Resumos
O presente estudo objetivou analisar os dados de simulações de dois algoritmos quânticos diferentes: Algoritmo de Deutsch e a Transformada de Fourier Quântica. Para tal abordagem foi utilizado o framework Qiskit na realização das simulações dos algoritmos anteriormente apresentados. Tais simulações se deram na máquina local (computador clássico) e nos chips quânticos da International Business Machines (IBM) via nuvem. Na máquina local, os resultados obtidos são os previstos pela teoria. Nos protótipos da IBM, no entanto, pequenas flutuações de erro puderam ser observadas. Todavia, os estados quânticos esperados foram obtidos com ótima probabilidade. Nossos resultados mostram que os computadores quânticos utilizados são robustos para os algoritmos estudados, sendo essa uma maneira bastante intuitiva para o ensino dos conceito de informação e computação quântica para o estudantes do ciclo profissional (técnico) da graduação.
Palavras-chave
Mecânica Quântica; Computação Quântica; IBM Quantum Experience; Algoritmo de Deutsch; Transformada de Fourier Quântica
The present study aimed to analyze the simulation data of two different quantum algorithms: Deutsch Algorithm and the Quantum Fourier Transform. In order to execute this, has been used the Qiskit framework to implement the afore mentioned algotihms. Such simulations took place on local machine (classic computer) and on the quantum chips of International Business Machines (IBM) via cloud. On the local machine the results obtained are those predicted by the theory. In IBM prototypes, small error fluctuations have been observed. However, the expected states were obtained with high probability. Our results show that the quantum computers are robust to the studied algorithms, been this an intuitive way to teach the concepts of quantum information and computation to students in the professional (techinical) level of graduation.
Keywords
Quantum information; Quantum mechanics; Quantum computing; IBM Quantum Experience; Deutsch algorithm; Quantum Fourier Transform
1. Introdução
Estudos em computação quântica tem se tornado recorrentes na atualidade, uma vez que a mesma oferece vantagens quanto a execução de algorítimos que não teriam como ser abordados em computadores clássicos [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).]. Nesse sentido, a construção de protótipos de computadores quânticos tornaram-se uma realidade nos últimos anos, onde a necessidade atual é implementar o aumento do número qubits para um maior poder de processamento (do ponto de vista de rapidez) de algorítmos pré-estabelecidos [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).].
Em 1982, o físico Richard Feynman postulou [33. R.P. Feynman, Int. J. Theor. Phys. 21, 467 (1982).] que sistemas clássicos não seriam capazes de modelar de forma eficiente sistemas quânticos, e que estes só poderiam ser modelados atavés de outro sistema quântico [44. A.A. Barbosa, Um Simulador Simbólico de Circuitos Quânticos. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande (2007).]. Além disso, Feynman sugeriu que computadores, que operassem, tendo como base as leis da Mecânica Quântica, poderiam ser usados para simular sistemas quânticos (ao invés de computadores clássicos) [55. A. Caldeira, Rev. Bras. Ens. Fís. 40, e4211 (2018).]. Com base nisso, Deutsch foi o primeiro a pensar em um modelo de computador quântico universal e, em 1985, publicou um artigo [66. D. Deutsch, Proc. R. Soc. Lond. A 400, 97 (1985).] mostrando as vantagens que um computador quântico teria sobre um computador clássico. O importante passo dado por Deutsch foi desenvolvido nas décadas seguintes por muitos pesquisadores, culminando com o trabalho de Peter Shor[77. P.W. Shor, Proc. A. Symp. Found. Comp. Sci. 35, 124 (1994).], o qual mostrou que dois problemas muito importantes – o da fatoração em números primos [88. M.K. Okurama, Números primos e criptografia RSA. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo (2014).] e o problema do logaritmo discreto [99. M.M. Dullius, O problema do logarítimo discreto. Dissertação de Mestrado, Porto Alegre (2007).] – seriam eficientemente resolvidos por um computador quântico. Isso atraiu o interesse da comunidade da área, pois já havia a ideia de que um computador clássico não poderia resolver esses problemas de forma eficiente. Desde então surgiram várias propostas, e algumas delas com resultados promissores [1010. http://www.cbpf.br/~qbitrmn/didaticos/cqiq.pdf
http://www.cbpf.br/~qbitrmn/didaticos/cq...
]. O trabalho [77. P.W. Shor, Proc. A. Symp. Found. Comp. Sci. 35, 124 (1994).] impactou os esquemas criptográficos atuais [1111. F.G.G.P.O. Siva, O impacto da computação quântica na Criptografia moderna. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Braga (2013).], pois muitas das grandes empresas, bancos e órgãos governamentais utilizam um sistema de criptografia baseada na dificuldade de fatorar números primos muito grandes. Desse modo, qualquer pessoa com um computador quântico capaz de implementar o algoritmo de Shor a ponto de quebrar a criptografia de tais sistemas, representaria uma ameaça imediata para a segurança digital.
Com a revolução dos transistores, Gordon Earl Moore, observou e fez uma previsão, na qual o número de transistores em um chip era dobrado a cada 2 anos [1212. G. Moore, Electronics 38, 144 (1965).], sendo seu tamanho reduzido na mesma proporção. Mas com a diminuição no tamanho dos transistores, estes componentes chegariam a escala atômica, de maneira que o funcionamento dos mesmos dependeria das regras impostas pela Mecânica Quântica [1313. F. Mattielo, G.G. Silva, R.G.G. Amorin e W.B. Silva, Cad. de Fís. da UFES 10, 31 (2012)., 1414. S.S. Feitosa, C.L. Nogueira, J.K. Vizzotto, Revista ComInG-Communications and Innovations Gazette 1, 46 (2016).].
Assim, o grande desafio na atualidade é a implementação de um hardware quântico [1515. A. Ponnath, arXiv:cs/0602096 (2016)., 1616. https://blogs.scientificamerican.com/observations/the-problem-with-quantum-computers/, acessado em 17/07/2021.
https://blogs.scientificamerican.com/obs...
, 1717. L. Wang e C.A. Alexander, American Journal of Electrical and Electronic Engineering 8, 43 (2020).]. Os avanços tem se tornado cada vez mais significativos e grandes empresas como Google, IBM e Intel começaram a divulgar seus progressos [1818. F. Arute, K. Arya, R. Babbush, D. Bacon, J.C. Bardin, R. Barends, R. Biswas, S. Boixo, F.G.S.L. Brandao, D.A. Buell et al., Nature 574, 505 (2019).] e o roteiro para construção de hardwares quânticos. Assim, iniciou-se uma verdadeira corrida pela “supremacia quântica”. Em 2019, a Google afirmou ter alcançado a “supremacia quântica” com seu computador quântico chamado de Sycamore. A tarefa que foi dada a essa máquina consisita em encontrar um padrão em uma série aleatória de números. O computador quântico da Google obteve uma resposta em 200 segundos. A Google estima que um supercomputador clássico de última geração levaria aproximadamente anos para executar essa mesma tarefa [1818. F. Arute, K. Arya, R. Babbush, D. Bacon, J.C. Bardin, R. Barends, R. Biswas, S. Boixo, F.G.S.L. Brandao, D.A. Buell et al., Nature 574, 505 (2019).]. No ano passado, a empresa construiu uma outra versão reduzida do Sycamore para simulações em Química Quântica. Com uma dúzia de qubits, a equipe consegui simular o mecanismo de isomerização do diazeno e a energia de ligação das cadeias de hidrogênio (H12) [1919. Google AI quantum and Collaborators, Science 369, 1084 (2020).]. Apesar dessa simulação também poder ser realizada em um computador clássico, os avanços relacionados à Computação Quântica demonstram um grande passo na busca por novos fármacos e novos materiais.
Segundo Jay Gambetta, Jerry Chow e Zaira Nazario da IBM, a confecção de um computador quântico totalmente capaz e tolerante a falhas exigirá grandes investimentos na resolução de três desafios: circuitos quânticos eficientes com correção de erros, interconexões quânticas e aplicativos para o reconhecimento do hardware[2020. https://www.ibm.com/blogs/research/2020/08/quantum-research-centers/, acessado em 17/07/2021.
https://www.ibm.com/blogs/research/2020/...
]. Apesar desses desafios, a IBM tem projetos para escalonar processadores com aumento gradual no número de qubits e, consequentemente, cada vez mais robustos. A meta da empresa é possuir no final de 2023 dispositivos com mais de q-bits[2020. https://www.ibm.com/blogs/research/2020/08/quantum-research-centers/, acessado em 17/07/2021.
https://www.ibm.com/blogs/research/2020/...
]. Em 2016, a IBM deu acesso a comunidade em geral a um protótipo de computador quântico de 5 q-bits[2121. http://www-03.ibm.com/press/us/en/pressrelease/49661.wss
http://www-03.ibm.com/press/us/en/pressr...
]. Nos anos seguintes, outros protótipos foram liberados aos usuários externos. O acesso a esses dispositivos é realizado de forma remota utilizando o serviço de nuvem. Atualmente, a empresa possui computadores quânticos de até 65q-bits, sendo alguns desses protótipos de acesso restrito. Essa inciativa da IBM permite a análise de algoritmos quânticos de modo relativamente simples. Desse modo, qualquer pessoa motivada pode contribuir para o desenvolvimento da área.
A IBM QE (IBM Quantum Experience) permite aos entusiastas acesso prático e rápido através de uma interface bastante intuitiva, permitindo que os mesmos executem projetos voltados à computação quântica [2323. G.F. Jesus, M.H.F. Silva, T.G.D. Netto, L.Q. Galvão, F.G.O. Souza e C. Cruz, Rev. Bras. Ens. Fis. 43, e20210033 (2021).]. Já o Qiskit (Quantum Information Software Development Kit) consiste de uma plataforma mais profissional na área, o qual permite aos usuários realizarem programação em alto nível, funcionando como uma plataforma de desenvolvimento de softwares quanto uma linguagem de Computação Quântica [2323. G.F. Jesus, M.H.F. Silva, T.G.D. Netto, L.Q. Galvão, F.G.O. Souza e C. Cruz, Rev. Bras. Ens. Fis. 43, e20210033 (2021)., 2626. Ryan LaRose, Quantum 3, 130 (2019).]. Com um novo paradigma, a Computação Quântica fornece muitas possibilidades e abordagens para o processamento de informação. E esta é uma área que fornece muitos desafios para Físicos, cientista da computação e engenheiros, pois é uma área com muitas questões em aberto. Os frutos de investigações nesta área poderão resultar em dispositivos de processamento de informação muito superiores aos atuais, gerando grandes benefícios para a sociedade.
Diante do exposto, o presente trabalho visa abordar alguns aspectos sobre fundamentos teóricos que estão por trás da computação quântica para, na sequência, de maneira didática, apresentar os resultados da simulação do Algoritmo de Deutsch e a Transformada de Fourier Quântica utilizando os chips da IBM via Qiskit. Por fim, serão feitas análises dos resultados das simulações, tanto do ponto de vista do computador clássico (simulação via máquina local) quanto dos computadores quânticos (acesso remoto), analisando as diferenças e ganhos em seus resultados bem como a performance dos mesmos. Algumas dessas diferenças decorrem da arquitetura dos processadores, o que pode vir a permitir uma maior ou menor interação com o ambiente externo [11. A.C. Santos, Rev. Bras. Ens. Fís. 39, e1301 (2017).]. Acredita-se que essa plataforma seja de grande relevância para introduzir os conceitos de Mecânica Quântica e Informação Quântica aos estudantes da fase terminal dos de graduação em Ciências Exatas e Engenharias, despertando o interesse pelos avanços tecnológicos dessa área de pesquisa. Cabe salientar que este artigo baseia-se nos resultados obtidos no Trabalho de Conclusão de Curso, recentemente produzido, o qual versa sobre o conteúdo a ser descrito no corpo desse trabalho (para maiores detalhes, vide[3636. W.M.S. Alves, Algoritmos Quânticos Usando a Plataforma IBM Quantum Experience. Monogrofia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (2020).]).
2. Referencial Teórico
Nessa seção serão abordados conceitos importantes sobre o ferramental necessário para a execução e implementação de algoritmos quânticos.
2.1. O qubit e suas propriedades
O bit clássico, matematicamente é uma variável aleatória que pode assumir dois valores [2222. M.T.O. Cunha, Noções de Informação Quântica (IMPA-SBM, 2007).], sendo a menor unidade de informação em uma teoria clássica de informação, correspondendo aos estados 0 ou 1. Pensando por exemplo em uma lâmpada, do ponto de vista clássico, os estados 0 e 1 podem representar a situação da lâmpada como “desligado” e “ligado”, respectivamente [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).]. Assim, em um computador clássico, sua arquitetura permite a manipulação e o armazenamento dos bytes, formado por um conjunto de 8bits[2323. G.F. Jesus, M.H.F. Silva, T.G.D. Netto, L.Q. Galvão, F.G.O. Souza e C. Cruz, Rev. Bras. Ens. Fis. 43, e20210033 (2021).], que são uteis na representação de números, letras e diversos símbolos. No mundo quântico, a construção do conceito de unidade de informação é análogo e denominado de bit quântico ou qubit ou ainda q-bit, abreviadamente.
Assim como o bit clássico, o qubit também apresenta dois estados correspondentes
A diferença entre bits e qubits é que os qubits podem estar nos estados ou ao mesmo tempo, permitindo a existência de um conjunto infinito de estados. Ou seja eles podem formar combinações lineares, que implica na sobreposição dos estados e , da forma
onde e são números complexos, cuja soma dos módulos quadrados deve ser igual a 1 (máximo que pode ser atingido após a soma de todas as probabilidades possíveis). Todavia, o estado de um qubit é um vetor em um espaço vetorial complexo de duas dimensões, na qual os estados e formam uma base ortonormal [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).]. Quando mensurado, tem-se o estado com probabilidade e o estado com probabilidade , onde . Assim, a vantagem do q-bit frente ao bit clássico está no princípio da superposição, o que permite a combinação linear de vetores que compõem a base computacional. Matricialmente, podemos representar os estados e da forma
e
respectivamente. A equação (2) pode ser reescrita em coordenadas esféricas. Isso é conveniente uma vez que a atuação de transformações unitárias sobre o qubit pode ser representada de forma geométrica. Tal representação é a visualização de uma rotação após a aplicação de um operador unitário. O estado de um qubit em coordenadas esféricas, de maneira geral, é dado pela seguinte equação [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).]:
com e . As quantidades e definem um ponto sobre a superfície de uma esfera de raio unitário. Essa esfera é chamada de esfera de Bloch e, através dessa esfera que são representados todos os estados de um qubit. A representação de um qubit na esfera de Bloch (descrito anteriormente) pode ser visualizado na Figura 1. A seguir, mostraremos o papel das portas quânticas e como elas atuam sobre os estados quânticos para fins de representação na esfera de Bloch.
2.2. Portas Quânticas
A computação quântica (similar ao modelo clássico de computação) pode ser realizada usando o modelo de circuitos tendo como base um sistema quântico. As operações lógicas são efetuadas por portas quânticas que, por sua vez, manipulam o estado dos qubits.
Um conjunto muito importante de portas quânticas são representadas pelas matrizes de spin de Pauli. As matrizes X, Y e Z passam a ser nomeadas de porta X, porta Y e porta Z, também denominadas de portas Pauli. A seguir será mostrado como essas portas atuam e alteram o estado de um qubit.
A porta X quando aplicada aos elementos da base computacional realiza a seguinte operação:
Em razão deste resultado, a porta X também é chamada de porta NOT quântica. A porta NOT quântica, na esfera de Bloch gira o qubit de um ângulo em torno do eixo x, como mostrado na Figura 2.
Estado do qubit antes e depois da porta Pauli-X. O vetor em azul indica o estado inicial (final) do sistema e o vetor em verde indica a fase inicial (final) associada a esse vetor, como pode ser visto nas representações das esferas de Bloch à esquerda (direita).
Já para a porta Z quando aplicada aos elementos da base computacional , realiza a seguinte operação:
Esta porta deixa a amplitude do qubit inalterada, ou seja, os estados e ainda serão os mesmos, mas a fase do qubit será deslocada por radianos, como mostrado na Figura 3.
O estado do qubit antes e depois da porta Pauli-Z. O vetor em azul indica o estado inicial (final) do sistema e o vetor em verde indica a fase inicial (final) associada a esse vetor, como pode ser visto nas representações das esferas de Bloch à esquerda (direita).
Já para a porta Y quando aplicada aos elementos da base computacional , perfaz a seguinte operação:
Esta porta gira a amplitude do estado de radianos, ao redor do eixo y, matendo a fase inalterada, como pode ser visto na Figura 4.
O estado do qubit antes e depois da porta Pauli-Y. O vetor em azul indica o estado inicial (final) do sistema e o vetor em verde indica a fase inicial (final) associada a esse vetor, como pode ser visto nas representações das esferas de Bloch à esquerda (direita).
Uma porta muito importante, denominada de Hadamard é usada para forçar um qubit a se sobrepor. Quando aplicada aos elementos da base computacional , tem-se que
A operação gira o qubit radianos em torno do eixo x + z e pode ser visualizado na esfera de Bloch como uma rotação de radianos em torno do eixo y seguido de uma rotação de radianos em torno do eixo x, como mostrado na Figura 5. Esta porta é utilizada para colocar o estado de um qubit em sobreposição com probabilidades iguais para os dois estados [3030. W.J.N. Silva, Uma introdução à Computação Quântica. Monografia, Universidade de São Paulo, São Paulo (2018).]. Tal porta é fundamental para implementação do Algoritmo de Deutsch e a Transformada de Fourier Quântica, por exemplo.
O estado do qubit antes e depois da porta Hadamard. O vetor em azul indica o estado inicial (final) do sistema e o vetor em verde indica a fase inicial (final) associada a esse vetor, como pode ser visto nas representações das esferas de Bloch à esquerda (direita).
Um outro exemplo de porta lógica muito usado na computação quântica é a Porta CNOT, que atua sobre os estados de 2 qubits de entrada: o controle e o alvo. Portas controladas tem um qubit de controle e um qubit alvo, como é o caso da CNOT. Uma porta controlada atua conforme o estado do qubit de controle, sendo ativada apenas quando o qubit de controle estiver no estado . Os qubits de controle e alvo podem estar em superposição, como também, podem estar emaranhados [3030. W.J.N. Silva, Uma introdução à Computação Quântica. Monografia, Universidade de São Paulo, São Paulo (2018).]. A representação matricial da porta lógica quântica CNOT é a dada por:
A ação da CNOT pode ser representada na base computacional da seguinte maneira:
onde e é a operação denominada módulo 2. A operação módulo 2 é tal que:
Na Tabela 1 é mostrado explicitamente o que ocorre com o qubit de controle e com o qubit alvo quando a porta CNOT é aplicada.
A porta CNOT opera em um registrador quântico de 2 qubits. Ela inverte o segundo qubit (o qubit alvo) se e somente se o primeiro qubit (o qubit de controle) for .
Do ponto de vista geométrico, a representação da atuação da porta CNOT sobre um qubit pode ser descrita via esfera de Bloch, que pode ser visto nas Figuras 6 e 7, respectivamente.
Estado inicial e final de dois qubits. O vetor em azul indica o estado inicial (final) do sistema e o vetor em verde indica a fase inicial (final) associada a esse vetor, como pode ser visto nas representações das esferas de Bloch à esquerda (direita).
O estado do qubit antes e depois da porta CNOT. O vetor em azul indica o estado inicial (final) do sistema e o vetor em verde indica a fase inicial (final) associada a esse vetor, como pode ser visto nas representações das esferas de Bloch à esquerda (direita).
Na próxima seção vamos apresentar a plataforma da IBM bem como alguns detalhes sobre a maneira de acessá-la. Serão apresentados também alguns exemplos de simulações via QisKit, que é um Kit de Desenvolvimento de Software Quântico que permite a implementação dos algoritmos quânticos via nuvem, bem como emular os mesmos em um computador clássico localmente.
3. IBM Quantum Experience
A IBM Quantum Experience é uma plataforma online que fornece aos usuários (de maneira geral) o acesso a um conjunto de protótipos de processadores quânticos da IBM via nuvem, além de acesso a uma comunidade virtual para discussões, elaboração de tutoriais e uma documentação completa para auxiliar no desenvolvimento que vai de algoritmos quânticos mais simples até projetos mais complexos. Por se tratar de computação quântica via nuvem, os protótipos disponíveis podem ser utilizados remotamente. Alguns desses protótipos são de acesso livre, sendo necessário apenas criar uma conta na plataforma para ter acesso a todo o conteúdo da mesma.
A interação do usuário com os computadores quânticos dá-se através da construção de circuitos quânticos. Existem duas alternativas para projeção e teste dos mesmos. A primeira e mais simples é através de uma interface de usuário online chamada Quantum Composer. Nela define-se a quantidade de qubits e bits clássicos a serem utilizados. As portas lógicas são apresentadas na forma de itens que podem ser arrastados com o mouse para serem adicionados ao circuito. O usuário também pode usar o Quantum Composer no modo de código de “montagem quântica” usando a linguagem de programação QASM [3131. W. Cross, L.S. Bishop, J.A. Smolin e J.M. Gambetta, arXiv:1707.03429v2 (2017).]. A segunda alternativa é via um framework, conhecido como QisKit, sendo esta última a abordagem escolhida nesse trabalho. Falaremos mais sobre ele na próxima seção.
3.1. QisKit
O QisKit (Quantum information software Kit) é um framework open-source, que permite o desenvolvimento de softwares para computação quântica em nuvem. Ele fornece um conjunto de ferramentas para criar e manipular algoritmos quânticos e executá-los nos dispositivos da IBM bem como simulações na máquina do próprio usuário. O acesso pode ser diretamente na plataforma usando o IBM Quantum Lab ou instalando o pacote Qiskit (tendo o Python instalado). Ele segue o modelo de circuitos e pode ser usado para qualquer hardware quântico que siga esse modelo. Desta forma, qualquer pessoa pode usar esse framework para realizar simulações, tanto na sua máquina como também construir seus códigos e enviá-los para que sejam processados nos computadores quânticos da IBM.
Apesar de ser uma ferramenta nova para o desenvolvimento de algoritmos quânticos, as limitações vem sendo superadas com constantes atualizações. Entretanto, todo o potencial da plataforma só poderá ser explorado com o advento de novos computadores quânticos com boa robustez e com uma grande quantidade de qubits. A versão principal do QisKit1 1 Para mais informações a respeito do QisKit e sua documentação acesse o link: https://qiskit.org/. usa a linguagem de programação Python. Este é um ponto bastante positivo, pois Python é uma liguagem bastante acessível ao público2 2 Para uma leitura aprofundada sobre o QisKit, sua inicialização, comandos e implementação, vide [23]. .
Recentemente ocorreram algumas atualizações na plataforma3 3 https://quantum-computing.ibm.com/ e bem como no framework QisKit4 4 https://qiskit.org/documentation/ , na qual ao iniciar o QisKit, o usuário possui encontra duas opções: iniciar o QisKit localmente (com Python instalado mais o pacote do QisKit), que no caso é uma forma mais privada ou começar com os Jupyter Notebooks, hospedados no IBM Quantum Lab5 5 https://quantum-computing.ibm.com/lab/docs/iql/ .
3.2. Simulações via QisKit e interpretação dos resultados
No ambiente QisKit é possível realizar simulações, tanto do ponto de vista de uma máquina local (computador clássico) quanto via um hardware quântico real (IBM). Será apresentado agora o passo-a-passo para uma primeira simulação no QisKit através de um exemplo. Nele, vamos gerar o estado
e, na sequência, medir. Os passo-a-passo é o que segue:
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Comece importando o QisKit, como pode ser visto na Figura 8.
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Inicie dois qubits em Qr = QuantumRegister e dois bits clássicos em Cr = ClassicalRegister, conforme a Figura 9;
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Em seguida, começamos a construir o circuito quântico composto pelos dois bits clássicos e pelos dois bits quânticos (circuit = QuantumCircuit (Qr, Cr)), onde o primeiro argumento é número de bits quânticos e o segundo argumento o número de bits clássicos, conforme apresentado na Figura 10;
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Na sequência, são adicionadas as portas, cujos comandos podem ser vistos na Figura 11. Do ponto de vista do circuito lógico, a implementação das portas pode ser vista na Figura 12;
Aqui cabe um comentário importante sobre o circuito apresentado na Figura 12. Do ponto de vista clássico, um modelo computacional é composto por uma sequência de operações lógicas elementares realizadas por portas como NOT (negação) e AND (e) para solucionar funcões lógicas. Na computação quântica existe uma versão completamente análoga ao caso clássico. No modelo quântico, os bits dão lugar aos qubits e no lugar das portas clássicas surgem as portas quânticas. Basicamente os circuitos quânticos são compostos por portas lógicas e “fios”. Os fios representam os transporte do qubit através do circuito, por exemplo, pode representar um fóton ou alguma outra partícula se movendo de um ponto a outro do espaço. A única regra é que os circuitos devem ser lidos da esquerda para a direita. No caso do circuito da Figura 12, inicialmente a porta H é aplicada ao primeiro qubit (caixa com a letra H na Figura); na sequência a porta CNOT é aplicada (haste com o símbolo + na Figura) e, por fim, os bits quânticos são medidos (representado no circuito pelo último desenho) e armazenados em bits clássicos nessa ordem. Toda a explicação feita para esse circuito exemplo é válida também para os demais circuitos apresentados ao longo do texto (diferenciando apenas as portas a serem implementadas pelo mesmo) [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).].
O próximo passo consiste em executar o código apresentado anteriormente na máquina local (computador clássico). Para tal, a simulação do circuito é realizada selecionando um backend como qasm_simulator (há outros, mas esse é de uso geral) do elemento Aer (elemento do QisKit que possui recursos para simulações quânticas por meio de computação de alto desempenho). O código para implementação pode ser visto na Figura 13. Na sequência, executa-se o circuito no simulador e armazena-se o resultado na variável denominada result, como pode ser visto na Figura 14. Neste ponto estamos prontos para plotar o resultado realizado via simulador. Para isso, primeiro, importa-se as ferramentas de visualização do Qiskit, cujo código pode ser visto na Figura 15.
Por fim, é feita a plotagem dos resultados executados pelo simulador, através do código apresentado na Figura 16. o qual pode ser visto na Figura 17. Cabe ressaltar que esse resultado é feito sob a ótica do computador clássico.
Agora, será implementado o código em um hardware quântico real. Para isso, devem ser seguidos os seguintes passos:
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Registre-se na IBM usando um token que é obtido através da conta criada na IMB Quantum Experience. A implementação pode ser vista nas Figuras 18 e 19;
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Verifica-se os backends disponíveis (no caso quais máquinas estão disponíveis bem como suas configurações e quantos usuários estão na fila), o que pode ser visto na Figura 20;
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Escolhe-se um dos backends para execução do circuito em um dos protótipos da IBM. Após a execução dos comandos anteriores e, escolhendo uma máquina como ibmqx2 [4242. https://github.com/Qiskit/ibmq-device-information
https://github.com/Qiskit/ibmq-device-in... ] por exemplo, deve-se seguir os passos presentes nas Figuras 21, 22 e 23; -
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Por fim, é feita a plotagem dos resultados obtidos. O código que implementa os resultados pode ser visto na Figura 24. Nesse exemplo, os resultados podem ser vistos na Figura 25.
Resultado da mesma simulação do caso clássico, agora via um dos hardwares quânticos da IBM.
Analisando o resultado gerado pela simulação via QisKit, observa-se que o mesmo está de acordo com o esperado. No caso clássico, só podem ocorrer dois estados possíveis, com igual probabilidade para ambos ocorrerem.
Agora, analisando o resultado da simulação do mesmo código do ponto de vista de um hardware quântico real, nota-se que o resultado condiz com o esperado uma vez que, além dos estados obtidos para o caso clássico e , observa-se também os estados intermediários e , com menor probabilidade de ocorrência que os anteriores.
Um comentário importante a se fazer é que, comparando o último resultado com aquele obtido via computador clássico, pode-se observar que apesar do dispositivo quântico gerar o resultado esperado com alta probabilidade, o mesmo possui erros que resultam em estados não esperados teoricamente, mas com baixa probabilidade. Essas variações nos resultados estão associadas à estatística utilizada pelo QisKit para executar as linhas de comando. Há formas de melhorar o resultado, fazendo com que os resultados experimentais coincidam com o predito teoricamente, o que pode ser feito aumentando-se o número de repetições em cada circuito a ser executado [2323. G.F. Jesus, M.H.F. Silva, T.G.D. Netto, L.Q. Galvão, F.G.O. Souza e C. Cruz, Rev. Bras. Ens. Fis. 43, e20210033 (2021).]. Isso é importante até mesmo para corrigir o efeito natural de um circuito quântico que é a decoerência [11. A.C. Santos, Rev. Bras. Ens. Fís. 39, e1301 (2017)., 2424. M. Schlosshauer, Physics Report 831, 1 (2019)., 2525. H.D. Zeh, Foundation of Physics 1, 69 (1970).], que também pode afetar os resultados da simulação. Mesmo que esse efeito não seja detectado, um número alto de repetições nos cálculos aumenta de maneira considerável o resultado esperado em comparação com o previsto na teoria. Assim, à medida que se aumentam as repetições, melhora-se a estatística e, por consequência, os resultados experimental e teórico se aproximam consideravelmente. Tudo isso (claro!) sem levar em conta o efeito de decoerência o qual, por si só, já afeta as medidas em estados quânticos ao longo de sua evolução temporal.
4. Algoritmo de Deutsch
Em 1985, Deutsch apresentou o primeiro algoritmo quântico o qual mostrou o potencial da computação quântica. Esse algoritmo ficou conhecido como Algoritmo de Deutsch [66. D. Deutsch, Proc. R. Soc. Lond. A 400, 97 (1985).].
O algoritmo proposto por Deutsch resolve o seguinte o problema: dada a função lógica de 1 bit, tal que , determine se é constante ou balanceada. A função é constante se e balanceada se [2828. G.E.M. Cabral, A.F. Lima e B.L. Jr., Rev. Bras. Ens. Fís. 26, 109 (2004).]. Há quatro funções possíveis para o problema de Deutsch, como se pode ver na Tabela 2.
Classicamente, para determinar se f é constante ou balanceada, é preciso computá-la duas vezes. Ou seja, calcular e , compará-los e assim obter a resposta desejada.
Seguindo a ideia de Deutsch, imagine que se tenha uma caixa preta que computa uma função . Sendo a caixa preta um computador quântico, pode-se escolher a entrada como sendo uma sobreposição de e . Comecemos pela apresentação do circuito apresentado na Figura 26, analisando o circuito da esquerda para a direita e observando as propriedades descritas de acordo com as operações a seguir. Uma observação importante é que, em computação quântica, a porta Uf apresenada na Figura 26 é chamada de “caixa preta” ou “oráculo”, a qual consiste em uma operação unitária que computa a função . E com tal operação, o algoritmo segue os seguintes passos:
-
•
O sistema é preparado no estado ;
-
•
Com duas portas Hadamard atuando sobre os qubits (uma atuando sobre o e a outra atuando sobre o ), o que leva a criação de um estado de superposição dos dois qubits;
-
•
O oráculo atua sobre esse estado e computa . Esse cômputo é feito respeitando a operação
-
•
Na sequência é aplicada uma porta Hadamard ao primeiro qubit;
-
•
Por fim, é efetuada a medida sobre o primeiro qubit. Observa-se que, ao se realizar uma medição sobre o primeiro qubit, obtém-se uma propriedade global de , isto é, se o resultado obtido após a medida for 0, isso implica que a e constante. Caso o resultado obtido for 1, a função é balanceada.
Essa sequência de passos pode ser melhor visualizada na Figura 26, onde é representado o circuito quântico que implementa o Algoritmo de Deutsch.
Vamos analisar agora as simulações via máquina local e via os chips da IBM. Para isso, será utilizada uma versão simplificada do Algorítimo de Deutsch (para mais detalhes vide [2727. R. Cleve, A. Ekert, C. Macchiavello e M. Mosca, Proc. Math. Phys. Eng. Sci. 454, 339 (1998)., 2828. G.E.M. Cabral, A.F. Lima e B.L. Jr., Rev. Bras. Ens. Fís. 26, 109 (2004)., 2929. P.H. Grosman, D.G. Braga e J.A. Huguenin, Rev. Bras. Ens. Fís. 41, e20180201 (2019).]), o qual procura extrair a informação deseja de f através de uma única medida.
Na Figura 27, a porta X aplicada em q0 serve para levar o estado ao estado : . Nesta simulação a porta CX = CNOT será usada no lugar do oráculo Uf. Naturalmente agora o oráculo deixou de ser oráculo porque conhecemos a porta. Pode-se então calcular previamente o resultado esperado. Todavia, de acordo a Figura 27, uma medição do segundo qubit deve resultar em .
Circuito para o algoritmo de Deutsch com um registro no medidor clássico e com a porta CX = CNOT no lugar do oráculo Uf.
O código da função que gera o circuito da Figura 27 é mostrado na Figura 28. A simulação do mesmo segue os mesmos passos do exemplo apresentado para uma primeira simulação (para mais detalhes, vide Seção 3 3. IBM Quantum Experience A IBM Quantum Experience é uma plataforma online que fornece aos usuários (de maneira geral) o acesso a um conjunto de protótipos de processadores quânticos da IBM via nuvem, além de acesso a uma comunidade virtual para discussões, elaboração de tutoriais e uma documentação completa para auxiliar no desenvolvimento que vai de algoritmos quânticos mais simples até projetos mais complexos. Por se tratar de computação quântica via nuvem, os protótipos disponíveis podem ser utilizados remotamente. Alguns desses protótipos são de acesso livre, sendo necessário apenas criar uma conta na plataforma para ter acesso a todo o conteúdo da mesma. A interação do usuário com os computadores quânticos dá-se através da construção de circuitos quânticos. Existem duas alternativas para projeção e teste dos mesmos. A primeira e mais simples é através de uma interface de usuário online chamada Quantum Composer. Nela define-se a quantidade de qubits e bits clássicos a serem utilizados. As portas lógicas são apresentadas na forma de itens que podem ser arrastados com o mouse para serem adicionados ao circuito. O usuário também pode usar o Quantum Composer no modo de código de “montagem quântica” usando a linguagem de programação QASM [31]. A segunda alternativa é via um framework, conhecido como QisKit, sendo esta última a abordagem escolhida nesse trabalho. Falaremos mais sobre ele na próxima seção. 3.1. QisKit O QisKit (Quantum information software Kit) é um framework open-source, que permite o desenvolvimento de softwares para computação quântica em nuvem. Ele fornece um conjunto de ferramentas para criar e manipular algoritmos quânticos e executá-los nos dispositivos da IBM bem como simulações na máquina do próprio usuário. O acesso pode ser diretamente na plataforma usando o IBM Quantum Lab ou instalando o pacote Qiskit (tendo o Python instalado). Ele segue o modelo de circuitos e pode ser usado para qualquer hardware quântico que siga esse modelo. Desta forma, qualquer pessoa pode usar esse framework para realizar simulações, tanto na sua máquina como também construir seus códigos e enviá-los para que sejam processados nos computadores quânticos da IBM. Apesar de ser uma ferramenta nova para o desenvolvimento de algoritmos quânticos, as limitações vem sendo superadas com constantes atualizações. Entretanto, todo o potencial da plataforma só poderá ser explorado com o advento de novos computadores quânticos com boa robustez e com uma grande quantidade de qubits. A versão principal do QisKit1 usa a linguagem de programação Python. Este é um ponto bastante positivo, pois Python é uma liguagem bastante acessível ao público2. Recentemente ocorreram algumas atualizações na plataforma3 e bem como no framework QisKit4, na qual ao iniciar o QisKit, o usuário possui encontra duas opções: iniciar o QisKit localmente (com Python instalado mais o pacote do QisKit), que no caso é uma forma mais privada ou começar com os Jupyter Notebooks, hospedados no IBM Quantum Lab5. 3.2. Simulações via QisKit e interpretação dos resultados No ambiente QisKit é possível realizar simulações, tanto do ponto de vista de uma máquina local (computador clássico) quanto via um hardware quântico real (IBM). Será apresentado agora o passo-a-passo para uma primeira simulação no QisKit através de um exemplo. Nele, vamos gerar o estado 1 2 ( | 00 ⟩ + | 11 ⟩ ) e, na sequência, medir. Os passo-a-passo é o que segue: • Comece importando o QisKit, como pode ser visto na Figura 8. Figure 8Passo-a-passo para utilização do Qiskit. • Inicie dois qubits em Qr = QuantumRegister e dois bits clássicos em Cr = ClassicalRegister, conforme a Figura 9; Figure 9Passo-a-passo para utilização do Qiskit. • Em seguida, começamos a construir o circuito quântico composto pelos dois bits clássicos e pelos dois bits quânticos (circuit = QuantumCircuit (Qr, Cr)), onde o primeiro argumento é número de bits quânticos e o segundo argumento o número de bits clássicos, conforme apresentado na Figura 10; Figure 10Passo-a-passo para utilização do Qiskit. • Na sequência, são adicionadas as portas, cujos comandos podem ser vistos na Figura 11. Do ponto de vista do circuito lógico, a implementação das portas pode ser vista na Figura 12; Figure 11Portas Hadamard e CNOT geradas via Qiskit. Figure 12Portas geradas via Qiskit. Aqui cabe um comentário importante sobre o circuito apresentado na Figura 12. Do ponto de vista clássico, um modelo computacional é composto por uma sequência de operações lógicas elementares realizadas por portas como NOT (negação) e AND (e) para solucionar funcões lógicas. Na computação quântica existe uma versão completamente análoga ao caso clássico. No modelo quântico, os bits dão lugar aos qubits e no lugar das portas clássicas surgem as portas quânticas. Basicamente os circuitos quânticos são compostos por portas lógicas e “fios”. Os fios representam os transporte do qubit através do circuito, por exemplo, pode representar um fóton ou alguma outra partícula se movendo de um ponto a outro do espaço. A única regra é que os circuitos devem ser lidos da esquerda para a direita. No caso do circuito da Figura 12, inicialmente a porta H é aplicada ao primeiro qubit (caixa com a letra H na Figura); na sequência a porta CNOT é aplicada (haste com o símbolo + na Figura) e, por fim, os bits quânticos são medidos (representado no circuito pelo último desenho) e armazenados em bits clássicos[0,1] nessa ordem. Toda a explicação feita para esse circuito exemplo é válida também para os demais circuitos apresentados ao longo do texto (diferenciando apenas as portas a serem implementadas pelo mesmo) [2]. O próximo passo consiste em executar o código apresentado anteriormente na máquina local (computador clássico). Para tal, a simulação do circuito é realizada selecionando um backend como qasm_simulator (há outros, mas esse é de uso geral) do elemento Aer (elemento do QisKit que possui recursos para simulações quânticas por meio de computação de alto desempenho). O código para implementação pode ser visto na Figura 13. Na sequência, executa-se o circuito no simulador e armazena-se o resultado na variável denominada result, como pode ser visto na Figura 14. Neste ponto estamos prontos para plotar o resultado realizado via simulador. Para isso, primeiro, importa-se as ferramentas de visualização do Qiskit, cujo código pode ser visto na Figura 15. Figure 13 Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 14 Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 15 Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Por fim, é feita a plotagem dos resultados executados pelo simulador, através do código apresentado na Figura 16. o qual pode ser visto na Figura 17. Cabe ressaltar que esse resultado é feito sob a ótica do computador clássico. Figure 16 Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 17 Resultado de uma simulação no Qiskit via máquina local. Agora, será implementado o código em um hardware quântico real. Para isso, devem ser seguidos os seguintes passos: • Registre-se na IBM usando um token que é obtido através da conta criada na IMB Quantum Experience. A implementação pode ser vista nas Figuras 18 e 19; Figure 18Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 19Passo-a-passo para simulação via Qiskit. • Verifica-se os backends disponíveis (no caso quais máquinas estão disponíveis bem como suas configurações e quantos usuários estão na fila), o que pode ser visto na Figura 20; Figure 20Passo-a-passo para simulação via Qiskit. • Escolhe-se um dos backends para execução do circuito em um dos protótipos da IBM. Após a execução dos comandos anteriores e, escolhendo uma máquina como ibmqx2 [42] por exemplo, deve-se seguir os passos presentes nas Figuras 21, 22 e 23; Figure 21Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 22Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 23Passo-a-passo para simulação via Qiskit. • Por fim, é feita a plotagem dos resultados obtidos. O código que implementa os resultados pode ser visto na Figura 24. Nesse exemplo, os resultados podem ser vistos na Figura 25. Figure 24 Passo-a-passo para simulação via Qiskit. Figure 25 Resultado da mesma simulação do caso clássico, agora via um dos hardwares quânticos da IBM. Analisando o resultado gerado pela simulação via QisKit, observa-se que o mesmo está de acordo com o esperado. No caso clássico, só podem ocorrer dois estados possíveis, com igual probabilidade para ambos ocorrerem. Agora, analisando o resultado da simulação do mesmo código do ponto de vista de um hardware quântico real, nota-se que o resultado condiz com o esperado uma vez que, além dos estados obtidos para o caso clássico |00⟩ e |11⟩, observa-se também os estados intermediários |01⟩ e |10⟩, com menor probabilidade de ocorrência que os anteriores. Um comentário importante a se fazer é que, comparando o último resultado com aquele obtido via computador clássico, pode-se observar que apesar do dispositivo quântico gerar o resultado esperado com alta probabilidade, o mesmo possui erros que resultam em estados não esperados teoricamente, mas com baixa probabilidade. Essas variações nos resultados estão associadas à estatística utilizada pelo QisKit para executar as linhas de comando. Há formas de melhorar o resultado, fazendo com que os resultados experimentais coincidam com o predito teoricamente, o que pode ser feito aumentando-se o número de repetições em cada circuito a ser executado [23]. Isso é importante até mesmo para corrigir o efeito natural de um circuito quântico que é a decoerência [1, 24, 25], que também pode afetar os resultados da simulação. Mesmo que esse efeito não seja detectado, um número alto de repetições nos cálculos aumenta de maneira considerável o resultado esperado em comparação com o previsto na teoria. Assim, à medida que se aumentam as repetições, melhora-se a estatística e, por consequência, os resultados experimental e teórico se aproximam consideravelmente. Tudo isso (claro!) sem levar em conta o efeito de decoerência o qual, por si só, já afeta as medidas em estados quânticos ao longo de sua evolução temporal. ).
Tendo em vista qual será o resultado, temos de probabilidade de obter conforme pode ser observado na Figura 29, onde temos a simulação do circuito da Figura 27 na máquina local (computador clássico).
E nos computadores quânticos da IBM? Agora a manipulação de estados quânticos é real. Os resultados na Figura 30 foram obtidos com os chips quânticos da IBM_ibmqx2, ibmq_ourense e ibmq_16_melbourne. O número de vezes que o circuito foi simulado em cada chip foi de repetições (shots), como também na máquina clássica (Figura 29). Pode-se observar na Figura 30, que o estado também foi obtido com baixíssima probabilidade, diferente do resultado da Figura 29. A explicação para esse resultado deve-se ao fato de que sistemas quânticos são extremamente sensíveis e sua interação com o ambiente produz erros ao longo do processamento. Esses dispositivos são compostos por qubits supercondutores e são resfriados a baixíssima temperatura (da ordem de milikelvin) [3737. M. Naghiloo, arXiv:1904.09291 [quant-ph], (2019).]. Para realizar a computação, o tempo de coerência dos qubits deve ser maior que o tempo do processo de computação (implementação das portas logicas). Processos físicos aleatórios e incontroláveis nos equipamentos de controle e medição de qubits ou no ambiente local ao redor do processador quântico são fontes de ruído que levam à descoerência e reduzem a fidelidade operacional dos qubits [3838. P. Krantz, M. Kjaergaard, F. Yan, T.P. Orlando, S. Gustavsson e W.D. Oliver, Applied Phys. Rev. 6, 021318 (2019).].
Experimento nos computadores quânticos da IBM do circuito exibido na Figura 27. As barras em vermelho, verde e cinza é a simulação remota nas máquinas quânticas da IBM ibmqx2 de 5 qubits, ibmq_ourense de 5 qubits e ibmq_16_melbourne de 15 qubits, respectivamente.
Na Figura 27 tem-se um medidor no registro clássico. Porém, se forem usados conforme a Figura 31, com a porta CX = CNOT no lugar do oráculo Uf, o estado final do sistema será , com de probabilidade para e com de probabilidade para .
Circuito para o algoritmo de Deutsch com dois registros no medidor clássico e com a porta CX = CNOT no lugar do oráculo Uf.
Na Figura 32 temos a simulação do circuito da Figura 31 na máquina local (computador clássico).
Os resultados na Figura 33 foram obtidos com os chips quânticos da IBM ibmqx2, ibmq ourense e ibmq16 melbourne, conforme feito no caso anterior. O número de vezes que o circuito foi simulado em cada chip foi de repetições (shots), bem como na máquina clássica (Figura 32).
Experimento nos computadores quânticos da IBM do circuito exibido na Figura 31. As barras em vermelho, verde e cinza é a simulação remota nas máquinas quânticas da IBM ibmqx2 de 5 qubits, ibmq_ourense de 5 qubits e ibmq_16_melbourne de 15 qubits, respectivamente.
Ao comparar os resultados da simulação artificial e em um dispositivo quântico real, pode-se observar no computador clássico que o resultado é equivalente a um sistema ideal. Nos chips da IBM, além dos resultados esperados teoricamente, há recorrência de outros estados de acordo com as combinações possíveis para os q-bits mensurados. Essas recorrências ocorrem com baixa probabilidade e são consideradas erros ao longo do processamento pois, como mencionado anteriormente, esses dispositivos são muito sensíveis. Apesar desses pequenos erros, os resultados das simulações nos chips da IBM condizem perfeitamente com a teoria.
5. Transformada de Fourier Quântica
Uma da formas mais eficientes de resolver problemas mais complexos (matematicamente falando) consiste em transforma-los em um problema mais simples cuja solução seja conhecida. E uma delas é a Transformada de Fourier, que na Computação Quântica é extremamente útil para computar determinadas tarefas de forma muito rápida [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).].
A Transformada de Fourier discreta é uma transformada (DFT) que atua sobre conjuntos de dados discretos. Em sua notação usual, recebe como entrada um vetor de números complexos, , cujo comprimento N é um parâmetro fixo. A sua saída são os dados transformados, os quais gerarm um vetor também complexo , definido por
onde . A Transformada de Fourier Quântica (QFT) atua da mesma maneira, porém em uma notação diferente. Em uma base ortonormal , sua transformação sobre um estado arbitrário é dada por:
Equivalentemente, sua ação sobre um estado arbitrário é:
em que cada amplitude yk é a transformada de Fourier discreta das amplitudes xj.
Seja o registro quântico de nqubits:
onde tem-se que , com . A QFT aplicada a é:
onde e .
A equação (15) pode ser reescrita de maneira a tornar mais fácil a construção do circuito quântico para a QFT. Entretanto, esse passo demanda uma extensa álgebra, a qual não faremos aqui6 6 Recomendamos ao leitor consultar a referência [2] para uma demonstração mais detalhada. .
Como exemplo, podemos observar na Figura 34 o algoritmo para a implementação da transformada de Fourier quântica para um sistema de dois qubits.
De maneira análoga ao cálculo e à construção da transformada quântica de Fourier, é possível também realizar operações através de sua transformada inversa. O procedimento é simples e a ideia é tomar a inversa das operações que contemplam a transformada direta, por assim dizer. Um exemplo de algorítmo para execução da transformada inversa pode ser visto na Figura 35, também no contexto de dois qubits7 7 Para maiores detalhes, vide [36].
A Transformada de Fourier Quântica é um dos ingredientes chave de muitos algoritmos quânticos importantes, como por exemplo o Algoritmo de Shor citado ao longo deste trabalho. Na literatura alguns trabalhos recentes que versam sobre a QFT são [3232. A. Martin, L. Lamata, E. Solano e M. Sanz, Phys. Rev. Res. 2, 013012 (2020)., 3333. R. Azaka, K. Sakai e R. Yahagi, Quantum Inf. Process. 19, 1 (2020)., 3434. A. Zhang, X. Wang e S. Zhao, CCF Trans. High Perform. Comput. 2, 221 (2020)., 3535. Y. Nan, Y. Su e D. Maslov, Npj Quantum Inf. 6, 1 (2020).].
Agora serão apresentados os resultados decorrentes da simulação via chips da IBM. O código que implementa a QFT para 2qubits é apresentada na Figura 36. Para implementar em um estado arbitrário bipartido, o mesmo deve ser preparado previamente e então a QFT deve ser aplicada. Já na Figura 37, são apresentado os circuitos simulados com os estados iniciais , , , de entrada. Ao lado de cada circuito são apresentados os histogramas com os resultados das medidas. Independente do estado inicial de entrada, os estados de saída sobrepostos , teoricamente tem probabilidade de cada. Para a simulação realizada nos três computadores quânticos, os resultados apresentaram oscilações nas amplitudes de probabilidade em relação a teoria, como também comparada a simulação no computador clássico. A barra azul do histograma é o resultado da simulação no computador clássico. Os resultados em vermelho, verde e cinza foram obtidos com os chips quânticos da IBM ibmqx2, ibmq_ourense e ibmq_16_melbourne, respectivamente. Nas Figuras 38 e 39 os histogramas seguem o mesmo padrão.
Circuitos e histogramas: As barras em azul representam a simulação artificial (computador clássico). Já as barras em vermelho, verde e cinza representam a simulação feita remotamente nas máquinas quânticas da IBM ibmqx2 de 5qubits, ibmq_ourense de 5qubits e ibmq_16_melbourne de 15qubits, respectivamente.
A Figura 38 apresenta o circuito simulado com estado inicial de entrada. Abaixo do circuito são apresentados os histogramas de duas simulações para o mesmo. Teoricamente os estados de saída tem probabilidade de cada. A barra azul nos histogramas são os resultados da simulação realizada no computador clássico, os resultados são idênticos aos dados teóricos. As barras vermelhas, verdes e cinzas nos histogramas são os resultados da simulação realizada nos computadores quânticos. Outro detalhe a se observar nos histogramas e da Figura 38 é que a cada simulação para o mesmo sistema no computares quânticos, as probabilidades para cada estado variam a cada simulação efetuada em cada chip da IBM.
Circuitos e Histogramas de 3qubits com estado inicial : As barras em azul representam a simulação artificial (computador clássico). As barras em vermelho, verde e cinza representam a simulação feita remotamente nas máquinas quânticas da IBMibmqx2 de 5qubits, ibmq_ourense de 5qubits e ibmq_16_melbourne de 15qubits, respectivamente.
A Figura 39 apresenta a simulação da QFT inversa aplicada a QFT aplicada ao estado . Abaixo do circuito são apresentados os histogramas de duas simulações com os resultados das medidas. Teoricamente, como visto na seção anterior, o estado de saída deve ser com probabilidade de cada. A barra azul nos histogramas são os resultados da simulação realizada no computador clássico e os resultados são totalmente condizentes com a teoria. As barras vermelhas, verdes e cinzas nos histogramas são os resultados da simulação realizada nos computadores quânticos. Nos chips quânticos há recorrência de outros estados não previstos teoricamente, porém com pequena probabilidade. Também observar-se nos histogramas e da Figura 39 que a cada simulação para o mesmo sistema no computares quânticos, as probabilidades para cada estado variam com pequena probabilidade para os estados .
Circuito e histogramas da QFT inversa aplicada a QFT de 2 qubits com estado inicial : As barras em azul representam a simulação artificial (computador clássico). As barras em vermelho, verde e cinza representam a simulação realizada remotamente nas máquinas quânticas da IBMibmqx2 de 5qubits, ibmq_ourense de 5qubits e ibmq_16_melbourne de 15qubits, respectivamente.
Pode-se observar que, assim como no caso do algoritmo de Deutsch, os chips quânticos apresentam uma determinada taxa de erro. Porém, os resultados obtidos via simulação estão próximos aos previstos teoricamente. Um detalhe importante, ao comparar os algoritmos, está na implementação das portas lógicas. Cada porta lógica tem um erro associado à sua implementação e o sucesso de sua realização depende da robustez do sistema perante ruídos e o tempo de coerência dos qubits. As operações controladas possuem um erro maior associado e quanto maior o número dessas operações, maiores serão os erros na implementação do algoritmo [3939. https://oxford.universitypressscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780199681181.001.0001/acprof-9780199681181
https://oxford.universitypressscholarshi...
, 4040. M. Kjaergaard, M.E. Schwartz, J. Braumüller, P. Krantz, J.I.J. Wang, S. Gustavsson e W.D. Oliver, Annual Review of Condensed Matter Physics 11, 369 (2020)., 4141. S. Kwon, A. Tomonaga, G.L. Bhai, S.J. Devitt e J.S. Tsai, Journal of Applied Physics 129, 041102 (2021).]. Evidentemente, a QFT possui mais erros em sua implementação, pois demanda muitas operações controladas, apenas a porta SWAP é formada por três CNOT. Quanto maior a dimensão do sistema multi-qubit, o acúmulo de erros se torna ainda maior. Isso por si só já é um grande desafio na construção desses sistemas.
6. Considerações Finais
Os resultados apresentados neste trabalho, embasado em [3636. W.M.S. Alves, Algoritmos Quânticos Usando a Plataforma IBM Quantum Experience. Monogrofia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (2020).], são de simulações realizadas em uma máquina clássica bem como nos respectivos chips quânticos da IBMibmqx2 de 5qubits, ibmq_ourense de 5qubits e ibmq_16_melbourne de 15qubits via nuvem. Na máquina clássica, os resultados obtidos foram de um sistema ideal, ou seja, sem erros experimentais. Nos protótipos da IBM, apesar das oscilações nas amplitudes de probabilidade e recorrências em estados não esperados de acordo a teoria, os resultados foram bem satisfatórios. Conforme discutido ao longo do trabalho, os erros gerados pelas maquinas quânticas, devem-se a interação do sistema quântico com o ambiente ou também do efeito de decoerência quântica. Para contornar esses erros é necessária a implementação de códigos de correção de erros e aumentar o número de shots (quantidade de repetições nas medições), melhorando as estatísticas dos resultados, aproximando os dados simulados dos dados previstos teoricamente.
Com relação a arquitetura dos processadores utilizados, a eficiência dos mesmos (em termos de cálculos) comparado aos cálculos feitos em uma máquina clássica, é medida comparando as energias entre dois níveis próximos (dois qubits) do circuito construído para a implementação dos algoritimos em estudo. Isso determina por qual porta o processo se dará no circuito. Assim, a depender do processador, ter-se-á um melhor desempenho e uma mitigação dos erros inerentes ao processo de implementação dos cálculos feito via os chips da IBM, o que reduz consideravelmente os erros e o efeito de decoerência, aproximando o resultado dos valores previstos em teoria, uma vez que cada um tem um tempo de relaxação, que o tempo em que o qubits se mantém estável até sofrer algum tipo de interferência do ambiente, sendo este tempo intrinsecamente relacionado ao desempenho dos processadores e aos resultados que venham a ser obtidos após os cálculos. Alguns dados experimentais podem ser encontrados com mais detalhes em [4242. https://github.com/Qiskit/ibmq-device-information
https://github.com/Qiskit/ibmq-device-in...
] (ibmqx2), [4343. https://github.com/Qiskit/ibmq-device-information
https://github.com/Qiskit/ibmq-device-in...
] (ibmq_16_melbourne) e [4444. Y. Du, T. Huang, S. You, M. Hisieh e D. Tao, arxiv:2010.10217v2 (2020).] (ibmq_ourense). Cabe salientar que esses processadores vão sendo melhorados e aperfeiçoados com o passar do tempo, o que torna a implementação de algoritmos bem mais ágil, do ponto de vista de processamento.
Os algoritmos estudados tem papel fundamental, não só na computação quântica, mas em tecnologias quânticas que estão e serão desenvolvidas. Por exemplo, sem a transformada de Fourier quântica não há como implementar o algoritmo de Shor. Com a corrida de grandes empresas pela “supremacia quântica”, a aplicação do algoritmo de Shor é apenas uma questão de tempo. Com essa aplicação, os sistemas de segurança digital atuais terão que buscar novas alternativas. Inclusive, já há comercialização de chaves quânticas para a proteção de informações ultra secretas.
Cabe ressaltar que esse trabalho é de grande valia para a introdução de estudantes de Ciências Exatas e Engenharia nesse tema de pesquisa promissora, a qual envolve e associa teoria e prática, através do desenvolvimento de tecnologias para a área, bem como para o ensino dos conceitos sobre informação e computação quântica. A disponibilização da IBM de uma plataforma e de recursos open-source para implementação de algoritmos quânticos é de suma importância para atrair os estudantes, uma vez que os estudantes podem implementar e simular resultados de modelos reais, visando a construção de novas tecnologias para instrumentação nessa área tão promissora que é a Informação Quântica.
Para os interessados, disponibilizamos os códigos das simulações no GitHub, que podem ser acessados através do link: https://github.com/WarleyMarcos/Paper_RBEF.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) pelo apoio. Os autores também agradecem à professora Neila Mara Gomes de Oliveira e ao professor Fabiano Alan Serafim Ferrari pelas frutíferas discussões.
Referências
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Para mais informações a respeito do QisKit e sua documentação acesse o link: https://qiskit.org/.
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Para uma leitura aprofundada sobre o QisKit, sua inicialização, comandos e implementação, vide [2323. G.F. Jesus, M.H.F. Silva, T.G.D. Netto, L.Q. Galvão, F.G.O. Souza e C. Cruz, Rev. Bras. Ens. Fis. 43, e20210033 (2021).].
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6
Recomendamos ao leitor consultar a referência [22. M.A. Nielsen e I.L. Chuang, Computação Quântica e Informação Quântica (Bookman, Porto Alegre, 2005).] para uma demonstração mais detalhada.
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7
Para maiores detalhes, vide [3636. W.M.S. Alves, Algoritmos Quânticos Usando a Plataforma IBM Quantum Experience. Monogrofia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (2020).].
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
08 Abr 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
-
Recebido
11 Ago 2021 -
Revisado
03 Mar 2022 -
Aceito
03 Mar 2022