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Editorial especial

Editorial especial

Ana Bernarda Ludermir

Presidente do VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia; Professora Adjunta Departamento de Medicina Social - CCS - UFPE; Av. Prof. Moraes Rego, s/n - Cidade Universitária 50670-901 Recife/PE, ana_bernarda@uol.com.br

Com o lema "Um Olhar sobre a Cidade", o VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia será realizado no Recife, no período de 19 a 23 de junho de 2004, no Centro de Convenções. Nos dias 19 e 20, acontecerá o pré-congresso com cerca de 23 cursos e 11 oficinas concomitantes. Nos três dias seguintes, ocorrerá o congresso propriamente dito, com conferências, painéis, mesas-redondas e comunicações coordenadas. O Congresso abrigará também a 6a Reunião Científica da América Latina e Caribe da IEA.

A temática do evento abordará fundamentalmente três subtemas:

  • A Epidemiologia e a Cidade;

  • A Cidade Fragmentada: Inclusão, Segregação e Exclusão Social;

  • Cidade e Qualidade de Vida

Embora a relação entre a epidemiologia e a cidade ocupe lugar de destaque no evento, toda riqueza dos objetos de investigação ou de trabalho dos profissionais deverá ser contemplada. Outros pressupostos que estão guiando a organização do congresso são a diversidade geográfica, buscando uma maior representatividade da produção científica das diversas regiões / estados brasileiros; o equilíbrio entre demanda espontânea e a indução, incluindo a solicitação a grupos de pesquisa a produção de trabalhos sobre a temática específica; a multi, inter e transdisciplinaridade, favorecendo o diálogo da epidemiologia com outras ciências e práticas na abordagem da temática central do Congresso; além da integração ensino, pesquisa e serviço, contemplando-se todos os aspectos do processo de trabalho epidemiológico.

Além de constituir o lema do VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia, "Um Olhar sobre a Cidade" representa uma homenagem póstuma a Dom Hélder Câmara (1909 – 1999), arcebispo emérito de Olinda e Recife, voz destemida que denunciou ao mundo a repressão do regime militar brasileiro, exemplo destacado na luta pela liberdade, paz e justiça social e contra a miséria e a opressão. Na época da censura, aqui no Brasil, sua voz só era ouvida ou dentro das Igrejas ou em seu programa radiofônico "Um Olhar sobre a Cidade", veiculado pela Rádio Olinda, além disso é título de um de seus livros, publicados pela Civilização Brasileira. A riqueza de suas metáforas servia para reforçar a esperança de que "quanto mais negra a noite, mais carrega em si a madrugada".

O VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia pretende enfocar a cidade na perspectiva epidemiológica. A cidade, por sua natureza, constitui um objeto que sempre atraiu olhares disciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares.

O objeto da epidemiologia, doentes em populações, assume uma configuração especial na cidade e por isso induz a produção de novas explicações sobre o processo saúde-doença, subsidiando gestores e gerentes de serviços a formularem políticas e ações sobre a realidade, no sentido de solucionar os problemas.

Mais de três mil e oitocentos trabalhos foram inscritos, mas a participação no congresso não está condicionada à apresentação de trabalhos.

Não só os epidemiologistas e sanitaristas se sentirão honrados com a sua participação no VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia, mas todos os recifenses , pois o Recife é multicultural, acolhendo, desde sua origem, portugueses, índios, negros, holandeses, judeus, ingleses, franceses... O médico e geógrafo Josué de Castro comparava Recife a Amsterdã e Veneza, considerando-a uma cidade anfíbia, "aparecendo numa perspectiva aérea, com seus diferentes bairros flutuando esquecidos à flor das águas". O poeta Carlos Pena Filho vislumbrava o Recife como uma cidade "metade roubada ao mar / metade à imaginação". O Recife das pontes, necessidade das interligações e comunicações, é poesia pura: Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto.

Acreditando como Carlos Pena Filho que "é do sonho dos homens que uma cidade se inventa", a Comissão Organizadora do VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia propõe através do olhar epidemiológico sonhar com um novo modelo de cidade, mais saudável, mais justa. A "Terra sem Males" dos guaranis e tupinambás, o "Quilombo dos Palmares" dos negros, "A República" de Platão, "A Cidade do Sol" de Campanella, a "Utopia" de Thomas Morus ... o que há de semelhante entre essas utopias? Nelas deseja-se alcançar um Bem: a saúde. Neste início de milênio, o que mais será possível inventar? Com a palavra, inclusive, os epidemiologistas que se reunirão no Recife, em junho de 2004.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Mar 2005
  • Data do Fascículo
    Mar 2004
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