RESUMO
O contato inicial com uma língua acessível ocorre, para os estudantes surdos brasileiros, frequentemente no ambiente escolar, ao entrar em contato com outras crianças surdas e com interlocutores adultos fluentes em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esse acesso tardio pode ocasionar um certo atraso na aquisição e no desenvolvimento da linguagem. Assim, a educação bilíngue de surdos coloca os professores frente ao desafio de como avaliar a Libras no contexto escolar. Diante das propostas educacionais, ainda há poucos instrumentos que contribuam para avaliar os conhecimentos em Libras dos estudantes surdos. Portanto, o objetivo deste estudo é, por meio de um instrumento ilustrado de investigação de narrativas sinalizadas, contribuir com a avaliação da Libras e com o trabalho pedagógico de professores que atuam na educação bilíngue de surdos. O instrumento de avaliação de textos narrativos mostra-se bastante sensível para detectar o desenvolvimento linguístico dos discursos narrativos sinalizados, contribuindo intrinsicamente para a observação de funções/necessidades comunicativas.
PALAVRAS-CHAVE:
Educação Especial; Educação bilíngue de surdos; Instrumento de avaliação; Narrativas sinalizadas; Contexto escolar
ABSTRACT
The initial contact with an accessible language occurs, for Brazilian deaf students, often in the school environment, when they encounter other deaf children and with adult interlocutors who are fluent in Brazilian Sign Language (LIBRAS). This late access can cause a certain delay in language acquisition and development. Thus, bilingual education for the deaf place’s teachers in the face of the challenge of how to evaluate LIBRAS in the school context. In view of the educational proposals, there are still few instruments that contribute to assessing deaf students’ knowledge in LIBRAS. Therefore, the objective of this study is, through an illustrated instrument for investigating signaled narratives, to contribute to the evaluation of LIBRAS and to the pedagogical work of teachers who work in bilingual education for the deaf. The instrument for evaluating narrative texts proves to be quite sensitive to detect the linguistic development of signaled narrative discourses, intrinsically contributing to the observation of communicative functions/needs.
KEYWORDS
Special Education; Bilingual education of the deaf; Assessment instrument; Signed narratives; School context
1 INTRODUÇÃO
O processo de desenvolvimento de linguagem da criança, de acordo com Vygotsky (2008)Vygotsky, L. S. (2008). Pensamento e linguagem. Martins Fontes., ocorre por meio da interação e das trocas interpessoais, nas relações que a criança estabelece com o outro por meio dos câmbios comunicativos, sendo esse processo um requisito básico para o desenvolvimento linguístico. Nos casos de crianças surdas, essas trocas seriam mais significativas se elas pudessem contar com interlocutores adultos fluentes em Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas raramente há essa possibilidade já que a maioria das crianças surdas são filhas de pais ouvintes (Guarinello & Lacerda, 2014Guarinello, A. C., & Lacerda, C. B. F. (2014). Educação Bilíngue e Atuação Fonoaudiológica. In I. Q. Marchezan, H. J. Silva, & M. C. Tomé (Orgs.), Tratado das Especialidades em Fonoaudiologia (1ª ed., pp. 516-523). Guanabara Koogan.).
Guarinello e Lacerda (2014)Guarinello, A. C., & Lacerda, C. B. F. (2014). Educação Bilíngue e Atuação Fonoaudiológica. In I. Q. Marchezan, H. J. Silva, & M. C. Tomé (Orgs.), Tratado das Especialidades em Fonoaudiologia (1ª ed., pp. 516-523). Guanabara Koogan. ressaltam que, no Brasil, as crianças surdas possuem poucas oportunidades para o desenvolvimento da linguagem, considerando que a maioria é exposta antes de tudo à linguagem oral, língua de seus pais ouvintes, o que acaba por acarretar o atraso do processo de desenvolvimento. Nesse processo, é essencial que a criança tenha oportunidade de vivenciar experiências de narrativas como usuária da língua de sinais, para se constituir como interlocutor efetivo nessa língua. Esse contato inicial com uma língua acessível ocorre, na maioria dos casos, no ambiente escolar, ao entrar em contato com outras crianças surdas, com interlocutores adultos surdos e com interlocutores adultos ouvintes fluentes em língua de sinais.
Contudo, durante todo o processo de desenvolvimento e de aquisição de linguagem, é por intermédio da narrativa que a criança amplia seu vocabulário para o uso e a identificação de aspectos discursivos específicos de contar histórias. Assim, Perroni (1983)Perroni, M. C. (1983). Desenvolvimento do Discurso Narrativo [Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas]. Repositório da Unicamp. https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/51497
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destaca a importância do papel que o interlocutor adulto assume nesse processo, já que as interações verbais que estabelece com as crianças permitem que elas desenvolvam atitudes discursivas.
É preciso ressaltar que a necessidade de uma educação bilíngue de surdos sempre é enfatizada por vários autores. Lacerda et al. (2016)Lacerda, C. B. F., Santos, L. F., Lodi, A. C. B., & Gurgel, T. M. A. (2016). Educação inclusiva bilíngue para alunos surdos: pesquisa e ação em uma rede pública de ensino. In C. B. F. Lacerda, L. F. Santos, & V. R. O. Martins (Orgs.), Escola e diferença: caminhos para educação bilíngue de surdos (1ª ed., pp. 13-28). EdUFSCar. reforçam a necessidade da implantação de uma educação bilíngue ainda na Educação Infantil, pois nesse nível de ensino “a criança vivencia um momento de seu desenvolvimento que é a base para a formação de sua(s) subjetividade(s), construída(s) por meio da relação que estabelece com outros (pares adultos) e pela vivência de diversos fatos no ambiente escolar [...]” (p. 15).
Recentemente, foi sancionada, no Brasil, a Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.htm
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, que insere a Educação Bilíngue de Surdos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
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, como uma modalidade de ensino independente, antes incluída como parte da Educação Especial. De acordo com o documento, no Capítulo V-A, art. 60-A, a educação bilíngue de surdos é entendida como
a modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em português escrito, como segunda língua, em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de surdos, escolas comuns ou em polos de educação bilíngue de surdos, para educandos surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas, optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos. (Lei nº 14.191, 2021Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.htm
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De acordo com o texto, a modalidade de ensino deverá ser iniciada na Educação Infantil e se estender ao longo da vida (Lei nº 14.191, 2021Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.htm
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), confirmando a importância de estudos que pautem o ensino de Libras e seu desenvolvimento desde o início da escolarização.
Antes mesmo da Lei nº 14.191/2021Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/Lei/L14191.htm
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ser sancionada, já era possível encontrar, no Brasil, algumas iniciativas de trabalho de educação bilíngue de surdos atentas às particularidades linguísticas existentes na Libras. Dentre elas, pode-se destacar o Currículo de Língua Brasileira de Sinais (Libras) (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo [SME-SP], 2019aSecretaria Municipal de Educação de São Paulo. (2019a). Currículo da Cidade: Educação Especial, Língua Brasileira de Sinais. SME, COPED.) e o Currículo de Língua Portuguesa para Surdos (SME-SP, 2019bSecretaria Municipal de Educação de São Paulo. (2019b). Currículo da Cidade: Educação Especial, Língua Portuguesa para Surdos. SME, COPED.) que compõem o Currículo Bilíngue, sistematizando os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para o Ensino de Libras e Língua Portuguesa para Surdos, sendo uma das primeiras iniciativas de currículo bilíngue proposto no Brasil em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e integrado ao Currículo da Cidade de São Paulo.
Uma outra iniciativa que merece destaque é o Currículo da Língua Brasileira de Sinais - Libras: componente curricular como primeira língua (Mertzani et al., 2020Mertzani, M., Terra, C. L., & Duarte, M. A. T. (2020). Currículo da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS: componente curricular como primeira língua. Editora da FURG. http://www.riogrande.rs.gov
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), apresentado no ano de 2020 pelo Instituto de Educação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, Rio Grande do Sul (RS). O currículo foi desenvolvido por meio da colaboração com o Instituto de Letras e Artes da FURG, Secretaria de Município da Educação (SMEd), Escola Municipal de Educação Bilíngue (EMEB) Professora Carmen Regina Teixeira Baldino, Departamento de Linguística da Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto de Política Educacional (IEP), Atenas, Grécia.
Mesmo diante dessas propostas efetivas de educação bilíngue de surdos, ainda há poucas ferramentas que contribuam para avaliar os conhecimentos em Libras dos estudantes surdos brasileiros. Mertzani et al. (2020)Mertzani, M., Terra, C. L., & Duarte, M. A. T. (2020). Currículo da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS: componente curricular como primeira língua. Editora da FURG. http://www.riogrande.rs.gov
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destacam que a avaliação será desenvolvida priorizando o conhecimento adquirido na Libras, sendo os registros realizados por meio de vídeos, em diversas e diferentes propostas. Nesse viés, as autoras também alertam para a ausência de instrumentos que contribuam para a avaliação das Línguas de Sinais (LSs): “O desenvolvimento significativo de ferramentas de avaliação das LSs em todo o mundo é limitado. A necessidade de tais ferramentas é imperativa e elas precisam ser desenvolvidas seguindo os princípios aceitos das ferramentas de avaliação das LSs” (p. 25).
Diante da escassez de instrumentos que contribuam com o trabalho pedagógico dos professores que atuam na educação bilíngue de surdos, Barbosa e Lichtig (2014)Barbosa, F. V., & Lichtig, I. (2014). Protocolo do perfil das habilidades de Comunicação de crianças surdas. Revista de Estudos da Linguagem, 22(1), 95-118. https://doi.org/10.17851/2237-2083.22.1.95-118
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também destacam que a
elaboração de avaliações específicas para averiguar a aquisição e o desenvolvimento da língua de sinais é de extrema necessidade no Brasil, haja vista o reduzido número de pesquisadores empenhados nesta área e a escassez de estudos linguísticos que possam contribuir na estrutura básica do delineamento de um protocolo. Mesmo em estudos descritivos da Língua de Sinais Brasileira, são poucas as tentativas [...]. (p. 98)
A educação bilíngue de surdos coloca os professores surdos e/ou bilíngues frente ao desafio de como avaliar a Libras no contexto escolar. Todavia, para uma avaliação que considere as especificidades da Libras, é necessário que os professores que atuam na educação de surdos conheçam a estrutura linguística empregada por seus alunos nas atividades e nas práticas discursivas em sala de aula. Muitos desses profissionais, porém, não possuem uma formação que lhes proporcione conhecimentos linguísticos específicos e, em muitos casos, não se julgam aptos para criar instrumentos que auxiliem na verificação da aprendizagem em sala de aula.
Assim, frente à necessidade de descrever as características do desenvolvimento da língua de sinais em crianças surdas da Catalunha, Espanha, descrevendo elementos formais identificados, a linguista Dr.ª Maria Josep Jarque, da Universidade de Barcelona, e seus colaboradores da escola Tres Pins e do Centro de Recursos Educacionais para Deficientes Auditivos (CREDA) Pere Barnils4 4 O CREDA Pere Barnils é um serviço educativo específico destinado a alunos com surdez ou com distúrbios de linguagem e suas famílias, dependendo do Consórcio da cidade de Barcelona, Espanha, que é constituído pelo Departamento de Educação da Generalidade da Catalunha e Instituto Municipal de Educação de Barcelona. É formado por uma equipe de fonoaudiólogos itinerantes, psicopedagogos e audioprotéticos dedicados ao atendimento de alunos, centros e famílias. Os membros da Equipe de Gestão e da Equipe de Administração e Serviços completam a equipe da CREDA Pere Barnils, Barcelona, Catalunha. da Catalunha, em parceria com a pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Brasil, Dr.ª Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, desenvolveram um “Instrumento de avaliação de textos narrativos em línguas de sinais”, utilizado para subsidiar análises das narrativas de crianças e jovens surdos, denominado Valoración de Narrativas en Lengua de Signos - Lengua de Signos Catalana/Producción (NarVaL-LSC/Prod). Após a avaliação dos resultados obtidos por meio do uso do instrumento criado, em um estudo inicial, as pesquisadoras afirmam que ele é bastante sensível para detectar o processo de desenvolvimento de língua nas crianças surdas, por meio de uma construção narrativa.
O NarVaL-LSC/Prod foi elaborado e aplicado em 2018, na escola Tres Pins, na Catalunha/Espanha (Jarque et al., 2018Jarque, M. J., Lacerda, C. B. F., Gràcia, M., Cedillo, P., & Serrano, M. C. (2018). L’avaluació de la producció de textos narratius en llengua de signes catalana (LSC) [Apresentação de artigo]. VII Seminario de la Llengua de Signes Catalana, Barcelona, Espanha. https://serveiseducatius.xtec.cat/creda-mvo/wp-content/uploads/usu735/2018/05/PROGRAMA-VII-SEMINARI-LSC.pdf
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). Em seguida, a autora brasileira que colaborou para a criação do instrumento elaborou uma versão traduzida e adaptada para uso da Libras, no contexto das escolas brasileiras, denominado “Avaliação de Narrativas em Língua Brasileira de Sinais/Produção” (NarVaL-Libras/Prod) (Lacerda, 2020Lacerda, C. B. F. (2020). Experiência de auto avaliação docente mediada por uma escala de avaliação de interlocução no espaço escolar para o contexto da Educação Bilíngue de Surdos [Relatório final de Pesquisa. Proc. Fapesp. 2017/25171-3, Universidade Federal de São Carlos]. Bliblioteca Virtual da Fapesp. https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/99928/experiencia-de-autoavaliacao-docente-mediada-por-uma-escala-de-avaliacao-de-interlocucao-no-espaco-e/
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). Além do uso dessa versão para a coleta de dados referentes ao relatório de pesquisa, Montes e Santos (2021)Montes, A. L. B., & Santos, L. F. (2021). Como os adultos surdos contam história? Análises de narrativas. Letras & Letras, 37(2), 47-63. https://seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/view/56240/33037
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utilizaram esse instrumento para um estudo investigativo de narrativas de adultos surdos. Tais estudos favorecem aprofundamento de discussões que resultam então em nova pesquisa (Montes & Lacerda, 2022Montes, A. L. B., & Lacerda, C. B. F. (2022). Versión ilustrada del Instrumento de evaluación de narraciones em lengua de signos: adaptación para el uso en el contexto escolar brasileño [Apresentação de artigo]. X Internacional Congress of Language Acquisition, Girona, Espanha.) que propõe uma versão revisada do instrumento para uso da Libras, com uma proposta de ilustração por meio de vídeos.
O instrumento desenvolvido, adaptado e revisado está dividido em seis dimensões, nove níveis e 24 indicadores que podem receber uma pontuação de zero, um, dois ou três, selecionando a declaração que melhor descreve a situação observada. A pontuação total do instrumento pode chegar a 72 pontos. As seis dimensões são: estrutura textual, fluxo da informação e estrutura da sentença, vocabulário, predicados verbais, gestualidade, articulação e prosódia. Mesmo sendo uma avaliação por critérios, com análises da macro e microestrutura, os estudos que utilizaram esse instrumento (Montes & Lacerda, 2022Montes, A. L. B., & Lacerda, C. B. F. (2022). Versión ilustrada del Instrumento de evaluación de narraciones em lengua de signos: adaptación para el uso en el contexto escolar brasileño [Apresentação de artigo]. X Internacional Congress of Language Acquisition, Girona, Espanha.; Montes & Santos, 2021Montes, A. L. B., & Santos, L. F. (2021). Como os adultos surdos contam história? Análises de narrativas. Letras & Letras, 37(2), 47-63. https://seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/view/56240/33037
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) estando em desenvolvimento, procuram não trabalhar com afirmações fechadas, considerada a individualidade de cada criança participante, marcada por seu nível socioeconômico e cultural e por suas vivências. O nível macroestrutural refere-se à capacidade de construir uma representação hierárquica dos elementos principais da história, incluindo a sequência de eventos, introdução dos personagens, cenário da cena, menção de ações complicadoras, o clímax da história e uma resolução. Em relação aos componentes microestruturais da narrativa, trata-se de elementos usados no nível da palavra e da oração e incluem dispositivos para o controle de formas de referência, coesão do enredo, uso de dispositivos gramaticais para coesão no nível da frase e comentários avaliativos.
É preciso destacar que as atuais avaliações da expressão comunicativa de crianças surdas têm se restringido à modalidade oral, desvalorizando, assim, o potencial comunicativo dessas crianças, colocando-as em níveis bem abaixo do desempenho comunicativo das crianças ouvintes (Barbosa & Lichtig, 2014Barbosa, F. V., & Lichtig, I. (2014). Protocolo do perfil das habilidades de Comunicação de crianças surdas. Revista de Estudos da Linguagem, 22(1), 95-118. https://doi.org/10.17851/2237-2083.22.1.95-118
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). Isso acontece porque os protocolos de avaliação, em sua maioria, desconsideram as particularidades existentes nas línguas de sinais e sua gramática específica, bem como a visoespacialidade existente.
Caballero et al. (2020)Caballero, M., Aparici, M., Sanz-Torrent, M., Herman, R., Jones, A., & Morgan, G. (2020). “El nen s’ha menjat una aranya”: The development of narratives in Catalan speaking children. Journal of Child Language, 47, 1030-1051. https://doi.org/10.1017/S0305000920000057
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, ao investigarem narrativas de crianças falantes de catalão como língua materna, enfatizam a necessidade e destacam a relevância de analisar as habilidades narrativas, principalmente nos anos iniciais de escolarização da criança, principalmente com um instrumento sensível que possa contribuir para intervenções de profissionais, quando qualquer tipo de atraso no desenvolvimento de linguagem for detectado. O estudo analisou produções narrativas para um grande número de componentes macro e microestruturais em uma ampla faixa etária de crianças falantes de catalão como língua materna - 118 crianças com idades de 4 até 11 anos. As análises realizadas pelos autores fornecem novas informações sobre os processos gerais de desenvolvimento da linguagem, bem como a aquisição de dispositivos linguísticos específicos usados para eliciar uma narrativa em catalão.
Existem alguns instrumentos de línguas orais adaptados para o uso em línguas de sinais. Todavia, a ausência de instrumentos específicos prejudica os estudantes surdos, colocando-os em níveis bem abaixo dos estudantes ouvintes. Herman et al. (1999)Herman, R., Holmes, S., & Woll, B. (1999). Assessing BSL development - receptive skills test. The Forest Bookshop. avaliou o desenvolvimento da língua britânica de sinais em sua compreensão e produção (Herman et al., 2004Herman, R., Grove, N., Holmes, S., Morgan, G., Sutherland, H., & Woll, B. (2004). Assessing British Sign Language Development: Production Test (Narrative skills). City University, 2004.), padronizando os procedimentos para serem utilizados posteriormente por outros pesquisadores. Nessa época, a carência de instrumentos de avaliação já estava sendo sinalizada, assim como a necessidade de normatização de testes com essa finalidade.
Visando a ampliação do trabalho do professor que atua na educação bilíngue de surdos, Lacerda et al. (2020)Lacerda, C. B. F., Lemes, J. R. B., Nichols, G., Segala, R., & Nascimento, V. (2020). Avaliação da compreensão em Libras por alunos surdos: uma proposta. Revista Contemporânea de Educação, 5(34), 22-39. https://doi.org/10.20500/rce.v15i34.32392
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enfatizam ser necessária uma formação aprofundada que envolva conhecimento linguístico da Libras. Dessa forma, o professor conseguiria desenvolver avaliações do uso/domínio da língua e ampliar as práticas pedagógicas existentes. Os autores destacam a ausência de ferramentas que possam ser utilizadas na avaliação da Libras no contexto escolar, dificultando o trabalho docente frente às expectativas e às necessidades de seus alunos.
O objetivo deste estudo é, portanto, por meio de um instrumento ilustrado de investigação de narrativas sinalizadas - NarVaL-Libras/Prod-Ilustrado -, contribuir com a avaliação da Libras e com o trabalho pedagógico de professores que atuam na educação bilíngue de surdos, cenário em que a Libras é a primeira língua dos estudantes matriculados em escolas bilíngues, escolas polos, escolas com sala de instrução Libras, entre outros contextos educacionais. Se esse docente puder ter um conhecimento mais aprofundado da estrutura linguística dos discursos eliciados por seus alunos, poderá direcionar suas práticas pedagógicas para auxiliá-los nas necessidades encontradas. O instrumento contribuirá para o conhecimento da língua utilizada em sala de aula, como também com a prática docente, despertando os professores para aspectos reais da língua que, no dia a dia, sem a utilização de parâmetros específicos, podem passar desapercebidos. É importante esclarecer que o instrumento não se trata de um teste, mas, sim, de uma avaliação dinâmica do funcionamento da língua. Dessa forma, não é exigida pontuação mínima e os resultados servirão de parâmetros para indicar como o aluno tem feito uso da língua, quais aspectos estão mais bem desenvolvidos e em qual(is) aspecto(s) o aluno precisa avançar.
É preciso destacar que o NarVaL-Libras/Prod-Ilustrado é um instrumento inédito e foi desenvolvido especificamente para a avaliação de aspectos macro e microestruturas de narrativas sinalizadas em Libras, considerando toda sua especificidade e contribuindo intrinsicamente com a educação bilíngue de surdos nos diversos cenários educacionais.
2 MÉTODO
O NarVaL-LSC/Prod e o NarVaL-Libras/Prod foram criados para serem aplicados com crianças, adolescentes e/ou adultos surdos, usuários nativos, não nativos e/ou tardios de línguas de sinais, considerando os muitos aspectos e as particularidades linguísticas existentes nas línguas sinalizadas. Assim, após estudos preliminares realizados na Catalunha/Espanha, e estudo piloto realizado no Brasil com crianças e jovens surdos, evidenciou-se um melhor aproveitamento das funcionalidades do NarVaL-Libras/Prod quando aplicado a partir do primeiro ano do Ensino Fundamental.
Para ilustrar o referido instrumento com produções em Libras que pudessem melhor orientar seu uso por professores, optou-se por reunir as narrativas sinalizadas de adultos surdos, para a obtenção de um corpus que pudesse contribuir para a elaboração da versão ilustrada do NarVaL-Libras/Prod (Lacerda, 2020Lacerda, C. B. F. (2020). Experiência de auto avaliação docente mediada por uma escala de avaliação de interlocução no espaço escolar para o contexto da Educação Bilíngue de Surdos [Relatório final de Pesquisa. Proc. Fapesp. 2017/25171-3, Universidade Federal de São Carlos]. Bliblioteca Virtual da Fapesp. https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/99928/experiencia-de-autoavaliacao-docente-mediada-por-uma-escala-de-avaliacao-de-interlocucao-no-espaco-e/
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). Para tal, dez narrativas de adultos surdos foram analisadas. Destas, oito foram gravadas de maneira presencial no ano de 2019, conforme Parecer nº 3.488.624 (CAAE: 18030919.0.0000.5504) e duas gravadas por meio do uso da plataforma Google Meet, no ano de 2021, conforme Parecer nº 5.121.484 (CAAE: 35990220.0.0000.5504).
O livro utilizado para subsidiar a coleta dos dados foi Frog, where are you? (Mayer, 1969Mayer, M. (1969) Frog, where are you? A boy, a dog, and a frog. Dial Books for Young Readers.), o mesmo utilizado por Slobin (1992)Slobin, D. (1992). The crosslinguistic study of language acquisition. Volume 3. Erlbaum., Guimarães (1999)Guimarães, A. M. M. (1999). Desenvolvimento de narrativas: introdução de referentes no universo textual. Linguagem & Ensino, 2(2), 91-108., Morgan (2002)Morgan, G. (2002). The encoding of simultaneity in children’s British Sign Language narratives. Sign Language & Linguistics, 5(2), 131-165. https://doi.org/10.1075/sll.5.2.04mor
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, Rathmann et al. (2007)Rathmann, C., Mann, W., & Morgan, G. (2007). Narrative Structure and Narrative Development in Deaf Children. Deafness and Education International, 9(4), 187-196. https://doi.org/10.1179/146431507790559932
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, Jarque et al. (2018)Jarque, M. J., Lacerda, C. B. F., Gràcia, M., Cedillo, P., & Serrano, M. C. (2018). L’avaluació de la producció de textos narratius en llengua de signes catalana (LSC) [Apresentação de artigo]. VII Seminario de la Llengua de Signes Catalana, Barcelona, Espanha. https://serveiseducatius.xtec.cat/creda-mvo/wp-content/uploads/usu735/2018/05/PROGRAMA-VII-SEMINARI-LSC.pdf
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, Jarque e Pascual (2021)Jarque, M. J., & Pascual, E. (2021). From gestureand sign-in-interaction to grammar: Fictive questions for relative clauses in signed languages. Languages and Modalities, 1, 81-93. https://doi.org/10.3897/lamo.1.68245
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, entre outros. Consiste em uma sequência de imagens em preto e branco, desenhadas e sem texto escrito, que vão representando uma história na qual um garoto e seu cachorro procuram uma rã que haviam capturado e que desapareceu. Para encontrá-la, enfrentam uma série de obstáculos até chegar ao desfecho da história, um tanto ambíguo. A forma como a história está proposta favorece a apresentação de uma rica narrativa por parte dos leitores. Essa técnica tem o objetivo de estimular a produção de narrativas com base em histórias contadas a partir de imagens, uma técnica de produção de dados chamada “semiespontânea” (Chafe, 1994Chafe, W. (1994). Discourse, consciousness and time. The University of Chicago Press.) já em uso em pesquisas com outras línguas de sinais (Morgan, 1999Morgan, G. (1999). Event packaging in British Sign Language discourse. In E. A. Winston (Ed.), Storytelling and conversation: discourse in deaf communities (1a ed., pp. 27-58). Gallaudet University Press.; Rayman, 1999Rayman, J. (1999). Storytelling in the visual mode: a comparison of ASL and English. In E. A. Winston (Ed.), Storytelling and conversation: discourse in deaf communities (1a ed., pp. 59-82). Gallaudet University Press.).
É preciso acrescentar que o uso de livros somente de imagens para esse tipo de pesquisa procura evitar o uso de histórias baseadas em textos escritos para não causar influência e/ou interferência de processos gramaticais e estratégias discursivas da língua oral na narrativa em Libras (McCleary & Viotti, 2007McCleary, L., & Viotti, E. (2007). Transcrição de dados de uma língua sinalizada. In H. Salles (Org.), Bilinguismo dos surdos: questões linguísticos e educacionais (1ª ed., pp. 73-96). Cânone Editorial.).
Para a coleta presencial, a pesquisadora responsável por essa etapa, convidou os participantes a olhar/ler visualmente a história presente no livro Frog, where are you? (Mayer, 1969Mayer, M. (1969) Frog, where are you? A boy, a dog, and a frog. Dial Books for Young Readers.). Logo depois, a construção da narrativa em Libras foi solicitada, sendo gravada presencialmente (Montes & Santos, 2021Montes, A. L. B., & Santos, L. F. (2021). Como os adultos surdos contam história? Análises de narrativas. Letras & Letras, 37(2), 47-63. https://seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/view/56240/33037
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). Na coleta realizada virtualmente na plataforma Google Meet, o livro foi apresentado em formato PDF por meio do compartilhamento da tela da pesquisadora, e cada participante pode olhar/ler a história toda, de modo individual, até que estivesse satisfeito com a visualização. A pesquisadora orientou sobre o espaço de sinalização disponível e, em seguida, foi solicitada a construção da narrativa em Libras. As narrativas foram gravadas para análise posterior.
No total, a pesquisa contou com dez participantes, quatro mulheres e seis homens com idade entre 25 e 50 anos, ocorrendo o primeiro contato com a Libras desde 1 ano de idade até os 22 anos. Os participantes possuem, em sua maioria, formação universitária.
As narrativas foram analisadas por meio do NarVaL-Libras/Prod (Lacerda, 2020Lacerda, C. B. F. (2020). Experiência de auto avaliação docente mediada por uma escala de avaliação de interlocução no espaço escolar para o contexto da Educação Bilíngue de Surdos [Relatório final de Pesquisa. Proc. Fapesp. 2017/25171-3, Universidade Federal de São Carlos]. Bliblioteca Virtual da Fapesp. https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/99928/experiencia-de-autoavaliacao-docente-mediada-por-uma-escala-de-avaliacao-de-interlocucao-no-espaco-e/
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). Em seguida, selecionaram-se os melhores exemplos para demonstrar cada uma das dimensões presentes no instrumento. Para este artigo, focalizar-se-á a dimensão “Predicados verbais”, abordando a capacidade de referir-se a situações e exemplificando os descritores do indicador “Aspecto gramatical”.
É preciso esclarecer que as orientações de aplicação são as mesmas para as diferentes faixas etárias. Quando o instrumento for aplicado por professores que atuam na educação bilíngue de surdos, este deve solicitar que o aluno visualize o livro de imagens e, em seguida, realize sua construção narrativa, sendo esta filmada. Dessa forma, o professor terá a possibilidade de visualizar a narrativa quantas vezes julgar necessário para realizar a avaliação a partir do instrumento NarVaL-Libras/Prod-Ilustrado.
Esse tipo de instrumento, também denominado de “rubrica”, são guias de pontuação bastante detalhados e podem ser usados para avaliar e validar desempenhos multidimensionais. São documentos que articulam as expectativas para uma tarefa, ou um conjunto de tarefas, listando os critérios de avaliação e descrevendo os níveis de qualidade em relação a cada um desses critérios. Panadero e Jonsson (2013)Panadero, E., & Jonsson, A. (2013). The use of scoring rubrics for formative assessment purposes revisited: A review. Educational Research Review, 9, 129-144. https://doi.org/10.1016/j.edurev.2013.01.002
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destacam que o uso de rubricas como instrumento de avaliação em sala de aula aumentou nos últimos anos já que proporcionam uma avaliação confiável de desempenhos complexos, sendo amplamente utilizadas no contexto escolar, nos diferentes níveis. Ainda de acordo com os autores, as características peculiares das rubricas as tornam instrumentos adequados para melhorar as propriedades psicométricas das avaliações de desempenho e, também, para apoiar o processo de avaliação formativa, em que as informações da avaliação - com critérios explícitos - são usadas para informar os alunos sobre seu progresso e ajudá-los em seu desenvolvimento, trazendo inúmeros benefícios para professor e aluno (Panadero & Jonsson, 2013Panadero, E., & Jonsson, A. (2013). The use of scoring rubrics for formative assessment purposes revisited: A review. Educational Research Review, 9, 129-144. https://doi.org/10.1016/j.edurev.2013.01.002
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).
Dessa forma, para esta pesquisa e com base no corpus de narrativas de adultos surdos, um dos indicadores do instrumento de avaliação de textos narrativos em língua de sinais será apresentado: o aspecto gramatical. Com uso de pequenos vídeos, disponibilizados por meio da leitura de QR Codes, o objetivo é auxiliar o professor no uso do instrumento e a entender o que se pretende olhar em cada descritor; contribuindo para a descrição e análise dos recursos e as estratégias linguísticas utilizadas na eliciação de narrativas semiespontâneas produzidas em Libras, a fim de possibilitar o conhecimento da estrutura da língua em uso. A Figura 1 apresenta um recorte do instrumento de avaliação, com destaque para a dimensão “Predicados verbais”.
Predicados verbais: capacidade de referir-se a situações - Verbos, Construções com classificadores e Aspecto gramatical
A complexidade do instrumento faz o professor olhar para os detalhes que, certamente, passariam desapercebidos se não houvesse um instrumento indicando a possível presença e o uso de alguns indicadores. Para o indicador a ser apresentado neste artigo, quando o sinalizante não faz uso de recursos para expressar aspecto, pontua-se no “descritor 0”; para o “descritor 1” é esperado algum uso do aspecto perfectivo ou continuativo, ainda que com imprecisões; o “descritor 2” mostra que o sinalizante faz uso de alguns recursos para expressar o aspecto continuativo ou perfectivo; e, por último, ao utilizar recursos aspectuais variados e de maneira precisa, o sinalizante pontua no “descritor 3”.
O formato da rubrica, portanto, colabora para a visualização e a classificação do comportamento linguístico e, com base nele, favorece a tomada de decisões sobre possíveis abordagens educativas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O aspecto é uma categoria gramatical pouco investigada nas pesquisas sobre as línguas de sinais, principalmente na Libras. Silva (2014)Silva, L. (2014). Investigando a aquisição da categoria aspectual na Língua Brasileira de Sinais. In M. R. Stumpf, R. M. Quadros, & T. A. Leite (Orgs.), Estudos da Língua Brasileira de Sinais II (1ª ed., pp. 45-77). Insular. realizou uma investigação sobre a aquisição da categoria aspectual na Libras e relatou que não encontrou nenhum texto sobre essa temática, apenas pouquíssimas pesquisas abordando estudos com a aquisição dessa categoria por crianças brasileiras ouvintes.
Jarque (2021)Jarque, M. J. (2021). The coding of aspectual values in periphrastic constructions across signed languages. In M. Garachana, S. Montserrat, & C. D. Pusch (Eds.), From composite predicates to verbal periphrases in Romance languages (1a ed., pp. 1-24). John Benjamins. explica que o aspecto gramatical é uma categoria que codifica uma ação, evento ou estado, denotado por um verbo, e se estende ao longo do tempo. Em todas as línguas de sinais, os significados aspectuais são expressos por meio de marcação morfológica, perifrástica e sintática. A codificação morfológica não é produzida pela adição de prefixos ou sufixos. Em vez disso, consiste em mudanças na forma do próprio sinal, principalmente por modulações características na maneira e na frequência do movimento. De acordo com Liddell (2003)Liddell, S. (2003). Grammar, gesture and meaning in American Signe Language. University Press., tais modulações podem resultar de um processo de reduplicação, uma mudança interna na forma do predicado, realizada pela aplicação de um padrão, ou alguma combinação de ambos. Além disso, essas mudanças no movimento do sinal manual são geralmente acompanhadas por sinais não manuais específicos, incluindo expressões faciais específicas, bem como posições e movimentos da cabeça.
Finau (2004)Finau, R. A. (2004). Os sinais de tempo e aspecto na Libras [Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná]. Repositório da UFPR. https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/27868
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destaca a categoria aspecto na Libras assumindo que a perfectividade e a imperfectividade são dadas por meio da lexicalidade e da flexão verbal, sendo o perfectivo produzido com movimentos retos e abruptos e o imperfectivo com movimentos lentos e contínuos. Assim, o perfectivo é a indicação do ponto de vista de uma situação como um todo, sem distinção de fases, enquanto o imperfectivo descreve situações prolongadas, quer estejam em curso ou não, apresentando subtipos: incoativo ou inceptivo (apresenta o principiar de uma ação), o cessativo ou conclusivo (apresenta a ação na fase final) e o cursivo (apresenta a situação em desenvolvimento). O aspecto iterativo, por sua vez, expressa situações repetidas que ocorrem regularmente durante um período de tempo, o qual pode ser delimitado ou não.
Ao avaliar o uso dessas categorias nas construções discursivas da narrativa Frog, where are you? (Mayer, 1969Mayer, M. (1969) Frog, where are you? A boy, a dog, and a frog. Dial Books for Young Readers.), nota-se que há uma maior incidência dos aspectos perfectivo e imperfectivo cursivo. Todavia, outros também foram observados e também serão descritos.
Recortes de narrativas eliciadas em Libras foram selecionados para exemplificar o uso dos marcadores de aspectos presentes, sendo o acesso possível por meio da leitura do QR Code5 5 Imagem de código de barras bidimensional. O acesso ao QR Code é realizado por meio da câmera de um smartphone. Algumas vezes é necessário ter no aparelho um aplicativo para a leitura do código de barras bidimensional. Todavia, na maioria dos smartphones, ao abrir o aplicativo da câmera e aproximá-lo ao código é suficiente para a decodificação e abertura do conteúdo decodificado. . O indicador selecionado para esta pesquisa foi “Aspecto Gramatical”. Considerou-se a dimensão “Predicados Verbais”, no nível “Capacidade de referir-se a situações (ações, estados e processos)”, conforme mostra o Quadro 1.
De acordo com o instrumento, no “descritor 0” o sinalizante não faz uso de recursos para expressar aspecto. Assim, elegeu-se um recorte da história no qual o uso poderia aparecer, mas não há o uso da categoria, como visto no mesmo trecho de outros vídeos.
Morfologicamente, o aspecto altera o movimento do verbo: mais rápido, mais lento, repetido, sem finalizar o movimento, final brusco. No vídeo que exemplifica o “descritor 0” (Figura 2), nenhuma alteração dos verbos PROCURAR e CAIR pôde ser observada.
O sinalizante do vídeo 1 [descritor 0] poderia fazer uso da categoria aspecto para mostrar que a ação de PROCURAR se refere à uma situação prolongada e em desenvolvimento (aspecto imperfectivo: cursivo). Em seguida, o verbo CAIR mostra uma situação pontual, mas o sinalizante não executa a sinalização com movimentos abruptos (aspecto perfectivo), e o final é quase nada marcado.
Para exemplificar o ‘descritor 1’, no qual é esperado que o sinalizante faça uso de algum aspecto, ainda que com imprecisões, o vídeo da Figura 3 mostra o uso do aspecto perfectivo.
O sinalizante do vídeo 2 [descritor 1] faz uso da categoria aspecto com algumas imprecisões, já que não utiliza movimentos abruptos como é esperado para destacar o aspecto perfectivo do verbo CAIR.
No ‘descritor 2’, espera-se que o sinalizante faça uso de alguns recursos, como o aspecto continuativo e perfectivo de maneira correta, sendo esses dois marcadores os mais esperados para a história (ver vídeos das Figuras 4 e 5).
Conforme é mostrado no vídeo 3 [descritor 2a], a principal característica desse aspecto é a referência a situações pontuais, com a sinalização de movimentos abruptos, como mostra o sinalizante ao expressar o verbo CAIR. A alteração na expressão facial também pode ser notada.
No vídeo 4 [descritor 2b], a sinalizante realiza o sinal PROCURAR, no papel do personagem como agente, e realiza uma extensão do movimento, repetindo o verbo enquanto olha para várias direções, mostrando que a situação está em desenvolvimento. Assim, o “menino” olha para o “cachorro” e pede para ele ficar calmo e esperar um pouco (pretende ajudá-lo, mas insiste na procura pelo sapo) e volta para a duplicação do verbo PROCURAR.
No “descritor 3” dessa dimensão, alguns sinalizantes utilizam recursos aspectuais variados, como pode ser observado nos vídeos das Figuras 6, 7 e 8.
O vídeo 5 [descritor 3a] mostra o uso dos aspectos perfectivo e interativo. O sinalizante mostra, nesse episódio, o momento da fuga do sapo. Utiliza o classificador semântico para narrar o sapo saltando a janela do quarto onde estava, fazendo uso do aspecto perfectivo para o verbo SALTAR, com uma sinalização abrupta. Logo em seguida, faz uso do aspecto interativo, mostrando os saltos repetidos do sapo durante um período de tempo, até se perder de vista, utilizando um recurso para mostrar que a ação é durativa e o desaparecimento gradual.
No vídeo 6 [descritor 3b], o uso do aspecto interativo e imperfectivo: cursivo representa uma situação repetida e uma em movimento. Na primeira parte do vídeo, a sinalizante narra o SAPO preso no pote, saltando repetidas vezes, na tentativa de fugir. Utiliza um classificador semântico para sinalizar os saltos do sapo, alterando a expressão facial, e logo retoma a cena inicial do sapo saltando dentro do pote, repetindo a situação regularmente durante um período de tempo, sendo uma característica do classificador interativo. O final do episódio mostra que a tentativa é bem-sucedida, e a fuga se concretiza. Em seguida, narra a busca do menino e do cachorro pelo sapo desaparecido. O verbo PROCURAR, inicialmente, é representado pelo uso das expressões não-manuais e faciais, mostrando uma situação em desenvolvimento. Utiliza o verbo VER/OLHAR6 6 Os dois sinais apresentam a mesma descrição no dicionário: mão direita em V, palma para frente, na altura do olho direito. Movê-la para frente (Capovilla & Raphael, 2001). com uma sinalização direcionada para diferentes ângulos, o que contribui para enfatizar a procura. A busca continua pelo quarto e nos objetos presentes - embaixo da cama e dentro da bota. Apenas no final do episódio, sinaliza o verbo PROCURAR e ainda continua olhando para vários lados, no papel do personagem como agente.
Por último, o vídeo 7 [descritor 3c] mostra uma outra possibilidade do uso do aspecto cursivo. O episódio é iniciado com o uso do aspecto incoativo, denotando o início da ação de OLHAR para dentro de um buraco de uma árvore, sendo a ação interrompida e seguida por uma queda. A duração da queda é representada pela velocidade do movimento e pela mão esquerda em “vibração” do sinalizante. Além disso, a queda é marcada, também, por um final abrupto, destacando o uso do aspecto perfectivo.
4 CONCLUSÕES
O instrumento de avaliação de textos narrativos busca ser suficientemente sensível para detectar o desenvolvimento linguístico dos discursos narrativos sinalizados, contribuindo intrinsicamente para a observação de funções/necessidades comunicativas.
A escolha pelos exemplos ilustrados por meio de vídeos, a fim de clarificar os indicadores “0, 1, 2 e 3”, pode facilitar a visualização de detalhes implicados na produção narrativa, favorecendo a observação e proporcionando visibilidade ao que acontece nos processos de desenvolvimento da Libras na escola.
Dessa forma, o instrumento poderá auxiliar educadores e especialistas da área a conhecer a estrutura das narrativas eliciadas por seus alunos surdos e terão a possibilidade de conhecer as características dessas narrativas de forma individual bem como descrever/pontuar os elementos formais identificados. Ao filmar as produções dos alunos, o professor que atua na educação de surdos pode aprimorar sua maneira de avaliar e compreender as produções em sala de aula. O conhecimento das dificuldades e das possibilidades contribuirá para um aprimoramento da proposta pedagógica. O instrumento poderá, também, auxiliar na identificação de possíveis limitações narrativas em crianças surdas e, assim, contribuir como ferramenta na organização de estratégias de intervenção educacional focadas na superação dos atrasos encontrados, se for o caso. O instrumento pode contribuir, portanto, para que educadores e especialistas possam acompanhar o desenvolvimento das narrativas em Libras e assim interferir, quando julgarem necessário, visando um melhor desempenho de seus alunos.
O NarVaL-Libras/Prod-Ilustrado trata-se, portanto, de um instrumento bastante amplo e inédito para a área de educação bilíngue de surdos, que visa contribuir para a ampliação do olhar do professor para as inúmeras possibilidades de análises de aspectos linguísticos das macro e microestruturas de narrativas sinalizadas, contribuindo para a aquisição e o desenvolvimento da Libras por educandos surdos brasileiros.
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O CREDA Pere Barnils é um serviço educativo específico destinado a alunos com surdez ou com distúrbios de linguagem e suas famílias, dependendo do Consórcio da cidade de Barcelona, Espanha, que é constituído pelo Departamento de Educação da Generalidade da Catalunha e Instituto Municipal de Educação de Barcelona. É formado por uma equipe de fonoaudiólogos itinerantes, psicopedagogos e audioprotéticos dedicados ao atendimento de alunos, centros e famílias. Os membros da Equipe de Gestão e da Equipe de Administração e Serviços completam a equipe da CREDA Pere Barnils, Barcelona, Catalunha.
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Imagem de código de barras bidimensional. O acesso ao QR Code é realizado por meio da câmera de um smartphone. Algumas vezes é necessário ter no aparelho um aplicativo para a leitura do código de barras bidimensional. Todavia, na maioria dos smartphones, ao abrir o aplicativo da câmera e aproximá-lo ao código é suficiente para a decodificação e abertura do conteúdo decodificado.
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Os dois sinais apresentam a mesma descrição no dicionário: mão direita em V, palma para frente, na altura do olho direito. Movê-la para frente (Capovilla & Raphael, 2001Capovilla, F. C., & Raphael, W. D. (2001). Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira, Volume II: sinais de M a Z. Universidade de São Paulo.).
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Dez 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
16 Mar 2023 -
Revisado
25 Jun 2023 -
Aceito
03 Jul 2023