EDITORIAL
O desafio permanente de tratar diabéticos com doença arterial coronária complexa
O diabetes melito é fator que reconhecidamente influencia a eficácia da revascularização miocárdica e a seleção da intervenção mais adequada, cirúrgica ou percutânea, é fundamental para oferecer o melhor cuidado ao paciente com doença coronária multiarterial. Desde meados da década de 1990, com a publicação dos resultados do estudo BARI, o diabetes tornou-se variável importante a ser considerada nas decisões de clínicos, intervencionistas e cirurgiões cardíacos. Nesse período, testemunhamos uma série de estudos que compararam a cirurgia com a intervenção percutânea mais contemporânea, com resultados que indicavam mortalidade comparável entre as duas estratégias. Os estudos mais recentes, que empregaram stents farmacológicos, tinham seus resultados vistos com cautela, por serem provenientes de estudo randomizado sem poder estatístico ou de análise de subgrupo. O estudo randomizado FREEDOM, com 1.900 pacientes, apresentado em novembro de 2012 em sessão científica da American Heart Association, foi planejado para responder a questão de qual seria a melhor estratégia de revascularização em diabéticos com doença multiarterial complexa. Seus resultados, há muito esperados, são discutidos em profundidade no editorial de Centemero, Abizaid e Sousa, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (São Paulo, SP, Brasil). Os autores apontam as várias virtudes desse estudo, além de suas limitações, e finalizam lembrando a necessidade de individualizar as decisões e discutir as possibilidades terapêuticas com o heart team, envolvendo o paciente e a família na decisão final.
Esta edição da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI) traz uma série de estudos que abordam assuntos de grande interesse atual. Costa Jr. et al., do Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio (São Paulo, SP, Brasil), apresentam outra contribuição do Registro DESIRE, desta vez avaliando as modificações ocorridas nos últimos 10 anos na indicação e na realização da intervenção coronária percutânea (ICP) com stents farmacológicos. Mostram o avanço da ICP como modalidade prevalente de revascularização comparada à cirurgia naquela instituição, a penetração dos stents farmacológicos que alcançaram quase 90% dos procedimentos no último ano, a complexidade angiográfica crescente avaliada pelo escore SYNTAX e os bons resultados clínicos no seguimento de 5 anos em mais de 98% daquela população.
Andrade et al., da Santa Casa de Marília (Marília, SP, Brasil), abordam o assunto da transferência inter-hospitalar para a realização da ICP primária em sua cidade, que dispõe de um sistema integrado e eficiente na atenção às emergências cardiovasculares. Avaliam os desfechos de eficácia e segurança de pacientes admitidos ou transferidos para a realização do procedimento. Complementam sua análise com discussão bastante atualizada do assunto, colocando o tema da transferência em perspectiva em nosso meio, que vivencia os conhecidos problemas relacionados ao tráfego urbano.
Aguiar Filho et al., do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, tratam da incorporação da ICP via radial em seu centro, reconhecido formador de cardiologistas intervencionistas. Mostram os porcentuais crescentes ao longo dos últimos anos do uso dessa via de acesso, comparada à tradicional via femoral, e o perfil dos pacientes selecionados. Demonstram que os resultados clínicos podem ser superponíveis aos da literatura, mesmo quando esses procedimentos são realizados por médicos em treinamento, supervisionados pelos intervencionistas responsáveis pelo caso.
Farinazzo et al., do Hospital Bandeirantes (São Paulo, SP, Brasil), exploram, no grande registro daquela instituição, os resultados da ICP ad hoc, assunto pouco explorado em nossa literatura. Mostram o porcentual da população que realizou essa intervenção, sua caracterização clínica, angiográfica e do procedimento e os resultados clínicos hospitalares, comparados aos demais pacientes que realizaram intervenção programada. Lembram, em sua discussão, os limites para a indicação da ICP ad hoc, de acordo com publicação recente de um consenso da Society for Cardiovascular Angiography and Interventions (SCAI).
Por fim, complementam esta edição artigos originais que abordam assuntos como a ICP com alta no mesmo dia, os resultados da ICP em pacientes com síndromes coronárias agudas que fizeram crossover das heparinas de baixo peso molecular e não-fracionada, os preditores de trombose de stents não-farmacológicos, o perfil e os resultados de pacientes submetidos a ICP subvencionada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pela saúde suplementar, a avaliação da patência da artéria radial pelo Doppler em pacientes que utilizaram essa via de acesso para procedimentos coronários, o perfil dos procedimentos percutâneos diagnósticos e terapêuticos em cardiopatias congênitas do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS, Brasil), e um estudo experimental que compara a qualidade da hiperplasia intimal, avaliada pela tomografia de coerência óptica, de dois stents farmacológicos com polímeros bioabsorvíveis.
Um Feliz 2013!
Áurea J. Chaves
Editora
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Fev 2013 -
Data do Fascículo
Dez 2012