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Dos Objetivos da Psicologia Médica

Resumo:

Apresentam-se dados de uma pesquisa realizada há 20 anos e que envolveu 569 sextanistas de oito escolas médicas. Naquele estudo, 90% dos estudantes assinalaram que conhecimentos de Psicologia e Psiquiatria eram importantes para melhor atendimento dos pacientes na especialidade que haviam escolhido. Isso também foi assinalado por 97 a 100% dos sextanistas da faculdade de Medicina de Rio Preto em estudos mais recentes. Todos os primeiranistas dessa escola também consideram importante a Psicologia no currículo médico e apresentam razoes para essa inclusão. Segundo a autora, essas opiniões podem ser vistas como um estímulo para professores dessa área. A autora apresenta, de modo conciso, os objetivos da Psicologia aplicada à Medicina, ressaltando sua importância na formação de médicos da pessoa.

Palavras-chave:
Psicologia médica - objetivos; Educação médica; Ensino de psicologia aplicada à Medicina

Summary:

The author reports a study carried out 20 years ago, involvindo 569 graduates from 8 Medical Schools; in that investigation, 90% of the students stated that knowledge of Psychology and Psychiatry was important for a better patient assistance in the specialty thei had chosen, This continues to be true for 97 up to 100% of the graduates from Rio Preto Medical School, in more recent studies. All of the first year students also find Psychology an important discipline in Medical School and give reasons for their statement. The author summaraizes the objectives of Psychology applied to Medicine. It is also emphasized that it is a valuable tool for the making of better physicians.

Keywords:
Medical psychology - objectives; Medical education; Teaching psychology in medical school

Provavelmente, os professores de Psicologia Médica concordam sobre a importância do ensino dessa disciplina em nossas faculdades. Porém o que pensam disso nossos estudantes de Medicina, “ontem” e hoje?

PENSAMENTO DO ALUNO

Há cerca de 20 anos, fizemos esta pergunta como parte de uma pesquisa entre 569 doutorandos de oito-escolas médicas (quatro da capital e quatro do interior) do estado de São Paulo11. CRUZ, E. M. T. N. Escolha da especialidade em Medicina. Tese de Doutorado, Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Campinas, 1976.: conhecimentos de Psicologia Médica e Psiquiatria são importantes para melhor atendimento do paciente na especialidade que você escolheu? Mais de 90% responderam sim.

Em nossa escola, na Faculdade de Medicina de Rio Preto, em questionários que continham, entre outras, essa mesma pergunta, aplicados a sextanistas em 1981, 1984 e 1996, continuamos obtendo de 97 a 100% de respostas afirmativas.

Pensamos que essas opiniões são estímulo e razão suficientes para que estejamos atentos e discutindo, entre nós, a melhor forma de desempenhar nossa função de formadores.

Nossos alunos já nos dão indicações sobre os objetivos do curso de Psicologia Médica. Ao inquirirmos primeiranistas do curso médico, em nossa escola, sobre se incluiriam ou não Psicologia Médica no currículo, verificamos que 100% responderam que sim pelos seguintes motivos, resumidamente: "para melhor conhecimento de si mesmo e do outro", "melhor relação médico-paciente", "visão mais global do doente" e "melhor compreensão das doenças ditas psicossomáticas".

PENSAMENTO DO PROFESSOR

Cremos que o que vamos expor seja semelhante ao que pensam outros docentes da área. Poderíamos, sim, resumir os objetivos:

  1. Sensibilizar e capacitar o aluno n visualizar o Homem atrás dos sintomas, valorizando os aspectos biopsicossociais do binômio doença-doente;

  2. Exercitar o estudante para melhor percepção do paciente e dos fenômenos que ocorrem na relação médico-paciente, reconhecendo a importância dessa interação e seu poder e influência no diagnóstico e evolução da "doença";

  3. Propiciar conhecimento ao aluno e treiná-lo na prática de observação e anamnese mais abrangentes;

  4. Iniciar sua habilitação para reconhecer os principais transtornos emocionais do paciente, para manejo e/ou encaminhamento mais adequados;

  5. Facilitar o processo de adequação do aluno à escola, à carreira, à vida.

Temos o privilégio de ensinar alunos que, em qualquer especialidade que escolham - e, parece-nos, que desde sua entrada na Universidade -, consideram nossa disciplina importante. Em geral, somos os primeiros a lhes falar do Homem, em meio nos estudos de biomoléculas, ossos e reações químicas.

Devolvemos ao corpse a alma e nos ocupamos da Medicina viva. Temos a oportunidade de lhes desvendar - bem nesse sentido de “tirar as vendas” -, atrás dos sintomas, o paciente e o complexo emaranhado que o faz cúmplice de seu desconforto.

Mostramos aos alunos a importância da sua relação com o paciente, o médico como pai, perito, mágico, muitas vezes com poder de morte e vida.

Mostramos a necessidade de a ética exercitar uma postura ética.

Somos os primeiros a lhes mostrar e, por vezes, a conter­lhes as vicissitudes do Homem (paciente-aluno-professor-médico), com suas onipotêndas-onifulências, suas limitações e ansiedades.

Talvez seja pretensão nossa assumir tantas funções, mas devemos nos preparar para enfrentá-las, pois somos importantes na formação desses alunos.

AMPLIANDO OS OBJETIVOS

Nossa responsabilidade aumenta à medida que tomamos consciência de que os alunos também solicitam de nós, como já mencionamos, "maior conhecimento de si e do outro" e que recebemos pedidos de ajuda e orientação para eles próprios. Portanto, os objetivos se ampliam para abranger a necessidade de facilitar para o aluno o processo de adaptação à vida.

Segundo o nosso pensamento, a saúde da instituição, com relação ao aluno, não é só ausência de reprovações ou de condutas indesejáveis, mas é também melhor adequação do aluno à escola e ao meio22. CRUZ, E. M. T. N. Formando médicos da pessoa: O resgate das relações médico-paciente e professor-aluno. Aprovado para publicação. Rev. Bras. Educ. Méd..

São necessários "espaços verdes", opcionais para pequenos grupos com tutor, para a discussão de suas dúvidas ou a exposição e o debate de temas ou questões que surjam espontaneamente, no "aqui e agora".

Cabe aos professores de Psicologia Médica estimular, em sua instituição, como já ocorre em várias escolas, a criação de um centro de atendimento ao aluno, com professores não­docentes que estejam disponíveis para orientação e, se necessário, encaminhamento específico.

Ainda pensando na orientação do aluno como médico e como homem, alteramos, em 1977, o conteúdo programático: por meio de discussões em classe, percebemos muitas dúvidas dos alunos com relação à sexualidade e a falta de conhecimento adequado da fisiologia do orgasmo, disfunções e métodos anticoncepcionais. Decidimos, então, introduzir conteúdos de sexologia humana, atualmente oferecidos ao segundo ano médico, com boa receptividade do alunado.

Nossa experiência como aluna e residente na USP - Ribeirão Preto e durante os 26 anos em que ministramos Psicologia Médica em Rio Preto reforça nossa crença na importância dessa disciplina como instrumento na formação de médicos da pessoa.

É necessário ampliar a Psicologia Médica dos anos básicos para as demais séries do curso clínico e do internato, a fim de formar um profissional que privilegie dados da história de vida de seu paciente, que considere o ambiente sócio-cultural em que este se insere, e não só os sinais e exames do caso do "leito tal". Enfim, um, médico que, sem muita angústia, contenha a angústia do paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1
    CRUZ, E. M. T. N. Escolha da especialidade em Medicina. Tese de Doutorado, Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Campinas, 1976.
  • 2
    CRUZ, E. M. T. N. Formando médicos da pessoa: O resgate das relações médico-paciente e professor-aluno. Aprovado para publicação. Rev. Bras. Educ. Méd.
  • 1- Apresentado em Painel no 1° Encontro de Professores de Psicologia Médica. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, setembro de 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 1998
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