O trabalho propõe uma releitura, confessadamente interessada e irônica, dos célebres esclarecimentos prestados por Malinowski no capítulo de abertura dos Argonautas do pacífico ocidental. Nesse texto, Malinowski expõe suas justificativas para o tipo de aproximação que realizou para estudar uma população melanésia da década de 1910, aproximação desde então consagrada na antropologia mediante a idéia de "trabalho de campo". Pretendo, de minha parte, demonstrar que as mesmas justificativas, colocadas dentro dos quadros propiciados por objetos bem diversos, podem fundamentar uma outra aproximação metodológica. Nesse sentido, continuar "fiel" a Malinowski significa relê-lo (e mesmo subvertê-lo) de forma a explorar certas virtualidades de seu texto, acionadas com base em situações de pesquisa com que os antropólogos se deparam atualmente, permitindo adequar à disciplina metodologias que não se definem estritamente como "trabalho de campo". Essas reflexões assentam-se sobre uma trajetória pessoal caracterizada exatamente por pesquisas que privilegiaram materiais arquivísticos e fontes textuais.
Antropologia; Etnografia; Trabalho de campo; Malinowski