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RESENHA BIBLIOGRÁFICA

ROUQUAROL, Maria Zélia. . Epidemiologia e saúde. Fortaleza, UNIFOR, CNPq, 1983.

ROUQUAROL, Maria Zélia. Epidemiologia e saúde. Fortaleza, UNIFOR, CNPq, 1983.

Os livros, como as pessoas, têm personalidade própria. Em verdade, o rigor científico com que é escrito um livro deste tipo não deve permitir que o Autor seja devorado pelas próprias personagens que atuam, por exemplo, sobre o romancista roubando-lhe muitas vezes todo seu projeto inicial.

Mesmo assim Zélia, como qualquer pessoa de sua sensibilidade, deixou-se envolver pelos seus personagens, no caso os números, os indicadores, as variáveis e tudo o mais que dá forma, substância e movimento a seu livro. O livro por ela gerado no âmago de sua extrema ternura de mulher voltada simultaneamente para a vida e para a ciência, é muito dela apesar das excelentes colaborações de outros autores.

Nos primeiros capítulos a Autora procura ser fria, cientificamente fria, expondo com muita propriedade, em linguagem simples e didática, o mundo profundo de uma Epidemiologia criada pelos pesquisadores do hemisfério norte distantes do doloroso processo de desenvolvimento social que atravessa o Terceiro Mundo.

Na “História Natural da Doença”, embora descreva duas vertentes condutoras do processo mórbido, à moda dos “clássicos” epidemiologistas das sociedades afluentes, a Autora complementa: O homem “é produtor das condições sócio-econômicas favorecedoras das anomalias ecológicas predisponentes”... e, agora, conduzida pelos seus personagens (os números, os indicadores, as variáveis) completa ... “e de algum dos agentes diretamente responsáveis por doenças”. O que a Autora deixou de dizer é que o Homem vive em um contexto político e social que o expõe inapelavelmente às agressões de ordem física e biológica. Esta é a única vertente que dá origem ao processo mórbido que, não sendo “natural”, constitui, sim, a “História Social de Doença.”

Em vários outros trechos do livro a Autora, abandonando a gelidez dos fatos, é comandada pelos seus personagens, quando, por exemplo, à página 95, escreve sobre a “pobreza crônica” como fator de manutenção da esquistossomose no nordeste do Brasil. Também, à página seguinte”... os detentores do poder nas indústrias”... são responsabilizados pelo que vem ocorrendo com a poluição ambiental em Cubatão.

Seus personagens são, entretanto, reprimidos à página 58, quando, com perfeição técnica, a Autora apresenta, acriticamente, a tendência secular da mortalidade infantil, através da equação de regressão, em Fortaleza, fazendo com que o leitor desavisado acredite que o declínio acentuado da curva exprime de fato, uma melhoria das condições gerais de saúde da comunidade daquela cidade!

Nos capítulos 11 e 13 o livro retoma seus verdadeiros personagens mostrando com rude clareza as relações entre doença e seus determinantes de ordem econômica, social e política.

O livro de Zélia deve figurar nas estantes de todos aqueles que sentem necessidade de rever seus conhecimentos sobre a Epidemiologia. Creio que será também muito útil aos estudantes de graduação na área das ciências da saúde.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1984
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