INTRODUÇÃO:
O Brasil tem a maior população afrodescendente fora da África.
OBJETIVO:
Em razão das sequelas da escravidão sobre sua posição social contemporânea, foi investigada a relação entre racismo percebido e hipertensão.
MÉTODOS:
Analisamos dados (1999 - 2001) de 3056 funcionários públicos (idade média: 42 anos; mulheres: 56%) de campi universitários fluminenses, participantes do Estudo Pró-Saúde.
RESULTADOS:
Casos de hipertensão prevalente tinham pressão arterial aferida igual ou superior a 140/90 mmHg ou uso de medicação antihipertensiva. Via questionários autopreenchíveis, aferiu-se história percebida de discriminação ao longo da vida (devido a raça, gênero, posição socioeconômica, outros atributos) nos domínios trabalho, moradia, escola, locais públicos e com a polícia. Participantes utilizaram 41 termos como respostas a pergunta aberta sobre autoidentificação racial; para estas análises, 48% foram classificados como afrodescendentes. Discriminação racial em ao menos um domínio foi relatado por 14% dos afrodescendentes. Em comparação com participantes brancos, as prevalências (ajustadas para idade e sexo) de hipertensão foram mais elevadas entre afrodescendentes com história percebida de racismo (RP = 2,1; IC95% 1,5 - 3,0) do que entre aqueles sem essa história (RP = 1,5; IC95% 1,2 - 1,8). Comparando-se afrodescendentes com história percebida de racismo com brancos, a associação com hipertensão foi mais forte entre participantes com instrução fundamental (RP = 3,0; IC95% 1,3 - 6,7) do que entre aqueles com nível universitário (RP = 1,7; IC95% 1,0 - 3,1).
CONCLUSÃO:
É possível que o racismo aumente o risco de hipertensão entre afrodescendentes no Brasil; a adversidade socioeconômica - também influenciada pelo racismo - pode potencializar esse aumento de risco.
Determinantes sociais da saúde; Racismo; Hipertensão; Saúde do adulto; Saúde da população negra; Métodos epidemiológicos