Políticas econômicas e sociais construíram o caminho para a redução das desigualdades e melhoria de vida de milhões de brasileiros nos anos de 2000. Com base em pesquisa entre recipientes do programa Minha Casa, Minha Vida, discute-se os nexos etnográficos entre políticas públicas e mobilidade ascendente. Seguindo a trajetória pública e privada de dona Hilda – uma senhora negra e pobre de 97 anos que vive na periferia de Porto Alegre – argumento que a mobilidade emergente no cerne da ampliação das intervenções de governo materializou-se em alinhamentos difusos entre políticos locais, agentes de mercado, planejadores, lideranças e “cidadãos desejantes”. Para navegar esses terrenos políticos, econômicos e comunitários, dona Hilda engajou-se num trabalho por cidadania habitacional e merecimento que a converteu na personagem exemplar do programa. Deslindando os limites morais entre discurso, história e subjetividade, a cartografia desses fragmentos está mais bem equipada para explorar as pós-vidas das políticas públicas no Brasil recente.
Políticas públicas; Cidadania; Merecimento; Pós-vidas; Subjetividade; Habitação