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EDITORIAL

O sentimento de baixo nível de qualificação oferecido pelos cursos de graduação em Medicina, no nosso país, foi pouco a pouco se tornando claro para os que participam do processo de formação médica.

O surgimento da pós-graduação, sensu stricto, foi visto de início, como solução mágica, que permitiria formar médicos de alta qualificação. Estruturado, na maioria das vezes, dentro de instituições já assoberbadas com problemas a nível de graduação, não deu resposta ao que se esperava. O grande número de alunos que não termina suas teses permite inferir causas determinantes: falta de condição do alunado para atingir os objetivos propostos, dificuldades materiais, escassez de orientadores em qualidade e quantidade.

A pós-graduação, entretanto, passou a ser "status" tanto para instituições, como para professores e alunos. Os cursos de formação passaram a ser vistos como algo menor, o que passou a agravar ainda mais suas deficiências. O tempo de for mação se alongando cada vez mais - seis anos de graduação, dois de mestrado, três de doutorado - sem resultados compensadores.

Em um país pobre como o nosso não é simplesmente aumentando o tempo de formação que o problema será resolvido, principalmente quando se torna caro que esse prolongamento não é acompanhado de bons níveis de preparação. O tempo de estudo, durante o período de formação, não é devidamente aproveita do: períodos de férias extremamente longos, currículos freqüentemente questionados e não adequados à prática que será exercida.

Ora, se tomarmos em consideração as condições econômicas de nossa população, veremos que poucos são os que podem se dedicar por longo período de vida exclusivamente ao estudo. O homem tem um tempo de vida e sua realização tem que se fazer em função desse tempo.

Ê possível esperar tanto tempo para formar um médico?

É necessário todo esse tempo?

Em que pese o esforço dos órgãos financiadores, que oferecem bolsas de estudo, essas não podem resolver o problema financeiro da maioria dos pós-graduados, que procura completar as bolsas com plantões ou outro tipo de trabalho. Em conseqüência trabalho e estudo ficam, forçosamente, prejudicados.

E necessário, portanto, não transformar cursos de Medicina em preparatório para Pós-Graduação, mas, sobretudo, reforçar sua função básica - preparar alunos para o exercício da prática profissional. E, pois, imperativo que o médico recém-formado esteja em condições de trabalhar, prover seu sustento e servir à população.

Lem remos, ainda, que sem Graduação satisfatória é difícil haver êxito na Pós-Graduação. E, portanto, ponto pacífico que, ao receber seu diploma, o Médico esteja preparado para realizar um trabalho produtivo.

Luiz Fernando Ferreira
Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 1978
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