Em 2024 a Universidade de São Paulo (USP) comemorou 90 anos de fundação. Dentre os fatos marcantes de sua história destacam-se as diretrizes de apoio à valorização das atividades de ensino de graduação de grande impacto no início dos anos 2000. Tais ações contribuíram para idealização, implementação e atualização da estrutura curricular do Bacharelado em Astronomia, um dos mais jovens da USP. A história deste curso também se remete ao período do envolvimento do Brasil em consórcios internacionais de grandes projetos observacionais e instrumentais, que motivaram a criação de um Projeto Político Pedagógico visando a formação de profissionais preparados para os novos desafios científicos e tecnológicos da Astronomia Moderna. Este trabalho aborda aspectos históricos relacionados com a criação do curso, sua relação com as atividades de pesquisa da comunidade astronômica brasileira, e relata as visões e ações da política educacional que foram inspiradoras no desenvolvimento do currículo. Após 10 anos de sua primeira turma formada, o curso alcança resultados interessantes relacionados ao incentivo à permanência no curso. Embora 80% dos graduandos optem pela vertente pesquisa em seus Trabalhos de Conclusão de Curso, eles têm forte interesse em projetos de extensão, visando o retorno para a sociedade dos conhecimentos produzidos pela universidade.
Palavras-chave:
Astronomia; USP; história; graduação; extensão
In 2024 the University of São Paulo (USP) celebrated its 90th anniversary. Among the most notable events in its history are the guidelines for supporting the valorization of undergraduate teaching activities, which had a major impact in the early 2000s. These actions greatly contributed to the idealization, implementation, and constant updating of the curricular structure of the Bachelor’s Degree in Astronomy, one of the youngest programs at USP. Furthermore, the history of this new undergraduate course coincides with a period of Brazil’s involvement in international consortia of large observational and instrumental projects, which motivated the creation of a Political Pedagogical Project aimed at training professionals prepared for the new scientific and technological challenges in Modern Astronomy. In addition to addressing historical aspects related to the creation of the course, as well as its relationship with the research activities of the Brazilian astronomical community, this work reports on the visions and actions of the educational policy that inspired the development of the curriculum. Ten years after its first class graduated, the course has achieved very interesting results related to encouraging students to stay in the course. Although 80% of the students choose scientific research as the subject for their B.Sc. final work, they have demonstrated a strong interest in outreach projects, concerned with returning to society the knowledge produced by the university.
keywords
Astronomy; USP; history; undergraduate course; outreach
1. Introdução
Em comemoração dos 400 anos das descobertas de Galileu, que corroboraram a teoria do sistema heliocêntrico, a UNESCO declarou 2009 como sendo o Ano Internacional de Astronomia. Particularmente para a comunidade astronômica brasileira foi um ano emblemático, pois sediamos pela primeira vez a Assembleia Geral da União Astronômica Internacional, a maior associação internacional científica que reúne pesquisadores em Astronomia.
Inspirados por esses importantes eventos em sua área de atuação, os docentes do Departamento de Astronomia do IAG1 (AGA) propuseram um novo curso de graduação, o Bacharelado em Astronomia, que foi aprovado pelo Conselho de Graduação da USP em 2008, para ingresso da primeira turma em 2009. Embora o programa de pós-graduação em Astronomia do IAG seja o mais antigo do Brasil, nossa atuação junto à graduação era até então dedicada apenas ao oferecimento de disciplinas voltadas a alunos dos outros cursos do IAG e outras Unidades da USP. Além disso, o único Bacharelado em Astronomia em instituição pública do país era oferecido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Observatório do Valongo [1], que em 2008 comemorava 50 anos de existência [2].
Este artigo é dedicado ao registro da jornada percorrida, desde a motivação em expandir nossa atuação, anteriormente voltada exclusivamente à pesquisa e o ensino de pós-graduação, visando atender os anseios dos jovens interessados em realizar sua graduação em Astronomia na USP, não apenas por seu caráter científico e contato o mais cedo possível com a pesquisa nesta área, mas também pela diversidade de aplicações tecnológicas nas quais ela se insere. Desta forma, as metas principais foram oferecer um curso com forte base em Física e Matemática, necessária para seguir a pós-graduação em Astronomia ou áreas afins; grande flexibilidade na matriz curricular, permitindo várias trajetórias, para atender diferentes vocações; e acompanhamento contínuo de aconselhamento acadêmico. Isso coincidiu com a época em que o AGA, assim como a comunidade astronômica brasileira, iniciava seu envolvimento em grandes consórcios observacionais e instrumentais. Assim, este envolvimento contribuiu na motivação em criar um curso para preparar os egressos de forma mais direcionada para os projetos internacionais de grande porte em que o AGA está envolvido. O caráter interdisciplinar do curso foi elaborado para preparar o bacharel para diversas possibilidades de atuação: Pesquisa Científica ou em áreas relacionadas com Ciências Espaciais; Instrumentação; Informática; Difusão Científica.
2. Um Pouco da História do IAG e a Motivação em Criar o Curso
O maior desafio na proposta de um novo curso de Astronomia foi apresentar um projeto com mesmo nível de excelência das atividades de pesquisa e ensino desempenhadas pelo IAG, que possui liderança nacional e projeção internacional em suas áreas de atuação. Os programas de pós-graduação, nas três áreas (Astronomia, Geofísica e Meteorologia), classificam-se entre os melhores do Brasil e a produtividade de seus pesquisadores é alta, ocupando a liderança entre as instituições congêneres nacionais e mesmo latino-americanas. Sua atividade de extensão e difusão científica é variada e temos, cada vez mais, a preocupação de possibilitar à nossa sociedade acesso aos conhecimentos de ponta associados às ciências da Terra e do Universo.
Apesar de seu foco principal de atuação na pesquisa e na pós-graduação, o AGA sempre dedicou esforços no ensino de graduação e na difusão científica (cultura e extensão), considerando o apelo da Astronomia junto à população universitária e ao grande público em geral. No entanto, o oferecimento de disciplinas de Astronomia para a graduação era limitado, considerando que até 2002 o AGA estava sediado nas instalações do antigo Observatório Astronômico do Parque do Estado (Figura 1), localizado no bairro da Água Funda, onde atualmente se encontra o Parque de Ciência e Tecnologia da USP (CienTec).
À esquerda, imagem de Urânia, a deusa grega da Astronomia, apresentada em um vitral na entrada principal do prédio onde se encontrava a antiga Biblioteca do IAG. À direita, vista das principais edificações da antiga sede do IAG (Foto: Vinícius Roggerio, do Monolito Nimbus). Imagens disponíveis na webpage do CienTec [3].
A antiga sede do IAG remete aos fatos históricos de sua origem, que é anterior à própria USP. Em particular destaca-se que a instalação do IAG (originalmente “Instituto Astronômico e Geofísico”) no Parque do Estado ocorreu em 1930, depois de uma decisão de Alypio Leme, diretor do Observatório de São Paulo, que se localizava na Avenida Paulista, em transferir a luneta Zeiss para uma região afastada das luzes e do movimento da cidade. A Figura 2 mostra uma ilustração relacionada à mudança do antigo Observatório de São Paulo para o bairro da Água Funda. Em 1946 o IAG foi incorporado à USP e em 1972 foi transformado em uma Unidade da USP, e passou a oferecer um programa de pós-graduação.
Trecho do livro “Ombros de Gigantes: história da astronomia em quadrinhos [6], ilustrando Alypio Leme e sua decisão em mudar a sede do antigo Observatório de São Paulo.
A partir da mudança do AGA para sua nova sede na Cidade Universitária, a maior interação com estudantes de graduação estimulou uma atuação ainda maior no ensino de graduação, por meio de uma ampliação no leque de disciplinas optativas oferecidas às outras Unidades, um crescimento no número de turmas, em particular no período noturno, e o empenho em aumentar a infraestrutura para atividades práticas, tanto em laboratórios de informática como em atividades experimentais, observacionais e de cultura e extensão.
Mesmo não tendo até então um curso sob sua responsabilidade, a inserção do corpo docente do AGA no ensino de graduação era considerável. O número de matriculados nas disciplinas de Astronomia oferecidas para outros cursos era da ordem de 500 alunos por semestre (estimando em média 20 turmas de 25 matriculados em cada uma) [4].
Em 1997 havia sido criado, em colaboração com o Instituto de Física da USP (IF/USP), o Bacharelado em Física com Habilitação em Astronomia, que contava com um conjunto de disciplinas obrigatórias específicas das especialidades em Astronomia, além do conjunto básico de disciplinas do Bacharelado em Física. Embora a Habilitação em Astronomia atraísse um razoável número de interessados (cerca de 25 alunos por ano optavam por essa modalidade), o número médio de formandos estava em torno de 5 alunos, resultando em uma fração de 0.2 na relação formados/ingressantes. Na maior parte dos casos, essa evasão era devida à reescolha do aluno, voltando para Bacharelado simples2 do IF/USP, cuja carga horária era cerca de 30% menor [5].
Apesar de poucos, foram formados excelentes profissionais, dada a estrutura do curso ser intrinsecamente voltada para a carreira acadêmica. Por esse motivo, a proposta de um novo curso de graduação no IAG não interferiu na continuidade da Habilitação em Astronomia do IF/USP, e de fato, ambos os cursos conviveram por alguns anos, deixando aos alunos a decisão sobre qual deles atendia melhor suas expectativas. Apesar de também garantir uma forte base em Física, o Bacharelado em Astronomia tinha uma proposta de estrutura mais flexível, para se adequar a diferentes vocações. Por exemplo, além de oferecer um conjunto de disciplinas visando a pesquisa (egressos para a pós-graduação), outras possíveis vertentes também estavam sendo elaboradas, nas quais os conhecimentos técnicos relacionados com essa ciência poderiam ser aplicados dado seu perfil multidisciplinar. O objetivo era formar profissionais aptos a seguirem a carreira em pesquisa científica, ou então atuarem nos setores de desenvolvimento de projetos de tecnologia de ponta, nas áreas de astrofísica, instrumentação ou aplicações espaciais. Assim, foi apresentada a proposta de um novo bacharelado com conteúdo de Astronomia e de Física que mais se aproximava dos bacharelados em Física aplicada (vide matriz curricular na Seção 5 5. Aproveitando Infraestrutura e Vivências Anteriores Conforme mencionado anteriormente, no período de 1997 a 2007 o AGA oferecia disciplinas específicas obrigatórias para o Bacharelado em Física com Habilitação em Astronomia. Embora não tivesse suas próprias turmas de alunos de graduação, o AGA já havia adquirido larga experiência no ensino de graduação, em atendimento aos alunos de diversas outras unidades da USP. Além disso, a proximidade de contato com os alunos da Habilitação em Astronomia nos trouxe o aprendizado sobre as possíveis melhorias e a necessidade de se pensar em uma estrutura curricular mais flexível. Em termos de disciplinas obrigatórias o conteúdo essencial do curso se configura no programa de um bacharelado em Física básico, acrescido de conteúdos de Astronomia e de Computação [18]. Além de tais disciplinas obrigatórias, é oferecido um grande leque de optativas eletivas e optativas livres, que permitem aos alunos traçarem diferentes trajetórias, de acordo com suas vocações. A proposta do novo curso foi pensada de forma a aproveitar a infraestrutura e os recursos humanos já disponíveis, apenas canalizando parte deles para a criação de novas turmas a “custo zero”. Naquela época, as turmas das duas graduações do IAG, Meteorologia e Geofísica, contavam com o oferecimento pelo IF/USP e pelo IME/USP de um núcleo comum com disciplinas de Física e Matemática nos primeiros dois anos dos cursos. O número total de ingressantes no IAG era de 70 alunos, constituindo turmas únicas nas disciplinas do núcleo básico ministradas pelos docentes do IF e do IME. Ou seja, a intenção foi manter as turmas que já existiam, mesmo contando com o ingresso de alunos no novo curso. Isso foi possível graças à cessão de vagas por parte do curso de Meteorologia, que a partir de 2009, reduziu de 40 para 30 vagas oferecidas para ingresso pelo vestibular. Com isso, a distribuição de vagas nos cursos do IAG ficou com 30 vagas para Geofísica e 30 vagas para Meteorologia, permitindo ao AGA oferecer 15 vagas para o curso de Astronomia. Desta forma, a infraestrutura disponível para os cursos do IAG foi aproveitada para o total de 75 ingressantes, sem necessidade de abertura de novas turmas nas disciplinas do ciclo básico ou contratação de novos docentes. Posteriormente, em 2017, dada a forte pressão na relação candidato/vaga no vestibular, o AGA passou a oferecer mais 5 vagas. Do total de 20 vagas, 18 eram para ingressantes via Fuvest e outras 2 vagas preenchidas por ingressantes via ENEM. Além disso, 2 vagas adicionais passaram a ser disponibilizadas para ingresso de estudantes brasileiros participantes de Competições do Conhecimento (olimpíadas). Atualmente, das vagas oferecidas pela FUVEST 57% são destinadas à ampla concorrência, 29% para alunos que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas e 14% de alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas [19]. ).
Em 2006, o IAG celebrou o 60 aniversário de sua integração à USP, fazendo uma reflexão não só sobre seu passado, mas principalmente sobre seu futuro. Um dos resultados deste processo foi a decisão de aprimorar nossos cursos de graduação. A criação de um novo bacharelado, buscando uma maior integração entre as três especializações do IAG - Geofísica, Meteorologia e Astronomia - dada sua proximidade temática e metodológica, configurou-se em um esforço voltado para a problemática global da Terra, tema essencial numa época em que a atmosfera de nosso planeta sofre mudanças importantes.
Como veremos a seguir, naquele início dos anos 2000, as tendências na criação de novos cursos procuravam oferecer interdisciplinaridade na formação de profissionais, garantindo aos egressos uma melhor inserção no mercado de trabalho. Além disso, encontrava-se em destaque o papel da educação, que deve preparar cada indivíduo para a cidadania. De acordo com a BNCC para o Ensino Médio, na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, a segunda competência específica visa preparar o estudante para: “Construir e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funciona- mento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar decisões éticas e responsáveis” [7, pg. 539].
Nesse sentido, as ciências da Terra e do Espaço englobadas nas atividades do IAG, são de grande importância no estudo de questões fundamentais sobre o Universo, a Terra e as origens. Naquela época já antevíamos que estudos e aplicações relacionadas com essas áreas certamente seriam alvo de grande interesse nos anos seguintes, considerando o forte apelo para questões ambientais e do espaço.
3. O Incentivo Proporcionado Pela Gestão da Graduação na USP
Além da própria motivação do AGA em expandir sua atuação no ensino de graduação, após sua mudança em 2002 para a Cidade Universitária, a proposta de criação de um novo bacharelado foi inspirada pelas diretrizes assumidas pela Pró-Reitoria de Graduação daquele período. Foram as diretrizes focadas na valorização do ensino durante as gestões da Profa. Dra. Sonia Teresinha de Sousa Penin (pró-reitora no período de 18.12.2001 a 25.11.2005) e da Profa. Dra. Selma Garrido Pimenta (pró-reitora no período 20.12.2005 a 25.11.2009) que influenciaram fortemente o aprimoramento das ações do AGA voltadas ao ensino de graduação, e que culminaram com a criação do curso de Astronomia da USP.
É interessante notar que, de forma direta ou indireta, tais ações foram embasadas na “Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação” produzida pela Conferência Mundial sobre Educação Superior, realizada em 1998 pela UNESCO em Paris [8]. Dentre as várias missões e ações previstas nesse documento da UNESCO, destacamos aquelas relacionadas ao indissociável papel da pesquisa científica no ensino; na promoção do pensamento crítico; e no posicionamento do estudante como figura central e protagonista na renovação do ensino superior, respectivamente apresentadas a seguir:
Artigo 1 (c) “promover, criar e disseminar conhecimento por meio de pesquisa e fornecer, como parte de seu serviço à comunidade, expertise relevante para auxiliar sociedades no desenvolvimento cultural, social e econômico, promovendo e desenvolvendo pesquisa científica e tecnológica …” [8, tradução nossa].
Artigo 9 (b) As instituições de ensino superior devem educar os alunos para que se tornem cidadãos bem informados e profundamente motivados, que possam pensar criticamente, analisar problemas da sociedade, procurar soluções para os problemas da sociedade, aplicá-los e aceitar responsabilidades sociais [8, tradução nossa].
Artigo 10 (c) Os responsáveis pelas decisões nacionais e institucionais devem colocar os estudantes e as suas necessidades no centro das suas preocupações e devem considerá-los como parceiros importantes e protagonistas na renovação do ensino superior [8, tradução nossa)].
Conforme registrado no relatório de gestão da Profa. Sonia Penin [9], dentre as diretrizes propostas por ela no final de 2001, destacam-se a “Ampliação do número de vagas oferecidas, a partir da discussão com a comunidade de diferentes propostas de expansão”, e a “Valorização das atividades de ensino de graduação, como a melhoria das condições de ensino (infraestrutura, salas-ambiente, laboratórios) e apoio pedagógico aos professores dos cursos de graduação”. Um exemplo de resultado alcançado em 2005 foi a criação de 11 novos cursos na EACH (Escola de Artes e Ciências Humanas), uma nova Unidade localizada na região leste da capital, com “uma estrutura curricular e metodologia de ensino inovadoras” [9]. É interessante registrar que, dentre os novos cursos da EACH, foi criada a “Licenciatura em Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental”, contando com a colaboração de docentes de diversas Unidades de áreas afins, permitindo a inserção nessa licenciatura de conteúdos de ciências exatas e da Terra, como os de Astronomia por exemplo [10]. Havia também uma intenção de criar um novo bacharelado em ciências espaciais, que embora não tenha se concretizado, a experiência em discutir e elaborar uma estrutura curricular de um curso inovador e multidisciplinar, serviu como ponto de partida de reflexões no AGA sobre a criação de um novo curso de graduação para o IAG.
Na sequência dos fatos, a gestão da Profa. Selma Pimenta na pró-reitoria de graduação [11], promoveu diversas ações que permitiram o aprofundamento da proposta de criação do Bacharelado em Astronomia. Dentre tais ações, destaca-se o tema “Pedagogia Universitária â Valorizando o Ensino e a Docência na USP”.
No contexto dos GAPs (Grupos de Apoio Pedagógico), criados em 2004 com o objetivo de oferecer apoio pedagógico às atividades docentes, foi organizado o Curso de Pedagogia Universitária. A primeira oferta do curso (com duração anual e carga de 240 horas) ocorreu em 2007 no campus da Capital, com duas turmas (cada uma com 60 docentes em formação). De acordo com o relatório de gestão
“as turmas foram constituídas de modo interdisciplinar, com a intenção de se promover a interação, as trocas de experiências, os cruzamentos dos distintos olhares a respeito de como ensinar e como aprender na universidade e também de como organizar os espaços para tanto. Uma das turmas foi constituída por docentes que exercem atividades de coordenação pedagógica dos cursos de graduação” [11].
E foi justamente nesse grupo de coordenadores de cursos que os membros da Comissão de Graduação do IAG participaram do curso e tiveram a oportunidade de rever o Projeto Político Pedagógico (PPP) de seu próprio curso de graduação, sob um novo olhar. No caso da Astronomia não foi uma revisão, mas sim a criação do PPP. A contribuição da Preparação Pedagógica oferecida no curso dos GAPs foi fundamental para o desenvolvimento curricular do bacharelado que estava sendo criado.
O PPP original do curso de Astronomia foi embasado nas diretrizes de gestão do ensino de graduação da USP no período 2006/2009, em particular nas ações relacionadas à “Valorização da graduação no que se refere à qualidade formativa dos discentes e às condições da docência”, e inspirado no apoio a “Propostas e programas para experimentação de novas formas de organização curricular” oferecido pela pró-reitoria de graduação [11]. De acordo com o relatório de gestão da Profa. Selma Pimenta, tal programa de valorização vislumbrava a necessidade de mudanças no ensino:
“Há que se criar uma nova cultura acadêmica nos cursos de graduação na universidade, que valorize o trabalho dos docentes na graduação …. O ensino na universidade, por sua vez, constitui um processo de busca e construção científica e de crítica ao conhecimento produzido, ou seja, de seu papel na construção da sociedade” [11].
Além de seguirmos as diretrizes e as características das ações voltadas à valorização do ensino adotadas pela gestão de graduação [e.g. 12, 13], a fundamentação teórica que serviu como ponto de partida para a construção do PPP foi apreendida na ocasião do curso de Preparação Pedagógica, cujo programa e bibliografia [14] foram organizados pela ministrante, Profa. Lea das Graças Anastasiou. É interessante notar que, anos depois, com base na literatura adotada no curso oferecido pelos GAPs em 2007, o IAG veio a criar uma disciplina interdepartamental IAG5900 “Preparação Pedagógica”, para alunos de pós-graduação. Em particular os bolsistas da CAPES devem cursar essa disciplina como requisito para se inscreverem como estagiários no Programa de Aperfeiçoamento do Ensino (PAE), com o objetivo de melhorar a formação dos alunos de pós-graduação visando uma futura atuação como docente no ensino superior.
Outro desdobramento interessante a destacar, que se reflete até a atualidade, foi a inserção no PPP de atividades de extensão, em particular na vertente “ensino e divulgação científica”, como parte importante no processo formativo do estudante e o reconhecimento de seu papel de agente transformador em benefício da sociedade. A exemplo das outras opções, a escolha de tal vertente fica a critério do aluno, de acordo com sua preferência de especialização por meio das disciplinas optativas cursadas, bem como o tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso. Dado o apelo dos temas da Astronomia junto ao público geral, o AGA tem uma ampla experiência em projetos de extensão, permitindo o envolvimento de alunos de graduação desde seus primeiros anos de curso. Essa experiência de certa forma facilitou o processo de Curricularização da Extensão, implementado em todo o sistema universitário paulista a partir de 2023, por meio da deliberação 216 do Conselho Estadual de Educação [15]. Atualmente, 10% da carga-horária total deve ser dedicada a atividades de extensão.
4. O Novo Curso e a Comunidade Astronômica Brasileira
Como mencionado anteriormente, até 2008 a única instituição pública oferecendo no Brasil um bacharelado em Astronomia era a UFRJ. Segundo os dados do INEP [16], em 2005 o curso contava com 86 matriculados, 29 ingressantes (128 inscritos no vestibular para 30 vagas); e 11 formados naquele ano. Isso representa uma procura de cerca de 4,3 candidatos por vaga e uma razão formados/ingressantes de 0,38. Apesar de serem poucas as vagas no mercado de trabalho, esses números mostram que a procura pelo curso já era tão importante (em termos relativos) quanto os cursos de Física alcançavam em média no Brasil (12055 inscritos para 2806 vagas no ano de 2005).
As necessidades tecnológicas (instrumentais e computacionais), impostas pelos novos rumos das aplicações em Astronomia profissional, foram agentes catalisadores na elaboração do novo curso, para formar profissionais, em particular futuros pesquisadores, com ampla visão científica e conhecimento técnico suficiente para diagnosticar problemas, elaborar e executar projetos. A proposta desse curso foi baseada tanto na especialidade dos docentes do AGA, quanto de outras unidades como o Instituto de Física, o Instituto de Matemática e Estatística e a Escola Politécnica da USP, das quais contamos com forte colaboração.
A proposta do curso surgiu no momento em que a participação brasileira nos consórcios de grandes telescópios já estava sedimentada e o desenvolvimento de instrumentação de ponta encontrava-se em expansão (Figura 3). Assim como nos países em que tais atividades já estavam largamente implantadas, no Brasil a busca por profissionais qualificados para atuarem nessa área tornava-se uma realidade, verificando-se a inexistência de um único curso que oferecesse uma formação suficientemente abrangente.
Imagens ilustrativas dos observatórios, pertencentes a consórcios internacionais que contam com participação brasileira. Os estudantes do IAG têm a oportunidade de acesso a facilidades observacionais, como a Estação de Observação Remota do telescópio SOAR.
Dessa forma, o curso foi pensado de forma a contemplar uma forte componente de atividades práticas em laboratórios e observatórios (Figura 4), bem como no desenvolvimento de projetos acadêmicos com orientação de docentes do AGA (Iniciação Científica) ou estágios (não obrigatórios) em observatórios, instituições e empresas relacionadas com desenvolvimento de tecnologia avançada ou análise de dados. Desta forma, além de habilitar o egresso a seguir uma pós-graduação, a proposta do curso foi de preparar o profissional para atuar de forma multidisciplinar no desenvolvimento de projetos instrumentais e tecnológicos. Por sua formação voltada para a formulação e resolução de problemas, as demais vertentes do curso foram pensadas em garantir que o profissional também tenha inserção no mercado de trabalho na área de difusão científica (museus, planetários, ensino, jornalismo científico) ou na área de informática (tratamento e análise de imagens; bancos de dados; sistemas de automação e controle).
No painel acima, a foto à esquerda mostra ingressantes de 2014 no Bacharelado em Astronomia conhecendo o Observatório do Campus (Torre G do IAG-USP). A imagem da direita apresenta telescópios instalados no Observatório Abrahão de Moraes que se encontra na região de Valinhos/Vinhedo (SP). No painel abaixo, foto de turmas das disciplinas “Manobras Orbitais” e “Fundamentos de Astronomia” em visita ao Laboratórios de Integração e Testes do INPE (S. José dos Campos, SP).
De fato, os resultados apresentados nos Trabalhos de Conclusão de Curso, que atualmente ultrapassou a marca de uma centena [17], demonstram que 80% são relacionados à vertente Pesquisa Científica, o que também se reflete nas atuais procuras por nossos egressos por continuidade de estudos na pós-graduação. Mas também se revela a importância das demais vertentes, em que 20% dos formandos optaram por outras carreiras não relacionadas à pesquisa.
5. Aproveitando Infraestrutura e Vivências Anteriores
Conforme mencionado anteriormente, no período de 1997 a 2007 o AGA oferecia disciplinas específicas obrigatórias para o Bacharelado em Física com Habilitação em Astronomia. Embora não tivesse suas próprias turmas de alunos de graduação, o AGA já havia adquirido larga experiência no ensino de graduação, em atendimento aos alunos de diversas outras unidades da USP. Além disso, a proximidade de contato com os alunos da Habilitação em Astronomia nos trouxe o aprendizado sobre as possíveis melhorias e a necessidade de se pensar em uma estrutura curricular mais flexível.
Em termos de disciplinas obrigatórias o conteúdo essencial do curso se configura no programa de um bacharelado em Física básico, acrescido de conteúdos de Astronomia e de Computação [18]. Além de tais disciplinas obrigatórias, é oferecido um grande leque de optativas eletivas e optativas livres, que permitem aos alunos traçarem diferentes trajetórias, de acordo com suas vocações.
A proposta do novo curso foi pensada de forma a aproveitar a infraestrutura e os recursos humanos já disponíveis, apenas canalizando parte deles para a criação de novas turmas a “custo zero”. Naquela época, as turmas das duas graduações do IAG, Meteorologia e Geofísica, contavam com o oferecimento pelo IF/USP e pelo IME/USP de um núcleo comum com disciplinas de Física e Matemática nos primeiros dois anos dos cursos. O número total de ingressantes no IAG era de 70 alunos, constituindo turmas únicas nas disciplinas do núcleo básico ministradas pelos docentes do IF e do IME. Ou seja, a intenção foi manter as turmas que já existiam, mesmo contando com o ingresso de alunos no novo curso. Isso foi possível graças à cessão de vagas por parte do curso de Meteorologia, que a partir de 2009, reduziu de 40 para 30 vagas oferecidas para ingresso pelo vestibular. Com isso, a distribuição de vagas nos cursos do IAG ficou com 30 vagas para Geofísica e 30 vagas para Meteorologia, permitindo ao AGA oferecer 15 vagas para o curso de Astronomia. Desta forma, a infraestrutura disponível para os cursos do IAG foi aproveitada para o total de 75 ingressantes, sem necessidade de abertura de novas turmas nas disciplinas do ciclo básico ou contratação de novos docentes. Posteriormente, em 2017, dada a forte pressão na relação candidato/vaga no vestibular, o AGA passou a oferecer mais 5 vagas. Do total de 20 vagas, 18 eram para ingressantes via Fuvest e outras 2 vagas preenchidas por ingressantes via ENEM. Além disso, 2 vagas adicionais passaram a ser disponibilizadas para ingresso de estudantes brasileiros participantes de Competições do Conhecimento (olimpíadas). Atualmente, das vagas oferecidas pela FUVEST 57% são destinadas à ampla concorrência, 29% para alunos que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas e 14% de alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas [19].
6. A Procura Pelo Curso e Resultados Mais Recentes
Os bacharelados do IAG estão inseridos na mesma carreira do vestibular de cursos das áreas afins, tais como: Física; Meteorologia; Geofísica; Estatística; Matemática, entre outros. No período de 2009 a 2016 o número de candidatos no vestibular, em primeira opção pelo curso de Astronomia, aumentou de aproximadamente 150 para cerca de 400, mantendo-se desde então estável nessa faixa, que corresponde de 20% a 30% do total de candidatos na carreira. Os gráficos da Figura 5 mostram a evolução da procura pelo curso desde sua criação, de forma comparativa com outros cursos mais próximos, tanto do IAG, como do IF e do IME, somando-se o total de candidatos nos bacharelados em Física (Diurno e Noturno), Matemática, Estatística, Geofísica, Meteorologia e Astronomia. Por exemplo, em 2023 o número total de candidatos nesses sete cursos foi de 1439, caindo em 2024 para um total de 953 candidatos. Nota-se na Figura 5a que apesar dessa forte diminuição geral de candidatos em 2024, a procura por Astronomia continuou proporcionalmente alta, atingindo 24% do total.
A procura pelo Bacharelado em Astronomia, como primeira opção, no vestibular da Fuvest. (a) Número de candidatos na carreira (hachurado vermelho) e no curso (azul). (b) Relação entre o número de candidatos e o número de vagas na carreira (vermelho) e no curso (azul). (c) Número de alunos que apresentaram TCC (linha magenta) e de alunos formados (linha laranja). Na base do gráfico é indicada a razão entre formados e ingressantes em vagas oferecidas na Fuvest (linha tracejada) e uma faixa (em ciano) mostrando a variação entre 0.5 e 1.0 desta razão.
A Figura 5b mostra a relação candidato/vaga na procura pelo curso como primeira escolha na Fuvest, que tem sido maior que 20 desde 2015. Apesar da alta pressão de entrada, a evasão é alta, assim como nos demais cursos da carreira de exatas, cujas razões são temas de análise em andamento e podem estar associadas a diversas situações. Um exemplo é o desconhecimento da população em geral de que por trás dos temas atrativos abordados pela Astronomia Moderna, trata-se de uma ciência que requer forte base e habilidades em Física, Matemática e Computação.
Outro possível problema pode estar ligado ao fato de o curso ser oferecido em período integral, dificultando as possibilidades dos alunos exercerem uma atividade profissional remunerada durante a graduação. Casos típicos de evasão foram associados a ingressantes já estabelecidos em outras carreiras, que optaram por realizar uma segunda graduação para adquirir conhecimentos nessa área tão atrativa. Embora tais alunos mais maduros demonstrarem total interesse em concluir o curso, a maioria não permaneceu por dificuldades em trabalhar e estudar simultaneamente.
De certa forma, o problema de evasão na Astronomia tem sido amenizado pelo preenchimento das vagas ociosas por meio de transferência interna, atendendo alunos de outros cursos que optaram por uma reescolha de área de atuação. Inicialmente eram disponibilizadas 3 vagas para transferência interna, crescendo para 6 atualmente, dada a alta procura, justificando assim a possibilidade de um número de ingressantes por transferência interna maior que número de vagas ociosas.
A alta evasão dos cursos de exatas é uma preocupação da universidade, bem como uma realidade nacional e internacional. É importante identificar suas causas específicas e buscar soluções. Tanto para atrair mais jovens para essas áreas de pesquisa fundamental, bem como promover sua permanência no curso. Nesse sentido, os números no curso de Astronomia têm melhorado ano a ano. A primeira formatura ocorreu em 2014, com uma razão de formados para ingressantes (F/I) ainda modesta, na casa de 30%. Mesmo assim, os números já demonstraram crescimento com relação ao antigo Bacharelado em Física com Habilitação em Astronomia, cuja relação F/I era da ordem de 20% ou menos. Essa primeira formatura da turma de Astronomia foi o marco em que o IF/USP adotou para deixar de oferecer seu bacharelado com essa especialização. De fato, dentre as várias habilitações criadas no IF no final dos anos 90, a de Astronomia foi uma das que permaneceram ativas por mais tempo.
Como pode ser visto na base da Figura 5c, em 2016 o número de formados alcançou a marca de cerca de 50% com relação aos ingressantes e tem se mantido nesta faixa desde então, com exceção aos anos de 2021 e 2022, em que a relação F/I alcançou marcas de 85% e 90% respectivamente. O gráfico da Figura 5c também mostra a boa correlação entre o número de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e o número de formados ano a ano. Embora uma pequena defasagem possa ocorrer, devido às diferenças no tempo de conclusão de cada aluno, nota-se que o número de TCCs defendidos e o número de formandos flutuou entre 6 e 8 no período de 2015 a 2019, tendo aumentado para uma faixa de 9 a 18 no período de 2020 a 2023.
Até 2023 foram defendidos 100 TCCs, na sua maioria seguindo a vertente de Pesquisa Básica (82%), e os demais se dividem entres as vertentes de Ensino e Divulgação (10%), e Ciências Espaciais, Computação e Instrumentação (8%), conforme ilustrado na Figura 6. Esses números também se refletem na distribuição de atuações onde se inserem os egressos, sendo que mais que 50% se destinaram à pós-graduação em Astronomia ou áreas afins.
Distribuição das vertentes escolhidas para o desenvolvimento do TCC (gráfico da esquerda) e distribuição por área dos TCCs da vertente Pesquisa Básica (gráficos do centro e da direita).
A Figura 7 apresenta o número de ingressantes na pós-graduação do IAG/USP, nos programas de Mestrado e de Doutorado Direto, no período de 2015 a 2024, comparando-se o número de alunos do Bacharelado em Astronomia do IAG com aqueles oriundos de outros cursos. Nos últimos 5 anos, a média de ingressantes de cada origem gira em torno de 50%, mas nota-se uma tendência de crescimento de ingressantes do IAG. Destaca-se que a Fig. 7 não representa o total de aprovados no exame de ingresso na pós-graduação, que pode ser maior que o número de vagas, como ocorrido nos resultados mais recentes dos editais do Programa de Pós-Graduação em Astronomia3. O número limitado de vagas tem sido relacionado às restrições em bolsas de pós-graduação disponíveis.
Distribuição de número de ingressantes no Mestrado e Doutorado Direto em Astronomia no IAG. As barras em azul representam os formados no Bacharelado em Astronomia do IAG (em 2019 não houve ingressantes nesse caso), e as barras em cinza mostram o número de oriundos de outros cursos.
7. Considerações Finais
Resultados além do esperado foram alcançados nesses 15 anos após a criação do Bacharelado em Astronomia. Entende-se que as dificuldades em se atrair os jovens para a carreira científica são inerentes ao próprio sistema de educação básica e os problemas que o país enfrenta no apoio e incentivo à pesquisa básica. Mesmo assim, a flexibilidade na estrutura curricular desse novo curso levou ao dobro do número de formados por ano, em média, em comparação com o que se alcançava no Bacharelado em Física com Habilitação em Astronomia. É importante destacar que tal flexibilização não levou a um nível menos elevado de aprendizado, pois o núcleo básico comum e obrigatório, que deve ser seguido por todos os alunos independente das vertentes, tem o mesmo conteúdo programático em Física e Matemática que o Bacharelado em Física, além das disciplinas específicas de Astronomia e Computação.
A confirmação da forte base adquirida por nossos egressos, habilitando-os para a pós-graduação, é o sucesso que eles têm demonstrado na prova de ingresso na pós-graduação em Astronomia (Fig. 7), que se dá pelo EUF (Exame Unificado de Física). Isso demonstra a capacitação dos estudantes para seguir a pós-graduação, tanto no IAG, como em outras instituições nacionais (por exemplo UNICAMP, IF/USP) e internacionais (por exemplo University of Leeds; Purdue University; Université de Strasbourg ), citando alguns casos.
Para os egressos que não se identificaram com a carreira acadêmica, a vantagem de ter cursado o Bacharelado em Astronomia é a de permitir aos estudantes a experiência de conhecê-la, por meio do desenvolvimento do TCC, sem que seja necessário aguardar a pós-graduação para chegar à essa descoberta. Além disso, a formação do Bacharelado permite uma atuação abrangente, em setores que necessitem de resolução de problemas, dada a diversidade de projetos que os alunos podem se envolver durante a graduação. Além de contribuir no processo formativo, tanto os projetos de pesquisa como os de extensão, que o AGA propõe ao seus alunos, são fatores importantes para estimular a permanência no curso.
Como mencionado anteriormente, há uma preocupação das coordenações de curso em diminuir a evasão. Dentre as ações que já vem sendo empregadas desde a origem do curso, o engajamento dos alunos nos grupos de pesquisa é estimulado desde o primeiro ano. Logo no início do primeiro semestre é realizado um evento de apresentação de oportunidades de Tutoria Científico-Acadêmica, Iniciação Científica (IC), Monitorias e Estágios, em muitos casos com possibilidade de bolsas da própria universidade, como do Programa Unificado de Bolsas (PUB-USP), ou de agências de fomento como CNPq (PIBIC) ou FAPESP (IC).
Além disso, destaca-se o oferecimento da disciplina optativa “Introdução à Física da Terra e do Universo”, que foi elaborada para o ingressante se adaptar ao novo ritmo de estudos; revisitar conceitos da mecânica com formalismo matemático rigoroso; e relacionar tópicos de Astronomia com os conteúdos básicos de Física em seus primeiros contatos com a área escolhida. Tal disciplina introdutória visa amenizar o fato de que os alunos são originários de diferentes escolas do ensino médio, e podem não estar preparados para o bom desempenho nas disciplinas de Física I, Cálculo I e Vetores e Geometria, que devem cursar no primeiro semestre, cujas dificuldades podem gerar desmotivação, tendendo à evasão. A partir de 2025 a disciplina passou a ser chamada “Introdução à Física e ao Cálculo”, sendo também oferecida aos ingressantes dos outros cursos do IAG.
Além de estimular uma maior aderência dos estudantes ao curso, como uma das estratégias de combate à evasão, os projetos de Cultura e Extensão também têm o importante papel de levar para a sociedade um conhecimento mais aprofundado sobre a carreira acadêmica e científica. Trata-se de uma maneira de contribuirmos para melhorar a forma que a ciência e a imagem do cientista são vistas na mídia, conforme destacado em alguns trabalhos da literatura.
Por exemplo, Elisa Arizono, em seu trabalho de Mestrado Profissional de Ensino em Astronomia [20], resume os estudos que abordam os problemas relacionados ao modelo de jornalismo científico que apresenta a imagem “sensacionalista e inatingível da ciência”. De acordo com Siqueira (2006) [21], a partir da década de 1960 o cientista é apresentado com um forte estereótipo, “associado a personagens masculinos, desvairados, sendo alvos de deboche”. Krasilchik & Marandino (2004) [22] também chamaram a atenção para a época pós-guerra em que os cientistas “perderam credibilidade junto ao público, por estarem associados aos danos causados pelos avanços científicos no setor bélico”. Tais exemplos nos levam a refletir sobre a importância de melhor divulgar nossas áreas de pesquisa e a carreira científica de uma forma mais abrangente possível.
Concluímos que ao longo desses 15 anos, nota-se que o apoio inicial aos estudantes, seja na forma de aulas de reforço, ou mesmo no estímulo a que façam parte de um grupo de pesquisa, ou atuem em projetos de extensão, tem contribuído significativamente para a permanência no curso, e também auxilia na conclusão dentro do tempo ideal. Essa maior proximidade da realidade profissional da pesquisa em Astronomia, ocorrendo desde os primeiros anos da graduação, também tem muito contribuído para o ingresso na pós-graduação no programa de Doutorado Direto, permitindo a formação de pesquisadores em tempo mais curto e com maior eficiência, considerando que, na maioria dos casos, eles já adquiriram noções da metodologia de trabalho durante a IC. São esses os principais resultados alcançados até o momento e também nossas principais metas visando a continuidade do crescimento dos números de formados em relação aos ingressantes.
Referências
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[1] OBSERVATÓRIO DO VALONGO, disponível em: https://ov.ufrj.br, acessado em: 21/07/2024.
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[2] OBSERVATÓRIO DO VALONGO, História e Memória, disponível em: https://ov.ufrj.br/historia-e-memoria, acessado em: 21/07/2024.
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[3] PARQUE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA USP, História do Parque, disponível em: https://www.parquecientec.usp.br/história-do-parque, acessado em: 28/07/2024.
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[4] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Lista de disciplinas oferecidas pelo Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, disponível em: https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/jupDepartamentoLista?codcg=14&tipo=D, acessado em: 19/01/2025.
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[5] INSTITUTO DE FÍSICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Manual do curso de Bacharelado em Física (Instituto de Física, São Paulo, 2013), disponível em: http://portal.if.usp.br/cg/sites/portal.if.usp.br.cg/files/manual_Bacharelado_2013.pdf, acessado em: 19/01/2025.
» http://portal.if.usp.br/cg/sites/portal.if.usp.br.cg/files/manual_Bacharelado_2013.pdf - [6] A. Hetem, J. Gregorio-Hetem e M. Tenório, Ombros de gigantes: história da astronomia em quadrinhos (Editora Devir, São Paulo, 2010).
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[7] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Base Nacional Comum Curricular, abril de 2018, disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/abril-2018-pdf/85121-bncc-ensino-medio/file, acessado em: 03/08/2024.
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[8] UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION, World Declaration on Higher Education for the Twenty-first Century: Vision and Action and Framework for Priority Action for Change and Development in Higher Education, adopted by the World Conference on Higher Education: Higher Education in the Twenty-first Century, Vision and Action, 9 October 1998, disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000141952, acessado em: 04/08/2024.
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[9] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Gestões anteriores, Relatório de Atividades - Gestão 2002/2005, disponível em: https://www.prg.usp.br/wp-content/uploads/Texto_Sonia_Penin_08.pdf, acessado em: 21/07/2024.
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[10] ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Projeto Político Pedagógico 2024: Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza, disponível em: http://www5.each.usp.br/wp-content/uploads/2024/11/PPP_LCN-2024-05-Jun-2024.pdf, acessado em: 19/01/2025.
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[11] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Gestões anteriores, Relatório de Atividades - Gestão 2006/2009, disponível em: https://prg.usp.br/institucional/gestoes-anteriores, acessado em: 21/07/2024.
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[14] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Pró-Reitoria de Graduação, Relatório Gestão - Quadriênio 2006/2009, Anexo 11, disponível em: www.prg.usp.br/wp-content/uploads/anexo11.pdf, acessado em: 19/01/2025.
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[16] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Censo da Educação Superior: Sinopse Estatística - 2005, disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/censo_da_educacao_superior_sinopse_estatistica_2005.pdf, acessado em: 18/01/2025.
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[17] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Trabalho de Conclusão de Curso do Bacharelado em Astronomia do IAG/USP, disponível em: https://sites.usp.br/astro_tcc, acessado em: 21/07/2024.
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» https://acervo.fuvest.br/fuvest/2024/FUVEST_2024_inscritos_por_opcao_de_curso.pdf - [20] E. Arizono, Animação como ferramenta no ensino não formal em Astronomia Dissertação de Mestrado do programa de Mestrado Profissional em Ensino de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo, São Paulo (2016).
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