rbedu
Revista Brasileira de Educação
Rev. Bras. Educ.
1413-2478
1809-449X
ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
RESUMEN
El artículo analiza el lugar que el escrito ha ocupado en el cotidiano de comunidades Xakriabá, principalmente en situaciones relacionadas a la elaboración y desarrollo de proyectos sociales, en sus asociaciones. El trabajo se basa en una pesquisa etnográfica realizada en tres pueblos de indios. Los resultados indican que, entre los Xakriabá, la habilidad de leer y escribir es utilizada no como atributo restricto al individuo, sino como una habilidad disponible para el colectivo. En ese marco, la oralidad es fundamental en el proceso de negociación entre los diversos sujetos y el escrito. Los usos y funciones del escrito producidos cotidianamente por los Xakriabá establecen y por veces presuponen diferencias entre los sujetos envueltos aunque no produzcan necesariamente desigualdad entre ellos. Constatamos también que los Xakriabá, cuando se encuentran en la situación de interacción con una modalidad de escritura característica de la sociedad nacional, lo hacen atribuyendo usos y funciones basados en las tradiciones locales.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a realidade dos povos indígenas brasileiros tem sido marcada pela presença, cada vez mais intensa, de associações indígenas nas aldeias, criadas principalmente a partir dos anos 1980. Esse dado relaciona-se a um processo mais amplo de conquista de direitos sociais e políticos por parte desses povos. No capítulo VIII da Constituição Brasileira de 1988, artigos 231 e 232, especificamente dedicado às questões indígenas, os índios são reconhecidos como sujeitos históricos e não como pessoas sem capacidades e, portanto, tutelados por um Estado integracionista e autoritário. Ainda que haja descompasso em relação ao que foi proposto na Constituição e a prática administrativa do Estado, a afirmação do direito à diferença presente no documento trouxe como resultado a garantia de alguns territórios, o direito à educação distinta e, em última análise, possibilitou o associativismo indígena. Geridas pelos próprios indígenas, e apoiadas por parceiros externos, como universidades e organizações não governamentais (ONGs), as associações cumprem diversas atribuições, e entre elas está a de elaborar e desenvolver os denominados projetos sociais pelos quais podem obter financiamento do Estado e de organizações da sociedade civil para a realização de diversas ações, tendo em vista suas demandas.
Uma das consequências diretas dessa necessidade de gerir associações, elaborar e executar projetos tem sido a progressiva penetração de formas escritas de comunicação em comunidades que tinham até recentemente, de maneira predominante, modos orais de produção e transmissão de saberes. Entre os Xakriabá, povo cuja terra situa-se no município de São João das Missões, no Norte de Minas Gerais, não tem sido diferente. Na relação com a sociedade nacional,1 em especial com os financiadores que fazem parte das "sociedades burocráticas modernas", que têm na cultura escrita2 a pedra fundamental de sua formação, observam-se a preponderância do escrito3 e a presença de poucos mecanismos capazes de captar e valorizar processos vividos em territórios indígenas que não estejam a ele vinculados. O escrito tem um papel central nos projetos não somente pelo que representa na sociedade nacional de onde vêm os financiadores, mas também traz consequências nas formas locais de interação. Como esse processo se dá? O que a presença cada vez mais forte da escrita tem provocado nos Xakriabá? O que os Xakriabá, em contrapartida, têm feito com a escrita?
As relações entre povos indígenas e escrita têm sido analisadas, há algumas décadas, em estudos de natureza muito variada. Esses trabalhos buscam, entre outros aspectos, compreender as especificidades da relação da escrita com as formas de conhecimento próprias de alguns povos (Cesarino, 2012; Macedo, 2009); ou os processos de ortografização de algumas línguas e as questões que envolvem escrita e tradução (Franchetto, 2008, 2012). Muitos são os trabalhos que abordam a presença da escrita a partir do contexto da escolarização, explorando as dinâmicas de apropriação e seus desdobramentos em escolas e na comunidade (D'Angelis; Veiga, 1997; Gerken; Teixeira, 2005; Gerken et al., 2014; Mendonça, 2014; Neves, 2009, entre outros).
Outros estudos, por sua vez, visam à análise do próprio fenômeno do associativismo indígena, como o de Albert (2001), que analisou o associativismo na Amazônia nos anos 1970 e 1980 no contexto de luta pela garantia de direitos para a captação de recursos acessando o que chamou de "mercado de projetos" internacional e nacional, mas não há referência, em seu trabalho, sobre a presença e os desdobramentos dos documentos escritos nas associações. A especificidade da presente pesquisa é, exatamente, analisar, no contexto do associativismo indígena, em virtude dos padrões que impõe e da interface com agências de financiamento, o lugar que o escrito tem ocupado no cotidiano das comunidades. Para isso, buscamos analisar dos tipos de escrita mais comuns observados em eventos de letramento,4 ocorridos em situações relacionadas às associações e, particularmente, à elaboração e ao desenvolvimento de projetos.
O trabalho insere-se em um conjunto de estudos que vêm sendo realizados nas últimas décadas, em diversos países no mundo,5 os quais, mais que descrever de maneira dicotomizada as diferenças entre a cultura escrita e a oral,6 procuram apreender as condições sociais, históricas e técnicas em torno das quais, para diferentes casos históricos, foram construídas determinadas culturas escritas e um conjunto determinado de impactos políticos, sociais, culturais. Buscam, ainda, não apenas apreender em que o escrito impactou/tem impactado o modo de vida dos sujeitos e das comunidades, mas compreender de que modo os sujeitos e as comunidades se apropriaram/têm se apropriado do escrito.
O artigo baseia-se em uma pesquisa etnográfica realizada em três aldeias - Itapecuru, Caatinguinha e Barreiro Preto - localizadas na Terra Indígena Xakriabá (TIX), durante aproximadamente quinze meses de trabalho de campo. Como procedimentos de coleta de dados, foram utilizadas a observação participante e entrevistas, com presença em diferentes momentos do processo de proposição e execução dos projetos, assim como em outros contextos da vida cotidiana nas aldeias Xakriabá.
Existiam na TIX, por ocasião do trabalho de campo, doze entidades jurídicas relacionadas ao associativismo: dez associações indígenas, a Organização da Educação Indígena Xakriabá (OEIX) e a Organização dos Grupos de Roça Xakriabá da Aldeia Itapecuru (OGRXAI) que, a partir das primeiras informações sistematizadas em 1997 no curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI), envolveram-se com pelo menos vinte e oito projetos de segurança alimentar, cultura, saúde, gerenciando um montante aproximado de R$1.560.632,00, sem contar os projetos desenvolvidos para os quais não houve aplicação direta de recursos financeiros pela associação7.
O processo de contato dos Xakriabá com não indígenas iniciou-se desde a chegada dos bandeirantes à região, em meados do século XVI, quando o local era densamente povoado por diferentes etnias. Em 1728, os indígenas receberam uma Carta de Doação em virtude do fechamento da missão que havia na então São João dos Índios. A partir da segunda metade do século XVIII, verifica-se uma progressiva e veloz entrada do colonizador, que vai reduzir drasticamente a presença indígena na região (Santos, 2013).
No início do século XX, os Xakriabá aparecem como o único povo indígena de que se tem informações no cerrado norte-mineiro. Viveram, durante muito tempo, acolhendo camponeses pobres de outras regiões e negros oriundos do processo de escravização, até que o desenvolvimento rural, ocorrido em meados do século XX, tornou-se uma ameaça ao convívio no território. Conflitos de terras passaram a caracterizar o local e, somente depois de lutas violentas, a homologação da terra indígena ocorreu, em 1989. Desde então, enfrentam o desafio cotidiano da sobrevivência. A população Xakriabá é estimada em 8 mil indígenas, distribuídos em várias aldeias e subaldeias, em 53.074,92 hectares de área, o que, em relação ao espaço humano e geográfico, equivale a mais de 70% da área e população do município de São João das Missões. Os Xakriabá experienciaram uma história de longo e complexo contato com a sociedade nacional e, por consequência, vivem em interação com ela sem terem sido, no entanto, assimilados e/ou dissolvidos no convívio. Uma das consequências desse longo e permanente contato é a ausência de uma língua vernacular indígena entre os Xakriabá, que são falantes do português em uma variante específica.8
O documento de doação das terras de 1728 foi registrado pelos Xakriabá em Januária e Mariana quando da promulgação da Lei das Terras, em 1850, que sancionou a passagem do sistema colonial das sesmarias para uma organização fundiária que previa a titulação como propriedade de quem ocupava e cultivava as terras. Esse fato revela uma gênese singular da relação desse povo indígena com o Estado nacional e com a sociedade que em torno dele se estruturou, exatamente por meio de práticas associadas à cultura escrita, como o são também as práticas de proposição e implementação de projetos de suas associações.
Neste artigo, buscamos, em um primeiro momento, dar uma visão geral sobre a presença do escrito na TIX e, em seguida, analisamos a presença da palavra escrita especificamente nas situações relacionadas às associações e aos projetos sociais.
O ESCRITO NA TIX
Em que espaços são observadas com mais frequência a produção e a circulação de materiais escritos na TIX? Que tipo de escrito circula nas aldeias? Que papéis são a ele atribuídos? De modo geral, pode-se afirmar que a escrita alfabética está disseminada nas aldeias estudadas, embora de maneira diversificada entre elas: existe uma visível distância entre a aldeia Barreiro Preto, onde também se observa o desenvolvimento local mais intenso em relação a outros aspectos - processo de escolarização mais consolidado, número maior de professores com formação universitária, presença de comércio, telefonia pública, casas de alvenaria bem estruturadas, aparelhos de televisão e um maior número de projetos desenvolvidos por sua associação -, e a aldeia da Caatinguinha, onde foi constatada, em várias pesquisas, uma maior precariedade material quanto à moradia e dificuldades na realização das atividades de subsistência. A pesquisa etnográfica mostrou que o escrito é predominante em determinados espaços sociais e vinculado a determinadas esferas,9 como o Estado, a escola e as igrejas de diferentes denominações. É possível também observar a circulação do escrito no espaço privado.
De maneira geral, o escrito está associado, no cotidiano da aldeia, a pessoas que desempenham funções públicas, em especial diretores de escola, funcionários da prefeitura, vereadores e outras lideranças que têm contato com comunidades externas à TIX. Essas pessoas têm suas casas transformadas em referência de comunicação que envolve o escrito: recebem e distribuem correspondências, avisos, convocações. Oliveira (2011, p. 65) fez um estudo sobre os usos da linguagem escrita na aldeia Itapecuru e constatou que a casa do vereador era uma "espécie de posto dos correios local". São práticas, portanto, relacionadas à esfera do Estado, embora de um modo bastante peculiar em relação à forma como isso se dá na sociedade nacional.
Em visita à casa do cacique na aldeia-sede, constatamos a relação que esse espaço tem com a administração burocrática e, portanto, com o escrito. Nela, presenciamos pessoas que o procuravam para que assinasse documentos variados. Algumas dessas pessoas chegavam ao lugar com documentos já elaborados, tais como cartas, atestados, encaminhamentos, assinados por ele após uma leitura atenta. Outras faziam pedidos de documentos para os quais ele possuía modelos ou formulários. Finalmente, havia pessoas para as quais ele apresentava, elaborava e assinava documentos. É importante destacar que o cacique apresentava grande habilidade com a escrita em outras esferas da vida da aldeia, sendo autor de vários poemas, já tendo até mesmo participado da publicação de livros.10 Além disso, foi aluno do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG),11campus Januária, onde adquiriu a escolarização de nível fundamental.
A escola constitui-se como uma outra instância de circulação do escrito na TIX. Nos últimos anos, a instituição escolar tem tido presença cada vez maior no cotidiano das aldeias e, por sua própria natureza, tem, nos materiais escritos, uma das bases para seu funcionamento, trazendo impactos decisivos para a reconfiguração do lugar que a leitura e a escrita ocupam nas comunidades. Em 1997, a matrícula escolar na TIX era em torno de 1.400 alunos; em 2014 esse número chegou a 2.779.12 A criação das escolas estaduais indígenas pelo Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais (PIEI-MG), no período de 1995 a 1997, foi um fato marcante para todos os povos envolvidos.
Tal programa foi fruto de uma parceria dos povos indígenas com a Secretaria de Estado da Educação, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Fundação Nacional do Índio e o Instituto Estadual de Florestas e teve como uma das ações iniciais o desenvolvimento do curso de formação de professores indígenas, reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais (CEE/MG). A partir de 1997, as escolas indígenas, antes geridas pelas prefeituras e pela própria Fundação Nacional do Índio (FUNAI), foram estadualizadas e passaram a ter professores indígenas, mesmo os que ainda se encontravam em formação, como regentes de aulas e gestores.13
Atualmente, pode-se observar o impacto da escolarização tanto no cotidiano das aldeias quanto nas relações sociais e políticas mais amplas no município. O prefeito indígena e vários vereadores indígenas do município de São João das Missões, os professores, secretários, auxiliares de serviços gerais e agentes de saúde passaram ou estão passando pelo processo de escolarização que inclui a formação em nível superior. Muitos dos sujeitos investigados, vinculados às associações e aos projetos sociais, são ou foram alunos do PROEJA indígena, projeto iniciado em 2007. Nesse sentido, Gomes (2006, p. 1) observa:
Os novos atores sociais, construídos pela mediação da prática escolar e pelo domínio da linguagem escrita, se legitimam intervindo em procedimentos culturais importantes para a vida do grupo, modificando sensivelmente as práticas tradicionais realizadas pelos mais velhos, definindo os contornos do processo de letramento em curso.
A pesquisa que originou este artigo mostrou que existem movimentos que revelam um particular sentido para a presença da escola nas formas tradicionais de vida dos Xakriabá. É possível, por exemplo, observar a incorporação de gêneros textuais, comuns nas formas orais de comunicação entre os Xakriabá, nas atividades escritas escolares, como a poesia, presente nos livros da educação escolar indígena e na cartilha elaborada com os Caxixó e Pataxó no curso de formação dos professores indígenas na Faculdade de Educação da UFMG (Nogueira, 2010). Outro movimento é o de fazer com que os mais velhos participem de atividades escolares, seja por meio dos professores de cultura, seja nas relações cotidianas e familiares. Os professores de cultura, que são em grande parte pessoas mais velhas e nem sempre escolarizadas ou envolvidas com atividades de leitura e escrita, foram citados em muitas ocasiões de eventos coletivos como os responsáveis por promover o encontro de gerações, em que os mais velhos vivenciam suas referências culturais e as transmitem aos mais jovens.
Mesmo com a valorização daqueles que necessariamente não são escolarizados, foi possível observar, em vários depoimentos, que os sujeitos relacionam, de modo estreito, escolarização e cultura escrita. Nas conversas sobre a preparação de futuras lideranças e sobre a atuação das novas gerações, é possível constatar certa inquietação dos mais velhos com a mudança que a escolarização, a leitura e a escrita têm provocado entre os jovens Xakriabá. Uma Xakriabá idosa, por exemplo, afirma que ela mesma só tem "a leitura dos passarim". Os mais jovens, em processo de escolarização, por sua vez, "tá riscano papel..." Acrescenta, no entanto, que "riscar o papel" só vale a pena se "compreenda tudo na vida..." (Escobar, 2004, p. 78).
A idosa estabelece a relação entre leitura, escrita e escola, mas levanta suspeita a respeito da função que essas novas habilidades exercem no processo de configuração do sujeito Xakriabá. Seu filho, ao ser indagado sobre seu processo de formação, esclareceu que o pai lhe ensinou a rezar, respeitar a irmandade, o valor da amizade e os trabalhos internos das devoções. Em suas palavras, é flagrante a ausência da escola e da relação com a leitura e escrita em seu processo formativo: "Eles [os pais] informava muitas coisa... mas coisa daqui mesmo da natureza [...] A gente foi aprendendo muitas coisa boa conforme o trabalho. O trabalho forma a gente" (idem, p. 84).
Além das esferas do Estado e da escola, podemos observar que a circulação do escrito também está associada, na TIX, à esfera religiosa.14 Nas aldeias Caatinguinha e Barreiro Preto, Gomes, Gerken e Alvares (2004) e Gerken e Teixeira (2005) observaram que práticas da Igreja católica estavam relacionadas ao uso simbólico do escrito. Os autores constataram que, embora a palavra escrita estivesse presente nos rituais religiosos, ela não era definidora do evento realizado. Em rezas, ladainhas e benditos, por exemplo, predominavam a oralidade e a memorização.15
Gomes, Gerken e Alvares (2004), ao descrever a relação entre escrita e oralidade em uma festa religiosa, analisam um ritual, apropriado da Igreja católica, que era baseado em um livro antigo, que tinha como fiel depositário um sujeito analfabeto. Mesmo que da festa participassem também professores e outras pessoas escolarizadas, o livro foi lido por uma liderança que à época não havia frequentado a escola. A leitura foi realizada com dificuldade. Para os autores,
O livro representa uma herança simbólica, é o símbolo de um poder e de um saber construído e transmitido através da oralidade. Sr. Zé torna-se senhor do livro, não por saber ler e escrever, mas por ocupar um lugar privilegiado numa cadeia de criação e transmissão oral do saber. A análise deste episódio nos mostra que a ordem simbólica que determina a posição dos sujeitos na hierarquia de poder da aldeia estrutura-se com base em processos de transmissão oral. No entanto, a presença simbólica do livro faz uma clara referência a um processo de assimilação da cultura letrada. (idem, p. 80)
Em nossa pesquisa também presenciamos situações vinculadas à esfera religiosa em que o escrito ocupava posições simbólicas semelhantes. Em visita ao pajé na aldeia Caatinguinha, fomos levados a conhecer o quartinho de reza. No local, havia uma variedade de imagens de santos, colares pendurados, recipientes de cerâmica confeccionados pelo próprio pajé contendo pedra, contas, sementes. Estava também guardado um livro ao qual ele demonstrou deferência e veneração. O livro, sobre plantas medicinais do cerrado brasileiro, trazia depoimentos sobre o uso feito por comunidades rurais. Entre eles estava um que o pajé nos fez ler e ao qual se referiu como uma oração: o de uma benzedeira do Vale do Jequitinhonha que caracterizava sua missão como dom divino. De pé, em uma postura ereta, com a cabeça erguida e olhando para baixo - para o livro -, apontava com a cabeça, levantando a sobrancelha, para algo importante em determinada página. O livro parecia estar lá para confirmar toda a sabedoria que detinha a respeito do cerrado com a qual exercia sua missão de pajé.
Na aldeia Itapecuru, pesquisada por Oliveira (2011), a experiência relatada refere-se às práticas de igrejas evangélicas, nas quais materiais impressos, como a Bíblia e os hinários, são usados para acompanhar os cultos ou realizar reflexões pessoais.16 De modo diferente do que ocorre nas experiências da Igreja católica, observadas nas aldeias Barreiro Preto e na Caatinguinha, em que a participação de membros não letrados ou com leitura precária é comum, na experiência das igrejas evangélicas a escolarização, a disseminação e o uso da escrita são elementos constitutivos.
Identificamos, por fim, outra instância em que o escrito parece circular com alguma intensidade na TIX: o espaço doméstico. Essa circulação torna-se mais intensa em casas nas quais existem antenas para captar sinal de celular. Por meio das mensagens recebidas e enviadas pelo aparelho, os moradores também recebem e transmitem informações para espaços externos às aldeias. Além desses espaços domésticos específicos, pesquisas têm constatado que as paredes e partes das casas de alguns sujeitos Xakriabá têm se transformado em verdadeiros murais para a afixação de materiais escritos. Oliveira (idem, p. 68) assim observou:
As casas da aldeia [Itapecuru] têm paredes de adobe ou de alvenaria que se apresentam em muitos dos casos examinados, "um grande mural", em que se podem notar calendários, do ano atual, como de anos anteriores a enfeitar as paredes da residência, as fotos dos artistas de TV e cantores prediletos, retiradas de revistas de circulação nacional e afixadas naquela importante parte da construção, os números de telefones (em sua maioria de celular) e os nomes dos seus donos escritos a lápis, construindo assim uma agenda simples e direta [...]. Os pedidos de exames e as receitas médicas, ao alcance dos olhos para que as datas de realização e horários de uso não fossem esquecidas.
O mesmo tipo de mural foi observado em nossa pesquisa: em uma das casas, em cima de uma mesa grande instalada na cozinha onde a família fazia a refeição, entre uma vistosa toalha de tecido e um forro de plástico transparente que a protegia, havia uma grande quantidade de materiais escritos. Essas constatações parecem constituir-se em mais um indício de que o escrito tem ocupado um significativo lugar no cotidiano das aldeias. A ele estão relacionadas funções pragmáticas (anotar para não esquecer), estéticas (há uma ideia de beleza implícita na construção desses apelos visuais) e também simbólica (ler, escrever e afixar o escrito em locais visíveis da casa é fator de distinção).
Essa visão panorâmica da presença do escrito na TIX sugere que culturas escritas específicas têm sido produzidas por esse povo. Os usos analisados podem ser interpretados como uma mescla de práticas que são bastante frequentes em espaços externos às aldeias, combinados com usos que têm adquirido significações próprias. Não se pode afirmar, nesse sentido, que o letramento dos Xakriabá seja exclusivamente local e nem que a interlocução com a sociedade nacional seja predominante entre eles. Ou, evocando Sahlins (1997, p. 58), "a integração e a diferenciação são coevolucionárias".
O ESCRITO EM SITUAÇÕES RELACIONADAS ÀS ASSOCIAÇÕES E AOS PROJETOS SOCIAIS
Neste tópico, analisamos os usos da leitura e da escrita feitos pelos indígenas em situações que, nos últimos anos, têm se tornado cada vez mais intensas na TIX: a elaboração e o desenvolvimento de projetos sociais em associações indígenas. Como referido, as experiências do associativismo, além de fazer parte do quadro de alterações locais, têm trazido um novo lugar - simbólico e material - para o escrito.
As associações são entidades reconhecidas pelo Estado nacional e, por isso, sua própria existência já supõe um processo burocrático de escrita formal como modo de garantir sua legitimidade. Para criar uma associação, uma diretoria ou órgão equivalente, com a participação de outros membros, encaminha a elaboração de um estatuto e, de posse de uma ata do processo de criação da entidade, registra-a em cartório da cidade vizinha. A existência da associação por si só, nesse sentido, impulsiona e/ou intensifica a cultura escrita naquela comunidade de prática (Lave; Wenger, 1991),17 como afirma o presidente da primeira associação da TIX em depoimento à pesquisa: "De uma forma ou outra o presidente da associação precisa saber ler um pouco ou ter alguém de lado pra ajudar ele; como tem o secretário, alguma coisa assim, porque... sem ler nada é difícil pra trabalhar".18
A referida associação foi criada, em 1998, por um grupo de pessoas não alfabetizadas e/ou que tinham pouco acesso à leitura e escrita. Segundo o mesmo ex-presidente, "se a gente vê o [primeiro] livro de ata... eu acho que pra nós é até ter ele por lembrança porque a maioria das pessoas teve que colocar o dedo mesmo na tinta e colocar lá na folha pra poder valer por assinatura, porque ninguém... a maioria não sabia assinar, né? Eu sabia um pouquinho, né, mas a maioria num sabia".
A explicação dada para a decisão por ele considerada corajosa de iniciar um trabalho que envolvia os usos da leitura e da escrita com uma desenvoltura que eles ainda não tinham foi a seguinte: "a gente ficou pensando que não só a leitura resolve, mas também a união, o conhecimento, o costume, a tradição e um respeitando ao outro e todo mundo trabalhando junto num só objetivo. Isso é que é importante".
Nos trechos citados, é possível observar como os Xakriabá, envolvidos no processo de decisão de transformar a tradição local do trabalho coletivo em um associativismo reconhecido legalmente pela sociedade nacional, procederam para se apropriar de uma ferramenta exógena, representada por determinado modo de conceber e usar o escrito.
Que tipo de escrita é, então, demandada dos indígenas para participarem ativamente na elaboração e no desenvolvimento dos projetos sociais nas associações? Uma escrita obrigatória e a primeira que se apresenta em uma associação, até mesmo para garantir sua existência, é o livro de ata, que também é imprescindível para o desenvolvimento dos projetos. Trata-se de uma escrita formal, embora calcada na oralidade. Fraenkel (2010, p. 165 ss.), referindo-se a "corpus, inventários e tipologia dos escritos", na pesquisa etnográfica realizada no espaço do trabalho, chama atenção para a condição da ata como "categoria preestabelecida". Como documento jurídico, destinado às instituições da sociedade nacional para o funcionamento da associação e para acompanhar os projetos sociais, a ata é cuidadosamente tratada. Os Xakriabá, como se pode ver no excerto a seguir, parecem compreender a especificidade desse tipo de escrito, pois a ele conferem um papel que não se limita a registrar o que ocorreu nas reuniões, mas envolve, fundamentalmente, uma negociação entre a dinâmica do vivido - calcada na oralidade - e as exigências próprias desse gênero textual. As reuniões são vistas como espaços coletivos em que os sujeitos podem/devem fazer as colocações que julgarem necessárias, muitas vezes ultrapassando a pauta para elas previstas. A ata, por sua própria singularidade, não é capaz de registrar essa complexidade, conforme declara uma liderança da aldeia Barreiro Preto, em depoimento coletado em campo:
Tipo lá na [reunião] da cooperativa no Sumaré, num era pra isso; o pessoal da cooperativa veio pra discutir aquele assunto sobre a questão dos associado... dos cooperado e tal... e a forma da cooperativa trabalhar... e aí entrou: Luz para Todos, num sei quê... e a ata fica muito complexa... e às vezes, por falta de orientação também, quem tá escrevendo a ata põe tudo... E às vezes até que a reunião foi específica pra aquilo, né? E às vezes o projeto, que o pessoal lá pede uma ata com o conteúdo que mais precisa, né? [...] Então... aí a gente tá pensando o seguinte, a gente já começou fazer o seguinte: quando tem essa necessidade, a gente fazer tipo duas atas, né? Uma que coloca tudo e uma coloca... (risos) pra poder a gente... né?
O depoimento da liderança mostra a apropriação de uma "categoria preestabelecida" pela sociedade nacional com contornos próprios. A solução de fazer duas atas19 pode ser interpretada não como uma forma de "burlar" o "preestabelecido" pelo financiador, mas demonstra a compreensão de que esse gênero textual, tal como definido pela cultura escrita hegemônica, não serve aos propósitos de registrar a dinâmica do vivido em sua complexidade. É preciso que ele ganhe um significado que também sirva aos propósitos locais.
Nesse sentido, além da função jurídica, os Xakriabá atribuem à ata também o status de documento de uso local. O primeiro presidente da Associação Aldeia do Barreiro Preto, citado anteriormente, para destacar a quantidade de analfabetos que existiam na comunidade no início do trabalho da associação, expressa que a ata deveria ser guardada para "ter por lembrança porque a maioria das pessoas teve que colocar o dedo mesmo na tinta e colocar lá na folha pra poder valer por assinatura porque ninguém... a maioria não sabia assinar, né?" Da mesma maneira, o presidente dessa associação, por ocasião da pesquisa, refere-se à ata como uma forma de contar a história de quem foram os sucessivos diretores das associações. Para ele, a ata é um modo de fazer lembrar que, desde a fundação da associação em 1998, existiram seis mandatos com a participação de várias pessoas.
O estatuto também tem seu papel redimensionado no cotidiano das associações. Em dois momentos, observamos que esse tipo de documento foi referenciado quando necessário para resolver situações problemáticas. Em uma reunião da associação da aldeia Barra do Sumaré, que havia sido criada sem a participação da comunidade local e sem o adjutório das outras associações - como recomenda a tradição -, houve uma leitura do estatuto com o objetivo de decidir coletivamente sobre a continuidade ou não da entidade e, no caso da primeira opção, que alterações se faziam necessárias no documento. Em outra situação, dessa vez na aldeia Itapecuru, o estatuto foi lido e explicado pelo presidente à comunidade, que também não conhecia a entidade e não a considerava algo que fazia parte da vida da aldeia.
Aqui tá falando que essa organização... ela é regida aqui no município, do povo Xakriabá, e a sede tem que ser aqui no Itapecuru, ela não pode mudar, pelo estatuto, pra outra aldeia. E aqui vêm outras coisas: no artigo 2º... a função que a organização tem... "o fortalecimento, a união, o costume e o respeito e à cultura do povo". [...] Só que pra fortalecer essa organização do povo, a gente precisa da participação de todo mundo da comunidade, fortalecendo esses trabalho na comunidade. "Elaborar e executar projetos de geração de renda e atividades sócio... socioe... socioeconômica [leu com dificuldade] que tenha sido coletiva". Mas a gente... quando foi aprovado esse estatuto, a gente... fez projeto, enviou pra Brasília, pro Fome Zero... [...] a maior parte desse projeto num foi executado porque faltou participação da maioria da comunidade... que era a horta comunitária e a criação de galinha que a gente demos início e... parou.
Podemos afirmar que, nesse caso, o estatuto - e a escrita oralizada - foi utilizado como instrumento de legitimidade e autoridade para dar maior sustentação aos argumentos - orais - utilizados pelo presidente da associação.
Nas duas situações analisadas, o estatuto, documento que tem sua criação primeira justificada pela necessidade de legalizar a existência das associações nos órgãos da sociedade nacional, foi usado como documento local, apesar da linguagem formal, abstrata e distante dos usos cotidianos que o caracteriza.
Outro tipo de material escrito presente nas associações é o "livro de organização", que controla o pagamento e/ou a contribuição mensal dos sócios. Na aldeia Barreiro Preto, os Xakriabá utilizaram para esse fim, como "livro novo", um material impresso do mesmo tipo usado na escola, como Ata de Resultado Final. No livro, que é dividido pelo número de aldeias que compõem a associação, são registrados o nome dos sócios, com seus respectivos números, e a referência aos meses que já foram pagos. O livro serve de base, ainda, para a comunicação entre a associação e os sócios. Em uma de nossas visitas, foi para convocá-los nominalmente para uma assembleia extraordinária.
Pode-se observar, assim, de maneira semelhante ao que ocorre com a ata, uma apropriação de elementos externos relacionados à cultura escrita para usos locais. O formato escolhido e o preenchimento do livro seguem uma lógica construída no contato com as exigências burocráticas que são demandadas aos Xakriabá pelos agentes financiadores: o sistema de matriz para preenchimento de quadrinhos, a lista numerada com o objetivo de localizar informações, a separação do livro em partes de modo que possa distribuir equitativamente as aldeias que compõem a associação. O seu preenchimento revela, desse modo, um domínio da lógica da escrita administrativa para os fins a que se destina.
Um quarto tipo de escrita que se relaciona diretamente às atividades das associações é o projeto propriamente dito, que tem, por exigência dos financiadores, de transformar-se em um documento escrito. Os Xakriabá têm a percepção clara de que somente por meio dessa escrita normativa, e de sua aprovação, é possível obter recursos. O presidente da associação do Barreiro Preto explica que se trata "só de uma tinta e um papel", e que o mais importante é "negociar para enquadrar, pois o documento por si só não é capaz de virar uma casa". Com essa expressão, o presidente mostrou uma compreensão muito peculiar da questão: Qual a função e o desdobramento daquela escrita (dos projetos) na implantação daquilo que passou (e passa), fundamentalmente, pelas negociações orais? Para responder, explicou que o projeto começa "dentro da cabeça", em uma formatação mental daquilo que é pretendido, daquilo que é conversado por todos da comunidade, antes de ser colocado no papel:
Ele [o projeto] é um documento que... a gente tem toda garantia que tem o recurso pra a compra disso e isso, né? Mas só que, se a própria comunidade num executar mesmo, ele num vira um projeto. Às vezes a gente fala assim: "- Eu quero uma construção aqui nas Vargens, uma farinheira..." Às vezes a gente desenha ele na mente, assim, como vai ter aquela coisa, né? Mas, pra conseguir a gente tem que ir passo a passo, até chegar naquele ponto ali. Passou pro papel, o papel foi aprovado, seguiu o rumo dele... aprovou... aí agora nós já tem que começar organizar a comunidade. Esse papel aí só não se torna uma construção, né?
O fragmento citado mostra que, no caso da elaboração de um projeto, o grande desafio é transportar para o papel aquilo que se projetou na cabeça, já que o que é escrito não corresponde, exatamente, ao planejado. O presidente, ao falar do desenho da mente, rompe com a crença a respeito da "fala no papel", ou seja, com o fato de que tudo o que dizemos pode ser transcrito, e o que está escrito pode ser lido em voz alta e compreendido conforme a intenção do autor (Olson, 1997, p. 19). Reconhece, desse modo, as especificidades das palavras oral e escrita. A escrita serve para marcar no papel, de modo incompleto, aquilo que foi desenhado na mente e discutido coletivamente. Transforma-se, então, em documento formal, por si só insuficiente para guiar as atividades que estão ali propostas.
É interessante observar que, nesse processo de elaborar argumentos orais na comunidade e decidir o que deve constar nos projetos, os Xakriabá usam muito a poesia. O cacique, por exemplo, fez alguns versos para avaliar a importância de considerar a segurança alimentar e nutricional na definição dos projetos:
Ninguém nunca sabe tudo
Temos muito a aprender
Na área nutricional
Eu só sei comer e beber
Mas não me sinto seguro
Quando penso no futuro
Dos filhos que vão nascer.
O desenvolvimento dos projetos implica também a escrita de seu relatório, que por sua vez ganha uma ressignificação interna. As reuniões em que os relatórios são apresentados transformam-se em ocasiões para prestar contas à comunidade beneficiada, sensibilizar a comunidade sobre a importância da associação para ampliar o número de sócios ou realizar novos empreendimentos, conquistar credibilidade. Os fragmentos a seguir ilustram a estratégia que o presidente utiliza para sensibilização e divulgação das atividades relacionadas aos projetos dando outro significado a elementos da escrita formal. Expressam, também, que para que o relatório seja compreendido por um número maior de pessoas, é preciso que ele ultrapasse a linguagem escrita e que sejam criadas novas formas para visualizar o processo de desenvolvimento e concretização dos projetos:
Quem vê aquela construção ali [aponta para a casa de farinha] diga assim: "- Quah!... Passa como desapercebido" [o trabalho realizado]. Mas se a gente vê o que foi de aterro que já teve naquela construção... Nós temos o DVD passando o lugar limpo [...] daí a pouco já tá a construção com os tijolos... daí a pouco... tem até o dia da reunião na farinheira pra prestação de contas... [...] A gente ver assim, o passo a passo... A gente vê, tudo assim que a gente faz é bom, tá registrado... [...] é que muitas vez chega numa reunião, assim, todo mundo conhece o corre-corre, mas nunca sabe o tanto que a pessoa correu, né?
Nas explicações prestadas, o presidente mostra a percepção da necessidade do registro do processo para que todos possam acompanhar sem passar "desapercebido" - por meio da organização temporal das imagens, sem fazer nenhuma referência aos relatórios escritos, existe a providência de "contar" o processo para todos os membros da aldeia. Parece sentir que o escrito não consegue transmitir "aquilo que precisa ser percebido", ou seja, não se consegue passar tudo "para o papel com a tinta". Reconhece, portanto, os limites da própria escrita.
A correspondência é outro tipo de escrita diretamente vinculada às associações e aos projetos, usada como auxiliar na resolução de problemas. A análise do uso da correspondência pelos Xakriabá para esse fim revelou, em nossa pesquisa, as dificuldades que enfrentam - e, ao mesmo tempo, as táticas20 que inventam - para realizar a atividade mediada ou controlada pelo papel. Em uma de nossas visitas à TIX, o presidente mostrou a cópia de uma carta formal da associação endereçada à Carteira Indígena21 solicitando que fosse permitida a transferência do recurso previsto de um item para ser gasto em outro, com as devidas justificativas. Somente assim, depois de prestarem, por escrito, os esclarecimentos necessários, e receberem, por escrito, a anuência formal do financiador, eles tiveram permissão para gastar parte dos recursos, previstos inicialmente no projeto para comprar linha para a construção da casa de farinha, e que seriam então usados para comprar ferragem. Muitas vezes, essas correspondências são acompanhadas de visitas e telefonemas (Mendonça, 2014), recorrendo-se, mais uma vez, a formas orais de comunicação.
Por fim, destacamos outro tipo de material escrito que está na base do funcionamento das associações e da elaboração e desenvolvimento dos projetos: aquele relacionado ao uso dos recursos e à prestação de contas. Recibos, talões de cheques, cópias de cheques preenchidos, notas fiscais de compra, extratos bancários, planilhas são exemplos de documentos que ficam guardados em uma pasta, destinada a cada projeto. O presidente da associação do Barreiro Preto, por ocasião do trabalho de campo, lidava com nove contas bancárias diferentes e oito cartões, para os quais ele mantinha a mesma senha. Embora complexo, o trato com os recursos financeiros não se mostrou particularmente problemático no caso dessa experiência.
A associação mostrou, ao longo do trabalho de campo, compreensão sobre a dinâmica da agência bancária e criou táticas para diminuir o tempo de execução financeira, com o objetivo de reduzir as despesas bancárias que são assumidas pela associação. Um episódio, entretanto, mostrou que ainda existem traços da dinâmica capitalista que não são assimilados localmente. Estivemos presentes em uma reunião da associação convocada para, entre outros pontos, aprovar mudança estatutária para regularizar a situação da conta da associação. Para justificar a necessidade da alteração, o presidente informou na reunião:
O banco ligou lá em casa urgente, porque nenhum cheque [...] o banco num aceitou mais porque o estatuto já num tava... Uma coisa que num foi descoberta... nem o banco num deu fé, quando a associação abriu conta o estatuto era o mesmo, mudou pouquinha coisa lá, mas continuava aquela mensagem lá em baixo falando que o estatuto era provisório por dois anos, aí venceu em 2009. Agora que mandaram de volta lá do Banco Central, pra gente alterar essa parte, fazer uma ata, ir lá no cartório autenticar pra aí mandar pra o banco de novo.
A situação mostra as consequências dos usos da escrita na relação com a sociedade nacional. Quando o presidente afirma que "nem o banco num deu fé", ele sugere a existência de uma corresponsabilidade do banco com o funcionamento da associação que, na realidade, não existe, pelo menos não nos mesmos moldes nos quais se observam as relações similares que se dão no interior da aldeia. O banco, na verdade, constatou irregularidade, bloqueou a conta e resolveu o problema da instituição financeira. A associação, prejudicada com a impossibilidade de movimentar o dinheiro, deveria trilhar novamente os caminhos da burocracia apresentando um estatuto alterado para regularizar a situação. O não domínio ou a não agilidade perante as necessidades dos agentes financiadores, que envolvem sempre a escrita, ainda demonstra que há nuances na sociedade nacional que não foram absorvidas pelos sujeitos, principalmente as que se referem aos interesses e/ou proteção individual.
A burocracia bancária mostrou-se ainda mais complexa para a associação sediada na aldeia Itapecuru, a OGRXAI. Na execução do projeto com recursos da Carteira Indígena, os pagamentos não foram feitos com cheques, e os extratos bancários, tirados nos caixas eletrônicos, já estavam ilegíveis pela ação do tempo quando os Xakriabá receberam a visita dos técnicos do órgão. A pasta de prestação de contas foi montada com grande dificuldade. Em reunião com a comunidade, sobre os problemas enfrentados, o presidente da associação explicou que o banco havia "comido R$600,00 dos R$1.000,00 que havia sido deixado do projeto". O tom de sua fala demonstrava a seriedade e a honestidade com as quais confiou ao banco a tarefa de guardar o dinheiro, mas demonstra, ao mesmo tempo, um desconhecimento do mecanismo bancário e o processo de trabalhar com projetos com recursos externos.
Também nos momentos de prestação de contas, os Xakriabá usam as rimas, mostrando a não dicotomização entre gêneros orais e gêneros escritos. O poema abaixo, por exemplo, foi lido na reunião de prestação de contas do projeto da casa de farinha da aldeia Custódio:
Na aldeia Catinguinha teve uma reunião
Onde foram discutidos fontes de renda e alimentação
Foi um encontro produtivo e com muita orientação
Lideranças e a comunidade e o presidente da associação
Professores e alunos também estavam presentes
Buscando melhoria pro nosso meio ambiente.
A Carteira e a FUNASA vieram pra explicar
Sobre alguns reajustes pro projeto melhorar
O engenho e a comunidade vieram pra ajudar
Pois todos plantam cana pra poder alimentar
Junto com esse projeto todos querem preservar
O meio ambiente do povo Xakriabá.
(Poesia de Quitéria Ednelsa Faria Mota, professora Xakriabá, lida em 5/2/2011)
Na reunião de prestação de contas do projeto do engenho da Caatinguinha, que motivou o poema de Quitéria, outra professora também escreveu uma poesia que contava a história dos projetos da associação da aldeia Barreiro Preto. Em todas as ocasiões, as poesias foram usadas fazendo referência ao assunto tratado nas reuniões e ouvidas com muita satisfação.
Outro aspecto relativo à prestação de contas que tem ganhado novos contornos localmente é o de demonstrar lisura de um processo de gasto de recursos. A sociedade capitalista existe um controle dos gastos de órgãos públicos e privados, mandatos eletivos, entidades jurídicas, que deve ser documentado e provado. Os Xakriabá parecem não ter a preocupação com a lisura do processo porque eles partem do princípio da sua existência como elemento construído na cultura, relacionado à própria coesão social. Então qual o sentido da prestação de contas? As reuniões para prestação de contas ganham legitimidade muito mais pelo contexto das relações e vínculos sociais em que se dão - olhares, falas, confiança de relações - do que propriamente por exigência de uma formalidade que exige certos níveis de letramento e numeramento. A prestação de contas como prática, portanto, tem como fundamento a satisfação que a associação deve dar à comunidade sobre as ações que justificam a sua existência e comprovam a sua importância.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença das associações e dos projetos, ao lado da escola, das igrejas, do Estado, entre outros agentes de letramento, em território indígena, tem trazido, como pudemos constatar ao longo deste artigo, novos lugares, tanto materiais quanto simbólicos, para o escrito nas diferentes aldeias. Nesse sentido, ainda persiste uma questão que nos colocamos inicialmente: A posse da escrita e/ou a escolarização promove algum tipo de desigualdade nas relações sociais na TIX?
Por um lado, podemos afirmar que as lideranças, mesmo quando não sabem ler e escrever, continuam desempenhando papel fundamental no cotidiano das aldeias, até mesmo no processo de elaboração e desenvolvimento dos projetos. Em uma das reuniões observadas, em que estavam presentes lideranças de todas as aldeias, presidentes dos conselhos de saúde, agentes de saúde, representante da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), o prefeito, dois assessores, o secretário da Saúde e um servidor, pode-se visualizar melhor essa afirmação. Entre os Xakriabá ali presentes, alguns eram analfabetos. Na reunião, a presença de documentos escritos, lidos oralmente pelo expositor do momento, não pareceu ser um problema ou um constrangimento aos sujeitos que não sabiam ler e escrever.
Um dos presentes, que era liderança, quando queria destacar alguma questão, apontava para a planilha e perguntava onde estava determinada informação, esperando que alguém fizesse a leitura. Ele manifestava a compreensão de que as informações apresentadas pelo expositor estavam registradas e, mesmo sem conseguir dar significado ao sistema alfabético, prestava atenção ao que estava escrito: observava a cor da letra, a coluna onde estava o nome das pessoas, os cargos que ocupavam e os números correspondentes aos valores atribuídos. Demonstrava, assim, a compreensão do papel que o escrito representa politicamente.
O fato de ser analfabeto não impedia que ele fosse, em certo sentido, letrado.22 Além disso, o discurso dessas lideranças que têm pouca ou nenhuma escolarização é bastante denso; revela "modos complexos de pensamento" (Olson, 1997, p. 28). O escrito, na verdade, parece funcionar como um detonador para a participação dos sujeitos; ninguém lê certas planilhas, pastas que são passadas de mão em mão; as reuniões são guiadas por apelos visuais com desenhos e textos, e os discursos muitas vezes independem das informações escritas. A intensificação da presença do escrito na TIX, quando se analisam essas e outras situações semelhantes, parece não trazer impactos decisivos para o lugar de autoridade e legitimidade ocupado pelas lideranças que não sabem ler e escrever.
Em contrapartida, em outras situações analisadas, essas novas culturas do escrito que vêm sendo produzidas na TIX parecem contribuir para construir outros lugares para os escolarizados e os não escolarizados, para os que sabem e os que não sabem ler. Durante o trabalho de campo, pudemos perceber que pelo menos três lideranças declaradamente analfabetas ficaram responsáveis pelos documentos escritos relacionados às aldeias e/ou aos projetos, mesmo que a função da leitura não fosse delas. Observamos ainda, em uma das assembleias analisadas, a distribuição, no primeiro dia de sua realização, de uma pasta contendo materiais escritos e uma caneta. Aquela pasta passou a ser uma marca dos participantes do evento - todos permaneceram carregando-a, demonstrando cuidado e respeito, mesmo aqueles que não sabiam ler e escrever. Carregar os papéis, entre os Xakriabá, à moda da "Lição de escrita" (Lévi-Strauss, 1996) dos Nambiquara, parece demonstrar poder,23 ou ainda, denota a lida com um campo de poder que pode ser ativado independentemente da capacidade individual de conferir sentido ao sistema alfabético.
Diante desse papel complexo que ao escrito vem sendo atribuído nas aldeias estudadas, os Xakriabá muitas vezes elaboram táticas que mostram que, ao mesmo tempo, valorizam os saberes tradicionais, calcados predominantemente na oralidade, e reconhecem as necessidades (inexoráveis) da utilização do escrito. Nesse sentido, é interessante analisar o papel que os professores têm desempenhado nas associações e na execução dos projetos: muitas vezes eles disponibilizam-se como escreventes - fazem as atas, redigem documentos, leem e interpretam os escritos. Grande parte dos professores entendeu e assumiu que sua função em relação aos projetos sociais e às associações é a de mediador. Nesse sentido, a presença do escrito manifesta-se dentro de um conjunto de articulações internas para a qual é buscada a solução possível, ou seja, contar com um escrevente para "passar para o papel" o que está "sendo desenhado" pela/na oralidade.24
Os escreventes não são, nesse processo, os únicos sujeitos associados à autoria do projeto, que se concretiza em um trabalho colaborativo: narradores, conarradores e receptores (Duranti, 2000). Na sistematização dos projetos sociais, entre os Xakriabá, nem sempre quem escreve tem controle sobre o escrito. O processo de tornar escrita uma demanda discutida oral e coletivamente, de acordo com as exigências de um edital, é complexo e difícil: trata-se de transformar demandas identificadas nas discussões orais para uma forma inteligível - tarefa coletiva - e, depois, para o registro (formato do projeto exigido pelo edital). Um dos entrevistados afirmou que a "comunidade fala e eles [os professores/os escolarizados] escrevem". O verbo escrever e a escrita em si parecem ser duas coisas distintas. Nesse sentido, assim expressou a liderança: "Eu contei tudinho e M. escreveu". O conteúdo é identificado à própria escrita e é de competência da liderança e da comunidade; e o registro - que serve para representar a aldeia nos órgãos de financiamento - é de responsabilidade de alguém com maior domínio da tecnologia.
Este mesmo professor, quando entrevistado, afirmou que sua função era a de "decifrar enigmas": tanto para que o escrito fosse compreendido, reconhecido e legitimado pela comunidade, quanto para os agentes financiadores. Pode-se afirmar que a habilidade de ler e escrever é performada não como um atributo restrito ao indivíduo, mas como uma habilidade disponibilizada para o coletivo, e que se conecta com outras habilidades, resultantes das diferentes posições das pessoas envolvidas na prática.
A oralidade é, assim, fundamental no processo de negociação entre os diversos sujeitos e o escrito. Sem que haja uma dicotomização entre essas duas dimensões da linguagem, a oralidade manifestou-se como uma marca forte nas relações internas por constituir-se no principal e mais legítimo modo de comunicar-se utilizado nos diferentes momentos coletivos relacionados aos projetos sociais. O escrito, por sua vez, esteve mais relacionado com a formalização necessária ao desenvolvimento dos projetos.
Podemos, então, diante da análise realizada na pesquisa, afirmar que os usos e as funções do escrito que vêm sendo produzidos cotidianamente pelos Xakriabá, tanto nas mediações internas quanto nas relações com os agentes externos, estabelecem-se e por vezes pressupõem diferenças entre os sujeitos envolvidos; porém essas diferenças não geram necessariamente desigualdade entre eles. O maior ou menor nível de letramento - que não pode ser considerado uma variável independente, mas que se articula com outros aspectos econômicos, sociais e culturais - observado nas diferentes associações e aldeias parece provocar, por sua vez, uma situação de desigualdade no acesso aos recursos e mesmo nos resultados alcançados pelos projetos. É possível afirmar que, quanto mais a comunidade compreende e aproxima-se da escrita hegemônica, mais benefícios são acessados, e, quanto mais distante for a associação ou a coletividade da aldeia do contato com as lógicas da escrita burocrática, menores são os benefícios conseguidos.
Por fim, constatamos que os Xakriabá, ao se virem na situação de interagir com uma modalidade de escrita característica da sociedade nacional, o fazem atribuindo usos e funções de acordo com os costumes e tradições locais. Nesse movimento, não apenas se apropriam de uma ferramenta aparentemente exógena, mas a recriam. Por isso, dicotomias tradicionalmente existentes no debate teórico, como aquelas entre o local e o global, o universalista e particularista, parecem insuficientes para se apreender os fenômenos estudados em sua complexidade. Nesse sentido, as análises dos casos aqui apresentados reforçam o que os demais estudos, citados ao longo deste artigo, vêm evidenciando sobre as dinâmicas singulares indígenas, que não atribuem um lugar de proeminência absoluta à escrita ou a quem tem o domínio técnico sobre ela.
1
Referimo-nos, aqui, à organização política com base em um Estado nacional que interpela os indígenas nas situações descritas.
2
Cultura escrita é entendida como "o lugar - simbólico e material - que o escrito ocupa em/para determinado grupo social, comunidade ou sociedade" (Galvão, 2010, p. 218). Nesse sentido, não existe uma única cultura escrita; por isso, recomenda-se o uso do plural: culturas escritas ou culturas do escrito.
3
O uso da palavra "escrito" em lugar de "escrita" serve para destacar que estamos nos referindo não apenas à habilidade de escrever ou ao produto que dela resulta, mas a todo e qualquer evento ou prática que tem como mediação a linguagem escrita (Galvão, 2010).
4
Para uma discussão sobre os conceitos de eventos e práticas de letramento, ver: Heath (1983) e Street (1984).
5
Ver: Graff (1991), Chartier (2002), Barton e Hamilton (1998) e Street (1984).
6
Para uma síntese dos primeiros estudos sobre oralidade e cultura escrita, iniciados nos anos 1960, ver: Galvão e Batista (2006).
7
Antes da fase de aprofundamento nessas três aldeias, foi feito levantamento sobre os projetos desenvolvidos por todas as associações. As aldeias investigadas são aquelas em que acontecem o maior número de iniciativas, e cujas associações são chamadas pelas demais para apoiar seus movimentos e auxiliar na condução das atividades com os projetos.
8
Os Xakriabá estão implemetando um processo de revitalização da língua Akwen por meio do contato com os Xerente. Não existem estudos linguísticos sobre o português falado e escrito pelos Xakriabá.
9
Utilizamos, aqui, a expressão esfera no sentido que lhe confere Bakhtin (1992).
10
A poesia, em suas formas oral e escrita - em especial o uso de estrofes rimadas, que se assemelham à literatura de cordel -, é um dos gêneros mais comuns na TIX, o que ocorre também em outras sociedades de tradição oral (Goody, 1977, 2012; Ong, 1998). Trata-se, muitas vezes, de um uso estético para fazer circular uma informação; de uma sensibilização que se firma como memória.
11
Proposta desenvolvida pelo IFNMG de educação profissional e tecnológica integrada à educação escolar indígena dentro do PROEJA.
12
Dados coletados em: <www.educacenso.inep.gov.br>. Acesso em: 20 fev. 2014.
13
Para discussão sobre a educação indígena entre os Xacriabá, ver, entre outros: Escobar (2004), Silva (2011), Pereira (2003), Mendonça (2007), Santos (2006).
14
As relações entre religiosidade e cultura escrita vêm sendo objeto de análises clássicas na historiografia. Ver, por exemplo: Viñao Frago (1993).
15
Em trabalho realizado sobre a reconfiguração de práticas religiosas católicas após a intensificação da presença do escrito em uma comunidade rural situada no Vale do São Francisco, Minas Gerais, Souza (2009) chegou a resultados semelhantes.
16
Um dos fundamentos do protestantismo histórico é a possibilidade do acesso direto do sujeito à Bíblia, sem mediações. Por isso, o aprendizado da leitura e da escrita é considerado essencial (Viñao Frago, 1993).
17
Fazemos referência aqui ao conceito tal como originariamente aparece em Lave e Wenger (1991) e abordado sucessivamente por Lave (2011a; 2011b), ou seja, interessa- -nos focalizar diferentes formas de participação em práticas compartilhadas em uma coletividade que permite que elas sejam repassadas e reapropriadas entre os diferentes praticantes. Ver também a revisão crítica proposta por Barton e Hamilton (2005).
18
Os fragmentos de depoimentos dos sujeitos foram coletados em campo e estão registrados nos relatórios e no Caderno de Campo, como documentos da etnografia.
19
O mesmo procedimento foi observado por Reis (2014) em seu trabalho sobre comunidades eclesiais de base, mulheres camponesas e culturas do escrito, na região do Alto Sertão da Bahia.
20
Utilizamos o conceito de tática no sentido que lhe confere Certeau (1994).
21
Programa de financiamento específico para comunidades indígenas, implementado pelo Ministério do Meio ambiente e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MMA/MDS) desde 2004.
22
Para essa discussão, entre outros, ver: Soares (1998).
23
É interessante observar que, na história dos Xakriabá, a posse e uso político da Carta de Doação, documento de 1728, independia da habilidade da leitura e escrita das lideranças no processo histórico local. Como afirma Santos (2010, p. 33): "A documentação era percebida como a própria garantia da terra e sua lógica independia do texto que ela continha, uma vez que Gerônimo, como outros chefes, era analfabeto. Em vários relatos, os papéis carregados por Gerônimo aparecem como herança deixada pelos antigos e passada de geração em geração".
24
Sobre a presença ou a necessidade de um escriba para mediar a relação entre sujeitos com baixos níveis de letramento e a escrita, ver o instigante trabalho de Kalman (2003).
REFERÊNCIAS
Albert, B. Associações indígenas e desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira. In: Ricardo, C. A. (Org.). Povos indígenas no Brasil (1996-2000). São Paulo: Instituto Socioambiental (ISA), 2001. p. 197-207.
Albert
B.
Associações indígenas e desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira
Ricardo
C. A.
Povos indígenas no Brasil (1996-2000)
São Paulo
Instituto Socioambiental (ISA)
2001
197
207
Bakhtin, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
Bakhtin
M.
Estética da criação verbal
São Paulo
Martins Fontes
1992
Barton, D.; Hamilton, M. Local literacies: reading and writing in one community. London: Routledge, 1998.
Barton
D.
Hamilton
M.
Local literacies: reading and writing in one community
London
Routledge
1998
______.; ______. Literacy, reification and the dynamics of social interaction. In: Barton, D.; Tusting, K. (Eds.). Beyond communities of practices: language, power and social context. New York: Cambridge University Press, 2005. p. 14-35.
Barton
D.
Hamilton
M.
Literacy, reification and the dynamics of social interaction
Barton
D.
Tusting
K.
Beyond communities of practices: language, power and social context
New York
Cambridge University Press
2005
14
35
Certeau, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.
Certeau
M.
A invenção do cotidiano: artes de fazer
Petrópolis
Vozes
1994
Cesarino, P. A escrita e os corpos desenhados: transformações do conhecimento xamanístico entre os Marubo. Revista de Antropologia, São Paulo: USP, v. 55, n. 1, p. 75-137, 2012.
Cesarino
P.
A escrita e os corpos desenhados: transformações do conhecimento xamanístico entre os Marubo
Revista de Antropologia
São Paulo
USP
55
1
75
137
2012
Chartier, R. Os desafios da escrita. São Paulo: Editora da UNESP, 2002.
Chartier
R.
Os desafios da escrita
São Paulo
Editora da UNESP
2002
D'Angelis, W.; Veiga, J. (Orgs.). Leitura e escrita em escolas indígenas. Campinas: Mercado de Letras, 1997.
D'Angelis
W.
Veiga
J.
Leitura e escrita em escolas indígenas
Campinas
Mercado de Letras
1997
Duranti, A. Antropología lingüística. Tradução de Pedro Tena. Madrid: Cambridge University Press, 2000.
Duranti
A.
Antropología lingüística
Tena
Pedro
Madrid
Cambridge University Press
2000
Escobar, S. A. Educação indígena Xakriabá: saberes e lutas na vida e na voz do seu povo. 2004. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2004.
Escobar
S. A.
Educação indígena Xakriabá: saberes e lutas na vida e na voz do seu povo
2004
Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia
2004
Fraenkel, B. A pesquisa sobre os escritos do trabalho na interface entre a linguística e antropologia. In: Marinho, M.; Carvalho, G. T. (Orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. p. 156-194.
Fraenkel
B.
A pesquisa sobre os escritos do trabalho na interface entre a linguística e antropologia
Marinho
M.
Carvalho
G. T.
Cultura escrita e letramento
Belo Horizonte
Editora UFMG
2010
156
194
Franchetto, B. A guerra dos alfabetos: os povos indígenas entre o oral e o escrito. Mana, Rio de Janeiro: UFRJ, v. 14, n. 1, p. 31-59, 2008.
Franchetto
B.
A guerra dos alfabetos: os povos indígenas entre o oral e o escrito
Mana
Rio de Janeiro
UFRJ
14
1
31
59
2008
______. Línguas ameríndias: modos e caminhos da tradução. Cadernos de Tradução, Florianópolis: UFSC, v. 2, n. 30, p. 35-61, 2012.
Franchetto
B.
Línguas ameríndias: modos e caminhos da tradução
Cadernos de Tradução
Florianópolis
UFSC
2
30
35
61
2012
Galvão, A. M. História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In: Marinho, M.; Carvalho, G. T. (Orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 218-248.
Galvão
A. M.
História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa
Marinho
M.
Carvalho
G. T.
Cultura escrita e letramento
Belo Horizonte
Autêntica
2010
218
248
______.; Batista, A. Oralidade e escrita: uma revisão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Campinas: Autores Associados, v. 36, n. 128, p. 403-432, maio/ago. 2006.
Galvão
A. M.
Batista
A.
Oralidade e escrita: uma revisão
Cadernos de Pesquisa
São Paulo
Fundação Carlos Chagas
Campinas
Autores Associados
36
128
403
432
maio/ago
2006
Gerken, C.; Teixeira, Í. Recriação da memória coletiva da cultura Xakriabá: reflexões a partir da Festa de Santa Cruz na Aldeia Barreiro Preto. Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, 28., 2007, Caxambu. Anais... Caxumbu: ANPEd, 2005.
Gerken
C.
Teixeira
Í.
Recriação da memória coletiva da cultura Xakriabá: reflexões a partir da Festa de Santa Cruz na Aldeia Barreiro Preto
Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, 28
2007
Caxambu
Anais...
Caxumbu
ANPEd
2005
______.; et al. Letramento, identidade e cotidiano entre jovens Xakriabá. Educação e Revista, Belo Horizonte: UFMG, v. 30, n. 4, p. 251-276, dez. 2014.
Gerken
C.
Letramento, identidade e cotidiano entre jovens Xakriabá
Educação e Revista
Belo Horizonte
UFMG
30
4
251
276
12
2014
Gomes, A. M.; Gerken, C.; Álvares, M. Sujeitos socioculturais na educação indígena de Minas Gerais: uma investigação interdisciplinar. Belo Horizonte: FAPEMIG, 2004. (Relatório Técnico).
Gomes
A. M.
Gerken
C.
Álvares
M.
Sujeitos socioculturais na educação indígena de Minas Gerais: uma investigação interdisciplinar
Belo Horizonte
FAPEMIG
2004
Relatório Técnico
______. O processo de escolarização entre os Xakriabá: explorando alternativas de análise na antropologia da educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro: ANPEd; Campinas: Autores Associados, v. 11, n. 32, p. 316-327, ago. 2006.
Gomes
A. M.
O processo de escolarização entre os Xakriabá: explorando alternativas de análise na antropologia da educação
Revista Brasileira de Educação
Rio de Janeiro
ANPEd
Campinas
Autores Associados
11
32
316
327
08
2006
Goody, J. The domestication of the savage mind. Cambridge: Cambridge University Press, 1977.
Goody
J.
The domestication of the savage mind
Cambridge
Cambridge University Press
1977
______. O mito, o ritual e o oral. Petrópolis: Vozes, 2012.
Goody
J.
O mito, o ritual e o oral
Petrópolis
Vozes
2012
Graff, H. The literacy myth: cultural integration and social structure in the nineteenth century. New Brunswick: Transaction Publishers, 1991.
Graff
H.
The literacy myth: cultural integration and social structure in the nineteenth century
New Brunswick
Transaction Publishers
1991
Heath, S. Ways with words: language, life, and work in communities and classrooms. New York: Cambridge University Press, 1983.
Heath
S.
Ways with words: language, life, and work in communities and classrooms
New York
Cambridge University Press
1983
Kalman, J. Escribir en la plaza. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 2003.
Kalman
J.
Escribir en la plaza
México, DF
Fondo de Cultura Económica
2003
Lave, J.; Wenger, E. Situated learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
Lave
J.
Wenger
E.
Situated learning
Cambridge
Cambridge University Press
1991
______. Apprenticeship in critical ethnographic practice. Chicago: Chicago University Press, 2011a.
Lave
J.
Apprenticeship in critical ethnographic practice
Chicago
Chicago University Press
2011a
______. Situated learning in a long term perspective. Encontro Internacional Linguagem, Cultura e Cognição, 3., 2011, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, abr. 2011b.
Lave
J.
Situated learning in a long term perspective
Encontro Internacional Linguagem, Cultura e Cognição, 3
2011
Belo Horizonte
Anais...
Belo Horizonte
UFMG
04
2011b
Lévi-Strauss, C. Tristes trópicos. Tradução de Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Lévi-Strauss
C.
Tristes trópicos
Freire d'Aguiar
Rosa
São Paulo
Companhia das Letras
1996
Macedo, S. L. S. Xamanizando a escrita: aspectos comunicativos da escrita ameríndia. Mana, Rio de Janeiro: UFRJ, v. 15, n. 2, p. 509-528, out. 2009.
Macedo
S. L. S.
Xamanizando a escrita: aspectos comunicativos da escrita ameríndia
Mana
Rio de Janeiro
UFRJ
15
2
509
528
10
2009
Mendonça, A. Práticas pedagógicas das aulas de matemática: um estudo exploratório nas escolas Xacriabá. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
Mendonça
A.
Práticas pedagógicas das aulas de matemática: um estudo exploratório nas escolas Xacriabá
2007
Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2007
______. "Fechando pra conta bater": a indigenização dos projetos sociais Xakriabá. 2014. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
Mendonça
A.
"Fechando pra conta bater": a indigenização dos projetos sociais Xakriabá
2014
Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2014
Monte-Mór, R. et al. Conhecendo a economia Xakriabá. Belo Horizonte: UFMG; AIX, 2005. (Relatório Técnico Final).
Monte-Mór
R.
Conhecendo a economia Xakriabá
Belo Horizonte
UFMG; AIX
2005
Relatório Técnico Final
Neves, J. Cultura escrita em contextos indígenas. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009.
Neves
J.
Cultura escrita em contextos indígenas
Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Estadual Paulista
Araraquara
2009
Nogueira, M. (Org.). Desatando o nó: quer ajuda para a execução de projetos? Belo Horizonte: UFMG, 2010.
Nogueira
M.
Desatando o nó: quer ajuda para a execução de projetos?
Belo Horizonte
UFMG
2010
Oliveira, I. Um lugar para ler e escrever: estudo sobre letramento na Aldeia Indígena Itapicuru entre os Xakriabá. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, 2011.
Oliveira
I.
Um lugar para ler e escrever: estudo sobre letramento na Aldeia Indígena Itapicuru entre os Xakriabá
Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal de São João del-Rei
São João del-Rei
2011
Olson, D. O mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. São Paulo: Ática, 1997.
Olson
D.
O mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita
São Paulo
Ática
1997
Ong, W. Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra. Campinas: Papirus, 1998.
Ong
W.
Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra
Campinas
Papirus
1998
Pereira, V. A cultura na escola ou escolarização da cultura? Um olhar sobre as práticas culturais dos índios Xacriabá. Dissertação (Mestrado em Educação) -Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
Pereira
V.
A cultura na escola ou escolarização da cultura? Um olhar sobre as práticas culturais dos índios Xacriabá
Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2003
Reis, S. Mulheres camponesas e culturas do escrito: trajetórias de lideranças comunitárias construídas nas CEBs. Tese (Doutorado em Educação) -Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
Reis
S.
Mulheres camponesas e culturas do escrito: trajetórias de lideranças comunitárias construídas nas CEBs
Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2014
Sahlins, M. "O 'pessimismo' sentimental e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um 'objeto' em via de extinção". Mana, Rio de Janeiro: UFRJ, v. 3, n. 1-2, p. 41-73, 1997.
Sahlins
M.
"O 'pessimismo' sentimental e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um 'objeto' em via de extinção"
Mana
Rio de Janeiro
UFRJ
3
1-2
41
73
1997
Santos, M. Práticas instituintes de gestão das escolas Xakriabá. Dissertação (Mestrado em Educação) -Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.
Santos
M.
Práticas instituintes de gestão das escolas Xakriabá
Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2006
Santos, R. A cultura, o segredo e o índio: diferença e cosmologia entre os Xakriabá de São João das Missões/MG. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) -Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
Santos
R.
A cultura, o segredo e o índio: diferença e cosmologia entre os Xakriabá de São João das Missões/MG
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2010
______. O gê dos gerais: elementos de cartografia para a etno-história do Planalto Central: contribuição à antropogeografia do cerrado. 2013. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável) - Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
Santos
R.
O gê dos gerais: elementos de cartografia para a etno-história do Planalto Central: contribuição à antropogeografia do cerrado
2013
Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável)
Universidade de Brasília
Brasília
2013
Silva, R. Circulando com os meninos: infância, participação e aprendizagens de meninos indígenas Xakriabá. Tese (Doutorado em Educação) -Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
Silva
R.
Circulando com os meninos: infância, participação e aprendizagens de meninos indígenas Xakriabá
Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2011
Soares, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
Soares
M.
Letramento: um tema em três gêneros
Belo Horizonte
Autêntica
1998
Souza, M. J. Modos de participação nas culturas do escrito em uma comunidade rural no Norte de Minas Gerais. Tese (Doutorado em Educação) -Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
Souza
M. J.
Modos de participação nas culturas do escrito em uma comunidade rural no Norte de Minas Gerais
Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2009
Street, B. Literacy in theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
Street
B.
Literacy in theory and practice
Cambridge
Cambridge University Press
1984
Viñao Frago, A. Alfabetização na sociedade e na história: vozes, palavras e textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Viñao Frago
A.
Alfabetização na sociedade e na história: vozes, palavras e textos
Porto Alegre
Artes Médicas
1993
ARTICLES
Written cultures in indigenous associations and social projects: a study of Xakriabá, Minas Gerais
ESCOBAR
SUZANA ALVES
1
GALVÃO
ANA MARIA DE OLIVEIRA
2
GOMES
ANA MARIA RABELO
2
1
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Januária, MG, Brazil
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brazil
ABOUT THE AUTHORS
Suzana Alves Escobar has a doctorate in education from the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). She is a professor at the Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Norte de Minas Gerais (IFNMG).
E-mail: suza.escobar@gmail.com
Ana Maria De Oliveira Galvão has a doctorate in education from the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). She is a professor at the same institution.
E-mail: anamgalvao@uol.com.br
Ana Maria Rabelo Gomes has a doctorate in education from the Universitá degli Studi di Bologna (Italy). She is professor at the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: anarabelogomes.bhz@gmail.com
ABSTRACT
The article analyses the place that the written word has been occupying in everyday life of Xakriabá communities, especially in situations related the preparation and development of social projects, in indigenous associations. The work is based on an ethnographic study of three villages. The results indicate that, among Xakriabá, the ability to read and write is performed not as an attribute restricted to the individual, but as a skill available to the collective. In this framework, orality is crucial in the negotiation between different subjects and the writing process. The uses and functions of writing that has been produced daily by Xakriabá establish and sometimes assume differences between the subjects involved. These differences, however, does not necessarily result in inequalities among them. Finally, Xakriabá see, on one hand, the situation of interacting with a mode of writing characteristic of the national society, and, on the other hand, do assigning uses and functions in accordance with local traditions.
KEYWORDS:
written cultures
indigenous social projects
xakriabá
INTRODUCTION
Since the 1980s, the reality of Brazil's indigenous peoples has been marked by the increasingly intense presence of indigenous associations in the villages. This development is related to a wider process of attainment of social and political rights by indigenous peoples. In the section of the Brazilian Constitution of 1988 specifically dedicated to indigenous issues, Indians are recognized as historical subjects and not as people without legal capacities as they had been, and therefore under the guardianship of an authoritarian state that called for their integration. Although the administrative practices of the state still do not comply with this provision of the Constitution, the affirmation of the right to be different present in the Constitution provided guarantees to some territories and to the right to a distinct form of education; and ultimately, it allowed the formation of indigenous associations. Managed by the Indians themselves, and supported by outside partners such as universities and NGOs, the associations fulfilled several tasks, including preparation and development of so-called social projects, through which they obtain financing from the state and civil society organisations to conduct various actions to meet their needs.
One of the direct consequences of this need to manage the associations - and develop and implement projects - has been the gradual penetration of written forms of communication into communities that, until recently, predominantly had only oral modes for the production and transmission of knowledge. This was the case among the Xakriabá people, whose land is located in the municipality of São João das Missões in the north of Minas Gerais. Written culture is preponderant in their relations with Brazilian society,1 especially with finance entities that are part of "modern bureaucratic societies", for whom written culture2 is the cornerstone of education,3 and there are few mechanisms within national society capable of absorbing and valuing processes that are part of traditional life in the indigenous territories that are not closely linked to writing. Writing has a central role in the projects, not only due to what it represents for the national society in which the financial entities are based, and also has consequences on local forms of interaction. How does this process work? How has the increasingly strong presence of writing influenced the Xakriabá? And conversely, what have the Xakriabá done with writing?
The relations between indigenous peoples and writing have been analysed, over the past few decades, in studies of various natures. One of the purposes of these studies has been to understand the specific characteristics of writing in relation to the forms of knowledge typical of some peoples (Cesarino, 2012; Macedo, 2009) or the orthographization of some languages and issues concerning writing and translation (Franchetto, 2008, 2012). Many studies have approached the presence of writing derived from the school context, exploring the dynamics of appropriation and its consequences in schools and in communities (D'Angelis; Veiga, 1997; Gerken; Teixeira, 2005; Gerken et al., 2014; Mendonça, 2014; Neves, 2009, and others).
Other studies, in turn, have sought to analyse the phenomenon of indigenous associations themselves, such as the research conducted by Albert (2001), who analysed associations in the Amazon during the 1970s and 1980s, in the context of the struggle to guarantee rights to conduct fundraising, gaining access to what he called the international and national "projects market"; however, there is no reference in his work to the presence and consequences of written documents within the associations. The specific focus of our study is precisely to analyse, in the context of indigenous associations and according to the standards that are imposed by and the interface with funding agencies, the role that written language and written documents have occupied in the daily lives of communities. For this purpose, we analyse the most common forms of writing observed in literacy events,4 that occur in situations related to associations, and, particularly, to the preparation and development of projects.
This work is part of a collection of studies conducted in recent decades in several countries globally,5 which, rather than describing, in a dichotomized manner, the differences between oral and written cultures,6 seek to identify the social, historical, and technical conditions around which - in different historical cases - were built certain written cultures, generating a particular set of political, social, and cultural impacts. These studies also seek not only to understand how written language had and continues to have an impact on the way of life of individuals and communities, but also to comprehend how individuals and communities have appropriated and are continuing to appropriate such written practices.
The article is based on an ethnographic study at three villages - Itapecuru, Caatinguinha, and Barreiro Preto - located in the Indigenous Land of the Xakriabá (TIX), conducted in approximately 15 months of fieldwork. The procedures of participant observation and interviews were used to collect data, ensuring the presence of a researcher at different moments of proposing and executing the projects, in addition to other contexts of daily life in Xakriabá villages.
During the fieldwork, twelve legal entities related to the communities were observed within the Xakriabá Indigenous Land: ten indigenous associations, the Organização da Educação Indígena Xakriabá (OEIX) [Organization of the Xakriabá Indigenous Education], and the Organização dos Grupos de Roça Xakriabá da Aldeia Itaperucu (OGRXAI) [Organization of the Xakriabá Farm Groups of the Itaperucu Village], which since the introduction of systematized information in 1997 at the no curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI) [Intercultural Training for Indigenous Teachers course], has been involved in at least twenty-eight food security, culture, and health projects, managing a total of approximately R$ 1,560,632.00, not including the projects for which there was no direct application of financial resources by the associations.7
The initial process of the Xakriabá's contact with non-indigenous people began with the arrival of pioneers to the region in the mid-sixteenth century, when the region was densely populated by various ethnic groups. In 1728, the indigenous peoples received a Land Grant due to the closure of the mission located in São João dos Índios (as it was called at that time). From the second half of the eighteenth century, there was a progressive and rapid arrival of colonizers and a dramatic reduction in the indigenous presence in the region (Santos, 2013).
In the early twentieth century, the Xakriabá appear to have been the only indigenous people in the "Cerrado", in northern Minas Gerais state, about whom some information could be found. For a long time, they welcomed poor peasants from other regions and Afro-Brazilians liberated from enslavement, until the rural development of the mid-twentieth century became a threat to conviviality in the territory. Land conflicts became a characteristic of the region, and only after fierce disputes was approval of the indigenous territories granted in 1989. Since then, they have continued to face the daily challenge of survival. The Xakriabá population is now estimated at around 8,000 natives, distributed in several villages and sub-villages over an area of 53,074.92 hectares: which is equivalent to more than 70% of the area and population of the municipality of São João das Missões. The Xakriabá experienced a history of long and complex contact with Brazilian society; and as a consequence they now live in interaction with it, without, however, becoming assimilated by this contact. One of the consequences of this long and permanent contact is the absence of an indigenous vernacular language among the Xakriabá, who speak a specific variant of Portuguese.8
The Land Grant document of 1728 was registered by the Xakriabá in Januária; and successively in Mariana when the Land Law was proclaimed in 1850. This marked a shift from the colonial system of land grants (known as the sesmarias) to a system of land ownership that authorized those who worked the land for agriculture to register that land in their name. This fact reveals a particular genesis of the relationship of this indigenous people with the Brazilian state and with the society around it, precisely through practices associated with written culture, as is the case with the practices for proposing and implementing projects through their associations.
In this article, we first present an overview of the presence of written language at the Xakriabá Indigenous Land, and then analyse the presence of written documents and practices, specifically in situations related to associations and social projects.
WRITTEN LANGUAGE IN THE INDIGENOUS LAND OF THE XAKRIABÁ
In what spaces are the productions and circulations of written materials more frequently observed in the Xakriabá Indigenous Land? What kinds of written material circulate in the villages? What roles are attributed to these materials? In general, it can be said that alphabetic writing is widespread in the villages studied, although in different ways in different villages. There is a visible distance between the village of Barreiro Preto, where the most intense local development in relation to other aspects is observed: a more consolidated schooling process, more teachers with university education, the presence of trade activity, public telephone service, well-built brick houses, television sets, and more projects undertaken by its association - and the village of Caatinguinha, where, as several studies have verified, there is more precarious housing materials and difficulties in performing subsistence activities. This ethnographic research has shown that writing is predominant in certain social spaces and linked to certain spheres,9 such as the state, the school, and the churches of different denominations. The circulation of written material in private spaces can also be observed.
In the daily life of the village in general, written content is associated with people who have public jobs, especially school administrators, municipal officials, city council members, and other leaders who have contact with communities outside the Indigenous Land. These people have their homes transformed into a reference of communication that involves writing: they receive and distribute letters, notices, and summonses and invitations. Oliveira (2011, p. 65) conducted a study on the uses of written language in the village of Itapecuru and found that the homes of a city council member were "a kind of local post office". These practices are, therefore, related to the state sphere, although in a very peculiar way compared to how this takes place in Brazilian society.
Visiting the home of the "cacique" (top leader) in the main village, we could see the relationship between this space and the bureaucratic administration and, therefore, with writing. Inside, we encountered several people who had brought several documents for him to sign. Some of these people arrived with documents already drafted, such as letters, certificates, and referrals, which were signed by him after careful reading. Others requested documents for which he had templates or forms. Finally, there were people for whom he presented, prepared, and signed documents. It is important to note that the cacique had great skill in writing in other areas of village life, as the author of several poems, and had even been involved in publishing books.10 Moreover, he had been a student at the Programa Nacional de Integração Profissional [National Program for Professional Integration] with Educação Básica [Basic Education] n the modality of Education of Youths and Adults (PROEJA), at the Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) [Federal Institute of Northern Minas Gerais],11 Januária campus, where he acquired a basic level of schooling.
The school is another environment for the circulation of written materials in the Indigenous Land. In recent years, the institution of the school has been increasingly present in the daily lives of the villages and, by its very nature, uses written materials as a base for its operation, decisively reconfigures the role of reading and writing in the communities. In 1997, school enrolment in the Xakriabá Indigenous Land was around 1,400 students; in 2014, the number reached 2,779.12 The creation of indigenous public schools by the state program for the implementation of indigenous schools of Minas Gerais (PIEI-MG), from 1995 to 1997, was an important event for all the indigenous peoples involved.
This program was the result of a partnership between indigenous peoples and the state department of education, the Federal University at Minas Gerais (UFMG), the National Indian Foundation (FUNAI), and the State Forestry Institute. One of its first initiatives was the development of the Training Course for Indigenous Teachers, recognized by the State Council of Education/MG (CEE/MG). Since 1997, indigenous schools, which until then had been managed by the municipalities and FUNAI became state schools and began to have indigenous teachers, even those who were still in training, and indigenous school administrators.13
We can now see the impact of education in both the daily life of the villages and on the broader social and political relations in the city. The indigenous mayor and several indigenous city council members in São João das Missões, teachers, secretaries, general services assistants, and health workers, have completed or are engaged in educational processes, including university level training. Many of the subjects studied, linked to associations and social projects, were, or still are, students of the PROEJA for indigenous peoples, a project that began in 2007. In this regard, Gomes (2006, p. 1) noted that:
The new social actors, arising from the mediation of school practice and the command of written language, become legitimate by intervening in cultural procedures that are important to community life, significantly modifying traditional practices carried out by the elders, and defining the shape of the literacy process underway.
The research that led to this article revealed that there are movements that reveal a particular meaning for the presence of schools in the Xakriabá's traditional ways of life. It is possible, for instance, to observe the incorporation of text genres, common in oral forms of communication among the Xakriabá, in school writing activities (such as poetry), visible in indigenous text books and in a workbook jointly prepared with the Caxixó and Pataxó for the training course of indigenous teachers (Nogueira, 2010). Another movement is to encourage the older generations to participate in school activities, whether as so-called "teachers of culture", or in daily and family relationships. The teachers of culture, who are usually older people and not always school educated or involved in reading and writing activities, were mentioned at many collective events as the people responsible for promoting the encounter of generations, through which older members manifest their cultural references and transmit them to the younger generations.
Even with increased appreciation for those who are not necessarily schooled, it could be seen, in several statements, that individuals perceive a close correlation between education and written culture. In conversations about preparing future leaders and the action of new generations, it is possible to see a certain concern among the elders about the changes that schooling, reading, and writing have caused among the young Xakriabá. One elderly Xakriabá, for instance, commented that she had only learned to "read the language of the birds". The young people, who are being schooled, in turn, are just "scratching paper", she added, however, that "scratching on paper" is only worthwhile if we can "understand everything in life" (Escobar, 2004, p. 78).
This elderly women established a relationship between reading, writing, and school, but was suspicious about the role that these new skills will play in the process of building a Xakriabá subject. When her son was asked about his own education, he explained that his father taught him to pray, to respect the brotherhood, the value of friendship, and the interior work of devotion. In his words, the lack of schooling and any relationship with reading and writing in his educational process was flagrant: "They [his parents] taught us many things... but things from here, related to nature (...) We learned a lot of good things as we worked. Work teaches us" (idem, p. 84).
In addition to the domains of the state and school, we can observe that the circulation of written documents is also associated, in the Xakriabá Indigenous Land with religion.14 In the villages of Caatinguinha and Barreiro Preto, Gomes, Gerken and Alvares (2004) and Gerken and Teixeira (2005) observed that practices of the Catholic Church were related to the symbolic use of writing. The authors found that, although the written word was present in religious rituals, it did not define the event taking place. In prayers, litanies and benedictions, for instance, orality and memory predominated.15 Describing the relationship between writing and orality in a religious festival, Gomes, Gerken and Alvares (2004) analysed a ritual, appropriated from the Catholic Church that was based on an old religious book that was kept by an illiterate man. Even if teachers and other educated people also participated in the ritual, the book was read by a leader who, at the time, had not attended school. Consequently, the reading was performed with difficulty. For the authors,
The book represents a symbolic heritage, it is the symbol of a type of power and knowledge built and transmitted by oral tradition. Mr. Zé becomes the master of the book, not because he could read and write, but because he occupied a privileged place in a chain of creation and oral transmission of knowledge. The analysis of this episode shows us that the symbolic order that determines the position of subjects in the village's hierarchy of power is based on oral transmission processes. However, the symbolic presence of the book makes a clear reference to a process of assimilation of literate culture. (idem, p. 80)
In our research, we also observed situations related to the religious sphere in which written materials occupied similar symbolic positions. During a visit to the pajé16 of Caatinguinha Village, we were taken to the prayer room. Inside, there was a variety of images of saints, hanging necklaces, and pottery made by the pajé, containing stones, beads, and seeds. He also kept a book to which he showed respect and veneration. The book was about medicinal plants of the Brazilian Cerrado, and included testimonies on their use by rural communities. Among those testimonies, the pajé pointed out one that he asked us to read and that he referred to as a prayer: the prayer of a benzedeira from Vale do Jequitinhonha who characterized her mission as a divine gift. Standing erect with his head high and looking down at the book, he nodded with his head, raising his eyebrows, to something important on a specific page. The book seemed to be there just to confirm all the wisdom he held about the Cerrado and which he used as a pajé.
In the village of Itapecuru, studied by Oliveira (2011), the experience reported refers to the practices of evangelical churches in which printed materials such as the Bible and hymnals are used to follow the religious services or for reading personal reflections.17 Differently from practices in the Catholic Church, as observed in the villages of Barreiro Preto and Caatinguinha - in which the participation of illiterate members or those with poor reading skills is common - education, dissemination, and the use of writing are constituent elements in evangelical churches.
Finally, we identified another instance in which written language seems to be used with some intensity in the Xakriabá Indigenous Land: the household. This use becomes more intense in homes with antennas that capture a mobile phone network signal. Through the messages they receive and send, residents receive and transmit information to locations outside their villages. In addition to these specific domestic spaces, research has found walls and parts of houses of a few Xakriabá individuals that are used to display written materials. Oliveira (idem, p. 68) thus noted:
The houses of the village [Itapecuru] have adobe or masonry walls that present, in many of the cases analysed, "a large bulletin board", on which calendars can be found, of the current and previous years to decorate the residence, photos of favourite TV actors and singers, taken from magazines and posted on that important part of the building, telephone numbers (usually cell phones) and the names of their owners written in pencil, thus forming a simple and direct agenda (...). Requests for medical examinations and prescriptions, in plain sight, so that their respective dates and daily doses are not forgotten.
The same type of wall was observed in our study. In one of the houses, on top of a large table in the kitchen at which the family usually ate, between a pretty tablecloth and a clear plastic protective cover , there were many written materials. These findings seem to provide another indication that writing has come to occupy a significant place in the daily life of the villages. It is associated with pragmatic functions (making a note to avoid forgetting), aesthetic ones (there is an implicit idea of beauty in the assemblage of the visual appeals), as well as symbolic (reading, writing, and posting written material in visible places of the house is a distinguishing factor).
This overview of the presence of written language in the Xakriabá Indigenous Land suggests that specific written cultures have been produced by this people. The uses analysed can be interpreted as a combination of practices that are quite common in spaces outside the villages with uses that have acquired their own meanings. We cannot say, in this sense, that the literacy of the Xakriabá is exclusively local or that dialog with the national society is predominant among them. As Sahlins (1997, p. 58) evoked, "integration and differentiation are co-evolutionary"
WRITING IN SITUATIONS RELATED TO ASSOCIATIONS AND SOCIAL PROJECTS
In this topic we analyse the uses of reading and writing by indigenous people in situations that, in recent years, have become increasingly intense in the Xakriabá Indigenous Land: the planning and development of social projects by indigenous associations. As outlined above, the associations' experiences, in addition to being part of the framework of local changes, have also brought a new role - symbolic and material - to written language.
The associations are entities recognized by the Brazilian state and, therefore, their very existence implies a bureaucratic process of formal writing as a way to ensure their legitimacy. To create an association, an administrative board or an equivalent body, with the participation of various members, drafts by-laws and, registers the minutes of the meeting at which the entity was created, at the notary office of a nearby city. The existence of the association itself, in this sense, promotes and intensifies the written culture in that community of practice (Lave; Wenger, 1991).18 As the president of the first association of the Xakriabá Indigenous Land affirmed in a statement to the researchers of this study: "In one way or another the president of the association needs to know how to read a little or have someone by his side to help him; like a secretary, or someone like that, because... without reading at all it is very difficult to work".19
This association was created in 1998 by a group of people who were either illiterate or who had little prior access to reading and writing. According to that same former association president, "if we look at the [first] book of the minutes... I think that, for us, we should have a reminder that most people had to put their finger in ink and then press it on the paper, for the print to serve as a signature because no one... most of them couldn't sign [their name], right? I knew a little bit, you know, but most people didn't".
His explanation for the decision, which he considered courageous, to take on a job that involved reading and writing skills with a resourcefulness they did not yet have, was as follows: "we thought that not only reading could be a solution, but also the union, knowledge, customs, tradition and respect for each other and everyone working together for the same goal. That is what really matters".
In the above sections, we can see how the Xakriabá, involved in the process of deciding to transform the local tradition of collective work into an association legally recognized by the national society, advanced to the appropriation of an exogenous tool, represented by a specific way of conceiving and using written language.
What kind of writing is required for the indigenous to actively participate in the design and development of social projects in the associations? A mandatory form of writing, and the first to be required in an association, is the book of meeting minutes, which is essential for the development of projects. Minutes use a formal type of writing, although based on orality. Fraenkel (2010, p. 165 ss.), referring to the "corpus, inventory and typology of written materials" in the ethnographic research she conducted within the scope of the study, drew attention to the nature of meeting minutes as a "pre-established category". As a legal document, intended for Brazilian institutions and related to the operation of the association and for accompanying social projects, the minutes are carefully drafted. The Xakriabá, as shown in the excerpt below, seem to understand the specificity of this kind of writing, because they assign it a role that not merely registers what happens at meetings, but also involves, fundamentally, a negotiation between the dynamics of real life exchanges - based on orality - and the specific demands of this textual genre. The meetings are seen as collective spaces, where people can and should present whatever they deem necessary, often going beyond the agenda planned for the meeting. The minutes, considering their singularity, cannot fully reflect this complexity, as stated by a leader of the village of Barreiro Preto, in a statement collected during the fieldwork:
For instance, there, at the [meeting] of the cooperative in Sumaré, it was not [called] for that reason; the cooperative members came to discuss that matter, on the problems of the associated members... of the cooperative members and such... and the way the cooperative should work... and then it the issue of: the Electricity for everybody [program] came up, something like that... and the minutes became very complex... at times, also due to lack of guidance, the person writing the minutes includes everything... And sometimes, we can say that the meeting was specifically for that purpose, right? And sometimes it's the project, when the people there ask for a minutes with the content they need, right? (...) So... then we started thinking of the following, we have already started to do this, when this is necessary, we can make two minutes, right? One where we put everything and another one... [laughs] so we can... right?
The testimony of the leader shows the appropriation of a "pre-established category" of the national society with its own design. The solution to make two minutes20 can be interpreted not as a way to "circumvent" what the funding entity has "pre-established" but rather as a demonstration of the understanding that this text genre, as defined by the hegemonic written culture, does not serve the purposes of registering the dynamics of life's complexity. It must attain a meaning that also serves local purposes.
In this sense, beyond its legal function, the Xakriabá also consider the minutes to have the status of a document for local use. To highlight the number of people in the community unable to read at the beginning of the association's work, the first president of the village association of Barreiro Preto commented that the minutes should be saved to "have a reminder that most people had to put their finger in ink and then press it on the paper, for the print to serve as a signature because no one... most of them couldn't sign [their name], right?" Similarly, the president of the same association at the time of the research, also referred to the minutes as a way to tell the history of who were the successive directors of the associations. For him, the minutes were a way to remember that, since the association was founded in 1998, there had been six terms, with the participation of several people.
The role of the association by-laws is also reconfigured in the daily activities of the associations. On two occasions, we observed that this type of document was mentioned when it was necessary to solve problematic situations. At a meeting of the association of the village of Barra do Sumaré, which had been created without the participation of the local community and without the help of other associations - as recommended by tradition - the by-laws were read to collectively decide about whether that entity should continue and, if so, what changes would be necessary in the document. In another situation, this time in the village of Itapecuru, the by-laws were read aloud and explained by the president to the community, who did not know about the existence of this entity and did not consider it as part of village life:
It says here that this Organisation... is managed in our municipality by the Xakriabá people, and the main office must be here in Itapecuru, according to the by-laws, it cannot move to any other village. And there are a few other things here: in Article 2... the role of the Organisation... "strengthening, the union, the customs and respect for the culture of the people". (...) But to strengthen this Organisation of the people, we need the participation of everyone in the community, strengthening this work in the community. "Developing and implementing income generation projects and socio-e... socio-economic [reading with difficulty] activities that have been collective But we... when these by-laws were approved, we... made a project, sent it to Brasilia, to the Zero Hunger offices... (...) most of this project was not executed because it lacked participation of the majority of the community... which was the community garden and the chicken raising activity that we started... and then stopped.
We can affirm that in this case, the by-laws - and the orally transmitted writing - was used as an instrument of legitimacy and authority to provide greater support to the oral arguments used by the president of the association.
In both cases analysed, the statute - a document the existence of which is first justified by the need to legalise the existence of the associations for the official Brazilian agencies - were used as local documents, despite their formal and abstract language, which is distant from the language used commonly in the village.
Another type of written material present in associations is the "organisational book", which records the payments and/or the monthly contributions of an association's members. In the village of Barreiro Preto, the Xakriabá used as a new book, for that purpose, printed material of the same type as that used in the school as the Register of Final Results. In the book, which is divided by the number of villages that comprise the association, the names of members are registered, with their respective numbers, and references to the months for which contributions have already been paid. The book also serves as a basis for communication between the association and its members. During one of our visits, it was used to notify them, personally, of a special assembly.
Thus, it can be observed that, similar to the minutes, the organization's record book involves appropriation of external elements related to written culture for local uses. The chosen format and the recording of information in the book follow a logic derived from contact with the bureaucratic requirements demanded from the Xakriabá by financing agents: the matrix for filling in the tables, the numbered list to help find information, the division of the book into parts equitably distributed among the villages that comprise the association. Therefore, the way details are recorded in the book reveals a command of the logic of administrative writing for its intended purposes.
A fourth type of writing directly related to the activities of the associations is the project itself, which must be detailed in a written document, as required by the funding entities. The Xakriabá have a clear understanding that only through this normative writing, and its approval, can they access the requisite resources. The president of the Barreiro Preto Village association explains that it is "only ink and paper", and that the most important issue is "to negotiate in order to meet the regulations, since the document itself cannot become a house. With this expression, the president displayed a very particular understanding of the question: What are the functions and the consequences of those written words (the projects) in the implementation of a matter that mainly relied (and continues to do so) upon oral negotiations? In response, he explained that the project begins "in the head", in a mental formatting of what is required and what is spoken by all the members of the community, before it is committed to paper:
It [the project] is a document that... gives us every assurance that we will have the resources to buy this and that, right...? But the thing is that, if the community itself doesn't do its own work, it will never become a project. Sometimes we say this: - I want a building here at Vargens, a flour mill... sometimes we plan it in our minds, as if we were going to have that, see? But, to get it we have to go step by step, until we reach that point over there. It was put to paper, the paper was approved, followed its due course... was approved... then, now, we have to start organising the community. That paper by itself doesn't become a building, right?
This statement from the interview shows that, in the preparation of a project, the big challenge is to record on paper what was first planned in the mind, because what is written does not correspond exactly to the plan. Discussing the design in one's mind, the president breaks with the belief about the "speech on paper", that is, with the fact that everything we say can be transcribed and what is written can be read aloud and understood according to the intention of the author (Olson, 1997, p. 19). He recognized, therefore, the particularities of spoken and written words: writing is used to record on paper, in an incomplete way, what was projected in the mind and collectively discussed. It then becomes a formal document, which on its own is insufficient to guide the activities that it proposes.
It is interesting to observe that the Xakriabá very often use poetry in process of preparing oral arguments in the community and deciding what should be included in the projects. The cacique, for example, wrote some verses to evaluate the importance of considering the food and nutrition safety in the definition of projects:
No one ever knows everything
We have a lot to learn
Nutritionally speaking
I only know how to eat and drink
But I don't feel safe
When I think of the future
Of the children who will be born.21
The development of projects also involves writing a report, which, in turn, receives a new internal meaning. The meetings at which reports are presented become moments for providing accountability to the community benefited about progress, making the community aware about the importance of the association to expand the number of members or to undertake new ventures and gain credibility. The following statements illustrate the strategy that the president uses to raise awareness and promote activities related to projects, giving another meaning to formal writing elements. They also provide evidence that, for the report to be understood by a greater number of people, it must transcend written language; consequently, new ways are created to view the process of the planning and realization of the projects:
Those who see that building over there [pointing to the flour mill] might say: Quah!... It goes unnoticed [the work done]. But if you could see the landfill that was done there... We have the DVD showing the place being cleared (...) soon we were building with bricks... soon after... there was the day of the meeting at the flour mill for accountability... (...) To be able to see it, step-by-step... We can see it, it is good to have everything we do recorded... (...) the fact is that, many times, when we have a meeting, everyone knows how much work under pressure was necessary, but they never know how intensely the person worked, right?
In the explanations given, the president shows that he perceives the need to register the process, so that everyone can follow it without allowing it go "unnoticed"; through the temporal organisation of the images, without making any reference to written reports, steps were taken to provide a way to "tell" the process to all the members of the village. He seems to feel that the written content cannot transmit "what needs to be perceived", i.e. not everything can be put to paper with ink. Therefore, he recognized the limits of writing itself.
Correspondence is another form of writing directly linked to associations and projects, used help solve problems. Our analysis of the use of correspondence for this purpose by the Xakriabá revealed the inherent difficulties faced - and, simultaneously, the tactics22 devised in response - to conduct the activity mediated or controlled by paper. During one of our visits to the Indigenous Land, the president exhibited a copy of a formal letter from the association addressed to the "Carteira Indígena",23 requesting that funds provided for one item be reallocated to purchase another item, with the proper justifications. Only in this way, after providing the necessary explanations in writing, and receiving the formal consent of the financing entity in writing, was the association allowed to spend part of the resources, originally allocated within the project to buy wood for the construction of the flour mill, to purchase iron hardware. This type of correspondence is often accompanied by visits and phone calls (Mendonça, 2014), where, once again, oral forms of communication are used.
Finally, we highlight another type of written material that underlies the operation of associations and the planning and development of projects: those related to the use of resources and accountability. Receipts, check books, copies of completed checks, purchase invoices, bank statements, and spread sheets are all examples of documents that are retained in a folder for each project. During the fieldwork, we found the president of the association of Barreiro Preto working with nine different bank accounts and eight banking cards, for which he had the same password. Although complex, dealing with financial resources was not particularly problematic in this experience.
During the fieldwork, we found this association to have an understanding of the dynamics of banking and that it created tactics to speed up financial movements and thus reduce banking fees, which are not covered by the grants and must be paid by the association. One episode, however, showed that some capitalist dynamics are still not locally assimilated. We attended a meeting of the association, which was called to approve a change in its by-laws to regularize the association's bank account, as well as other issues. To justify the need for change, the president said at the meeting:
The bank phoned me urgently because no checks (...) the bank could not accept more checks because the by-laws was not on file there... One thing nobody noticed... not even the bank had noticed, was that when the association opened the account the by-laws were the same, little had changed, but there was still that message at the end saying that the by-laws were temporary, for two years, so they expired in 2009. Now they were sent back from the Central Bank, for us to change this part, write a new minutes, go to the notary office for authentication and then send the new document to the bank.
This situation shows the potential consequences of uses of writing in relation to Brazilian society. When the president stated that not even "the bank has noticed", he suggested the existence of a bank's co-responsibility for the operation of the association which, in reality, does not exist, at least not in the same manner as similar relationships occur within the village. In fact, the bank had found irregularities, blocked the account, and solved the problem for the financial institution. The association, harmed by not being able to use checks, had to follow the bureaucracy by presenting the altered by-laws to regularize the situation. The lack of command or agility in relation to the needs of the financial agencies, which always involve writing, also shows that there are nuances of the national society that have not been absorbed by the indigenous peoples, especially those relative to individual interests and protection.
Bank bureaucracy proved to be even more complex for the association based in the village of Itapecuru, the Organization of the Farm Groups. While implementing a project with funds from the "Carteira Indígena", payments were not made with checks and the bank statements, printed by ATMs were already illegible due to long time prior to the Xakriabá received the visit of the agency staff. The accountability folder was compiled with great difficulty. In a meeting with the community about the problems faced, the president of the association explained that the bank had "consumed R$ 600.00 of the R$ 1,000.00 left in the account from the project". The tone of his speech demonstrated the seriousness and sincerity of his trust in the bank regarding the safekeeping of the association's money, but it simultaneously reveals an ignorance of banking mechanisms and of the process of operating projects funded by external resources.
Furthermore, when presenting accounts, the Xakriabá use rhymes, showing no dichotomy between oral and written genres. The poem below, for example, was read at the meeting to present the accounts for the project of the flour mill in the Custódio village:
At the Caatinguinha village we had a meeting
Where income and food sources were discussed
It was a productive meeting and with much guidance
Leaders, the community and the president of the association
Teachers and students were also present
Working to improve our environment.
Carteira and FUNASA came to explain
About some adjustments for the project's improvement
The mill and the community also came to help
Since we all plant sugarcane so we can buy food
With this project everyone wants to preserve
the environment of the Xakriabá people.24
(Poem by Quitéria Ednelsa Faria Mota, Xakriabá teacher, read on 5 February 2011)
At the meeting to present the accounts of the Caatinguinha's sugarcane mill, which was the main theme of Quitéria's poem, another teacher also wrote a poem narrating the story of the association's projects in the village of Barreiro Preto. At all times, the poems were used to refer to the subjects of the meetings and the audience listened to them with great satisfaction.
Another aspect related to accountability that has been seen locally from a new perspective is the demonstration of transparency when spending funds. In capitalist society, there are expenditure controls for public and private entities, elected boards, and legal entities, which must be documented and proven. Conversely, the Xakriabá seem to have no concern about the transparency of the process, because they assume it to be inherent in their culture, related to the very essence of their social cohesion. What, then, is the sense of accountability procedures? The meetings to present the accounts gain much greater legitimacy by emphasizing relationships and social bonds - visual contact, speeches, trust in relationships - through which they occur, than by formal requirements, demanding certain levels of literacy and numeracy. Therefore, accountability, as a practice, is based on the explanations the associations provide the communities about the actions that justify their existence and demonstrate their importance.
FINAL CONSIDERATIONS
As we have seen throughout this article, the presence of associations and projects, along with schools, churches, the State, and among other agents of literacy in the indigenous territory, has brought new domains, both material and symbolic, of written language in various villages. In this sense, the question we initially posed still remains: "Does the appropriation of writing and or schooling promote some kind of inequality in social relations within the Xakriabá Indigenous Land?".
From one perspective, we may observe that the leaders, even when they cannot read and write, continue to play key roles in the daily lives of the villages, including the planning and execution of projects. This was clear at one of the meetings we observed, which was attended by the leaders of all the villages, the presidents of the health councils, health workers, representatives of the Special Board for Indigenous Health (SESAI), the mayor, two of his aides, the secretary of health and another public official. Some of the Xakriabá at the meeting could not read. , The presence of written documents at the meeting, orally presented by the speaker, did not appear to pose a problem or cause unease for the people who could not read or write.
When one of them, a leader, wanted to highlight an issue, he pointed to the worksheet and asked where some specific information could be found, waiting for someone else to perform the reading; he was expressing an understanding that the information presented by the speaker was registered in the document, and even though he was unable to find any meaning in the alphabetic system, he paid attention to what was written; noting the colour of the ink, the column where the names of the persons appeared, the roles they occupied and the numbers corresponding to the amounts. He, thus demonstrated his understanding of the role that written language has in the political field.
Being illiterate did not prevent him from being, in a certain sense, literate.25 Moreover, the speech of those leaders who have little or no schooling is very dense, revealing "complex modes of thought" (Olson, 1997, p.28). Writing actually seems to function as a trigger for the participation of individuals: nobody reads specific spread sheets or folders passed between hands; meetings are guided by visual elements, with drawings and text; and speeches often do not refer to the written information. When considering these and similar situations, the intensification of the presence of written materials in the Xakriabá Indigenous Land does not seem to have a decisive impact on the authority and legitimacy of leaders who cannot read and write.
Conversely, in other situations analysed, these new cultures of written material that have developed in this Indigenous Land seem to contribute to building alternative roles for those who are schooled and those who are not, for those who can read and those who cannot. During the fieldwork, we realized that at least three leaders who said they could not read were responsible for the written documents concerning the villages and projects, even if they did not do the reading. We also noted, in one of the analysed meetings, that on the first day of the agenda, a folder containing written materials and a pen was given to each participant. That folder became a mark of the participants in the event: all of them carried it with care and respect, including those people who could not read or write. Among the Xakriabá - as similarly witnessed among the Nambiquara in the "A Writing Lesson" (Levi-Strauss, 1996) - carrying papers seems to be an exhibition of power.26 Alternatively, it denotes the handling of a field of power that can be activated regardless of the individual's ability to understand the meaning of the alphabetic system.
Faced by the complex role attributed to written materials in the villages studied, the Xakriabá often create tactics that demonstrate that they simultaneously value traditional knowledge - based predominantly on orality - and recognize the (inexorable) need to use writing. In this sense, it is interesting to analyse the role that teachers have played in associations and the implementation of projects: they often volunteer as scribes, and are responsible for writing the minutes, drafting documents and reading and interpreting writings. Many teachers have understood and accepted that their role in relation to social projects and associations is that of a mediator. In this sense, the presence of written language appears within a set of internal articulations for which a possible solution is sought, that is to have a scribe to "record on paper" what is "being designed" by or through orality.27
Scribes are not, in this process, the only individuals associated with the authorship of the project, which is undertaken as a collaborative work, involving narrators, co-narrators, and receivers (Duranti, 2000). In the systematization of social projects among the Xakriabá, it is not always the one who writes that has ultimate control over the written document. The process of recording in writing a demand discussed orally and collectively, in accordance with the requirements of an official notice, is complex and difficult. It requires transforming the demands identified in oral discussions into an intelligible form - a collective task - and subsequently to the form for registration (the project format required by the official notice). One of the people interviewed stated that "the community speaks and they [the teachers/the educated ones] write". The verb "to write" and the writing itself appear to be two different things. In this sense, the leader explained: "I said everything and M. wrote it". The content is identified as the writing itself and it is incumbent upon the leaders and the community. The record - which serves to represent the village before the funding bodies - is the responsibility of someone with access to a higher domain of technology.
The same teacher, when interviewed, said his role was to decipher enigmas: both for the writing to be understood, recognized, and legitimated by the community, and for the financing agents. It may be observed that the ability to read and write is perceived not as an attribute specific to the individual, but as a skill made available to the community; which is related to other skills, resulting from the different roles of the persons involved in the practice.
Orality, therefore, is fundamental in the negotiation process between various people and the written language. Without a dichotomy between these two dimensions of language, orality appeared as a strong characteristic of the internal relations, as it is the main and most legitimate form of communication used in the various collective moments related to social projects. Writing, in turn, was more related to formal aspects, necessary for the development of projects.
Reflecting on the analysis conducted in this research, we can conclude that the uses and functions of writing are produced daily by the Xakriabá, both in internal mediations and in the relations with external agents; they establish and at times presume differences among the individuals involved, which do not necessarily generate inequality among them. The higher or lower level of literacy observed in different associations and villages - which cannot be considered as an independent variable, but is linked to other economic, social, and cultural aspects - seems to provoke, in turn, a situation of inequality in access to resources and even in the results achieved by the projects. It can be argued that the more the community understands and approaches hegemonic writing, the more benefits are accessed. Moreover, the more distant the association or the village collective is from contact with the logic of bureaucratic writing, the lower will be the benefits achieved.
Finally, we can conclude that the Xakriabá, required to interact with a mode of writing characteristic of national society, attributes to writing uses and functions in accord with local traditions. Through this approach, not only do they appropriate a seemingly exogenous tool, but also recreate it. Therefore, traditional dichotomies of the theoretical debate - such as those between the local and the global, or between the universalist and particularist perspectives - seem insufficient for grasping the full complexity of the phenomena studied. In this sense, the analysis of the cases presented reinforce what other studies cited in the article have found regarding the specific indigenous dynamics that do not assign a place of absolute prominence to writing or to those who possess the technical command of its use.
1
Here, we refer to the political organisations of a national state questioning the indigenous people about the situations described.
2
Written culture is understood as "the place - symbolic and material - that writing occupies into or for a particular social group, community or society" (Galvão, 2010, p.218). In this sense, there is no single written culture and, therefore, the use of the plural is recommended: written cultures or cultures of the written language.
3
The use of different expressions - "written language, written materials" - instead of "writing" ("escrito" instead of "escrita" in Portuguese) is intended to emphasize that we are not only referring to the ability to write or to the product of such writing, but to any event or practice that is mediated by written language. (Galvão, 2010).
4
For a discussion of the concepts of literacy events and practices, see Heath (1983) and Street (1984).
5
See Graff (1991), Chartier (2002), Barton and Hamilton (1988), and Street (1984).
6
For a summary of the first studies on oral and written culture, which started in the 1960s, see Galvão and Batista (2006).
7
Before the intense work at these three villages, a survey was conducted of the projects executed by all the associations. The villages studied were those where the largest number of initiatives had taken place, and whose associations are called upon by the others to support their movements and assist in conducting activities related to the projects. Regarding the differences between the two ideas of "association" and "organization", see Santos (2006).
8
The Xakriabá are developing a revitalization process of the Akwen language, which results from their contact with the Xerente. There are no linguistic studies on the Portuguese spoken and written by the Xakriabá.
9
The expression 'sphere' is used here in the sense given to it by Bakhtin (1992).
10
Poetry, in its oral and written forms - in particular the use of rhymed stanzas is one of the most common genres in the Xakriabá Indigenous Land, which is also found in other societies of oral tradition (Goody, 1977, 2012; Ong, 1998). This is often an aesthetic use to circulate information: an awareness that becomes memory.
11
Proposal developed by the FINMG for Professional and Technological Education Integrated into the Indigenous Schooling within PROEJA: National Program for the Integration of Professional Education with Basic Education in the form of Education for Youths and Adults.
12
Data collected from the website www.educacenso.inep.gov.br, on 2 February 2014.
13
For a discussion of indigenous education among the Xakriabá see, among others: Escobar (2004), Silva (2011), Pereira (2003), Mendonça (2007), and Santos (2006).
14
The relationship between religion and written culture has been the object of classical analysis in historiography (see, for example, Viñao Frago, 1993).
15
Souza (2009) found similar results in a study on the reconfiguration of Catholic religious practices following the intensification of the presence of written materials within a rural community in the Vale de São Francisco, Minas Gerais,.
16
Traditional Brazilian spiritual healer.
17
One of the foundations of historical Protestantism is the possibility for individuals to have direct access to the Bible, without intermediaries. Therefore, learning how to read and write is considered essential (see Viñao Frago, 1993).
18
We refer here to the concept as it originally appeared in Lave and Wenger (1991) and was successively addressed by Lave (2011a; 2011b), i.e. we are interested in focusing on different forms of participation in practices shared by a community, allowing them to be passed on and appropriated by different practitioners. See also the critical review proposed by Barton and Hamilton (2005).
19
The fragments of the individual testimonies were collected during two years of fieldwork and are recorded in the reports and field notes, as ethnography documents.
20
The same procedure was observed by Reis (2014), in his work on Comunidades Eclesiais de Base (Basic Church Communities), peasant women and cultures of written content in the region of Alto Sertão da Bahia.
21
Ninguém nunca sabe tudo/Temos muito a aprender/Na área nutricional/Eu só sei comer e beber/Mas não me sinto seguro/Quando penso no futuro/Dos filhos que vão nascer.
22
We use the concept of tactic in the sense given by Certeau (1994).
23
A specific funding programme for indigenous communities, implemented by the Ministries of Environment and Social Development (MMA/MDS) since 2004.
24
Na Aldeia Catinguinha teve uma reunião / Onde foram discutidos fontes de renda e alimentação / Foi um encontro produtivo e com muita orientação / Lideranças e a comunidade e o presidente da associação / Professores e alunos também estavam presentes / Buscando melhoria pro nosso meio ambiente. / A Carteira e a FUNASA vieram pra explicar / Sobre alguns reajustes pro projeto melhorar
25
For a discussion on this, see, among others, Soares (1998).
26
Interestingly, in the history of the Xakriabá, the possession and political use of the Land Grant, a document from 1728, was independent of the reading and writing ability of leaders in the local historical process. As stated by Santos (2010, p. 33): "The documentation was perceived as a guarantee itself on the land and its logic was independent of the text contained in it, since Gerônimo, like many other caciques, was illiterate. In several reports, the papers carried by Gerônimo appear as a legacy passed on by the elder from generation to generation"
27
On the presence or need of a scribe to mediate the relationship between individuals with low levels of literacy and writing, see the fascinating work by Kalman (2003).
Autoría
SUZANA ALVES ESCOBAR
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Januária, MG, BrasilInstituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas GeraisBrazilJanuária, MG, BrazilInstituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Januária, MG, Brasil
SOBRE AS AUTORAS
Suzana Alves Escobar é doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora do Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Norte de Minas Gerais (IFNMG).
E-mail: suza.escobar@gmail.com
ANA MARIA DE OLIVEIRA GALVÃO
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, BrasilUniversidade Federal de Minas GeraisBrazilBelo Horizonte, MG, BrazilUniversidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Ana Maria de Oliveira Galvão é doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora da mesma instituição.
E-mail: anamgalvao@uol.com.br
ANA MARIA RABELO GOMES
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, BrasilUniversidade Federal de Minas GeraisBrazilBelo Horizonte, MG, BrazilUniversidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Ana Maria Rabelo Gomes é doutora em educação pela Universitá degli Studi di Bologna (Itália). Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: anarabelogomes.bhz@gmail.com
SOBRE AS AUTORAS
Suzana Alves Escobar é doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora do Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Norte de Minas Gerais (IFNMG).
Ana Maria Rabelo Gomes é doutora em educação pela Universitá degli Studi di Bologna (Itália). Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Januária, MG, BrasilInstituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas GeraisBrazilJanuária, MG, BrazilInstituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Januária, MG, Brasil
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, BrasilUniversidade Federal de Minas GeraisBrazilBelo Horizonte, MG, BrazilUniversidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Como citar
ESCOBAR, SUZANA ALVES, GALVÃO, ANA MARIA DE OLIVEIRA y GOMES, ANA MARIA RABELO. CULTURAS DE LO ESCRITO EN LAS ASOCIACIONES Y PROYECTOS SOCIALES INDÍGENAS: UN ESTUDIO SOBRE LOS XAKRIABÁ, MINAS GERAIS. Revista Brasileira de Educação [online]. 2017, v. 22, n. 68 [Accedido 17 Abril 2025], pp. 231-253. Disponible en: <https://doi.org/10.1590/S1413-24782017226812>. ISSN 1809-449X. https://doi.org/10.1590/S1413-24782017226812.
ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em EducaçãoRua Visconde de Santa Isabel, 20 - Conjunto 206-208 Vila Isabel - 20560-120, Rio de Janeiro RJ - Brasil, Tel.: (21) 2576 1447, (21) 2265 5521, Fax: (21) 3879 5511 -
Rio de Janeiro -
RJ -
Brazil E-mail: rbe@anped.org.br
rss_feed
Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
scite shows how a scientific paper has been cited by providing the context of the citation, a classification describing whether it supports, mentions, or contrasts the cited claim, and a label indicating in which section the citation was made.