, a falta de modelos femininos em campos dominados por homens pode transmitir a mensagem de que o sucesso neste campo não é possível para as mulheres (Faucett et al., 2017Faucett EA, McCrary HC, Milinic T, Hassanzadeh T, Roward SG, Neumayer LA. The role of same-sex mentorship and organizational support in encouraging women to pursue surgery. Am J Surg. 2017;214(4):640-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017.07.005. PMid:28716310.
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; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
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). A falta de visibilidade na mídia das mulheres atletas e/ou mulheres que exercem funções nessa área, apesar do aumento ocasional da visibilidade das mulheres em eventos como os Jogos Olímpicos (McGannon et al., 2015McGannon KR, Gonsalves CA, Schinke RJ, Busanich R. Negotiating motherhood and athletic identity: A qualitative analysis of Olympic athlete mother representations in media narratives. Psychol Sport Exerc. 2015;20:51-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.psychsport.2015.04.010.
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), além de serem muito baixas, às vezes contribui para a desvalorização do desempenho esportivo feminino, devido à maior ênfase colocada na feminilidade e atratividade sexual do que em suas próprias habilidades (Cooky et al., 2015Cooky C, Messner MA, Musto M. “It’s dude time!” A quarter century of excluding women’s sports in televised news and highlight shows. Communication & Sport. 2015;3(3):261-87. http://dx.doi.org/10.1177/2167479515588761.
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; European Commission, 2014European Commission. Gender equality in sport proposal for strategic actions 2014-2020 [Internet]. Brussels; 2014 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://ec.europa.eu/assets/eac/sport/events/2013/documents/20131203-gender/final-proposal-1802_en.pdf
https://ec.europa.eu/assets/eac/sport/ev...
; Micelotta et al., 2018Micelotta E, Washington M, Docekalova I. Industry gender imprinting and new venture creation: the liabilities of women’s leagues in the sports industry, entrepreneurship. Theory Pract. 2018;42(1):94-128. http://dx.doi.org/10.1177/1042258717732778.
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; Trolan, 2013Trolan EJ. The impact of the media on gender inequality within sport. Procedia Soc Behav Sci. 2013;91:215-27. http://dx.doi.org/10.1016/j.sbspro.2013.08.420.
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).
Para as mulheres que escolhem as áreas do esporte, as dificuldades na progressão de carreira, a falta de apoio dos colegas, a concorrência e a discriminação sexual parecem contribuir para seu futuro afastamento (Skrubbeltrang et al., 2020Skrubbeltrang LS, Karen D, Nielsen JC, Olesen JS. Reproduction and opportunity: a study of dual career, aspirations and elite sports in Danish Sports Classes. Int Rev Sociol Sport. 2020;55(1):38-59. http://dx.doi.org/10.1177/1012690218789037.
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).
É pela necessidade de entender os motivos que levam as mulheres a depreciarem as áreas do esporte, que se torna importante analisar a situação na entrada do ensino superior nessa área, como forma de entender esse fenômeno e pensar em estratégias de intervenção. Assim, este estudo tem como objetivo verificar se existem cursos na área do esporte que são predominantemente escolhidos por homens e/ou mulheres; as médias de prova de ingresso e de nota de candidatura ao ensino superior, dependendo do sexo, curso e ano de colocação e; diferenças na opção de colocação e sua média de acordo com o sexo e ano de colocação.
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO EM PORTUGAL
O sistema educacional português, regulamentado pela Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86, de 14 de outubro), é concebido em três níveis de ensino: básico, secundário e superior, equivalentes no Brasil ao ensino fundamental, médio e superior, respetivamente (Portugal, 1986Portugal. Lei de Bases do Sistema Educativo. Lei nº 46/86, de 14 de outubro [Internet]. Diário da República; Lisboa; 14 out. 1986 [citado em 2021 Set 9], n.º 237/1986, Série I. Disponível em: https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/34444975/view?consolidacaoTag=Educa%C3%A7%C3%A3o+e+Ensino
https://dre.pt/web/guest/legislacao-cons...
).
O ensino superior é organizado em um sistema binário, integrando a educação universitária (voltada para a promoção da pesquisa e criação do conhecimento) e a educação politécnica (voltada para pesquisa e desenvolvimento aplicado), e é ministrada em instituições públicas e privadas.
Para efetivar a Declaração de Bolonha (Portugal, 1999Portugal. The Bolonha Declaration of 19 June 1999: Joint declaration of the European Ministers of Education [Internet]. Diário da República; Lisboa; 1999 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: http://www.bologna-berlin2003.de/pdf/bologna_declaration.pdf
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), desde o ano letivo de 2009/2010, o ensino superior português implementou uma estrutura de três ciclos de estudos: 1º, 2º e 3º ciclos de ensino superior, levando, respetivamente, aos cursos académicos de licenciatura, mestrado e doutorado (DGES, 2021DGES: Direção Geral do Ensino Superior [Internet]. Lisboa; 2021 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistema-de-ensino-superior-portugues
https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistem...
).
Com relação ao ingresso no 1º ciclo do ensino superior público, a candidatura é feita anualmente por meio de concurso nacional, realizado no final do ano letivo, organizado pela Direção-Geral da Educação Superior, em três fases, de acordo com o calendário anual aprovado.
Os requisitos para a candidatura são:
-
Realizar o curso de ensino secundário (equivalente ao ensino médio no Brasil) ou qualificação legalmente equivalente;
-
Realizar, ou ter realizado nos últimos dois anos, os exames nacionais escritos correspondentes às provas de ingresso (equivalente ao vestibular no Brasil) exigidos para os diferentes cursos e instituições que o estudante irá concorrer. As provas de ingresso exigidas para cada curso são fixadas por cada instituição e não podem ser em número superior a dois (História ou Matemática ou História e Matemática). Pode haver conjuntos alternativos de provas, até um máximo de três. As classificações mínimas também são definidas anualmente por cada instituição.
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Realizar os pré-requisitos, se forem exigidos pela instituição para o curso ao qual o estudante concorrerá;
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Não ser abrangido pelo estatuto estudantil internacional regulamentado pelo Decreto-Lei nº 36/2014, de 10 de março, alterado e republicado pelo Decreto-Lei nº 62/2018, de 6 de agosto (DGES, 2021DGES: Direção Geral do Ensino Superior [Internet]. Lisboa; 2021 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistema-de-ensino-superior-portugues
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Após a garantia dos requisitos acima, os estudantes devem calcular uma nota de candidatura, que corresponde à soma da classificação final do ensino secundário (entre 50 e 65%) com a classificação da prova de ingresso (equivalente ao vestibular no Brasil) (entre 35 e 50%), e as instituições de ensino superior são responsáveis pela definição do valor de cada um desses percentuais.
No concurso nacional pode-se concorrer até seis pares de instituição/curso, ou seja, seis combinações diferentes de instituições e cursos, indicados por ordem de preferência.
A colocação em cada instituição/curso é feita de acordo com as listas ordenadas dos candidatos até que as vagas disponíveis sejam esgotadas. Esta ordenação é feita por ordem decrescente da nota de candidatura para cada par instituição/curso. Assim, o processo de colocação combina a ordem de preferência indicada para cada par de instituições/cursos e a posição em que o candidato está nas listas ordenadas de cada par de instituições/cursos. Na candidatura nacional, em cada etapa, só é possível obter uma colocação. Para cada instituição/par de cursos, uma classificação igual ou superior ao fixo mínimo deve ser obtida em cada instituição/curso.
A admissão ao ensino superior público está sujeita a limitações quantitativas decorrentes do número de vagas fixadas anualmente por instituições de ensino superior para cada um de seus cursos. O número de vagas a serem abertas em cada curso em cada instituição de ensino superior é publicado anualmente com o Guia de Inscrição (DGES, 2021DGES: Direção Geral do Ensino Superior [Internet]. Lisboa; 2021 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistema-de-ensino-superior-portugues
https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistem...
).
MÉTODO
Procedimentos
Os dados foram coletados no site da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES, 2021DGES: Direção Geral do Ensino Superior [Internet]. Lisboa; 2021 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistema-de-ensino-superior-portugues
https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/sistem...
), pesquisando individualmente homens e mulheres colocados no Ensino Superior Público, na 1ª fase, nos anos letivos 2018/2019, 2019/2020 e 2020/2021 (para avaliar as possíveis tendências de mudança nos parâmetros em análise), em todas as instituições públicas de ensino superior, pertencentes ao subsistema universitário e politécnico, nos cursos classificados, na Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação (CNAEF), esporte. Por serem cursos pós-trabalho e com um número muito pequeno de estudantes, os cursos de Ciências Esportivas [Pós-Trabalho] e Esportes e Bem-Estar [Pós-Trabalho] foram retirados da amostra.
Por não ser uma investigação que envolvesse experimentos com seres humanos e por não ser uma norma exigida em Portugal, nenhuma submissão foi feita ao Comitê de Ética.
Para cada estudante, foram coletados dados sobre a média da prova de ingresso e de nota de candidatura, e opção em que foi colocado/a (dos seis permitidos pelo formulário de candidatura).
A análise dos dados exportados foi utilizada pela ferramenta de análise estatística IBM SPSS, versão 27, utilizando análises descritivas e análises inferenciais, incluindo o Binominal, Chi-square e T-student Test e ANOVA. Os resultados foram considerados estatisticamente significativos para p≤.05.
Amostra
O estudo envolveu um total de 4.025 estudantes, destes 1.033 (25,7%) eram mulheres e 2.992 (74,3%) homens, sendo distribuídos em 19 instituições (Tabela 1): oito do subsistema universitário (51,3%) e 11 politécnicos (48,7%). Cinco estão localizados no Norte de Portugal (30,4%), 9 no Centro (56,1%), 4 no Sul (11,2%) e 1 na Ilha da Madeira (2,3%).
Os participantes pertencem principalmente ao curso de Ciências do Esporte (46,8%), seguido pelo curso de Esporte (17,6%) (Tabela 2).
RESULTADOS
Representação em função do sexo, curso e ano
No ano letivo de 2018/2019, as mulheres somavam 26,6% da amostra e os homens 73,4%, totalizando 1.228 estudantes. Em 2019/2020, as mulheres somavam 25,1% da amostra e os homens 74,9%, de um total de 1.322 estudantes. Por fim, em 2020/2021, as mulheres somavam 25,4% da amostra e os homens 74,6%, de um total de 1.475 estudantes.
Com exceção dos cursos de Atividade Física e Estilos de Vida Saudáveis e Esportes e Bem-Estar (2018/2019 e 2019/2020), Esporte de Natureza e Turismo Ativo (2018/2019) e Esporte, Condição Física e Saúde (2020/2021), verificam-se, em todos os outros, diferenças estatisticamente significativas em termos de representatividade de género, favorável aos homens (Tabela 2).
Prova de ingresso e de nota de candidatura em função do sexo, curso e ano
Para avaliar se há diferenças entre os sexos em relação à nota da prova de ingresso de nota de candidatura ao ensino superior, foi realizada uma análise da comparação de médias entre género para os diferentes cursos, nos diferentes anos letivos.
Quanto à prova de ingresso, apenas diferenças estatisticamente significativas foram encontradas entre os sexos, com médias favoráveis às mulheres, no ano letivo 2018/2019, em três dos cursos: Esporte (t=2,040; p<,005), Esporte e Atividade Física (t=2,016; p<,005), Gestão de Organizações Esportivas (t=2,544; p<,005) e no ano letivo de 2020/2021, no curso de Ciências Esportivas (t=-2,752; p<,005), favorável aos homens.
Quanto à média da nota de candidatura, no ano letivo de 2018/2019, apenas diferenças estatisticamente significativas foram encontradas entre os sexos em três dos cursos: Esporte (t=3,535; p<,005), Gestão de Organizações Esportivas (t=2,485; p<,005) e Treinamento Esportivo (t=2,368; p<,005), com médias favoráveis para as mulheres. No ano letivo de 2018/2019, apenas diferenças estatisticamente significativas foram encontradas no curso de Ciências Esportivas (t=2,428; p<,005) e, em 2020/2021, nos cursos de Esporte e Atividade Física (t=2,369; p<,005) e Esporte e Bem-Estar (t=2,369; p<,005), em todos estes com os resultados favoráveis às mulheres.
A Tabela 3 mostra a comparação entre os sexos, por ano letivo, em relação à média da prova de ingresso e à nota de candidatura, para todos os cursos. Os resultados mostram que não há diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres em relação aos resultados das provas de ingresso, mas existência de diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres em relação aos resultados das médias de nota de candidatura, com as mulheres apresentando melhores resultados.
Opção de colocação e média de nota de candidatura em função do sexo
Para analisar as diferenças entre os sexos e a opção de candidatura, foram realizados testes de Chi-Square. Foram feitas análises gerais, sem levar em conta o curso, ou seja, considerando apenas a ordem de colocação, bem como a média de nota de candidatura em cada uma das opções dependendo do sexo (Tabela 4). Essas análises foram realizadas para o conjunto dos três anos.
Os resultados permitem verificar se os homens são mais frequentemente colocados em todas as opções, e a diferença entre homens e mulheres é estatisticamente significativa em todas as opções.
Quanto à relação entre sexo, as opções de colocação e a prova de ingresso, não há diferenças estatisticamente significativas. Já no que diz respeito à relação entre sexo, as opções de colocação e média de nota de candidatura, a média de acesso ao ensino superior de homens e mulheres difere apenas substancialmente na 1ª opção (t=4,771; p<,05) e 2ª (t=2,801; p<,05), sendo que as mulheres obtêm médias de colocação superiores.
DISCUSSÃO
A partir da revisão teórica, a sub-representação das mulheres na esfera esportiva e nas profissões relacionadas ao esporte, e consequentemente a falta de modelos femininas nesta área dominada por homens, é indiscutível (Faucett et al., 2017Faucett EA, McCrary HC, Milinic T, Hassanzadeh T, Roward SG, Neumayer LA. The role of same-sex mentorship and organizational support in encouraging women to pursue surgery. Am J Surg. 2017;214(4):640-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017.07.005. PMid:28716310.
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017...
; IPDJ, 2020IPDJ: Instituto Português do Desporto e Juventude. Estatísticas: praticantes federados [Internet]. Lisboa; 2020 [citado em 2021 Set 9]. Disponível em: https://ipdj.gov.pt/estatísticas
https://ipdj.gov.pt/estatísticas...
; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
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; FFMS, 2020cFundação Francisco Manuel dos Santos – FFMS. PORDATA. População activa: total e por sexo. Lisboa; 2020c.). Diferentes formas de reforço ou modelagem social causam aumento na quantidade e frequência de comportamentos de pesquisa e informação. Se as meninas não virem outras meninas e mulheres envolvidas e satisfeitas com seu trabalho na área esportiva, elas tenderão a ter um nível mais baixo de bem-estar, desenvolvendo atitudes menos positivas para seguir uma carreira no esporte (Faucett et al., 2017Faucett EA, McCrary HC, Milinic T, Hassanzadeh T, Roward SG, Neumayer LA. The role of same-sex mentorship and organizational support in encouraging women to pursue surgery. Am J Surg. 2017;214(4):640-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017.07.005. PMid:28716310.
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017...
; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018....
).
Este artigo teve como objetivo analisar a frequência de homens e mulheres, as médias da prova de ingresso e a nota de candidatura para o ensino superior, bem como a opção de candidatura, em todos os cursos da área do esporte, em Portugal.
Na amostra do estudo foi possível identificar uma distribuição desigual entre os sexos nos diferentes cursos, o que chama a atenção para a importância de considerar questões de género em relação a abordagens de orientação vocacional e desenvolvimento de jovens, bem como de igualdade de oportunidades, quando queremos apoiar as escolhas de carreira de mulheres e homens no esporte (Betz e Hackett, 1981Betz NE, Hackett G. The relationship of career-related self-efficacy expectations perceived career options in college women and men. J Couns Psychol. 1981;28(5):399-410. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5.399.
http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5...
; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018....
). Nesse sentido, é essencial apoiar os jovens para uma escolha vocacional mais ajustada a cada situação e desprovida de mecanismos estereotipados que condicionam o futuro de muitas meninas (Hinojosa-Alcalde et al., 2017Hinojosa-Alcalde I, Andrés A, Serra Payeras P, Vilanova A, Soler S, Norman L. Understanding the gendered coaching workforce in Spanish sport. Int J Sports Sci Coach. 2017;13:485-95.; Hindman e Walker, 2020Hindman LC, Walker NA. Sexism in professional sports: how women managers experience and survive sport organizational culture. J Sport Manage. 2020;34(1):64-76. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2018-0331.
http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2018-0331...
).
Como teoricamente esperado, em geral, os resultados da pesquisa mostram que a presença de mulheres nas áreas do esporte é reduzida e estável ao longo dos três anos analisados, parecendo, uma vez mais, ser necessária uma intervenção de fundo focada nas representações sociais de homens e mulheres, e desmitificação relacionada às capacidades de uns e de outros (Chang et al., 2021Chang Y, Schull V, Kihl LA. Remedying stereotype threat effects in spectator sports. J Sport Manage. 2021;35(2):172-84. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0011.
http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0011...
; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018....
; Padavic et al., 2020Padavic I, Ely RJ, Reid E. Explaining the persistence of gender inequality: the work-family narrative as a social defense against the 24/7 work culture. Adm Sci Q. 2020;65(1):61-111. http://dx.doi.org/10.1177/0001839219832310.
http://dx.doi.org/10.1177/00018392198323...
).
Em relação às médias de ingresso e de candidatura ao ensino superior, ao contrário dos resultados de alguns estudos que apontam para melhores resultados escolares femininos em relação aos homens (Almeida et al., 2006Almeida LS, Guisande MA, Soares AP, Saavedra L. Acesso e sucesso no Ensino Superior em Portugal: questões de género, origem sócio-cultural e percurso académico dos alunos. Psicol Reflex Crit. 2006;19(3):507-14. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000300020.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006...
), os resultados obtidos revelaram que, em sua maioria, não há diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres. Assim, na entrada do ensino superior, em Portugal, não parece haver diferenças no nível das provas/médias de acesso que explicam o subsequente domínio do homem no nível de cargos de liderança (Hinojosa-Alcalde et al., 2017Hinojosa-Alcalde I, Andrés A, Serra Payeras P, Vilanova A, Soler S, Norman L. Understanding the gendered coaching workforce in Spanish sport. Int J Sports Sci Coach. 2017;13:485-95.; Hindman e Walker, 2020Hindman LC, Walker NA. Sexism in professional sports: how women managers experience and survive sport organizational culture. J Sport Manage. 2020;34(1):64-76. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2018-0331.
http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2018-0331...
). De fato, homens e mulheres parecem revelar, no início do ensino superior, a capacidade de desempenhar igualmente as tarefas inerentes às escolhas vocacionais que fizeram, provando que a evasão das mulheres nas áreas do esporte não estará relacionada às menores capacidades das mulheres (Betz e Hackett, 1981Betz NE, Hackett G. The relationship of career-related self-efficacy expectations perceived career options in college women and men. J Couns Psychol. 1981;28(5):399-410. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5.399.
http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5...
; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018....
; Padavic et al., 2020Padavic I, Ely RJ, Reid E. Explaining the persistence of gender inequality: the work-family narrative as a social defense against the 24/7 work culture. Adm Sci Q. 2020;65(1):61-111. http://dx.doi.org/10.1177/0001839219832310.
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; Saavedra et al., 2010Saavedra L, Taveira MC, Silva AD. A subrepresentatividade das mulheres em áreas tipicamente masculinas: Factores explicativos e pistas para a intervenção. Rev Bras Orientaç Prof. 2010;11(1):49-59.).
Os resultados da análise entre a opção de colocação no ensino superior e a média de entrada nessa colocação indicam que, nos cursos em análise, os homens tendem a ser colocados em todas as opções indicadas no boletim de candidatura. No entanto, as mulheres colocadas na primeira escolha parecem tender a ter médias de candidatura mais altas do que os homens, embora essa diferença seja apenas estatisticamente significativa para a 1ª e 2ª opções, reiterando que a evasão das mulheres pelas áreas do esporte não estará relacionada às menores capacidades destas (Betz e Hackett, 1981Betz NE, Hackett G. The relationship of career-related self-efficacy expectations perceived career options in college women and men. J Couns Psychol. 1981;28(5):399-410. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5.399.
http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5...
; Padavic et al., 2020Padavic I, Ely RJ, Reid E. Explaining the persistence of gender inequality: the work-family narrative as a social defense against the 24/7 work culture. Adm Sci Q. 2020;65(1):61-111. http://dx.doi.org/10.1177/0001839219832310.
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; Saavedra et al., 2010Saavedra L, Taveira MC, Silva AD. A subrepresentatividade das mulheres em áreas tipicamente masculinas: Factores explicativos e pistas para a intervenção. Rev Bras Orientaç Prof. 2010;11(1):49-59.).
O fato de não ser possível realizar uma análise curso a curso (devido ao fato de alguns deles terem um número muito pequeno de efetivos) impediu uma análise mais detalhada de como mulheres e homens cumprem as diversas opções de candidatura para cada um dos cursos deste estudo. Esses dados levam à especulação acerca da possibilidade de as mulheres tenderem a optar principalmente por cursos tipicamente femininos, escolhendo este último como último recurso e, portanto, colocando-os em um lugar mais baixo no formulário de inscrição, enquanto os homens optam principalmente por esses cursos como sua primeira opção (Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
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; Stickel e Bonett, 1991Stickel SA, Bonett RM. Gender differences in career self-efficacy: combining a career with home and family. J Coll Student Dev. 1991;32(4):297-301.).
Se a questão acadêmica nas áreas do esporte não justifica a assimetria na escolha dos cursos, devemos considerar efetivamente fatores psicológicos e sociais que se encaixam em fatores e processos já mencionados, como a percepção de menor expectativa de autoeficácia nessas áreas em que os comportamentos de instrumentalidade e liderança são dominantes, ameaças a uma certa imagem de feminilidade e percepção da antecipação do conflito familiar-trabalho (Crane e Temple, 2015Crane J, Temple V. A systematic review of dropout from organized sport among children and youth. Eur Phys Educ Rev. 2015;21(1):114-31. http://dx.doi.org/10.1177/1356336X14555294.
http://dx.doi.org/10.1177/1356336X145552...
; Guillet et al., 2006Guillet E, Sarrazin P, Fontayne P, Brustad RJ. Understanding female sport attrition in a stereotypical male sport within the framework of Eccles’s Expectancy–Value model. Psychol Women Q. 2006;30(4):358-68. http://dx.doi.org/10.1111/j.1471-6402.2006.00311.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1471-6402.20...
, Saavedra et al., 2010Saavedra L, Taveira MC, Silva AD. A subrepresentatividade das mulheres em áreas tipicamente masculinas: Factores explicativos e pistas para a intervenção. Rev Bras Orientaç Prof. 2010;11(1):49-59.).
CONCLUSÃO
Os resultados supramencionados vão de encontro ao esperado e atendem ao corpo teórico apresentado, bem como justificam a prossecução dos estudos nesse domínio. Os dados obtidos no estudo empírico, associados ao racional teórico, permitem afirmar que no presente ainda parece existir influência da orientação tradicional de género sobre escolhas de carreira (Micelotta et al., 2018Micelotta E, Washington M, Docekalova I. Industry gender imprinting and new venture creation: the liabilities of women’s leagues in the sports industry, entrepreneurship. Theory Pract. 2018;42(1):94-128. http://dx.doi.org/10.1177/1042258717732778.
http://dx.doi.org/10.1177/10422587177327...
). Claramente, parece ser apropriado afirmar que os cursos de ensino superior na área esportiva, em Portugal, são em sua maioria masculinos. No entanto, é preciso tomar algumas providências com o objetivo de garantir a validade desses resultados. Dessa forma, gostaríamos de mencionar algumas limitações relevantes do presente estudo que podem levar a estudos futuros. O primeiro diz respeito ao fato de os anos estudados, 2018/2019, 2019/2020 e 2020/2021, estarem próximos e, portanto, não permitirem a análise da evolução tanto da frequência de homens e mulheres nessas áreas, quanto no nível de médias e opções de colocação, seja na tipologia dos cursos onde homens e/ou mulheres predominam. Teria sido importante ter uma faixa temporal maior nos anos em análise, mas somente a partir de 2018 os dados estão disponíveis online, e não foi possível obter esses dados de outra forma.
Ao estudo deveriam ser agregadas outras variáveis, referidas na literatura como intimamente associadas às escolhas de carreira, ou seja, a origem social, cultural e econômica dos alunos, bem como algumas variáveis intrínsecas, como a autoeficácia percebida. Pode ser interessante avaliar a autoeficácia das mulheres que estão nos cursos esportivos estudados aqui de acordo com sua escolha no boletim de candidatura. Também seria pertinente comparar esses dados com, por exemplo, dados sobre profissões na área de Educação Física, na tentativa de entender se a sub-representação das mulheres no contexto acadêmico nas áreas do esporte (predominantemente masculino) se traduz no contexto profissional na área da educação (fortemente associado ao estereótipo feminino).
Embora as limitações do estudo realizado não permitam universalizações, consideramos que este estudo poderá contribuir para continuar a promover uma maior sensibilidade às questões de género, de estudantes, pais, professores e resto da comunidade educacional, que devem ser levados a uma consciência dos fatores que condicionam as escolhas de carreira e às consequentes barreiras aos estereótipos de género enraizados no desenvolvimento de qualquer indivíduo. A disseminação de modelos sobre mulheres que se mostraram qualificadas em áreas do esporte comumente associadas aos homens poderá, também, ser uma estratégia fundamental para aumentar essa consciência (Faucett et al., 2017Faucett EA, McCrary HC, Milinic T, Hassanzadeh T, Roward SG, Neumayer LA. The role of same-sex mentorship and organizational support in encouraging women to pursue surgery. Am J Surg. 2017;214(4):640-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017.07.005. PMid:28716310.
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017...
; Oxford e Spaaij, 2019Oxford S, Spaaij R. Gender relations and sport for development in colombia: a decolonial feminist analysis. Leis Sci. 2019;41(1-2):54-71. http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018.1539679.
http://dx.doi.org/10.1080/01490400.2018....
). É de extrema importância que todos apoiem e compartilhem crenças e expectativas semelhantes em relação à participação de mulheres e homens no esporte (Knight et al., 2018Knight KJ, Harwood CG, Sellars PA. Supporting adolescent athletes’ dual careers: the role of an athlete’s social support network. Psychol Sport Exerc. 2018;38:137-47. http://dx.doi.org/10.1016/j.psychsport.2018.06.007.
http://dx.doi.org/10.1016/j.psychsport.2...
). É necessário existir uma percepção conjunta acerca da importância de valorizar os benefícios que decorrem da igualdade de género no desporto e na vida em geral.
FINANCIAMENTO
-
O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.
REFERÊNCIAS
- Almeida LS, Guisande MA, Soares AP, Saavedra L. Acesso e sucesso no Ensino Superior em Portugal: questões de género, origem sócio-cultural e percurso académico dos alunos. Psicol Reflex Crit. 2006;19(3):507-14. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000300020
» http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000300020 - Banu-Lawrence M, Frawley S, Hoeber L. Women and leadership development in australian sport organizations. J Sport Manage. 2020;34(6):568-78. http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0039
» http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2020-0039 - Betz NE, Hackett G. The relationship of career-related self-efficacy expectations perceived career options in college women and men. J Couns Psychol. 1981;28(5):399-410. http://dx.doi.org/10.1037/0022-0167.28.5.399
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
03 Dez 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
-
Recebido
09 Set 2021 -
Aceito
27 Out 2021