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Rage within the machine: engajamento e radicalização entre filiados e dirigentes partidários no Brasil 1 1 Para replicação dos dados: https://doi.org/10.7910/DVN/UOB2XJ

Rage within the machine: activismo partidario y radicalización de los afiliados partidistas en Brasil

Resumo:

O que motiva o engajamento partidário em um cenário marcado pelo desgaste da imagem dos partidos políticos? Neste artigo, argumentamos que uma dimensão de natureza negativa atua como vetor relevante para a compreensão do engajamento em sistemas políticos contemporâneos, marcados pelo aprofundamento do descrédito dessas organizações junto à sociedade. A partir de dados observacionais e experimentais, coletados por meio de um survey inédito aplicado a membros de 32 partidos políticos brasileiros, examinamos como incentivos reconhecidos pela literatura condicionam a participação de filiados e dirigentes. Os resultados evidenciam que o ódio a um partido opera como um influente catalisador do engajamento, contribuindo para o debate sobre os desafios enfrentados por sistemas democráticos com a ascensão da extrema direita.

Palavras-chave:
partidos políticos; engajamento partidário; incentivos seletivos; incentivos coletivos; extrema direita

Resumen:

¿Cuáles son los vectores que impulsionan la participación partidaria en el contexto de una creciente desconfianza y hostilidad hacia los partidos políticos? En este artículo, sostenemos que un elemento dañino opera como un vector relevante para comprender la participación partidaria en los sistemas políticos contemporáneos, donde las organizaciones de partidos son vistas como actores ilegítimos a los ojos del público. Con base en datos observacionales y experimentales obtenidos a través de una encuesta sin precedentes que reunió respuestas de miembros de 32 partidos políticos brasileños, examinamos cómo los incentivos reconocidos en la literatura pueden condicionar la participación de miembros y líderes de partidos. Los principales resultados muestran que el odio contra un partido político puede ser un catalizador influyente para la participación en actividades del partido. Al reconocer esta característica contemporánea del activismo partidista, pretendemos contribuir al debate sobre los desafíos que enfrentan los sistemas democráticos con el ascenso de la extrema derecha.

Palabras clave:
partidos políticos; compromiso partidista; incentivos selectivos; incentivos colectivos; extrema derecha

Abstract:

What are the drivers of party engagement in the context of increasing distrust and hostility toward political parties? In this article we argue that hatred for political parties is a significant factor that influences party engagement in today’s political landscape, in which parties are often seen as illegitimate by the public. We collected observational and experimental data through an extensive survey of members of 32 Brazilian political parties to examine how incentives can condition the participation of party members and leaders. The study’s primary findings reveal that hatred against a political party can be a powerful driver of engagement. By highlighting this contemporary feature of party activism, we hope to contribute to the debate on the challenges that democratic systems face with the rise of the far right.

Keywords:
political parties; party engagement; selective incentives; collective incentives; far right

Introdução

A ascensão da extrema direita em países que pareciam menos suscetíveis a lideranças autoritárias tem se tornado cada vez mais frequente nas democracias contemporâneas. Entre outros fatores, a difundida desconfiança nos partidos políticos e o crescente descrédito das instituições representativas junto à sociedade são apontados como causas desse fenômeno, que tem promovido a desestabilização de diversos sistemas políticos (Gidron; Adams; Horne, 2020GIDRON, N.; ADAMS, J.; HORNE, W. American affective polarization in comparative perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2020.; Ignazi, 2014IGNAZI, P. Power and the (il)legitimacy of political parties: an unavoidable paradox of contemporary democracy? Party Politics, v. 20, n. 2, p. 160-169, 2014. ; Mair, 1997MAIR, P. Party system change: approaches and interpretations. Oxford: Oxford University Press, 1997., 2013MAIR, P. Rulling the void: the hollowing of western democracy. Londres: Verso, 2013.; Webb; Scarrow; Poguntke, 2022WEBB, P.; SCARROW, S.; POGUNTKE, T. Party organization and satisfaction with democracy: inside the blackbox of linkage. Journal of Elections, Public Opinion and Parties, v. 32, n. 1, p. 151-172, 2022.).

O caso brasileiro, em meio a este cenário, evidencia, nos últimos anos, um aprofundamento do processo de cartelização (Katz; Mair, 1995KATZ, R. S.; MAIR, P. Changing models of party organization and party democracy: the emergence of the cartel party. Party Politics, v. 1, n. 1, p. 5-28, 1995.) e desconfiança da sociedade em relação às organizações partidárias (Moisés, 2011MOISÉS, J. A. Political discontent in new democracies: the case of Brazil and Latin America. International Review of Sociology: Revue Internationale de Sociologie, v. 21, n. 2, p. 339-366, 2011.; Ribeiro, 2013RIBEIRO, P.F. El modelo de partido cartel y el sistema de partidos de Brasil. Revista de ciencia política, Santiago, v. 33, n. 3, p. 607-629, 2013.), quadro que resultou na vitória de um candidato de extrema direita na disputa presidencial de 2018, eleito por uma legenda até então sem expressão nacional (PSL).

Contrariando as expectativas decorrentes da opinião pública desfavorável aos partidos, o recrutamento e filiação têm progredido gradativamente no país. No presente trabalho, argumentamos que uma dimensão de natureza negativa, o engajamento pelo ódio, tem operado como vetor relevante para a compreensão do ativismo partidário em sistemas políticos marcados por desconfiança e hostilidade entre competidores (Gidron; Adams; Horne, 2020GIDRON, N.; ADAMS, J.; HORNE, W. American affective polarization in comparative perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2020.). Assim, examinamos no artigo em que medida a extrema rejeição a um partido atua como elemento catalisador de uma participação mais intensa entre filiados.

O trabalho identifica uma condicionante negativa para o engajamento partidário de alta intensidade, caracterizado quando o filiado dedica mais de 30 horas mensais às atividades da legenda. Sob esta perspectiva, os resultados evidenciam que o ódio a um partido político, fenômeno que transborda a ideia de simples competição entre adversários, condiciona a intensidade do envolvimento dos filiados, com potenciais desdobramentos para o funcionamento e a atuação de organizações partidárias. Neste sentido, o engajamento pelo ódio opera como um catalisador do ativismo partidário, potencializando a participação dos filiados em um contexto de acentuada hostilidade e deslegitimação entre legendas antagonistas.

Para identificar as condicionantes de natureza individual que influenciam o engajamento, conduzimos o primeiro survey nacional com filiados e dirigentes partidários no Brasil, considerado um caso crítico para o entendimento da ascensão de atores que colocam em xeque instituições fundamentais ao funcionamento das democracias representativas, incluindo aqui os partidos.

É importante pontuar que a crise de legitimidade dos partidos e a crescente hostilidade entre adversários alcançam hoje sistemas políticos diversos, inclusive os mais longevos (Ignazi, 2014IGNAZI, P. Power and the (il)legitimacy of political parties: an unavoidable paradox of contemporary democracy? Party Politics, v. 20, n. 2, p. 160-169, 2014. ; Gidron; Adams; Horne, 2020GIDRON, N.; ADAMS, J.; HORNE, W. American affective polarization in comparative perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2020.; Svolik, 2019SVOLIK, M. W. Polarization versus democracy. Journal of Democracy, v. 30, n. 3, p. 20-32, 2019.; Webb; Scarrow; Poguntke, 2022WEBB, P.; SCARROW, S.; POGUNTKE, T. Party organization and satisfaction with democracy: inside the blackbox of linkage. Journal of Elections, Public Opinion and Parties, v. 32, n. 1, p. 151-172, 2022.). A investigação conduzida neste artigo reflete, portanto, sobre um amplo fenômeno de transformação das organizações partidárias em meio à ascensão do populismo ideacional (Mudde, 2017MUDDE, C. Populism: an ideational approach. In: KALTWASSER, C. R.; TAGGART, P.; OSTIGUY, P. The Oxford handbook of populism. Oxford: Oxford University Press, 2017. p. 27-47. [capítulo 2].), que tem avançado sobre países com contextos históricos e institucionais diversos a partir de um repertório comum, associado a uma percepção que menospreza instituições políticas essenciais à sustentação de democracias representativas.

Por meio de uma abordagem experimental, comparamos a influência do ódio a outros incentivos reconhecidos como relevantes pela literatura sobre ativismo partidário (Ribeiro; Amaral, 2019RIBEIRO, P.F.; AMARAL, O. E. Party members and high-intensity participation: evidence from Brazil. Revista de ciencia política, Santiago, v. 39, n. 3, p. 489-515, 2019.; Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.). Entre os principais resultados, evidenciamos o papel relevante de uma dimensão negativa do engajamento, ainda subestimada pela literatura. Os achados demonstram que o ódio a um partido potencialmente vencedor das próximas eleições presidenciais exerce maior influência sobre o engajamento de filiados do que aspirações por processos internamente mais democráticos, por exemplo.

Após esta breve introdução, apresentamos os principais debates com a literatura e a especificação dos procedimentos metodológicos para a condução da pesquisa nas seções seguintes. Adiante, examinamos dados descritivos e os resultados de um modelo de regressão logística binomial que ilustram o puzzle que se apresenta diante do não esvaziamento dos partidos em um cenário marcado pelo intenso desgaste na imagem das organizações partidárias.

Na sequência, analisamos os resultados de uma abordagem experimental within-subjects, na qual os filiados indicam, em etapas distintas e aleatoriamente apresentadas ao longo da aplicação do questionário, sua disposição para o engajamento de alta intensidade diante de cenários hipotéticos que dialogam com incentivos reconhecidos pela literatura sobre ativismo partidário.

Com dados experimentais, avaliamos se os cenários de virtual êxito, nas próximas eleições presidenciais, do próprio partido - ou do partido que o entrevistado mais rejeita -, assim como a possibilidade de exercer maior influência em processos internos da organização, seriam capazes de impulsionar o engajamento de alta intensidade aferido no cenário de controle.

A pesquisa, portanto, identifica um elemento catalisador do engajamento entre filiados, capaz de operar como potencial vetor de transformação das organizações partidárias em um ambiente marcado por acentuada desconfiança e crescente rejeição entre adversários. Sendo os indivíduos portadores de um conjunto de crenças e atitudes que moldam os partidos políticos e imprimem-lhes traços essenciais que condicionam sua atuação, buscamos contribuir para o debate sobre o risco de erosão de consensos democráticos historicamente forjados e que se encontram hoje sob ameaça no Brasil e em outros países que experimentam a ascensão da extrema direita.

O elo entre os partidos e a sociedade

Desde a segunda metade do século XX, a erosão da confiança das populações ocidentais nas instituições democráticas é um fenômeno observado com frequência em estudos comparados na Europa e nas Américas (Dalton; Wattenberg, 2000DALTON, R.; WATTENBERG, M. Parties without partisans: political change in advanced industrial democracies. New York: Oxford University Press, 2000.; Katz; Mair, 1995KATZ, R. S.; MAIR, P. Changing models of party organization and party democracy: the emergence of the cartel party. Party Politics, v. 1, n. 1, p. 5-28, 1995.; Mair, 2013MAIR, P. Rulling the void: the hollowing of western democracy. Londres: Verso, 2013.; Moisés, 2011MOISÉS, J. A. Political discontent in new democracies: the case of Brazil and Latin America. International Review of Sociology: Revue Internationale de Sociologie, v. 21, n. 2, p. 339-366, 2011.; Norris, 1999NORRIS, P. Critical citizens: global support for democratic government. Oxford: Oxford University Press,1999.).

São diversos os diagnósticos que apontam para a crescente percepção de ilegitimidade dos arranjos representativos das democracias contemporâneas, passando pelo engessamento dos sistemas partidários, descontentamento com a eficiência das instituições, corrupção sistêmica, desconfiança nas autoridades, baixas taxas de comparecimento eleitoral, decrescentes níveis de identificação partidária etc. (Moisés, 2011MOISÉS, J. A. Political discontent in new democracies: the case of Brazil and Latin America. International Review of Sociology: Revue Internationale de Sociologie, v. 21, n. 2, p. 339-366, 2011.; Norris, 1999NORRIS, P. Critical citizens: global support for democratic government. Oxford: Oxford University Press,1999.).

Embora os partidos sejam considerados elementos centrais na intermediação de demandas e tensões entre sociedade e Estado nas democracias representativas (Kirchheimer, 2012KIRCHHEIMER, O. A transformação dos sistemas partidários da Europa Ocidental. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 7, p. 349-385, abr. 2012.), a difundida avaliação negativa das organizações partidárias perante a opinião pública evidencia um processo disseminado de desconfiança nos arranjos democráticos contemporâneos (Dalton; Wattenberg, 2000DALTON, R.; WATTENBERG, M. Parties without partisans: political change in advanced industrial democracies. New York: Oxford University Press, 2000.).

Desse modo, ainda que os partidos políticos sejam compreendidos como indispensáveis para o funcionamento das democracias representativas, a literatura chama atenção para os consideráveis desafios decorrentes do seu distanciamento em relação à sociedade (Ignazi, 2014IGNAZI, P. Power and the (il)legitimacy of political parties: an unavoidable paradox of contemporary democracy? Party Politics, v. 20, n. 2, p. 160-169, 2014. , 2017IGNAZI, P. Party and democracy: the uneven road to party legitimacy. Oxford: Oxford University Press, 2017.; Katz; Mair, 1995KATZ, R. S.; MAIR, P. Changing models of party organization and party democracy: the emergence of the cartel party. Party Politics, v. 1, n. 1, p. 5-28, 1995.).

De maneira análoga a outros sistemas políticos, o caso brasileiro expõe um descontentamento em relação a instituições essenciais para o funcionamento de governos democráticos, que atravessa segmentos ideológicos e sociodemográficos diversos (Moisés, 2011MOISÉS, J. A. Political discontent in new democracies: the case of Brazil and Latin America. International Review of Sociology: Revue Internationale de Sociologie, v. 21, n. 2, p. 339-366, 2011.; Moisés; Carneiro, 2008MOISÉS, J. A.; CARNEIRO, G. P. Democracia, desconfiança política e insatisfação com o regime: o caso do Brasil. Opinião Pública, Campinas, v. 14, n. 1, p. 1-42, 2008.).6 6 Considerando fatores como renda, religião, ideologia, idade, sexo etc. (Moisés, 2011; Moisés; Carneiro, 2008).

A difundida percepção da crise de legitimidade experimentada pelas organizações partidárias nos últimos anos sugere a dimensão do enfraquecimento do elo entre partidos e sociedade civil:

“Os partidos são vistos como organizações responsáveis por canalizar demandas dos cidadãos, mas, ao mesmo tempo, percebidos como máquinas dispendiosas, integradas majoritariamente por indivíduos autointeressados. Embora não se afirme a completa irrelevância ou se negue a própria existência de partidos, muitos cidadãos expressam baixos níveis de confiança e estima por organizações partidárias. Este descrédito generalizado tem fomentado o sentimento antipartidário na maioria das democracias consolidadas” (Ignazi, 2014IGNAZI, P. Power and the (il)legitimacy of political parties: an unavoidable paradox of contemporary democracy? Party Politics, v. 20, n. 2, p. 160-169, 2014. , p. 160, tradução nossa).

Dados recentes do World Values Survey (WVS) (Inglehart et al., 2014INGLEHART, R., C.; HAERPFER, A.; MORENO, C.; WELZEL, K.; KIZILOVA, J.; DIEZ-MEDRANO, M.; LAGOS, P.; NORRIS, E.; PONARIN, B.; PURANEN, B. et al. (eds.). World Values Survey: Round Six - Country-Pooled Datafile Version. 2014. [Madrid: JD Systems Institute]. Disponível em: Disponível em: http://www.worldvaluessurvey.org/WVSDocumentationWV6.jsp . Acesso em: 15 abr. 2024.
http://www.worldvaluessurvey.org/WVSDocu...
) corroboram a trajetória de descrédito das instituições partidárias brasileiras junto à opinião pública. De acordo com o Gráfico 1, em 2006, menos da metade dos brasileiros (45,8%) informou não confiar de jeito nenhum nos partidos políticos. Em 2014, 58,6% demonstraram o mesmo nível de desconfiança, que atingiu seu ponto máximo na série histórica em 2018 (66,5%).

Gráfico 1.
Proporção de entrevistados que não confiam de jeito nenhum nos partidos políticos brasileiros (2006-2018)

Por outro lado, Ribeiro (2013)RIBEIRO, P.F. El modelo de partido cartel y el sistema de partidos de Brasil. Revista de ciencia política, Santiago, v. 33, n. 3, p. 607-629, 2013. chama atenção para uma tendência de aumento no total de membros partidários no país desde 2006, atestada por dados recentes do Tribunal Superior Eleitoral. A seguir, o Gráfico 2 ilustra a magnitude desse cenário de notável associação entre eleitores e organizações partidárias no Brasil, evidenciada pela quantidade expressiva de filiados no recorte temporal examinado.

Gráfico 2.
Total de filiados no Brasil entre 2006 e 2022 (em milhões)

Desse modo, a evolução da desconfiança em relação aos partidos opõe-se ao número significativo de vínculos estabelecidos entre cidadãos e organizações partidárias no país. Diante desse quadro contraintuitivo, o artigo propõe a investigação dos elementos que operam como condicionantes do engajamento partidário em um ambiente marcado pelo acentuado desgaste na imagem dos partidos políticos e crescente hostilidade entre adversários (Gidron; Adams; Horne, 2020GIDRON, N.; ADAMS, J.; HORNE, W. American affective polarization in comparative perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2020.; Webb; Scarrow; Poguntke, 2022WEBB, P.; SCARROW, S.; POGUNTKE, T. Party organization and satisfaction with democracy: inside the blackbox of linkage. Journal of Elections, Public Opinion and Parties, v. 32, n. 1, p. 151-172, 2022.).

Incentivos ao engajamento partidário

Duverger (1985)DUVERGER, M. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. sugere que os vínculos estabelecidos entre partidos e indivíduos são resultantes das diferentes características assumidas pelas organizações partidárias. De acordo com o modelo dos círculos concêntricos, o autor classifica o envolvimento político dos indivíduos a partir do seu posicionamento na órbita de influência na organização.

Neste sentido, o engajamento pode ser pensado em função da intensidade no envolvimento dos cidadãos com as atividades de uma organização partidária, passando à posição de militante na medida em que essas atividades ocupam cada vez mais o seu cotidiano (Duverger, 1985DUVERGER, M. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.).

No artigo, investigamos as condicionantes para o engajamento de alta intensidade entre filiados, que está associado não apenas a um vínculo formal com determinada legenda, mas sobretudo ao envolvimento ativo na vida organizacional do partido. Assim, o artigo esclarece sobre as motivações dos filiados que empenham parte significativa do seu tempo e demais recursos nessa modalidade de ativismo político (Duverger, 1985DUVERGER, M. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.; Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.; Van Haute; Gauja, 2015VAN HAUTE, E.; GAUJA, A. (orgs.). Party members and activists. New York: Routledge, 2015.).

A participação de alta intensidade, classificada como aquela que excede 30 horas mensais, envolve, portanto, um cálculo de custo-benefício por parte das elites e dos próprios militantes partidários (Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.). Por um lado, o cálculo das elites tende a considerar a utilidade de se estimular essa forma de participação (explicações do lado da demanda); e, por outro, os militantes avaliam o sentido da adesão, conforme seus objetivos e recursos individuais (explicações do lado da oferta).

Do lado da demanda, a literatura compreende que o engajamento está condicionado a assimetrias no acesso a recursos e atributos materiais, associativos e cognitivos. Segundo essa perspectiva, existe uma forte relação entre disposições participativas e variáveis de natureza educacional, em geral associadas a estratos específicos de renda e ocupação profissional (Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.; Verba; Schlozman, Brady, 1995VERBA, S.; SCHLOZMAN, K.L.; BRADY, H.E. Voice and equality: civic voluntarism in American politics. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1995.). De acordo com essa abordagem teórica, atributos individuais como sexo e escolaridade integrariam o conjunto de condicionantes para o engajamento político.

Considerando o lado da oferta, ao se admitir que os indivíduos agem buscando maximizar seus benefícios, emerge o paradoxo da ação coletiva, que se faz presente diante da possibilidade de decisões coletivas beneficiarem aqueles que não se envolveram ou assumiram quaisquer custos de participação (Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.; Seyd; Whiteley, 1992SEYD, P.; WHITELEY, P. Labour’s grass roots: the politics of party membership. Oxford: Clarendon, 1992.). Neste sentido, Olson (2011)OLSON, M. A lógica da ação coletiva. São Paulo: Edusp, 2011. argumenta que os incentivos positivos (ou seletivos) atuam como mecanismos que estimulam a participação em contextos democráticos.

Seyd e Whiteley (1992)SEYD, P.; WHITELEY, P. Labour’s grass roots: the politics of party membership. Oxford: Clarendon, 1992., em consonância com Panebianco (2005)PANEBIANCO, A. Modelos de partido: organização e poder nos partidos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2005., apresentam com o Modelo Geral dos Incentivos uma abordagem teórica que identifica incentivos seletivos, coletivos e psicológicos capazes de atuar como condicionantes da filiação e do engajamento partidário de alta intensidade. Em síntese, os seletivos podem ser considerados em duas categorias: incentivos de processo e incentivos de resultado. Os incentivos de processo são aqueles relacionados a benefícios individuais e ao grau de satisfação em participar de atividades partidárias.

No caso dos incentivos de resultado, destacam-se elementos de ordem material e de status para o entendimento do fenômeno. Os incentivos de ordem material estão associados a compensações individuais de natureza financeira, o que inclui também redes de assistência e diversas formas de patronagem. Por sua vez, os incentivos de status decorrem de anseios como prestígio pessoal e notoriedade pública, dimensões potencialmente catalisadoras de engajamento partidário (Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.; Seyd; Whiteley, 1992SEYD, P.; WHITELEY, P. Labour’s grass roots: the politics of party membership. Oxford: Clarendon, 1992.; Van Haute; Gauja, 2015VAN HAUTE, E.; GAUJA, A. (orgs.). Party members and activists. New York: Routledge, 2015.).

Em pesquisa sobre filiados no estado de São Paulo, Ribeiro e Amaral (2019)RIBEIRO, P.F.; AMARAL, O. E. Party members and high-intensity participation: evidence from Brazil. Revista de ciencia política, Santiago, v. 39, n. 3, p. 489-515, 2019. verificaram que parcelas expressivas da militância partidária são motivadas por incentivos seletivos de processo e de resultado. Ambas somadas correspondem a cerca de 44% dos membros altamente engajados.

No caso dos incentivos coletivos, aspectos de identidade são apontados como motivadores da participação dos indivíduos, usualmente vinculados ao nível de adesão ao programa ou projeto político do partido. Em seu modelo teórico, Seyd e Whiteley (1992)SEYD, P.; WHITELEY, P. Labour’s grass roots: the politics of party membership. Oxford: Clarendon, 1992. identificam, portanto, um estímulo ao engajamento que almeja ganhos para o grupo em que se insere o filiado, algo que extrapola uma perspectiva meramente individual para o entendimento do fenômeno. De acordo com os autores, os incentivos coletivos são de natureza positiva ou negativa. Os primeiros estariam vinculados ao engajamento motivado pela adesão a pautas defendidas pelo próprio partido, enquanto os incentivos coletivos negativos derivariam de uma noção de alteridade ou oposição a alguma agremiação partidária (Scarrow, 2015SCARROW, S. Beyond party members: changing approaches to partisan mobilization. New York: Oxford University Press, 2015.; Van Haute; Gauja, 2015VAN HAUTE, E.; GAUJA, A. (orgs.). Party members and activists. New York: Routledge, 2015.).

O sentimento de rejeição, desse modo, exerceria um forte estímulo ao engajamento partidário, ao constituir identidades coletivas e vínculos sociais que se sustentam na oposição a um conjunto de ideias encampadas por grupos ou partidos políticos adversários. A percepção de ameaça diante de um grupo rival rejeitado, neste sentido, reforçaria a identificação do indivíduo em relação ao seu grupo, desencadeando um engajamento mais intenso e que está associado à necessidade de diferenciação e defesa do seu partido ou grupo político (Iyengar et al., 2019IYENGAR, S.; LENKES, Y.; LEVENDUSKY, M.; MALHOTRA, N.; WESTWOOD, S. J. The origins and consequences of affective polarization in the United States. Annual Review of Political Science, v. 22, p. 129-146, 2019.).

Dessa forma, argumentamos que, quando as identidades partidárias são percebidas como significativamente ameaçadoras, essa dinâmica conflitiva - que emerge especialmente em contextos marcados por acentuada hostilidade entre adversários - desperta reações emocionais extremas, como o ódio, estimulando o engajamento partidário de alta intensidade.

No Brasil, pesquisas recentes evidenciam o crescimento do fenômeno do antipartidarismo e do antipetismo no nível do eleitorado (Fuks; Ribeiro; Borba, 2020FUKS, M.; RIBEIRO, E.; BORBA, J. From antipetismo to generalized antipartisanship: the impact of rejection of political parties on the 2018. Brazilian Political Science Review, v. 15, p. e0005, 2020.; Paiva; Krause; Lameirão, 2017PAIVA, D.; KRAUSE, S.; LAMEIRÃO, A. P. O eleitor antipetista: partidarismo e avaliação retrospectiva. Opinião Pública, Campinas, v. 22, n. 3, p. 638-674, 2017.; Ribeiro; Carreirão; Borba, 2016RIBEIRO, E.; CARREIRÃO, Y.; BORBA, J. Sentimentos partidários e antipetismo: condicionantes e covariantes. Opinião Pública, Campinas, v. 22, n. 3, p. 603-637, 2016.; Samuels; Zucco, 2018SAMUELS, D.; ZUCCO, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans voting behavior in Brazil. Cambridge: Cambridge University, 2018.). Conforme observam Fuks, Ribeiro e Borba (2020)FUKS, M.; RIBEIRO, E.; BORBA, J. From antipetismo to generalized antipartisanship: the impact of rejection of political parties on the 2018. Brazilian Political Science Review, v. 15, p. e0005, 2020., alguns trabalhos avaliam que esse fenômeno estaria mais associado à rejeição ao Partido dos Trabalhadores, sinalizada pela evolução do antipetismo (Samuels; Zucco, 2018SAMUELS, D.; ZUCCO, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans voting behavior in Brazil. Cambridge: Cambridge University, 2018.). No entanto, achados recentes também apontam para um quadro disseminado de descrédito e avaliação negativa que alcança um espectro mais amplo de partidos políticos (Paiva; Krause; Lameirão, 2017PAIVA, D.; KRAUSE, S.; LAMEIRÃO, A. P. O eleitor antipetista: partidarismo e avaliação retrospectiva. Opinião Pública, Campinas, v. 22, n. 3, p. 638-674, 2017.).

Ainda de acordo com Fuks, Ribeiro e Borba (2020)FUKS, M.; RIBEIRO, E.; BORBA, J. From antipetismo to generalized antipartisanship: the impact of rejection of political parties on the 2018. Brazilian Political Science Review, v. 15, p. e0005, 2020., vale notar também que os antipartidários, em comparação com aqueles eleitores que não rejeitam de maneira difusa as legendas de um sistema, tendem a apresentar percepções desfavoráveis a respeito de minorias sociais, de instituições representativas e do próprio regime democrático.

Em meio a este cenário, a investigação de elementos catalisadores do engajamento partidário de alta intensidade, proposta no artigo, busca contribuir para o entendimento do processo de transformação das organizações partidárias em sistemas políticos que tem experimentado uma escalada na tensão e hostilidade entre adversários.

Metodologia

Para investigar se o ódio a um partido opera como um elemento que motiva as pessoas a se dedicarem às atividades partidárias, conduzimos uma pesquisa inédita com filiados e dirigentes. A pesquisa contou com a participação de membros vinculados a 32 partidos políticos brasileiros,7 7 Ver tabelas no Apêndice para consultar características gerais da amostra, como a proporção de respondentes por partido e função ou cargo que ocupa. Embora espelhe em grande medida a proporção de filiados por partido no cenário nacional, a investigação desenvolve-se a partir de uma amostragem por conveniência. Destacamos, no entanto, de acordo com Coppock, Leeper e Mullinix (2018), que amostras de conveniência são capazes de produzir resultados substantivamente semelhantes aos obtidos por surveys com amostras representativas. Neste sentido, nos termos propostos por Findley, Kikuta e Denly (2021), reforçamos a amplitude e relevância dos achados do artigo para a compreensão do quadro partidário brasileiro. que preencheram um questionário com 52 perguntas enviado por e-mail, utilizando a plataforma Survey Monkey.

Entre março e maio de 2020, foram disparados 78.417 e-mails. Ao final, reunimos um total de 3.266 respostas, das quais 2.514 eram de filiados e dirigentes partidários, o que corresponde a uma taxa de resposta de 4,16%, comum para surveys realizados em condições similares (Kertzer; Renshon, 2022KERTZER, J. D.; RENSHON, J. Experiments and surveys on political elites. Annual Review of Political Science, v. 25, p. 529-550, 2022.). Considerando o total de filiados registrados no TSE no início da coleta dos dados, temos um erro amostral de 2%, com 95% de grau de confiança.

Para enfrentar as perguntas que motivaram este trabalho, os resultados do survey foram analisados em duas etapas. Na primeira, utilizamos dados observacionais para identificar vetores associados a uma maior participação em atividades relacionadas ao funcionamento das agremiações partidárias.

Para tanto, propomos um modelo de regressão logística binomial, cujos resultados são discutidos na seção seguinte. O modelo tem como variável dependente o engajamento partidário de alta intensidade, situação em que o filiado dedica mais de 30 horas mensais às atividades do partido (categoria que assume valor 1, sendo as demais respostas indicadas como categoria de referência).8 8 Os dados foram originalmente coletados em 7 categorias. Optamos por essa abordagem de coleta, e não em escala contínua, em especial por ser pouco factível que os entrevistados se lembrassem ou registrassem com extrema exatidão a quantidade de horas mensais dedicadas às atividades partidárias. Desse modo, ao apresentarmos as alternativas de resposta em formato de categoria (em faixas ou intervalos que podem ser facilmente comparados), buscamos garantir maior precisão e confiabilidade aos dados coletados, que permitem um interessante ordenamento e escalonamento do nível de engajamento entre os respondentes.

Entre o conjunto de explicativas, incluímos: sexo; escolaridade; ideologia; o exercício de algum cargo no partido; e o motivo de filiação. As categorias originais de resposta das duas primeiras variáveis foram recodificadas com o intuito de testar, respectivamente: se o filiado do sexo masculino demonstra maior probabilidade de engajamento de alta intensidade, hipótese em consonância com a sub-representação das mulheres no espaço da política institucional; e se os filiados com ensino superior incompleto ou completo, em geral mais expostos a debates políticos, de fato participam de maneira mais intensa de atividades partidárias.

Com a variável ideologia, investigamos se os filiados de centro-direita (que se posicionaram entre 6 e 10, em uma escala de 1 a 10) tendem a se engajar menos do que os filiados que não se localizam nesta faixa do espectro ideológico. Em sentido contrário, temos por hipótese que o filiado que atualmente exerce algum cargo no partido (1) dedica mais tempo por mês às atividades da agremiação.

A principal variável explicativa do modelo avalia se o entrevistado considerou como motivo muito importante para sua filiação a possibilidade de se opor a um partido político específico. Assim, examinamos se os filiados que disseram ser esta motivação muito importante estão associados a um engajamento de maior intensidade quando comparados aos demais. Dessa forma, investigamos se os dados de natureza observacional são capazes de sugerir uma dimensão de engajamento negativo, que se evidenciaria por uma associação entre o engajamento de alta intensidade e a filiação motivada pela rejeição ao projeto político de outro partido.

Adiante, examinamos com dados experimentais se os cenários hipotéticos apresentados aos entrevistados poderiam catalisar o engajamento partidário de alta intensidade. Neste ponto, utilizamos um delineamento experimental de sujeito único, por meio do qual diferentes medições realizadas sobre o mesmo entrevistado ao longo da aplicação de um questionário permitem comparar como cada respondente reage aos tratamentos administrados. Assim, em uma abordagem experimental within-subjects, os cenários de controle e tratamentos, tradicionalmente associados a grupos distintos, correspondem a medições sucessivas sobre o mesmo indivíduo.

Na abordagem experimental de sujeito único conduzida nesta pesquisa, o cenário de controle corresponde à resposta espontânea do entrevistado sobre a quantidade de horas mensais dedicadas atualmente ao partido. Os três cenários tratados, apresentados em ordem aleatória ao longo do questionário, examinam se incentivos que dialogam com dimensões reconhecidas pela literatura, além do engajamento pelo ódio, são capazes de desencadear o engajamento partidário de alta intensidade.

Com dois cenários de tratamento, investigamos se a possibilidade de vitória do próprio partido nas eleições presidenciais e a possibilidade de exercer maior influência nos processos internos do partido atuariam como vetores que impulsionam o engajamento partidário.

Com o outro cenário tratado, testamos a principal hipótese que motivou a pesquisa: o ódio a um partido político opera como um atalho cognitivo capaz de impulsionar o engajamento partidário de alta intensidade entre filiados. Isto se observaria com uma maior proporção de membros altamente engajados diante do cenário de possibilidade de vitória, nas próximas eleições presidenciais, do partido que o indivíduo mais rejeita.

Desse modo, o artigo examina se haveria uma dimensão negativa impulsionando o engajamento de alta intensidade, algo que poderia contribuir para o entendimento do ativismo em um cenário marcado pelo acentuado desgaste dos partidos junto à sociedade e ascensão de lideranças de extrema direita em diversos países, até mesmo onde se acreditava haver um ambiente institucional menos propício a soluções autoritárias.

Para a interpretação dos resultados, utilizamos testes t pareados e comparamos se existem diferenças de médias estatisticamente significativas em relação à proporção de filiados altamente engajados no cenário de controle e nos três cenários de tratamento.

Incentivos negativos e engajamento partidário de alta intensidade

Na tabela a seguir, apresentamos os resultados do modelo de regressão logística binomial proposto a partir dos dados observacionais coletados com o survey nacional de filiados e dirigentes partidários. Neste momento, buscamos identificar vetores potencialmente associados a uma maior probabilidade de engajamento partidário de alta intensidade.

Tabela 1.
Modelo de regressão logística binomial (variável dependente: engajamento partidário de alta intensidade)

Os coeficientes indicados acima foram transformados para sua melhor interpretação em termos de razão de chance. Desse modo, na segunda coluna, a tabela indica a razão entre a probabilidade a favor da ocorrência do engajamento de alta intensidade e a probabilidade complementar, associada à não ocorrência do evento.

Os resultados corroboram as hipóteses anteriormente apresentadas, evidenciando, em especial, uma importante associação entre a filiação motivada pela oposição a um partido político e o engajamento de alta intensidade, avançando no reconhecimento de um incentivo coletivo negativo (Seyd; Whiteley, 1992SEYD, P.; WHITELEY, P. Labour’s grass roots: the politics of party membership. Oxford: Clarendon, 1992.).

Sobre a variável sexo, identificamos uma probabilidade 49,1% maior em favor do engajamento de alta intensidade entre homens. Isto significa que a probabilidade de envolvimento mais intenso em atividades partidárias entre filiados do sexo masculino é de 59,85%, enquanto a de mulheres é menos expressiva (40,15%). Os resultados estão em consonância com o que se esperava, tendo em vista a participação desproporcionalmente favorável à presença de homens na política institucional.

Sendo os partidos atores coletivos que protagonizam processos políticos essenciais à democracia representativa e, considerando também a sub-representação política de mulheres no Brasil, os dados sinalizam consideráveis obstáculos para a superação da exclusão feminina do cenário político-institucional.

A variável escolaridade não apresentou associação significativa com o resultado. Neste sentido, ao contrário do esperado, não é possível identificar diferenças entre os filiados com ensino superior incompleto ou completo, de um lado, e os demais, de outro. A variável foi utilizada como proxy para a exposição a debates políticos, algo que poderíamos pensar como estímulo a uma participação política mais intensa entre filiados com anos adicionais de educação formal.

Os achados, no entanto, indicam que escolaridade não está relacionada ao engajamento de maior intensidade entre membros de partidos, o que aponta para a importância de se investigar outras instâncias de socialização e envolvimento em atividades políticas, para além dos ambientes universitários.

Por sua vez, a variável ideologia indica que existe uma razão de chance desfavorável ao engajamento de alta intensidade entre filiados de centro-direita, que se posicionaram entre os pontos 6 e 10 de uma escala que vai de 1 (esquerda) a 10 (direita). Notamos uma probabilidade aproximadamente 25% inferior dessa modalidade de engajamento entre esses filiados quando comparados aos demais.

Em outros termos, estimamos para os filiados de centro e de direita, uma probabilidade de engajamento de alta intensidade de 42,75%, enquanto os outros entrevistados estão associados a uma probabilidade de intensa participação em atividades partidárias na casa dos 57,25%. Desse modo, os resultados sugerem que há uma tendência de maior envolvimento em atividades partidárias entre filiados que se localizam à esquerda do contínuo ideológico.

Além disso, a variável que indica se o filiado exerce algum cargo na burocracia do partido funcionou como importante controle e preditor. Da maneira como esperávamos, a probabilidade de ser altamente engajado por desempenhar alguma função na organização do partido supera em mais de 60% a probabilidade correspondente em relação à categoria de referência.

Em outras palavras, a probabilidade de engajamento intenso entre aqueles que participam de maneira mais direta da organização do partido é da ordem de 61,74%, enquanto a probabilidade de alto engajamento ocorre em proporções bem menores entre militantes filiados (38,25%).

Por fim, a razão de chance associada à principal variável explicativa do modelo indica uma probabilidade 27,7% maior de filiados altamente engajados entre aqueles que indicaram ter sido muito importante a possibilidade de fazer oposição a um partido como motivo de sua filiação.

O resultado sugere que a intensa participação em atividades partidárias está conectada a uma dimensão de engajamento negativo (Seyd; Whiteley, 1992SEYD, P.; WHITELEY, P. Labour’s grass roots: the politics of party membership. Oxford: Clarendon, 1992.). Os dados indicam que a aversão a um partido pode desempenhar um papel relevante e ainda subestimado no engajamento de filiados. Isto porque a probabilidade de engajamento de alta intensidade é de 56,09% entre aqueles que indicaram a oposição a um partido como motivo muito importante para sua filiação. De outro lado, a categoria de referência está associada a uma probabilidade mais modesta de filiados altamente engajados, de 43,9%.

Na seção seguinte, investigamos com dados experimentais elementos potencialmente indutores de um maior engajamento partidário. Ao examinarmos cenários que dialogam com incentivos reconhecidos pela literatura, testamos também a possibilidade de o ódio a um partido atuar como mecanismo capaz de impulsionar o engajamento de alta intensidade.

O ódio como catalisador do engajamento de alta intensidade

A abordagem experimental em survey, em comparação com a utilização de dados observacionais, oferece vantagens analíticas que favorecem uma avaliação mais segura acerca das relações de causalidade que interessam a esta investigação. O elemento essencial de um desenho de pesquisa experimental consiste na possibilidade de manipulação exógena da variável explicativa, o que se caracteriza pela intervenção direta do pesquisador durante o processo de coleta dos dados (Druckman et al., 2011DRUCKMAN, J. N.; GREEN, D. P.; KUKLINSKI, J. H.; LUPIA, A. Experimentation in political science. In: DRUCKMAN, J. N.; GREEN, D. P.; KUKLINSKI, J. H. (orgs.). Cambridge handbook of experimental political science, New York: Cambridge University Press, 2011. p. 3-11. [capítulo 1].).

Esta característica inerente ao desenho experimental contribui para uma avaliação de causalidade mais segura em comparação com aquela possível a partir de dados observacionais. A manipulação exógena da variável de interesse, neste sentido, permite a comparação dos resultados mensurados para os cenários de tratamento (que receberam a intervenção do pesquisador) e de controle, algo que viabiliza conclusões mais precisas a respeito da direção e intensidade da relação de causalidade entre duas variáveis (Druckman et al., 2011DRUCKMAN, J. N.; GREEN, D. P.; KUKLINSKI, J. H.; LUPIA, A. Experimentation in political science. In: DRUCKMAN, J. N.; GREEN, D. P.; KUKLINSKI, J. H. (orgs.). Cambridge handbook of experimental political science, New York: Cambridge University Press, 2011. p. 3-11. [capítulo 1].).

Especificamente, o delineamento experimental de sujeito único ou within-subjects, utilizado neste artigo, permite que os cenários de controle e tratamento se refiram ao mesmo indivíduo, submetido a diferentes estímulos ou tratamentos ao longo da condução do questionário. De acordo com Gerber e Green (2012, p. 273, tradução nossa)GERBER, A. S.; GREEN, D. P. Field experiments: design, analysis, and interpretation. New York: WW Norton, 2012., “a abordagem experimental de sujeito único refere-se a estudos em que as respostas ou medições sobre o mesmo indivíduo são realizadas em diferentes etapas e a designação aleatória determina quando um tratamento é administrado”.

Durante a aplicação do questionário, cada entrevistado indicou qual seria sua disposição para o engajamento partidário de alta intensidade diante de três cenários hipotéticos. Os cenários tratados ocorreram em momento posterior à medição espontânea do total de horas mensais atualmente dedicadas ao partido (controle) e foram apresentados em ordem aleatória ao longo da condução do questionário.

Por meio da abordagem experimental, avaliamos a proporção de filiados altamente engajados em face da possibilidade: de êxito do próprio partido nas próximas eleições presidenciais; de exercer maior influência sobre os processos internos da organização partidária; de vitória, nas próximas eleições para presidente, do partido que o entrevistado mais odeia (ou sente forte rejeição).

Sobre as vantagens inerentes à utilização deste desenho de pesquisa, destaca-se que

A vantagem analítica do desenho experimental de sujeito único reside em sua capacidade de gerar estimativas precisas sobre os efeitos dos tratamentos administrados a cada sujeito. A precisão deriva essencialmente do fato de que indivíduos ou unidades de análise são comparados consigo mesmos, o que significa que os atributos de fundo permanecem constantes. Outra característica importante dos experimentos de sujeito único é que comparações ao longo do tempo são feitas sob condições controladas, de modo que a principal fonte de variação é o tratamento (Gerber; Green, 2012GERBER, A. S.; GREEN, D. P. Field experiments: design, analysis, and interpretation. New York: WW Norton, 2012., p. 273, tradução nossa).

O gráfico abaixo apresenta os resultados correspondentes aos cenários tratados e ao cenário de controle do experimento de sujeito único:

Gráfico 3.
Percentual (%) de filiados altamente engajados diante dos cenários pesquisados

Chamamos atenção, de início, para a observação de que aproximadamente 1/5 dos respondentes da pesquisa (19,09%) são altamente engajados, por dedicarem atualmente mais de 30 horas mensais ao partido. Em boa medida, essa evidência contraria uma noção bastante difundida - porém pouco investigada - sobre a ausência de vida interna e militância nos partidos brasileiros.

Tabela 2
Proporção (%) de filiados altamente engajados.

Na tabela acima, por meio de testes t pareados, comparamos se as diferenças existentes nas medições dos cenários tratados e de controle são estatisticamente significativas. Os resultados apontam para a eficácia dos tratamentos. Sendo assim, identificamos que os três cenários hipotéticos atuam como vetores que impulsionam o engajamento de alta intensidade entre filiados. Os efeitos são percebidos tanto para a amostra em geral, com respondentes de 32 partidos, quanto para um grupo restrito apenas aos membros de partidos tradicionais.

Sobre a principal hipótese que motivou este artigo, os achados apontam para a direção que esperávamos: o ódio contra partidos políticos adversários desempenha um papel relevante no engajamento de alta intensidade entre filiados. O resultado dialoga, em especial, com os recentes achados de Gidron, Adams e Horne (2020)GIDRON, N.; ADAMS, J.; HORNE, W. American affective polarization in comparative perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2020., Svolik (2019)SVOLIK, M. W. Polarization versus democracy. Journal of Democracy, v. 30, n. 3, p. 20-32, 2019. e Webb, Scarrow e Poguntke (2022)WEBB, P.; SCARROW, S.; POGUNTKE, T. Party organization and satisfaction with democracy: inside the blackbox of linkage. Journal of Elections, Public Opinion and Parties, v. 32, n. 1, p. 151-172, 2022., sobretudo por identificar características pouco virtuosas do engajamento partidário em um contexto de escalada de hostilidade.

No cenário hipotético em que o partido ou candidato mais rejeitado pelo entrevistado pudesse vencer as próximas eleições presidenciais, observamos um aumento significativo na proporção de altamente engajados, 91,82% maior em comparação com o cenário espontâneo. Assim, diante da possibilidade de vitória do partido mais rejeitado, os filiados altamente engajados passam a representar 36,62% dos entrevistados.

O resultado chama atenção para os potenciais riscos decorrentes da hostilidade extrema entre adversários em disputas político-partidárias, de modo semelhante ao alerta feito por Gidron, Adams e Horne (2020)GIDRON, N.; ADAMS, J.; HORNE, W. American affective polarization in comparative perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2020. em relação aos eleitores em geral. Também dialoga com Svolik (2019, p. 23, tradução nossa)SVOLIK, M. W. Polarization versus democracy. Journal of Democracy, v. 30, n. 3, p. 20-32, 2019. ao sugerir que “em sociedades polarizadas, os eleitores estão dispostos a preterir princípios e valores democráticos em prol de interesses partidários”. Destaca-se, então, um aspecto hostil do ativismo que emerge em um contexto de diagnóstico negativo dos partidos junto à opinião pública.

Outros cenários hipotéticos, como a chance de vitória do próprio partido nas eleições presidenciais e a maior possibilidade de influência em processos internos, que estão associados a incentivos tradicionalmente reconhecidos pela literatura, também impulsionaram um aumento significativo na proporção de filiados altamente engajados (que passam a representar, respectivamente, 41,73% e 32,08% dos entrevistados).

No quadro geral, quando consideramos todos os partidos, a possibilidade de vitória da própria legenda motiva os filiados em maior proporção do que a rejeição a outra agremiação política - sendo esses dois cenários os que mais exerceram influência sobre os entrevistados ao longo do questionário.

Mas há diferenças quando desagregamos por legenda. É possível, por exemplo, identificar dois grupos com características distintas de engajamento. No primeiro deles, notamos que o engajamento diante da possibilidade de vitória do próprio partido nas eleições presidenciais serve como estímulo mais forte do que a possibilidade de vitória do partido mais rejeitado pelo respondente. Encontram-se nesse grupo os entrevistados do PT, PDT, PSB, PL e PC do B. Em outro grupo, não é possível distinguir qual dos dois cenários opera de maneira mais influente. Em outras palavras, amor e ódio têm exercido o mesmo peso sobre o engajamento de filiados a um grupo de partidos tradicionais e relevantes na política brasileira, como PSDB, MDB, DEM, PP, PTB, além do PSL.9 9 Vale mencionar que dois desses partidos políticos (PSL e DEM) se fundiram posteriormente à aplicação do questionário e deram origem ao União Brasil. Ver: TSE (2022).

Tabela 3.
Proporção (%) de filiados altamente engajados por partido.

Com o intuito de examinar se a rejeição se direciona particularmente a uma legenda ou grupo específico de partidos, pedimos aos entrevistados que disseram rejeitar pelo menos uma agremiação partidária que indicassem quais eram essas legendas que despertavam sua aversão. Na tabela abaixo, sintetizamos os resultados:

Tabela 4.
Percentual (%) de rejeição por partido (múltiplas alternativas)

Em consonância com a literatura sobre decisão do voto e antipartidarismo no Brasil (Amaral, 2020AMARAL, O. E. The victory of Jair Bolsonaro according to the Brazilian electoral study of 2018. Brazilian Political Science Review, v. 14, p. e0004, 2020.; Fuks; Ribeiro; Borba, 2020FUKS, M.; RIBEIRO, E.; BORBA, J. From antipetismo to generalized antipartisanship: the impact of rejection of political parties on the 2018. Brazilian Political Science Review, v. 15, p. e0005, 2020.; Paiva; Krause; Lameirão, 2017PAIVA, D.; KRAUSE, S.; LAMEIRÃO, A. P. O eleitor antipetista: partidarismo e avaliação retrospectiva. Opinião Pública, Campinas, v. 22, n. 3, p. 638-674, 2017.; Ribeiro; Carreirão; Borba, 2016RIBEIRO, E.; CARREIRÃO, Y.; BORBA, J. Sentimentos partidários e antipetismo: condicionantes e covariantes. Opinião Pública, Campinas, v. 22, n. 3, p. 603-637, 2016.), o PT ocupa a dianteira da rejeição também entre filiados. As posições ocupadas por PSOL, PSL e PC do B são compatíveis com o nível de atenção e destaque que receberam essas legendas em meio ao cenário de radicalização marcado pela ascensão da extrema direita no país. Os demais partidos ocupam posições razoavelmente compatíveis com sua exposição e estrutura organizacional no ranking dos rejeitados.

Em conjunto com os dados experimentais, os resultados da Tabela 4 revelam que o engajamento de alta intensidade motivado pelo ódio a um partido não coincide meramente com o fenômeno do antipetismo. Embora o Partido dos Trabalhadores, de fato, lidere a lista como o mais rejeitado (por aproximadamente 34% dos respondentes), os dados evidenciam que a rejeição alcança também outras legendas. Além do PT, outros seis partidos são rejeitados por mais de 1/5 dos respondentes (MDB, DEM, PSDB, PC do B, PSL e PSOL).

Identificamos, portanto, que o engajamento pelo ódio se caracteriza como um fenômeno mais amplo do que o antipetismo, tendo em vista o conjunto de achados obtidos a partir de dados observacionais e experimentais.

Considerações finais

Com dados do primeiro survey nacional aplicado a membros de 32 organizações partidárias no Brasil, examinamos no artigo como incentivos reconhecidos pela literatura condicionam a participação de filiados e dirigentes. Os principais resultados evidenciam que o ódio a uma legenda opera como um influente catalisador do engajamento de alta intensidade no atual quadro tensionado da política brasileira. Identificamos também uma disseminada rejeição a partidos de diferentes espectros e aferimos o peso de vetores que traduzem incentivos e recursos apontados pela literatura como condicionantes para a participação intrapartidária.

Os achados, em especial, destacam que o engajamento motivado pela extrema aversão a adversários amplia o entendimento do ativismo partidário em um contexto de descrédito dos partidos e desconfiança em instituições representativas, marcado também pela crescente hostilidade entre competidores.

Assim, destacamos que o Brasil se apresenta como um caso típico para o exame dos efeitos do populismo ideacional sobre a transformação de organizações políticas. Em perspectiva comparada, os resultados apontam para os riscos presentes ou latentes em sistemas democráticos diversos, que compartilham contextos análogos de extrema hostilidade entre adversários. Desse modo, o artigo busca contribuir para uma agenda de pesquisa centrada no entendimento dos desafios a serem enfrentados pelas democracias contemporâneas com a ascensão de lideranças de extrema direita.

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    Para replicação dos dados: https://doi.org/10.7910/DVN/UOB2XJ
  • 6
    Considerando fatores como renda, religião, ideologia, idade, sexo etc. (Moisés, 2011MOISÉS, J. A. Political discontent in new democracies: the case of Brazil and Latin America. International Review of Sociology: Revue Internationale de Sociologie, v. 21, n. 2, p. 339-366, 2011.; Moisés; Carneiro, 2008MOISÉS, J. A.; CARNEIRO, G. P. Democracia, desconfiança política e insatisfação com o regime: o caso do Brasil. Opinião Pública, Campinas, v. 14, n. 1, p. 1-42, 2008.).
  • 7
    Ver tabelas no Apêndice para consultar características gerais da amostra, como a proporção de respondentes por partido e função ou cargo que ocupa. Embora espelhe em grande medida a proporção de filiados por partido no cenário nacional, a investigação desenvolve-se a partir de uma amostragem por conveniência. Destacamos, no entanto, de acordo com Coppock, Leeper e Mullinix (2018COPPOCK, A.; LEEPER, T. J.; MULLINIX, K. J. Generalizability of heterogeneous treatment effect estimates across samples. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 115, n. 49, p. 12441-12446, 2018.), que amostras de conveniência são capazes de produzir resultados substantivamente semelhantes aos obtidos por surveys com amostras representativas. Neste sentido, nos termos propostos por Findley, Kikuta e Denly (2021)FINDLEY, M. G.; KIKUTA, K.; DENLY, M. External validity. Annual Review of Political Science, v. 24, p. 365-393, 2021., reforçamos a amplitude e relevância dos achados do artigo para a compreensão do quadro partidário brasileiro.
  • 8
    Os dados foram originalmente coletados em 7 categorias. Optamos por essa abordagem de coleta, e não em escala contínua, em especial por ser pouco factível que os entrevistados se lembrassem ou registrassem com extrema exatidão a quantidade de horas mensais dedicadas às atividades partidárias. Desse modo, ao apresentarmos as alternativas de resposta em formato de categoria (em faixas ou intervalos que podem ser facilmente comparados), buscamos garantir maior precisão e confiabilidade aos dados coletados, que permitem um interessante ordenamento e escalonamento do nível de engajamento entre os respondentes.
  • 9
    Vale mencionar que dois desses partidos políticos (PSL e DEM) se fundiram posteriormente à aplicação do questionário e deram origem ao União Brasil. Ver: TSE (2022)TSE. Tribunal Superior Eleitoral. TSE aprova registro do partido União Brasil. 8 fev. 2022. Disponível em: Disponível em: https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Fevereiro/tse-aprova-registro-do-partido-uniao-brasil . Acesso em: 11 maio 2024.
    https://www.tse.jus.br/comunicacao/notic...
    .

Apêndice

Características gerais da amostra

Tabela A.
Proporção (%) de respondentes por organização partidária
Tabela B.
Proporção (%) de respondentes por cargo ou função exercida no partido
Tabela C
Proporção (%) dos respondentes de acordo com seu posicionamento ideológico.

Perguntas do experimento de sujeito único

(Cenário de controle) Pensando no seu atual partido, quantas horas por mês você dedica para as atividades partidárias? (Resposta: quantidade de horas mensais dedicadas)

(Cenários de tratamento) Considerando os seguintes cenários hipotéticos apresentados abaixo, quantas horas por mês você dedicaria para as atividades do seu partido?

Se o partido ou candidato que você mais odeia (ou sente forte rejeição) pudesse ganhar as próximas eleições para presidente (Resposta: quantidade de horas mensais dedicadas)

Se o(a) sr.(a) tivesse mais oportunidades para influenciar a elaboração das propostas do partido, a seleção dos dirigentes internos e seleção dos candidatos (Resposta: quantidade de horas mensais dedicadas)

Se o seu partido tivesse reais chances de vencer as próximas eleições para presidente (Resposta: quantidade de horas mensais dedicadas)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    23 Nov 2022
  • Aceito
    04 Mar 2024
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