Open-access Obscuridade metodológica: um mapeamento da formação em métodos na pós-graduação em Relações Internacionais e áreas afins no Brasil

Methodological Obscurity: mapping methods training in graduate studies in International Relations and related areas in Brazil

Resumo:

Levantamentos da produção científica sul-americana diagnosticaram uma “obscuridade metodológica” no campo das Relações Internacionais: apenas a minoria dos artigos publicados explicita seu método de pesquisa. Diante desse quadro, o objetivo deste artigo é mapear o treinamento em métodos na formação de internacionalistas para averiguar a relação entre ensino e consciência metodológica. Analisamos os currículos de 30 cursos de pós-graduação stricto sensu em Relações Internacionais e áreas afins em 15 universidades brasileiras, nos níveis de mestrado e doutorado. Dentre os 30 cursos, 90% ofereciam uma ou mais disciplinas de métodos, ocupando cerca de 30% da carga horária. Embora este montante não tenha superado o problema da obscuridade metodológica, nota-se que o campo está consolidando um núcleo curricular de metodologia política, compartilhado com a Ciência Política.

Palavras-chave: metodologia em relações internacionais; epistemologia das relações internacionais; métodos qualitativos; métodos quantitativos

Abstract:

Recent assessments of South-American scientific output have diagnosed a “methodological obscurity” in the field of International Relations: only a minority of published articles explicitly mention their research method. Given this situation, this article maps how methods have been incorporated into the training of International Relations graduate students. The goal is to better understand the relation between teaching and methodological awareness. We analyzed the syllabi of 30 graduate programs in International Relations and related areas in 15 Brazilian universities, at the Masters and PhD levels. We found that 90% of the programs offered one or more methods courses, accounting for approximately 30% of the workload. Although this amount has not resolved the problem of methodological obscurity, we argue that, alongside political science, the field is consolidating a curricular core in political methodology.

Keywords: international relations methodology; epistemology of international relations; qualitative methods; quantitative methods

Introdução5

Como a formação de internacionalistas impacta na qualidade metodológica da sua produção científica? Medeiros et al. (2016) e Medeiros, Albuquerque e Mesquita (2016), em análise bibliométrica de 3.648 artigos publicados em 35 periódicos científicos de 6 países da América do Sul, identificaram um padrão preocupante: apenas 12,94% dos artigos analisados mencionam expressamente alguma técnica de pesquisa. Levantamentos posteriores, concentrados na produção dos periódicos brasileiros de maior prestígio, corroboram a mesma situação: a análise de Schwether et al. (2020) de 460 resumos da Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI) revela que só 21% anunciavam os instrumentos metodológicos de seus desenhos de pesquisa; a revisão sistemática de Carvalho, Gabriel e Lopes (2021) de 510 artigos na RBPI e Contexto Internacional aponta que, embora afortunadamente a parcela de artigos com metodologia “não identificável” tenha declinado, ainda representa mais da metade da produção desses periódicos; e a análise de conteúdo feita por Novelli (2022) de 720 artigos aponta que, mesmo empregando uma definição “excepcionalmente inclusiva, categorizando qualquer elemento que os autores apontassem como seu método ou metodologia”, 63,61% dos artigos publicados nas três principais revistas brasileiras (RBPI, Contexto Internacional e Carta Internacional) não especificavam qualquer método.

Medeiros et al. (2016) e Medeiros, Albuquerque e Mesquita (2016) chamaram isso de inconsciência metodológica, termo pensado para indicar a negligência com a discussão metodológica na apresentação de trabalhos acadêmicos publicados em revistas científicas. Isto é, artigos que não necessariamente desistiram de seguir o passo a passo do método científico, mas falharam em apresentar explicitamente quais foram as opções metodológicas que seguiram na execução da pesquisa. Mas por que isso seria importante?

Os critérios de replicabilidade e transparência são fundamentais para a segurança do conhecimento científico produzido e se cristalizaram como padrão na pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais a partir de trabalhos como os de King (1995) e King, Keohane e Verba (1994). Replicabilidade e transparência são os fatores mais prejudicados quando se manifesta a situação de inconsciência metodológica. Isso ocorre porque pesquisas publicadas sem atenção a esses critérios não são passíveis de repetição por outros investigadores que queiram averiguar os resultados obtidos ou mesmo aprender com eles, desprezando também a dimensão pedagógica da apresentação detalhada do caminho percorrido até os resultados. Na maioria desses casos, trabalha-se com dados qualitativos ou quantitativos de forma intuitiva, os quais são manuseados sem antes uma reflexão metodológica que permita a seleção avalizada dos métodos e técnicas mais adequadas para estudar o problema escolhido. A impossibilidade da replicação nos leva a outra situação, na qual o critério de confiança e validade da pesquisa apresentada se baseia em dois fatores: na convincente descrição dos resultados da pesquisa e na reputação do seu enunciador. Na prática, isso significa que, não sendo possível replicar a pesquisa e verificar seus resultados por conta própria, ao leitor resta confiar na reputação dos(as) autores(as) ou se permitir ser convencido pela retórica dos mesmos.

A inconsciência metodológica é notoriamente mais presente, como mostramos adiante, em pesquisas ditas qualitativas - embora concordemos com o diagnóstico de Soares (2005) e Novelli (2022) que nas Ciência Política e Relações Internacionais brasileiras frequentemente trabalhos que não empregam métodos quantitativos nem qualitativos se apresentem, indevidamente, com este último rótulo. Isso acontece porque a cultura metodológica quantitativa trabalha rotineiramente com uma perspectiva mais afinada aos procedimentos das ciências naturais, preocupando-se em documentar extensa e cansativamente os passos seguidos para justificar os resultados obtidos por quem quiser verificá-los. King, Keohane e Verba (1994), Gerring (2012), entre outros, defendem que a lógica da pesquisa científica é a mesma, independente de os(as) pesquisadores(as) utilizarem métodos qualitativos ou quantitativos e, portanto, o mesmo processo de documentação e registro de todos os procedimentos empregados durante a pesquisa, preservação e disponibilização dos dados, deveria ser aplicado a todos os trabalhos.

Esta não é a primeira vez em que a expressão “inconsciência metodológica” surge em trabalhos de Ciência Política. Seu emprego por Sartori (1970), contudo, se referia à confusão entre metodologia e técnica, pois a última não substitui a primeira. Metodologia se refere ao estudo do método, isto é, uma preocupação com reflexão elementar sobre a pesquisa, sua estrutura lógica e a coerência do procedimento da investigação científica. As técnicas, por sua vez, se referem às estratégias de coleta e análise de dados (LAMONT; BODUSZYNSKI, 2020). Consequentemente, o uso de técnicas sofisticadas sem a reflexão metodológica sobre a estrutura do argumento convida equívocos comuns, como má especificação de variáveis e conceitos. Com o objetivo de evitar outro problema recorrente neste cenário, ao qual Sartori se refere como alargamento conceitual, optamos por rebatizar a “inconsciência metodológica” de Medeiros et al. (2016) e Medeiros, Albuquerque e Mesquita (2016) como “obscuridade metodológica”. Assim, consideramos que uma pesquisa é metodologicamente obscura quando não estão claros os procedimentos e técnicas que foram empregados para a sua realização ou, mais objetivamente, quando não são preenchidos os critérios de replicabilidade e transparência exigidos como boas práticas científicas nos dias atuais (FIGUEIREDO FILHO et al., 2019).

Esse artigo busca examinar uma possível causa para a elevada taxa de obscuridade metodológica encontrada por Medeiros et al. (2016) e Medeiros, Albuquerque e Mesquita (2016) e autores subsequentes. Nossa hipótese é que a escassa apresentação de técnicas e procedimentos metodológicos está relacionada à formação deficitária dos internacionalistas em metodologia no nível de pós-graduação. Neste sentido, buscamos examinar os currículos de cursos de pós-graduação em Relações Internacionais e áreas afins com o objetivo de identificar se seus estudantes precisam cursar disciplinas de metodologia como componente curricular obrigatório.

O objetivo principal deste artigo é, portanto, mapear a formação em métodos ofertada por programas de pós-graduação em Relações Internacionais e áreas afins com linha de pesquisa na área. Desse modo, escrutamos as disciplinas em métodos que fazem parte da formação básica, isto é, que são disciplinas obrigatórias, nos programas de pós-graduação que formam os pesquisadores de Relações Internacionais. Como detalharemos na próxima seção, nos atemos ao caso brasileiro por razões de comparabilidade entre cursos de países distintos, e pela expressividade do Brasil na produção intelectual regional.

Um dos objetivos específicos do artigo é contrastar os resultados apresentados em Medeiros et al. (2016) e Medeiros, Albuquerque e Mesquita (2016) com a análise das disciplinas sobre metodologia ofertadas em programas de pós-graduação em Relações Internacionais e áreas afins no Brasil. O levantamento realizado pelo atual estudo oferece os subsídios iniciais para averiguar uma possível relação entre a obscuridade metodológica presente no corpus das publicações mencionadas e a formação dos pesquisadores.

Outro objetivo específico deste artigo é estimular a discussão sobre metodologia em Relações Internacionais no Brasil, ainda incipiente, oferecendo sugestões sobre como resolver o problema da obscuridade metodológica. Por fim, o último objetivo é propor uma agenda de pesquisa sobre o tema, atacando desafios adicionais identificados ao longo da pesquisa, como a baixa utilização de autores nacionais.

Antes de avançar, é importante deixar claro que não tentamos com este esforço impor uma agenda de pesquisa específica e nem uma visão única de como se deve pesquisar em Relações Internacionais. Reconhecemos o pluralismo epistemológico que perpassa o campo. Segundo Jackson (2016, p. 197-198), a área de Relações Internacionais é caracterizada por uma diversidade de caminhos para a construção do conhecimento científico. A partir do vocabulário filosófico desenvolvido pelo referido autor, essas perspectivas epistemológicas são, principalmente, diferenciadas pelo seu posicionamento no que concerne ao status científico e à validade do conhecimento, aos tipos de causação e formas de alcançar a explicação causal. No Quadro 1, reproduzimos detalhadamente esse argumento.

Quadro 1.
Pluralismo Epistemológico nas Relações Internacionais.

Não obstante a abordagem metodológica com a qual autores(as) se identifiquem e busquem imprimir às suas pesquisas, entendemos que algum treinamento metodológico se faz necessário e, por isso, buscamos identificar se na formação básica, i.e., nas disciplinas obrigatórias da etapa formativa do pesquisador - a pós-graduação -, esse treinamento é oferecido. Compreendemos, também, que a formação metodológica possa acontecer de outra forma, implícita ou explicitamente em outras disciplinas ou por outros caminhos, como as escolas de métodos oferecidas sazonalmente por diversas instituições.6 No entanto, é nosso entendimento que a formação de pesquisadores se dá, eminentemente, através dos seus percursos formativos durante a pós-graduação, razão pela qual optamos por examinar a presença da formação metodológica nas disciplinas obrigatórias dos cursos de pós-graduação, única forma de ter certeza de que os(as) alunos(as) de determinado curso receberam formação em metodologia.

Nesse sentido, entendemos que os problemas acima mencionados se revelam entraves à discussão acadêmica no campo com consequências graves para o reconhecimento e relevância dos estudos produzidos pela academia brasileira de Relações Internacionais. De tal modo, julgamos necessário estimular esse debate em prol do entendimento da relevância da discussão metodológica em Relações Internacionais, desenvolvendo uma agenda de pesquisa capaz de mitigar esses entraves.

Metodologia

Escopo

Para mapear e comparar a formação de internacionalistas no Brasil, recorremos à análise curricular de cursos de pós-graduação em Relações Internacionais e áreas afins. Consideramos como área afim instâncias em que: (1) o curso envolve um subcampo específico das Relações Internacionais (e.g.: Estudos Estratégicos) ou quando (2) mesmo pertencendo a uma área vizinha (e.g.: Ciência Política) apresenta uma linha de pesquisa voltada às Relações Internacionais. A análise de ementas tem sido uma abordagem popular tanto na Ciência Política (OLIVEIRA; NICOLAU, 2012; BARBERIA; GODOY; BARBOZA, 2014) quanto nas Relações Internacionais (MERKE, 2005; FROIO, 2012; SALGADO; VIVARES, 2019). Ela consiste no escrutínio das disciplinas oferecidas aos alunos de pós-graduação, conforme anunciadas nas ementas disponibilizadas pelas instituições de ensino. Nesse âmbito, ela se diferencia de outras técnicas qualitativas de inspeção de textos, como a análise de conteúdo, apresentando um teor mais descritivo. Para os objetivos desta pesquisa, a análise de ementas dedica atenção especial à oferta de elementos metodológicos no ciclo básico, i.e.: disciplinas listadas como obrigatórias. Consideramos apenas as obrigatórias para este estudo por serem as únicas disciplinas para as quais podemos ter certeza de que foram ofertadas a todos os alunos.

Embora o recorte espacial de Medeiros et al. (2016) abarque a América do Sul, nos limitamos neste artigo ao Brasil. Conquanto essa seleção diminua o escopo do estudo, preserva sua utilidade tendo em vista três fatores. Primeiramente, por sua dimensão, o Brasil representa um dos polos mais expressivos na produção acadêmica regional no tema. No levantamento de Medeiros et al. (2016), os artigos em periódicos brasileiros respondiam por 49% de toda a amostra. Em segundo lugar, tendo cada país sul-americano seu próprio sistema de acreditação e avaliação de qualidade das pós-graduações stricto sensu, ater-nos apenas ao caso brasileiro evita os problemas de heterogeneidade que poderiam comprometer a validade da comparação entre unidades. Por fim, sendo os autores do presente artigo integrantes de universidades públicas brasileiras, e a revista que publica os achados igualmente nacional, parece-nos que é maior a utilidade pública, bem como contribuição à sociedade, em se oferecer uma descrição detalhada do quadro da pós-graduação no Brasil do que fazê-lo de forma mais sumária, dividindo espaço com a comparação com outros países.

Dada a dificuldade de recuperar ementas de anos passados para todas as instituições de interesse, conduzimos nossa análise apenas nas grades curriculares mais recentes, conforme disponibilizadas nos websites de cada curso, entre março e julho de 2020.7

Nossa seleção concentrou-se nos cursos considerados de alta qualidade. Adotamos esta restrição com vistas a assegurar que os cursos analisados são representativos da formação internacionalista no país. Isto é, espera-se que as instituições mais bem avaliadas correspondam a um percentual maior da produção científica do país e que pautem a agenda formativa, demonstrando padrões de qualidade a outras instituições no entorno.8 Ademais, a restrição a esses casos também contribui com a exequibilidade do levantamento.

No Brasil, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é a entidade responsável pela avaliação de cursos de pós-graduação stricto sensu. A CAPES avalia cursos novos para aprovar sua abertura e funcionamento, bem como conduz avaliações periódicas para decidir sobre sua manutenção. As notas atribuídas variam de 1 a 7. Cursos com nota igual ou superior a 3 são considerados “recomendados”.9 Considerando que a nota 3 é a nota mínima para o curso continuar funcionando regularmente, selecionamos apenas cursos de pós-graduação com notas de 4 a 7, totalizando 30 cursos entre mestrados e doutorados, dos quais 16 receberam nota 4, quatro receberam nota 5, seis receberam nota 6, e quatro receberam a nota máxima, 7. A seleção completa abarca 15 instituições de ensino e é exibida na Tabela 1.

Tabela 1
Cursos de pós-graduação avaliados.

Protocolo de Análise

Elaboramos um protocolo de análise com os critérios e os procedimentos utilizados para categorizar as informações reunidas nesta pesquisa.

A obtenção e análise das disciplinas dos cursos das instituições selecionadas seguiu um protocolo de duas etapas para coleta das informações e duas etapas para análise dos documentos obtidos.

Figura 1.
Fluxograma do protocolo de análise.

Para a apuração das ementas realizamos:

(1) Consulta inicial ao website de cada programa para encontrar dados sobre a carga horária total do curso e a lista de disciplinas obrigatórias. Nesta etapa tentou-se também inventariar uma lista inicial das disciplinas relacionadas, à primeira vista, a métodos.

(2) Contato por e-mail com a coordenação do curso, solicitando o regulamento e a grade curricular do programa, bem como as ementas das disciplinas obrigatórias com potencial enfoque em métodos que foram identificadas na fase da consulta ao website. Ademais, embora na etapa anterior tenhamos listado disciplinas de interesse, solicitamos neste contato a indicação, por parte da coordenação, de outras disciplinas obrigatórias com enfoque em métodos, caso houvesse. Essa consulta buscou remediar qualquer distorção oriunda de uma listagem puramente unilateral da nossa parte de quais disciplinas tinham conteúdo metodológico.

Tivemos sucesso variado na obtenção das ementas, pois nem todos os cursos disponibilizavam o mesmo volume de informações para consulta. Enquanto alguns ofertavam ementas completas, fornecendo assim o maior grau de informação, outros apresentavam apenas o título e uma breve descrição das disciplinas, e outros ainda apenas os títulos das disciplinas - o menor nível de informação. O Quadro 2 fornece exemplos dos diferentes níveis de informação obtidos.

Quadro 2.
Exemplos dos níveis de informação nas ementas dos cursos.

Considerando tanto consulta ao site quanto resposta das coordenações aos nossos e-mails, os 30 cursos de mestrado e doutorado analisados distribuem-se da seguinte forma, segundo o nível de informação recuperado entre março e julho de 2020: para cinco deles encontramos apenas títulos das disciplinas; títulos e breves descrições para sete; ementas completas para 18.10 Apenas cinco dos coordenadores contatados por e-mail, representando oito cursos (27% do total), responderam fornecendo os documentos solicitados. Ao final, obtivemos um total de 43 ementas para análise, bem como 12 regimentos, e, para os cursos disponibilizando menos informação, 33 printscreens dos websites.

Após a obtenção desses dados, adotamos os seguintes procedimentos para interpretação de quais disciplinas poderiam ser consideradas como metodológicas, a depender do nível de informação obtido:

(1) Em relação aos 12 cursos para os quais só obtivemos títulos das disciplinas ou títulos e breves descrições, observamos as descrições das disciplinas disponibilizadas no website com o intuito de identificar menções a conteúdos metodológicos. Consideramos que o título ou breve descrição mencionou conteúdo metodológico quando a palavra “método” ou “metodologia” era usada na companhia de qualificadores como “de pesquisa”, “em Relações Internacionais”, “quantitativa”, “qualitativa” e assim por diante.

(2) Para os outros 18 cursos, sobre os quais encontramos ementas, analisamos as ementas das disciplinas obrigatórias identificadas como metodológicas. Apesar de haver variação na maneira como cada instituição organizava o conteúdo de sua ementa, percebemos três componentes comuns a todas as peças: descrição, roteiro de encontros e bibliografia. Adotando critérios de inspeção para cada um dos três componentes, é possível aplicar uma análise estandardizada para todos os 18 documentos.

Uma ementa foi qualificada como não voltada a métodos se constatada:

  1. Inexistência de menção a métodos na descrição da ementa;

  2. Ausência de conteúdo enfatizando métodos na programação dos encontros;

  3. Escassez de referências bibliográficas identificadas como de metodologia.

O Quadro 3 exemplifica a aplicação desses critérios a três ementas da base de dados.

Quadro 3.
Diferenças entre ementas metodológicas e não metodológicas.

Ao final deste roteiro obtivemos, para cada curso, uma contagem do número de disciplinas dedicadas a métodos e sua importância relativa em termos de percentual da carga horária.

Mesmo cumprindo esses procedimentos estandardizados, resta a possibilidade de divergência intersubjetiva, isto é, que outros pesquisadores adotando as mesmas etapas difiram na sua interpretação final de se uma disciplina seria metodológica. Diante disso, recorremos por fim a codificadores externos como forma de robustecer a confiabilidade. Solicitamos em agosto de 2022 a dois docentes que avaliassem o mesmo corpus. Os docentes foram escolhidos tanto por serem especializados no ensino e na pesquisa de métodos, quanto pelo fato de estarem lotados em IES diferentes das nossas, minimizando assim riscos de endogeneidade institucional na interpretação do material. Os docentes externos receberam corpus de 7111 ementas e printscreens, bem como um documento de instruções explicando o projeto, a origem dos dados, a distinção entre os três níveis de informação, e o protocolo de análise tal como descrito nesta seção. Não compartilhamos, porém, o Quadro 3, nem nossa própria classificação, para não enviesar suas interpretações. A codificação feita pelos docentes foi em seguida confrontada com a nossa própria através de escores de confiabilidade entre codificadores, como se verá ao final da nossa seção de resultados, a seguir.

Resultados

Como exposto acima, nossa amostra compreende 30 cursos agrupados em 17 programas de pós-graduação em Relações Internacionais e áreas afins. Dos 17 programas, cinco são de Ciência Política, sendo três em universidades federais (UFRGS, nota 4; UFPE, nota 6; UFMG, nota 7) e dois em universidades estaduais (Unicamp, nota 6; USP, nota 7). Os 12 programas restantes são efetivamente na área de Relações Internacionais, com perfil misto (ECEME, nota 4; UFBA, nota 4; UFF, nota 4; UFRGS, nota 4; UFSC, nota 4; Unesp, nota 4; USP, nota 4; UEPB, nota 4; UERJ, nota 4; PUC-MG, nota 5; PUC-Rio, nota 5; UNB, nota 6).

Dos 30 cursos avaliados, 13 (43%) ofereciam apenas uma disciplina obrigatória de métodos e 12 (40%) ofertavam duas. Para três cursos (10%), não foi possível identificar qualquer disciplina obrigatória de métodos. Dois cursos (7%) registraram um máximo de oito disciplinas. Todavia, como estes pertencem à USP, a contagem deve ser relativizada, tendo em vista que, divergindo dos outros programas, a Pós-Graduação em Ciência Política da USP não diferencia entre disciplinas eletivas e obrigatórias até a data de nossa coleta de dados, de modo que, enquanto para os demais programas observamos apenas obrigatórias, para a USP tivemos de observar todas as disciplinas.12

Para calcular o percentual de carga horária voltada a métodos, consideramos a quantidade de horas dessas disciplinas dividida pela carga horária obrigatória total do curso. As disciplinas metodológicas corresponderam a uma média de 29,7% da carga horária obrigatória total. Essa participação vai de um mínimo de 0% (Mestrado PUC-Rio, Mestrado e Doutorado ECEME) e 11% (Doutorado UFRGS) até 50% (Doutorado UnB, Doutorado USP - RI) e 67% (Mestrado UnB). Ao cruzar estes percentuais de carga horária metodológica com o conceito de cada programa, notam-se valores maiores naqueles classificados como 6 e 7, sobretudo para os mestrados de nível 6.

Tabela 2.
Porcentagem Média de Métodos em Cursos de Mestrado e Doutorado.13

Com respeito ao conteúdo dessas disciplinas, notamos que a maioria dos cursos adota uma disciplina de corte generalista, normalmente evocando “Métodos de Pesquisa” ou “Metodologia nas Ciências Sociais/nas Relações Internacionais”. Tendo em vista que 43% dos cursos ofertam apenas uma disciplina obrigatória, resulta natural que esta oferta seja mais generalista e introdutória, ao passo que métodos mais especializados são alocados em componentes eletivos. Em alguns casos, pudemos encontrar disciplinas obrigatórias orientadas a algum nicho mais detalhado, como historiografia (UnB) e análise quantitativa (USP - RI).

Notou-se também que disciplinas do tipo Seminário de Dissertação/Tese estavam presentes em todos os cursos analisados, porém, com raras exceções, estas não apresentavam foco claramente metodológico. Sua ênfase típica residia na apresentação e debate de projetos de pesquisa, e atividades focadas mais na redação da dissertação ou tese do que na familiarização com desenhos de pesquisa ou métodos qualitativos e quantitativos.

Para os 20 cursos para os quais obtivemos ementas, a análise pormenorizada destes documentos revelou os seguintes padrões para as disciplinas obrigatórias. Há um conjunto estável de leituras que figura em praticamente todos os cursos, compreendendo trabalhos publicados entre as décadas de 1990 e 2000, com ênfase em desenhos de pesquisa, lógica da inferência e explicações causais. Trata-se de trabalhos já consagrados, que vieram a delinear o núcleo da metodologia política mainstream. Os manuais de autores como King, Keohane e Verba; Brady e Collier; Barbara Geddes; Van Evera; Kellstedt e Whitten; e Andrew Bennett figuram com frequência nas bibliografias. Não se percebeu uma distinção importante entre o uso de manuais populares em Ciência Política e obras focadas apenas em Relações Internacionais, de modo que os cursos parecem subscrever a uma noção compartilhada de metodologia política.

Uma das constatações imediatas dessa recorrência é que o uso de autores nacionais para fins didáticos é menos frequente. Alguns cursos, como os da UFF, USP e, principalmente, UNICAMP, empregaram mais fontes brasileiras no ensino de métodos para o período consultado. O texto de Gláucio Soares (2005) “O Calcanhar Metodológico da Ciência Política no Brasil” é uma das referências recorrentes nesse conjunto.

Enquanto manuais metodológicos de autores anglófonos são um elemento compartilhado por quase todas as disciplinas, notamos que, por cima deste conteúdo, os enfoques perseguidos em cada disciplina são diversos. Alguma semelhança entre as disciplinas, porém, permite agrupar essas ênfases adicionais em perfis compartilhados. Em alguns programas, deu-se preferência à abrangência em lugar do aprofundamento. Em tais casos, as disciplinas tendem a devotar uma sessão por abordagem metodológica (e.g.: uma aula para métodos quantitativos, uma para entrevistas, etc.), visando assim abranger, ao longo do semestre, o maior número possível de métodos. Programas como o da UEPB, UFRGS (Estudos Estratégicos) e UNESP adotaram este formato.

Um outro perfil reúne disciplinas que orientam a formação metodológica no sentido da filosofia da ciência, epistemologia e método científico. As disciplinas metodológicas da UERJ, UFSC e algumas eletivas da USP - CP (“Teoria e Metodologia em Ciência Política”) se enquadram neste perfil.

Programas dispondo de mais de uma disciplina obrigatória puderam ofertar, além de componentes generalistas, disciplinas voltadas a algum método especializado. Disciplinas específicas foram identificadas para a historiografia (UnB) e análise quantitativa/análise de dados (USP - RI; Mestrado UFPE). Houve ainda uma elevada oferta de disciplinas especializadas pela USP - CP (métodos quantitativos, qualitativos, inferência bayesiana e programação), porém, como já destacado, estas não são obrigatórias. Embora por esse motivo as disciplinas da USP - CP não possam ser comparadas diretamente ao restante em termos de volume, seu conteúdo revela alguns fatos importantes. Suas disciplinas especializadas em métodos quantitativos utilizam principalmente manuais da econometria e foram também os únicos casos de ementas devotando atenção especial à formação no uso das ferramentas de análise de dados (Excel, SPSS ou R). A disciplina “Quantitative Methods III”, por sua vez, foi a única em que encontramos menção a exercícios de replication. Outras menções únicas encontradas nos demais programas foram a citação a metodologias feministas em “Epistemologia II” no doutorado da UERJ e à indexação de periódicos científicos pela UEPB.

Os resultados detalhados dos cursos estão indicados na Tabela 3.

Tabela 3.
Lista de disciplinas metodológicas para IES brasileiras.

Por fim, comparamos nossa codificação com aquelas realizadas pelos dois docentes externos. Considerando 71 documentos e três codificadores, aplicamos como medidas de confiabilidade entre codificadores o alfa de Krippendorff, percentual de codificações idênticas entre os três e idênticas entre pares. Obtivemos um alfa de Krippendorff de 0,52; 68% dos documentos tiveram codificação idêntica entre os três; aos pares, nossa codificação foi idêntica à da primeira codificadora em 82% dos casos e em 75% no segundo, resultando em média de 78%.14 Esses índices aumentam nossa segurança quanto à confiabilidade dos totais apresentados acima, visto que observadores diversos chegaram a classificações fortemente semelhantes.

Conclusão

Neste artigo, apresentamos os resultados da análise de 30 cursos de pós-graduação no Brasil. O objetivo da inspeção foi averiguar a importância relativa da formação em métodos como possível indício explicativo para o problema da obscuridade metodológica em Relações Internacionais. Antes de sumarizar conclusões, é importante destacar que os achados se baseiam em dados recolhidos entre março e julho de 2020. Alguns dos cursos analisados, desde então, disponibilizaram novos conteúdos em seus websites para além daqueles analisados aqui.15

Alguns achados podem ser elencados à guisa de conclusão. O objetivo principal do artigo demanda alguma avaliação com respeito ao quão suficiente ou insuficiente é a atenção devotada a métodos nos cursos analisados. Recorrendo a comparações externas, vemos que o levantamento de Oliveira e Nicolau (2012) para as pós-graduações em Ciência Política na USP e IUPERJ entre 1970 e 2011 mostra uma oferta de disciplinas metodológicas entre 8 e 13% da carga-horária, enquanto Barberia, Godoy e Barboza (2014), analisando 15 programas em Ciência Política entre 1998 e 2012, detectaram que os programas tenderam, sem muita oscilação, a oferecer entre uma e duas disciplinas metodológicas. Um padrão semelhante se verifica para nossa amostra de programas em Relações Internacionais e áreas afins, em que 83% dos cursos ofertavam uma ou duas disciplinas obrigatórias, normalmente de corte generalista. Semelhante àqueles autores, constatamos que a oferta tem se expandido e se faz presente em quase todos os casos estudados, porém ainda se revela fraca em seus efeitos. Se supusermos uma relação direta entre a carga horária encontrada e os achados de Medeiros et al. (2016), constata-se que o volume presente de disciplinas ainda é subótimo para treinar quadros adequadamente ciosos da clareza metodológica. Todavia, é ao mesmo tempo plausível que essa relação não seja unívoca, o que impediria tal ilação. Um mecanismo alternativo é que a carga formativa atual esteja, na verdade, superando a obscuridade metodológica, porém que os pesquisadores assim habilitados priorizem a publicação em journals fora da América do Sul, prática consistente com a elevação dos índices de internacionalização utilizados pela avaliação da CAPES para os cursos de pós-graduação. Isso explicaria os baixos valores do estudo de Medeiros et al. (2016).16

Embora, em termos de volume, a oferta seja julgada pequena, em termos de qualidade encontramos indícios de uma paulatina superação do “calcanhar metodológico” (SOARES, 2005). A presença estável dos mesmos manuais tradicionais em diversas ementas (e.g.: King, Keohane e Verba; Kellstedt e Whitten; etc.) é um sinal da consolidação da metodologia política como um subcampo na disciplina, ancorada principalmente na contribuição desse núcleo duro de autores (KIM; GROFMAN, 2019, p. 310). Essa recorrência nos permite extrair duas conclusões. Primeiramente, o delineamento do conteúdo metodológico comum segue de perto o praticado na Ciência Política mainstream. Desse modo, os programas não sugerem uma diferença disciplinar importante entre os campos da Ciência Política e Relações Internacionais, de modo que ambos podem se beneficiar, sem prejuízo, de um mesmo repositório comum de autores.

Uma segunda conclusão deste padrão de leituras é a escassez de autores nacionais. É pauta para investigação futura se tal ausência é provocada pela oferta (poucos trabalhos metodológicos em língua portuguesa) ou pela demanda (baixa procura da parte dos docentes). Em nossa avaliação - ainda que impressionista neste estágio - há crescente oferta de materiais nacionais sobre métodos, tanto na forma de artigos como livros. Essas produções parecem, contudo, subaproveitadas para propósitos didáticos. Tendo em vista que elas são habitualmente disponibilizadas gratuitamente, é possível que seu baixo uso seja apenas por força do desconhecimento. Assim, listamos no Quadro 4 uma lista sugestiva com alguns dos trabalhos mais recentes com ambição didática direcionada para o ensino de técnicas específicas e, no geral, de como elaborar bons desenhos de pesquisa.

Quadro 4.
Relação de livros e artigos nacionais sobre metodologia de pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais.

Consideramos ainda a importância de iniciativas para o estabelecimento de padrões de replicabilidade e transparência (KING, 1995; FIGUEIREDO FILHO et al., 2019) por parte de periódicos, que podem acrescentar às suas normas a exigência da disponibilização dos dados e clareza quanto aos métodos utilizados. Às universidades, entrementes, apresenta-se a oportunidade de instituir fundos para incentivar a produção de bancos de dados replicáveis, além de definir requisitos de data sharing para obtenção de títulos acadêmicos (DAFOE, 2014). A adoção de tais políticas poderá propiciar melhorias na formação em métodos, além de encorajar a produção de materiais nacionais sobre o assunto e seu melhor aproveitamento.

Referências

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  • SOARES, Gláucio. O calcanhar metodológico da ciência política no Brasil. Sociologia, problemas e práticas, [s. l.], n. 48, p. 27-52, 2005.
  • 5
    Versão preliminar deste trabalho foi apresentada no 12º Encontro da ABCP em outubro de 2020. Agradecemos aos organizadores e participantes da AT04 “Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais” pelos comentários. Agradecemos ainda aos pareceristas anônimos da RBCP por sua contribuição e, em especial, aos professores Vitor Sandes (UFPI) e Elia Alves (UFPB) por seu trabalho na codificação externa dos dados.
  • 6
    Ver, por exemplo, a IPSA-USP Summer School, convênio entre a International Political Science Association e a Universidade de São Paulo em http://summerschool.fflch.usp.br/, a ECPR Winter School, realizada pelo European Consortium for Political Research em https://ecpr.eu/WinterSchool.
  • 7
    Isso limita a comparabilidade com os resultados de Medeiros et al. (2016), tendo em vista que nosso intervalo temporal será posterior. Acreditamos, não obstante, que distorções decorrentes desse recorte não sejam proibitivas, já que programas de pós-graduação, pela experiência dos autores, tendem a seguir sem mudanças expressivas em seu currículo por um longo intervalo de tempo.
  • 8
    Esse poder de irradiação é esperado inclusive pelo sistema de incentivos institucionais existente: a capacidade de “nucleação” (i.e.: formação de quadros que integrarão outras instituições) é um dos quesitos premiados pela CAPES em sua avaliação institucional.
  • 9
  • 10
    Houve um caso de Programa que, em seu site, disponibilizava apenas os títulos das disciplinas, porém para o qual obtivemos, posteriormente, por meio de contato com o coordenador, mais informações: UnB (obtivemos títulos, descrições e ementas completas).
  • 11
    Dos 76 documentos originais, 4 printscreens foram excluídos da codificação externa por estarem, no período, em revisão quanto à sua inclusão ou não na amostra.
  • 12
    Optamos por manter a USP por: 1) ser um dos dois únicos programas avaliados com a nota máxima da Capes, 7; 2) em que pese não ter obrigatoriedade de cursar disciplinas de metodologia, seus programas oferecem a maior quantidade de disciplinas de metodologia, com alto nível de especificidade.
  • 13
    Os casos da ECEME (mestrado e doutorado) não foram contabilizados para o cálculo da média porque não estavam disponíveis até o término da análise dos dados.
  • 14
    Dos 71 documentos, 19 são repetidos, pois se aplicam tanto a cursos de Mestrado quanto de Doutorado. Para verificar se essa duplicação afetava os resultados, calculamos os três escores também para um corpus reduzido, contendo apenas documentos únicos. As alterações de valor foram mínimas: alfa = 0,54, classificação idêntica entre os três = 65% e idêntica aos pares = 76%.
  • 15
    Esse é o caso dos cursos do Laboratório de Metodologia oferecidos pelo IRI PUC-Rio, que integram parte (24 horas) da carga horária obrigatória nos programas acadêmicos do Instituto. Mais informações disponíveis em: http://www.iri.puc-rio.br/pesquisa/laboratorio-de-metodologia/.
  • 16
    Kristensen (2015, p. 259), porém, detecta baixa ocorrência de autores brasileiros entre os periódicos mainstream de Relações Internacionais (3,2% se considerados em conjunto com indianos e chineses), reforçando nossa hipótese original.
  • 17
    Os autores produziram diversos outros artigos voltados a ferramentas específicas (e.g. regressão logística, análise fatorial, etc.) que também possuem foco pedagógico. Ver: http://lattes.cnpq.br/6683806605359913. Acesso em: 15 de nov. de 2021.
  • 1
    Para replicação dos dados: https://doi.org/10.7910/DVN/EFYKBS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    18 Nov 2021
  • Aceito
    17 Set 2022
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