Open-access Body satisfaction associated to body fat and nutritional state in young basketball players

rbefe Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Rev Bras Educ Fís Esporte 1807-5509 1981-4690 Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo The objective of this study was to compare and verify the possibility of association between body satisfaction (IC), classifications nutritional status (EN) and body fat (BF) in young basketball players male. 63 teens aged 10 to 16 years participated in the survey. The IC was evaluated by through the Body Shape Questionnaire. We collected body mass, height and skinfolds to classification the EN (kg / m²) and measure BF, respectively. ANCOVA and chi-square tests were performed using SPSS 17.0. It was identified statistically significant differences (p < 0.05) between the IC ratings EN and BF. A significant association (p < 0.05) between IC and EN was found as well as between IC and BF (p < 0.05). The results confirmed the association of IC and differences with EN and BF on basketball. Introdução O esporte infanto-juvenil, nos últimos anos, tem apresentado peculiaridades que exigem do esportista, o máximo de rendimento atlético, às vezes, em idades relativamente precoces. Atletas têm sido cobrados por treinadores, patrocinadores e pais para otimizarem a cada dia seus desempenhos esportivos. Melhorar capacidades fisiológicas, biomecânicas e psicológicas torna-se essencial para se atingir uma boa performance na maioria das modalidades esportivas(1), (2). Alguns esportes possuem características intermitentes e de tomada de decisão, devendo o atleta, aperfeiçoar tanto capacidades físicas, quanto habilidades psicológicas, como é o caso do basquetebol(3). Por sua vez, o basquetebol é uma modalidade esportiva praticada em diversos países no mundo. Os basquetebolistas costumam apresentar elevadas estaturas. Isto ocorre devido ao processo de seleção para este esporte, já que é exigido que o atleta seja alto, além de apresentar impulsão vertical aprimorada(4). Muitas vezes a estatura elevada apresenta relação com os processos de maturação/crescimento, principalmente o pico de velocidade de crescimento em estatura (PVA). Estatura elevada está associada ao aumento da massa corporal, pois geralmente, estes indivíduos apresentam maior densidade mineral óssea(4). No entanto, segundo CONTI et al.(5), elevados valores de massa corporal estão relacionados à demasiada preocupação com o corpo. A massa corporal acentuada, juntamente com as pressões e exigências encontradas no âmbito esportivo, podem gerar depreciação com o próprio corpo no atleta(5). Preocupações e depreciações com o peso e a aparência física são atribuídas ao conceito de insatisfação corporal(6), (7). A prevalência deste sentimento afetivo na população adolescente gira em torno de 60%(6), (8), (9), apresentando menores índices no sexo masculino(10). Entretanto, a ocorrência deste fenômeno no público de atletas parece ser menor(2), (11), havendo ainda inconsistência da literatura a respeito desta prevalência(12), (13), principalmente entre os meninos(14). Sabe-se que a insatisfação corporal pode proporcionar o desencadeamento de efeitos deletérios a saúde(1), (15). Autores argumentam que a insatisfação com o corpo é sintoma de primeira ordem no aparecimento de conduta alimentar anormal(12), (16), podendo esta, resultar em síndromes psicológicas como é o caso dos transtornos alimentares (TAs)(11), (13), (17). Vale ressaltar, ainda, que de acordo com a literatura científica(5), (18), os basquetebolistas do sexo masculino estão mais vulneráveis ao desencadeamento de TAs em comparação aos atletas de outras modalidades esportivas, o que justifica a realização de investigações com este público. Sexo feminino, faixa etária adolescente, etnia branca e os estratos mais altos da sociedade são apresentados pela literatura científica como possíveis fatores de risco no surgimento de insatisfação corporal(16), (19). Além destes, a gordura corporal elevada e o estado nutricional inadequado também têm sido associados à insatisfação corporal em adolescentes(6), (8), (9), (20). Entretanto, grande parte dos estudos foram desenvolvidos somente com a população de escolares, geralmente utilizando o sexo feminino como amostra(8), (9). Por isso, a população de atletas adolescentes, principalmente do sexo masculino, não tem sido devidamente avaliada no que diz respeito a variáveis afetivas ou comportamentais. Vale destacar, ainda, que evidenciar se a satisfação corporal está ou não associada a composição corporal em jovens basquetebolistas ajudaria treinadores na identificação do problema. Diante do exposto acima, o objetivo do presente estudo foi comparar e verificar a possibilidade de associação entre a satisfação corporal, as classificações de estado nutricional e a gordura corporal em jovens basquetebolistas do sexo masculino. Método Participantes Trata-se de um estudo transversal realizado no ano de 2011 com jovens atletas do sexo masculino, vinculados a três clubes de basquetebol da cidade de Três Rios/RJ, com idade entre os 10 e 16 anos. Os sujeitos constituem inicialmente 105 indivíduos, inscritos e participantes de competições na Federação de Basquetebol do estado do Rio de Janeiro (FBERJ). Para o cálculo da amostra, adotou-se percentual máximo de 15% para insatisfação corporal a partir dos achados de FORTES e FERREIRA(5) e FORTES et al.(21), utilizando a equação de FIELD(22), que considera erro relativo tolerável de cinco pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%, obtendo-se um tamanho amostral estimado de 69 adolescentes. Para participar do estudo, os sujeitos deveriam apresentar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) assinado pelo responsável, treinar sistematicamente basquetebol pelo menos cinco vezes na semana com duração mínima de duas horas por sessão, além de ter participado de alguma competição no ano de 2011. Desta forma, foram avaliados 99 indivíduos. No entanto, seis atletas foram excluídos da pesquisa por não responderem os questionários em sua totalidade ou não participarem das aferições antropométricas. Portanto, a amostra final do estudo foi constituída por 93 jovens. Instrumentos Satisfação corporal Avaliou-se por intermédio do Body Shape Questionnaire (BSQ). Trata-se de uma escala autoreportada constituída por 34 perguntas que se propõem avaliar a preocupação com o peso e a forma física. O BSQ é uma escala do tipo likert com seis opções de resposta para cada questão (Nunca = 1 até Sempre = 6). Ele classifica níveis de insatisfação a respeito do corpo, sendo: < 80 pontos livre de insatisfação corporal, entre 80 e 110 leve insatisfação, entre 110 e 140 insatisfação moderada e pontuações acima de 140 grave insatisfação corporal, ou seja, quanto maior o escore, maior a insatisfação com o corpo. A versão utilizada foi validada para adolescentes brasileiros(20) e sua análise de consistência interna revelou alpha de Cronbach de 0,96 e coeficiente de correlação entre os escores do teste-reteste significativo. Calculou-se a consistência interna para a presente amostra, identificando-se valor alpha de 0,87. Antropometria Foram coletadas massa corporal, estatura e dobras cutâneas (subescapular e triciptal). Utilizaram-se os procedimentos descritos pela Internacional Society for Advancement for Kineanthropometry (ISAK)(23). A massa corporal e a estatura foram mensuradas com os avaliados descalços e com o mínimo de roupa. Utilizou-se uma balança eletrônica portátil da marca Tanita, com precisão de 0,1 kg, para a massa corporal, e um estadiômetro portátil, com precisão de 0,5 cm, da marca Tonelli, para a estatura. Essas variáveis foram mensuradas uma única vez. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido pela razão entre massa corporal (kg) dividido pelo quadrado da estatura (m). A classificação do estado nutricional foi obtida mediante os pontos de corte do IMC estabelecidos pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE(24), que os separa por intermédio do percentil (5, 85 e 95) em quatro grupos contrastes segundo sexo e idade cronológica: baixo peso (percentil ≤ 5), eutrófico (percentil > 5 e < 85), sobrepeso (percentil ≥ 85 e < 95) e obeso (percentil ≥ 95). As medidas das dobras cutâneas foram efetuadas em triplicata, de forma não consecutiva. Estas foram mensuradas com plicômetro da marca Lange com a precisão de 1 mm. Estas medidas foram realizadas do lado direito do corpo. A medição da dobra cutânea do tríceps foi feita na parte posterior do braço, no ponto médio entre o processo acromial e o olécrano. A medição da dobra cutânea subescapular foi realizada 2 cm abaixo do ângulo inferior da escapula a uma inclinação de 45o em relação ao lado do corpo. Para os cálculos da percentagem de gordura (%G), utilizou-se a equação de predição proposta por SLAUGHTER et al.(25). Determinou-se a gordura corporal pelo percentual de gordura. A classificação dessa variável foi atribuída pelos pontos de corte estabelecidos por LOHMAN(26), que levam em consideração o sexo do sujeito. Juntaram-se as classificações "muito baixo" e "baixo" denominando o grupo "baixo"; "moderadamente alto", "alto" e "muito alto" denotando o grupo "alto". Procedimentos Os procedimentos foram realizados no horário do treinamento das equipes em dois dias subsequentes. Todos os clubes disponibilizaram salas e ambientes para proceder tais avaliações. As coletas do questionário foram realizadas por apenas um pesquisador. Este ficou responsável pela aplicação destes instrumentos no primeiro momento. O segundo encontro destinou-se as aferições antropométricas (massa corporal, estatura e dobras cutâneas), cuja realização ficou restrita ao mesmo pesquisador com experiência neste tipo de avaliação. Salienta-se que as aferições antropométricas foram realizadas no período da tarde, mais especificamente, entre 15 e 17 h para todos os atletas. No primeiro encontro aplicou-se o instrumento BSQ. O questionário foi entregue aos atletas que receberam a mesma orientação verbal. A orientação escrita dos procedimentos adequados constava no mesmo. Eventuais dúvidas foram esclarecidas pelo responsável pela aplicação deste instrumento. Os sujeitos do estudo não comunicavam entre si. Efetuou-se a distribuição do questionário no momento que os atletas adentravam no ambiente (sala) e o preenchimento deste constituiu-se de caráter voluntário. Não houve limite de tempo para preenchê-lo. No segundo momento os atletas foram conduzidos para aferição das variáveis antropométricas. A entrada dos atletas na sala de avaliação foi individualizada, permitindo-se outro sujeito adentrar no ambiente somente após seu colega de equipe retirar-se do recinto. Todos os procedimentos somente foram realizados após aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora, recebendo parecer n. 232/2010, de acordo com a resolução 196 de 1996. Análise estatística Em razão do teste Kolmogorov-Smirnov não indicar violação paramétrica dos dados, utilizaram-se medidas de tendência central (média e desvio padrão) para descrever as variáveis idade, IMC, percentual de gordura e satisfação corporal. Foi conduzida análise univariada de covariância (ANCOVA), utilizando idade como covariável, para comparar a satisfação corporal entre classificações de estado nutricional e gordura corporal. Conduziu-se o Qui-quadrado de Pearson para associar as variáveis dicotômicas do estudo (satisfação corporal, gordura corporal e estado nutricional). Para isso, as classificações de insatisfação corporal do BSQ (leve, moderada e grave insatisfação) foram agrupadas em "insatisfeito". Todos os dados foram tratados no "software" SPSS versão 17.0, incutindo-se nível de significância de 5%. Resultados Os achados indicaram prevalência de 11% para a insatisfação corporal. No tocante ao estado nutricional, os resultados apontaram 16% dos basquetebolistas com baixo peso, 47% eutróficos, 19% e 18% com sobrepeso e obesidade, respectivamente. Concernente à gordura corporal, foram identificados 19% com classificação "baixo", 51% "normal" e os 30% restantes classificados como "alto". Os dados descritivos (média e desvio padrão) das variáveis idade, IMC, percentual de gordura e satisfação corporal estão ilustrados na TABELA 1. TABELA 1 Idade, percentual de gordura, índice de massa corporal e satisfação corporal dos basquetebolistas avaliados. Variável Média (Desvio padrão) Idade 14,91 (± 7,00) Percentual de gordura 22,19 (± 9,85) Índice de Massa Corporal 22,04 (± 3,78) BSQ 68,98 (± 26,60) BSQ = Body Shape Questionnaire. A TABELA 2 apresenta a comparação da satisfação corporal de acordo com o estado nutricional e a gordura corporal dos atletas de basquete. Atletas com baixo peso e/ou eutróficos demonstraram maior satisfação com o peso e a aparência física quando comparados aos obesos (p < 0,05). Estes achados não se replicaram para atletas classificados com sobrepeso. Ademais, os basquetebolistas com baixa e média gordura corporal apresentaram maior satisfação com o corpo em relação a jovens com alto perfil de gordura corpórea (p < 0,05). TABELA 2 Padrão da satisfação corporal (BSQ) segundo estado nutricional e gordura corporal dos basquetebolistas avaliados. Variável n BSQ Estado nutricional Baixo Peso 15 62,00 (± 7,00)d Eutrófico 43 63,43 (± 23,95)d Sobrepeso 18 72,80 (± 20,57) Obeso 17 108,17 (± 24,03)a,b Gordura corporal Baixo 18 50,66 (± 11,5)g Normal 28 57,20 (± 6,23)g Alto 47 76,98 (± 4,24)e,f a p < 0,05 em relação ao grupo "baixo peso"; b p < 0,05 em relação ao grupo "eutrófi co"; d p < 0,05 em relação ao grupo "obeso"; e p < 0,05 em relação ao grupo "baixo"; f p < 0,05 em relação ao grupo "normal"; g p < 0,05 em relação ao grupo "alto". Encontrou-se associação significativa (p < 0,05) entre satisfação corporal e estado nutricional (TABELA 3), assim como entre satisfação corporal e gordura corporal (p < 0,05) (TABELA 4) em jovens basquetebolistas. Grande parte dos atletas (57,14%) satisfeitos com sua aparência física estavam classificados como eutróficos a respeito de seu estado nutricional (p < 0,05). Em relação à gordura corporal, todos os basquetebolistas (33,3%) insatisfeitos com o corpo apresentavam alto perfil de gordura corporal (p < 0,05). TABELA 3 Frequência relativa de (in)satisfação corporal segundo estado nutricional dos basquetebolistas avaliados. Baixo peso Eutrófico Sobrepeso Obeso p valor Insatisfação corporal Insatisfeito 28,62% 0% 11,11% 7,9% 9,52% Satisfeito 71,38% 7,9% 57,14% 4,76% 1,58% p < 0,05* Total 100% 7,9% 58,25% 72,66% 11,1% * Associação significativa pelo teste quiquadrado. TABELA 4 Frequência relativa de (in)satisfação corporal segundo gordura corporal dos basquetebolistasavaliados. Baixo Normal Alto p valor Insatisfação corporal Insatisfeito 33,33% 0% 0% 33,33% Satisfeito 66,67% 12,69% 28,57% 25,39% p < 0,05* Total 100% 12,69% 28,57% 58,72% * Associação significativa pelo teste quiquadrado. Discussão O presente estudo teve como premissa comparar e verificar a possibilidade de associação entre a satisfação corporal, as classificações de estado nutricional e a gordura corporal em jovens basquetebolistas do sexo masculino. As síndromes derivadas da excessiva preocupação com o corpo estão se convertendo numa verdadeira epidemia(8), (15). Entretanto, desejar uma imagem corporal perfeita não implica sofrer de uma doença mental, mas aumenta as possibilidades de que esta apareça(5), (19). O ambiente atlético parece potencializar estes riscos(3), (13), (27). A cultura esportiva para algumas modalidades coloca grande ênfase na magreza e em corpos com delineamento muscular perfeito(28). No entanto, a genética não é favorável para se atingir esta estética para muitos destes sujeitos, o que faz com que cada vez mais os atletas se sintam incomodados com o peso e a aparência física. Atualmente, pesquisas no âmbito esportivo têm sido desenvolvidas associando fatores considerados de risco como possíveis desencadeadores de comportamentos inadequados (alimentação)(3), (13). Alguns achados apontam os traços da personalidade (perfeccionismo), a baixa autoestima e a depressão como variáveis negativas para o surgimento de tais comportamentos(3), (12). No entanto, raros estudos se propuseram avaliar sentimentos afetivos (insatisfação corporal) no público de atletas brasileiros(2), (5), (29). Ademais, não se identificou pesquisa que tenha associado e comparado as classificações antropométricas depreciadas na cultura ocidental (IMC e gordura corporal)(6) com a satisfação corporal nestes indivíduos. Portanto, estima-se que este seja o primeiro estudo no Brasil a ser realizado com estas características. Os principais achados da presente pesquisa foram: 1) encontrar menor satisfação corporal em basquetebolistas obesos e com alto percentual de gordura; 2) identificar associação da satisfação corporal com o estado nutricional e a gordura corporal. Percebeu-se que a maioria dos basquetebolistas satisfeitos com o corpo eram eutróficos (57,14%) e todos os sujeitos insatisfeitos apresentaram alta gordura corporal (33,33%). Os resultados do presente estudo evidenciaram que atletas classificados como obesos por meio dos pontos de corte do IMC eram mais insatisfeitos com o corpo do que basquetebolistas com baixo peso e eutróficos. Apesar de não encontrar-se diferença estatisticamente significativa nas pontuações do BSQ de atletas com sobrepeso e sujeitos com estados nutricionais de baixo peso e eutrofia, identificou-se pequena tendência. Indivíduos com sobrepeso/obesidade apresentaram maior insatisfação com o peso e a aparência física quando comparados aos atletas com menores valores de IMC. Parece que em atletas de basquete do sexo masculino, as diferenças de satisfação corporal segundo o estado nutricional foram semelhantes aos achados descritos com amostras de escolares deste mesmo sexo(6), (10). Por outro lado, autores sugerem que indivíduos que praticam atividade física sistemática costumam apresentar maiores índices de satisfação corporal, independente do estado nutricional(1), (14), (19). Remetendo-se a comparação das pontuações do BSQ entre as classificações de gordura corporal, o presente estudo apresenta resultados interessantes. Evidenciou-se que atletas com elevada composição de gordura corporal eram mais insatisfeitos com o corpo quando comparados aos esportistas inseridos nas classificações de gordura corporal "baixo" e "normal". Ademais, assim como ocorreu com o estado nutricional, também se identificou tendência nas pontuações de satisfação corporal entre as classificações da gordura corporal. Apesar da não significância estatística, percebeu-se que basquetebolistas com composição de gordura "normal" apresentaram maiores pontuações do BSQ em relação ao grupo "baixo". FILAIRE et al.(13) encontraram achados semelhantes aos do presente manuscrito, pois identificaram que pontuações em subescalas de insatisfação corporal eram significativamente maiores em ciclistas e judocas que apresentavam maior perfil de gordura corporal. Em relação à satisfação corporal e o estado nutricional, o teste qui-quadrado mostrou associação significativa entre estas variáveis dicotômicas em basquetebolistas adolescentes. Parece que as classificações inadequadas de estado nutricional (sobrepeso/obeso) influenciaram negativamente a prevalência de satisfação corporal em jovens atletas de basquetebol. Além disso, grande parte dos esportistas eutróficos mostraram satisfação com seus corpos. Entretanto, estudos têm apontado hipóteses residuais. KRENTZ e WARCHSBURGER(28) salientam que valores elevados de IMC não remetem necessariamente a preocupações corporais em atletas de esportes de equipe com bola, como é o caso do basquetebol. Por outro lado, TORSTVEIT e SUNDGOT-BORGEN(1) afirmam que o nível competitivo, juntamente com as pressões de treinadores no anseio por melhores resultados são os principais agentes negativos para despertar depreciações com a aparência no atleta. Talvez, a satisfação com o corpo nestes jovens esteja mais atrelada ao rendimento esportivo. Pesquisas mostram que quando o atleta não consegue otimizar seu rendimento atlético, este apresenta-se insatisfeito com sua aparência física, independente de suas características morfológicas(11), (29). Agora remetendo a relação entre satisfação e gordura corporal, encontrou-se associação significativa entre estas variáveis. Todos os atletas insatisfeitos com o corpo estavam inseridos no grupo "alto" de gordura corporal. Estes resultados corroboram achados de outros autores(13), inclusive em pesquisas envolvendo escolares(8), (9). KRENTZ e WARCHSBURGER(28) explicam que a gordura corporal é a principal característica morfológica depreciada em atletas, pois os esportistas associam o baixo percentual de gordura com o elevado rendimento esportivo, independente da modalidade praticada. O presente estudo procurou preencher uma lacuna do conhecimento existente na literatura. Entretanto, esta pesquisa apresentou limitações que merecem ser destacadas. A principal foi utilizar instrumento autoaplicável, pois indivíduos podem não responder com fidedignidade a esta ferramenta de pesquisa. Portanto, os resultados podem não refletir a realidade do contexto avaliado, visto que o resultado final é fruto de respostas subjetivas. Acrescentando, trata-se de uma pesquisa com delineamento transversal e por este motivo, possui baixa capacidade para estabelecer relações de causa e efeito, tendo em vista que a coleta de dados sobre fatores de risco e o desfecho foi realizada simultaneamente e, portanto, dificulta o conhecimento da relação temporal existente entre eles. Além disso, autores não sugerem a utilização do IMC como critério de corte para sobrepeso/obesidade em atletas(1). De qualquer forma, este estudo acrescenta à literatura algumas questões relevantes sobre a (in)satisfação corporal em basquetebolistas adolescentes brasileiros do sexo masculino que, até então, não havia sido explorada. Diante das reflexões descritas acima, os resultados do presente estudo confirmam a existência de associação da satisfação corporal com o estado nutricional e a gordura corporal em jovens basquetebolistas, além de identificar diferenças de pontuações do BSQ entre grupos contrastantes destas variáveis dicotômicas. Do ponto de vista acadêmico, os resultados desta pesquisa indicam a necessidade de se discutir sobre os padrões corporais vigentes. De acordo com FORTES et al.(21), até mesmo os atletas parecem se preocupar com a gordura corporal, talvez, mais do que o desempenho esportivo. Assim, os basquetebolistas com sobrepeso ou gordura corporal avantajada podem gerar sentimentos depreciativos com o corpo em razão do que a mídia costuma preconizar, mais especificamente, corpos magros e com musculatura bem delineada(10). Neste sentido, BAUM(17) ressalta que embora os atletas devam se preocupar em maximizar o desempenho esportivo, é possível a estética corporal ser o atributo mais importante para este público. Ademais, os achados da presente pesquisa evidenciam a necessidade de acompanhamento de psicólogos no processo de ensino-aprendizagem-treinamento de jovens basquetebolistas do sexo masculino de Três Rios/RJ. Talvez, aconselhamentos destes profissionais possam prevenir o surgimento de síndromes psicológicas em esportistas com idades relativamente precoces. Além disso, faz-se necessário que treinadores de equipes de jovens tenham conhecimento a respeito de fatores de risco associados a variáveis afetivas e comportamentais, a fim de minimizar possíveis efeitos deletérios a saúde psicológica dos atletas. Programas de avaliação e orientação, tanto psicológica, quanto nutricional, são necessários no âmbito esportivo. Estas iniciativas devem ser desenvolvidas com o caráter de prevenção e detecção de doenças como os TAs em atletas. Sugere-se que sejam realizadas mais pesquisas nesta população com características semelhantes a este estudo, englobando outras modalidades esportivas e averiguando se o tipo de esporte exerce influência sobre variáveis afetivas. 1. 1. Torstveit MK, J Sundgot-Borgen. The female athlete triad exists in both elite athletes and controls. 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