Open-access Avaliação da ingestão de nutrientes antioxidantes pela população brasileira e sua relação com o estado nutricional

RESUMO:

Introdução:  O estudo dos antioxidantes dietéticos tem ganhado destaque em função da elucidação dos efeitos deletérios do estresse oxidativo ao organismo. Objetivo: Avaliar a ingestão de nutrientes antioxidantes pela população brasileira e sua relação com o estado nutricional.

Métodos:  Realizou-se um estudo transversal com coleta de dados secundários do consumo alimentar de 33.459 indivíduos de ambos os sexos, de 10 ou mais anos, de todas as regiões do Brasil, a partir dos microdados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008 - 2009), Inquérito Nacional de Alimentação. Foram analisados os teores das vitaminas E, A e C, zinco, manganês, cobre e selênio de 188 itens alimentares, divididos em 12 grupos, conforme a forma habitual de consumo. As médias de ingestão dos nutrientes antioxidantes de acordo com o estado nutricional foram comparadas por meio do teste t de Bonferroni.

Resultados:  Foram observados maiores percentuais de ingestão insuficiente para as vitaminas do que para os minerais antioxidantes. Notou-se diferença significativa na ingestão da vitamina E em relação ao estado nutricional, sendo que a ingestão por indivíduos com excesso de peso foi inferior em relação aos com peso adequado. Verificou-se que os indivíduos com baixo peso apresentaram menor ingestão de quase todos os minerais antioxidantes, exceto o cobre, em que a ingestão por indivíduos com baixo peso foi igual à ingestão por aqueles com peso adequado.

Conclusão:  Elevados percentuais de ingestão insuficiente de nutrientes antioxidantes foram observados na população estudada, especialmente para as vitaminas. Além disso, a ingestão de nutrientes antioxidantes variou conforme o estado nutricional, o sexo e o estágio de vida.

Palavras-chave: Vitaminas; Minerais; Antioxidantes; Consumo alimentar; Estado nutricional; Dieta

ABSTRACT:

Introduction:  The study of dietary antioxidants has gained prominence owing to the elucidation of the deleterious effects of oxidative stress to the human body. Objective: To evaluate the Brazilian population’s intake of antioxidant nutrients and their association with the nutritional status.

Methods:  A cross-sectional study was carried out including secondary data on food consumption of 33,459 individuals from both sexes, aged 10 years or older, from all Brazilian regions based on microdata of the “2008-2009 Household Budget Survey, Brazilian Dairy Survey.” The content of vitamins E, A, and C; zinc; manganese; copper; and selenium from 188 food items, divided into 12 groups, according to the habitual consumption form was analyzed. The means of antioxidant nutrient intake according to the nutritional status were compared using Bonferroni’s t-test.

Results:  Higher percentages of insufficient intake of vitamins than antioxidant minerals were seen. A significant difference in the intake of vitamin E as to the nutritional status was noticed, wherein the intake in overweight individuals was lower than in those with proper weight. Participants with low weight presented lower intake of almost all antioxidant minerals, except for copper, in which the intake of participants with low weight was equal to those with normal weight.

Conclusion:  High percentages of insufficient intake of antioxidant nutrients were observed in the studied population, especially vitamins. It was also found that the intake of antioxidant nutrients varied based on nutritional status, gender, and life stage.

Keywords: Vitamins; Minerals; Antioxidants; Food consumption; Nutritional status; Diet

INTRODUÇÃO

Certos nutrientes e componentes alimentares têm se destacado em função de sua atividade antioxidante, ou seja, com capacidade de transformar e/ou diminuir a ação de oxidação dos radicais livres, impedindo seus efeitos danosos ao organismo1. O desequilíbrio na produção de radicais livres e na remoção destes pelas defesas antioxidantes, definido como estresse oxidativo, pode causar danos celulares ao atacar membranas, ácidos nucleicos, proteínas e polissacarídeos, levando a alterações funcionais e ao desenvolvimento de diversas doenças2.

Embora o organismo possua defesas antioxidantes endógenas efetivas para o combate ao excesso de radicais livres, tais como as enzimas superóxido-dismutases, peroxidades, catalases e glutationa-peroxidases3, acredita-se que elas não são infalíveis, portanto, constantemente há formação de radicais livres4. Dessa forma, os antioxidantes obtidos por meio de uma dieta são indispensáveis para a defesa apropriada contra a oxidação e, portanto, têm papel importante na manutenção da saúde4. Entre os nutrientes da dieta com ação antioxidante destacam-se as vitaminas E, A e C e os minerais zinco, manganês, cobre e selênio5,1.

As transições demográfica, epidemiológica e, especialmente, nutricional que se desenvolvem no Brasil desde o século XX, caracterizadas pela redução da prevalência de desnutrição e pelo aumento da obesidade, têm repercutido em um perfil de risco à saúde da população6. A crescente prevalência de obesidade proporciona sérias complicações clínicas, tais como hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e osteoartrites, levando ao aumento de diversas comorbidades, diminuindo a qualidade de vida e causando mortes prematuras de diversas pessoas5.

Acredita-se que vários fatores estejam relacionados ao desenvolvimento de comorbidades no indivíduo obeso, inclusive mecanismos que proporcionam o excesso de lesões oxidativas no organismo humano. Dentre esses, destaca-se que a peroxidação lipídica é uma reação em cadeia dos ácidos graxos das membranas celulares, capaz de gerar radicais livres que provocam danos nas células e que está aumentada na obesidade. Além disso, a diminuição das enzimas citoprotetoras com a obesidade também tem sido relacionada aos danos celulares e, consequentemente, ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, tais como câncer, aterosclerose, hipertensão entre outras7.

No entanto, salienta-se que, recentemente, surgiram evidências de que não somente o consumo insuficiente ou excessivo de alimentos, mas a qualidade da dieta está relacionada com a definição do estado de saúde8, bem como com o estado nutricional9. Assim, considerando-se que os antioxidantes provenientes da dieta são essenciais para a manutenção da saúde e tendo-se em vista o aumento da prevalência do excesso de peso da população, a relação do estresse oxidativo com as doenças crônicas não transmissíveis, o surgimento do conceito de fome oculta, bem como a importância dos antioxidantes dietéticos e a escassez de dados sobre a sua ingestão tornam relevantes estudos sobre a ingestão de antioxidantes e sua relação com o estado nutricional da população brasileira. Nesse sentido, o objetivo deste estudo consistiu em avaliar a ingestão de nutrientes antioxidantes pela população brasileira e sua relação com o estado nutricional.

MÉTODOS

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E POPULAÇÃO

Trata-se de um estudo transversal com coleta de dados secundários, a partir dos microdados do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), que constituiu um módulo da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008 - 2009, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vale ressaltar que os dados apresentam informações detalhadas de um dia de registro alimentar de 33.459 indivíduos com idade igual ou superior a 10 anos, de ambos os sexos e de todas as regiões do Brasil.

CONSUMO ALIMENTAR

Os dados referentes ao consumo alimentar dos indivíduos entrevistados pela POF foram coletados em dois dias não consecutivos de registros alimentares. No entanto, em função da qualidade da informação obtida, a POF considerou o primeiro dia de registro para estimativa do consumo alimentar médio dos indivíduos.

Dentre os 1.121 itens alimentares descritos pelos participantes da pesquisa, os quais estão descritos no anexo 1 da POF 2008 - 200910, foram avaliados os teores de 188 desses itens alimentares, o que correspondeu a 16,8%.

Os critérios para a avaliação de apenas 188 itens alimentares foram: existir mais de uma designação nominal para diversos alimentos; falta de informação do teor de nutrientes antioxidantes de alimentos light e diet e orgânicos.

Quando categorias na classificação da POF (2008 - 2009) foram descritas como “preparações à base de”, considerou-se o alimento principal, como em “preparações à base de arroz”, utilizando apenas o alimento arroz. Já para categorias denominadas “outras”, levou-se em conta apenas aqueles alimentos de maior prevalência de consumo.

A seleção e a caracterização dos alimentos foram realizadas com base no modo de preparo pelo qual os alimentos são habitualmente consumidos. Dessa maneira, destaca-se que os grupos alimentares foram estudados da seguinte forma:

  1. cereais (cozidos), farinhas, massas (cozidas), panificados, biscoitos, salgados (fritos e assados) e sanduíches;

  2. leguminosas (cozidas);

  3. verduras (cruas)/legumes (cozidos);

  4. raízes e tubérculos (cozidos);

  5. frutas (cruas);

  6. oleaginosas (cruas);

  7. carnes e ovos (cozidos);

  8. laticínios;

  9. doces;

  10. óleos e gorduras;

  11. bebidas;

  12. sopas, caldos, molhos e condimentos.

INGESTÃO DE NUTRIENTES ANTIOXIDANTES

As quantificações dos teores de vitaminas (E, A e C) e minerais antioxidantes (zinco, manganês, cobre e selênio) dos alimentos selecionados foram realizadas por meio das tabelas de composição de alimentos nacionais e internacionais11,12,13,14.

Para cada alimento foram utilizados os dados de pelo menos duas referências, a fim de possibilitar o cálculo do teor médio, sendo que uma das informações preferencialmente foi obtida da Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos11, por ser uma tabela brasileira de importante utilização nos meios acadêmico e científico, bem como por apresentar a composição dos alimentos cultivados no país, de acordo com as condições climáticas e de solo.

Os teores dos antioxidantes obtidos por 100 g de alimento foram convertidos de acordo com a porção média per capita consumida. O total da ingestão per capita diária de cada nutriente antioxidante foi calculado pela soma do teor de cada alimento, sendo o total da ingestão per capita diária quantificado conforme cada classificação de estado nutricional.

ESTADO NUTRICIONAL

A avaliação do estado nutricional dos indivíduos foi empregada por meio do cálculo do índice de massa corporal (IMC), definido como a relação entre o peso corporal e a estatura elevada ao quadrado, sendo que os dados de peso e estatura de cada indivíduo foram obtidos do banco de dados disponibilizado pela POF. Para os adolescentes, utilizou-se o indicador IMC/idade, que foi avaliado por meio do padrão de referência e critérios de classificações da OMS/WHO15. Para os adultos e idosos, foram utilizados os critérios de classificação da OMS (1998)16 e de Lipschitz17, respectivamente.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

A ingestão de nutrientes antioxidantes dos indivíduos avaliados de acordo com o estágio de vida, sexo e estado nutricional foi comparada às recomendações da Dietary Reference Intakes (DRIs)18,19, estabelecida para cada faixa etária e sexo. Para os adolescentes, tendo em vista que nessa faixa etária há diferentes recomendações nutricionais, realizou-se a média entre as recomendações definidas pelas DRIs para adolescentes de 9 a 13 anos e para adolescentes de 14 a 18 anos.

Calculou-se o percentual de indivíduos que apresentaram ingestão insuficiente e excessiva. Considerou-se valor inferior ao recomendado pelas DRIs aqueles que se encontraram abaixo das Estimated Average Requirements (EAR) ou Adequate Intake (AI); enquanto valores entre as EAR ou AI e Tolerable Upper Intake Levels (UL) foram adequados, e acima do recomendado, aqueles superiores aos UL.

Os dados foram organizados e analisados por meio do software Microsoft Excel 2010 e do programa estatístico Sisvar®, sendo expressos como média e desvio padrão do teor dos nutrientes antioxidantes, conforme cada estado nutricional. Aplicou-se o teste de normalidade dos dados de Kolmogorov-Smirnov, e as comparações entre os dados foram realizadas pelo teste t de Bonferroni, com 5% de significância.

RESULTADOS

A população avaliada foi composta de 33.459 indivíduos, sendo em sua maioria adultos (64,7%), com peso adequado (54,7%), seguido daqueles com excesso de peso (40,1%). A ingestão média total de nutrientes antioxidantes e as características da população analisada podem ser observadas na Tabela 1.

Tabela 1:
Caracterização da população estudada em relação ao estágio de vida, sexo, estado nutricional e à ingestão de nutrientes antioxidantes, Brasil, 2008 - 2009.

A estimativa da ingestão média diária de vitaminas antioxidantes de acordo com o estado nutricional da população brasileira revelou que houve diferença significativa somente na ingestão de vitamina E (p < 0,05). A ingestão de indivíduos com excesso de peso foi inferior em relação àqueles com peso adequado (Tabela 2).

Tabela 2:
Ingestão média de vitaminas e minerais antioxidantes de acordo com o estado nutricional da população brasileira, 2008 - 2009.

A comparação da ingestão de vitamina E com as recomendações das DRIs apontou uma ingestão média diária inferior àquela recomendada em todos os estágios de vida, sexos e classificações do estado nutricional. Aproximadamente 83,0% dos indivíduos apresentaram inadequação na ingestão dessa vitamina. Os maiores percentuais de inadequação foram observados em indivíduos com excesso de peso, exceto para as idosas com baixo peso que apresentaram ingestão inferior àquelas com peso adequado (p < 0,05), conforme Tabela 3. Nenhum indivíduo apresentou ingestão de vitamina E acima da quantidade recomendada (dados não apresentados em tabela).

Tabela 3:
Ingestão média diária e percentual de ingestão insuficiente de vitaminas antioxidantes conforme o estágio de vida, o sexo e o estado nutricional, Brasil, 2008 - 2009.

A ingestão média de vitamina A pela população total não se diferenciou estatisticamente de acordo com o estado nutricional (Tabela 2). No entanto, as mulheres adultas com peso adequado e excesso de peso tiveram ingestão menor em relação àquelas com baixo peso, diferentemente dos idosos com baixo peso, que apresentaram ingestão menor do que aqueles com excesso de peso (p < 0,05), conforme Tabela 3.

Verificou-se ainda que a média de ingestão diária da vitamina A foi inferior àquela recomendada em todos os estágios de vida, sexo e classificação do estado nutricional. O percentual de indivíduos que não atingiu as recomendações foi elevado e variou de 83,0 a 95,0% (Tabela 3), sendo que os adultos e idosos com baixo peso apresentaram os maiores percentuais de inadequação. Apenas 1,4% dos indivíduos teve ingestão acima da recomendada (dados não apresentados em tabela).

No que se refere à ingestão média de vitamina C, notou-se que os idosos com baixo peso apresentaram a menor ingestão dessa vitamina em relação às demais classificações do estado nutricional (p < 0,05), bem como o maior percentual de inadequação em relação ao recomendado pelas DRIs (82,0%), seguido dos adultos com 81,5% (Tabela 3).

A ingestão insuficiente de vitamina C foi observada em aproximadamente 72,0% dos indivíduos avaliados. Identificou-se também que, entre adolescentes de ambos os sexos, com peso adequado e adultas, aquelas com excesso de peso apresentaram os maiores percentuais de inadequação. A ingestão de vitamina C acima do valor recomendado foi observada em 0,4% dos indivíduos (dados não apresentados em tabelas).

Em relação aos minerais antioxidantes, a estimativa da ingestão média diária da população total demonstrou que os indivíduos com baixo peso tiveram ingestão inferior de todos os minerais em comparação com as demais classificações do estado nutricional (p < 0,05), conforme Tabela 2. Apenas para o cobre, a ingestão dos indivíduos com baixo peso não se diferenciou daqueles com peso adequado.

Os percentuais de ingestão insuficiente encontrados para a ingestão de minerais antioxidantes foram inferiores aos encontrados para as vitaminas antioxidantes. Aproximadamente 35,0; 51,0; 24,0 e 19,0% dos indivíduos apresentaram ingestão insuficiente de zinco, manganês, cobre e selênio, respectivamente.

A ingestão média diária de minerais antioxidantes em todos os estágios de vida, sexos e classificações do estado nutricional esteve dentro do limite recomendado, exceto para o manganês em adultos e idosos com baixo peso.

No que diz respeito ao zinco, verificou-se que os maiores percentuais de ingestão insuficiente foram observados em indivíduos com baixo peso, exceto para os adolescentes, as mulheres adultas e idosas em que não se observou diferença significativa entre as classificações do estado nutricional (p < 0,05), conforme Tabela 4.

Tabela 4:
Ingestão média diária e percentual de ingestão insuficiente de minerais antioxidantes conforme o estágio de vida, sexo e estado nutricional, Brasil, 2008 - 2009.

Para o manganês, verificou-se que, nos adolescentes de ambos os sexos, os maiores percentuais de inadequação foram encontrados em indivíduos com excesso de peso. No entanto, em adultos do sexo masculino e idosos de ambos os sexos, os maiores percentuais de inadequação foram observados nos indivíduos com baixo peso; e para as mulheres adultas, naquelas com peso adequado.

Com relação ao cobre, observou-se maiores percentuais de ingestão insuficiente nos idosos de ambos os sexos e nos adultos com baixo peso. Para as adolescentes e adultas, os maiores percentuais de inadequação foram observados naquelas com peso adequado e excesso de peso.

Para o selênio, os maiores percentuais de ingestão insuficiente foram encontrados nos indivíduos com baixo peso, especialmente nos idosos.

A ingestão de minerais antioxidantes acima do valor recomendado foi observada em 0,2; 0,4; 1,4 e 1,9% dos indivíduos para manganês, cobre, zinco e selênio, respectivamente (dados não apresentados em tabela).

DISCUSSÃO

Este estudo aborda um assunto ainda pouco explorado no país, uma vez que é um dos primeiros a avaliar a ingestão de nutrientes antioxidantes relacionada ao estado nutricional. Apesar disso, essas estimativas ainda apresentam limitações, como o fato de se tratar de dados transversais, da utilização de um único registro alimentar e do ajuste de acordo com a quantidade de energia ingerida. Assim, estudos prospectivos de avaliação do consumo alimentar dos brasileiros são necessários para realizar a sua relação com a ingestão de nutrientes antioxidantes.

Em estudos anteriores, como o de Fernandes et al.20 e Rodrigues et al.21, em adultos e idosos com síndrome metabólica, respectivamente, elevados percentuais de inadequação na ingestão de vitaminas antioxidantes por brasileiros também foram observados. No primeiro estudo citado, a inadequação na ingestão das vitaminas E e A foi de 100,0%, enquanto que a de vitamina C foi de 93,0%. Já no segundo, a inadequação na ingestão de vitamina E foi de 72,0%; de vitamina A, 92,0% e de vitamina C, 88,0%, assemelhando-se aos resultados encontrados no presente estudo.

O maior percentual de ingestão insuficiente de vitaminas antioxidantes em comparação aos minerais antioxidantes, obsevado nesse estudo, pode ser explicado em função das fontes alimentares desses nutrientes. As fontes alimentares das vitaminas antioxidantes compreendem, dentre outros alimentos, as frutas, as hortaliças e as oleaginosas, enquanto as fontes dos minerais antioxidantes incluem, especialmente, carnes, cereais, café e chá22, que são alimentos de elevada prevalência de consumo no Brasil10.

Desse modo, tendo em vista a baixa presença de frutas e hortaliças na alimentação dos brasileiros, uma vez que, de acordo com as análises da POF 2008 - 200910, menos de 10,0% da população brasileira atinge o consumo recomendado para esses alimentos, ou seja, 400 g/dia, verifica-se que provavelmente a baixa ingestão de vitamina C na população se deve pelo consumo insuficiente desses alimentos.

Quanto à vitamina E, o elevado percentual de ingestão insuficiente dessa vitamina pode ser explicado pelo consumo reduzido de oleaginosas, gérmen de trigo, sementes e grãos integrais. Esses alimentos possuem teor importante de vitamina E, mas sua presença na alimentação das pessoas é baixa, especialmente em relação aos alimentos integrais10,23,24.

Em relação à vitamina A, observa-se que a população brasileira frequentemente consome carnes, alimento fonte dessa vitamina, no entanto, apresenta baixo consumo de frutas e hortaliças, que são fontes especialmente de carotenoides precursores dessa vitamina, bem como de vísceras, leites e derivados, o que pode possivelmente explicar os elevados percentuais da inadequação de ingestão. Segundo Souza et al.25, o leite foi citado por 12,9% dos adolescentes, 11,6% dos adultos e 15,8% dos idosos pesquisados na POF 2008 - 2009.

Quanto aos minerais antioxidantes, destaca-se que os alimentos mais frequentemente referidos pela população brasileira na POF 2008 - 2009 foram: arroz (84,0%), café (79,0%), feijão (72,8%), pão (63,0%) e carne bovina (48,7%), os quais são fontes alimentares desses minerais25.

No entanto, é importante enfatizar que embora se tenha verificado que a maioria das médias de ingestão diária dos minerais antioxidantes da população brasileira esteja de acordo com as recomendações das DRIs, os percentuais de inadequação sugerem preocupação com o comprometimento da ação dos minerais antioxidantes na defesa antioxidante, uma vez que esta relaciona-se com o desenvolvimento de diversas doenças, tais como doenças inflamatórias intestinais26, infertilidade27, doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson28, câncer e doenças inflamatórias29, doenças pulmonares30, diabetes31 e doenças cardiovasculares32.

A baixa ingestão de nutrientes antioxidantes em pessoas idosas de baixo peso possivelmente se deve ao menor volume alimentar ingerido por esses indivíduos. Essa condição pode ser explicada pela própria característica do processo de envelhecimento, uma vez que ocorrem alterações morfológicas, bioquímicas, fisiológicas, comportamentais e biopsicossociais, as quais resultam em perda progressiva da capacidade de adaptação ao ambiente, assim como prejuízo na forma de se alimentar, o que leva à má nutrição e aos processos patológicos33.

Conforme Moreira, Boas e Ferreira34, há uma relação entre o estresse oxidativo e o estado nutricional de idosos, incluindo tanto a má nutrição quanto o excesso de peso. Dessa forma, os autores destacam a importância de se encorajar a ingestão de alimentos antioxidantes, como frutas e vegetais, assim como a manutenção do peso dentro da faixa de normalidade.

Os maiores percentuais da ingestão insuficiente de nutrientes antioxidantes tanto em pessoas com peso adequado quanto com excesso de peso, como observado para a vitamina E na população total, para as vitaminas A e C e cobre nas mulheres adultas e para a vitamina C, o manganês e o cobre nos adolescentes de ambos os sexos, podem ser atribuídos possivelmente às escolhas alimentares desses indivíduos.

Segundo o IBGE10, o consumo alimentar no Brasil é principalmente constituído por alimentos de alto teor energético e apresenta baixo teor de nutrientes, configurando-se em uma dieta de risco para déficits em importantes nutrientes, obesidade e muitas doenças crônicas não transmissíveis, características da transição nutricional. Assim, enfatiza-se a importância de modificações nos hábitos alimentares dos brasileiros, incluindo a troca de alimentos muito calóricos e com baixo teor de nutrientes por frutas, verduras, leguminosas, leite, grãos integrais, oleaginosas, vísceras, peixes, todos produzidos no Brasil.

Nesse sentido, verifica-se que muitas pessoas com baixo peso podem apresentar maior ingestão de vitaminas e minerais antioxidantes em comparação às pessoas eutróficas e com excesso de peso. Isso se deve pelo fato de que embora estas possam consumir uma quantidade maior de alimentos, a ingestão de nutrientes antioxidantes parece estar relacionada com a qualidade da dieta.

Ademais, salienta-se que a média do IMC das pessoas com baixo peso neste estudo foi de 18,31 kg/m2, próximo ao limite inferior para o diagnóstico nutricional de eutrofia. Isso pode indicar que, além de pessoas desnutridas, estejam incluídas nesse grupo aquelas constitucionalmente mais magras ou demasiadamente preocupadas com sua aparência física.

CONCLUSÕES

Elevados percentuais de ingestão insuficiente de nutrientes antioxidantes foram observados na população avaliada, especialmente em relação às vitaminas. Além disso, verificou-se que houve diferenças na ingestão de nutrientes antioxidantes da população brasileira de acordo com seu estado nutricional, estágio de vida e sexo. Os maiores percentuais de ingestão insuficiente de vitaminas antioxidantes foram observados nos indivíduos com excesso de peso, especialmente nas mulheres, e com exceção dos idosos. Ainda, no que diz respeito aos minerais, houve predomínio de inadequação nas pessoas com baixo peso. Por fim, foi possível verificar que a ingestão de nutrientes antioxidantes parece estar relacionada com a qualidade da dieta da população.

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  • Fonte de financiamento: Universidade Federal da Fronteira Sul

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017

Histórico

  • Recebido
    15 Set 2015
  • Aceito
    08 Set 2016
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