Resumo
O trabalho busca conhecer a percepção de adolescentes, participantes do Programa Bolsa Família (PBF), sobre insegurança alimentar (IA). Trata-se de estudo de abordagem qualitativa. O corpus consiste em entrevistas com dez adolescentes e seus responsáveis. Os resultados foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo. Foram estabelecidas quatro categorias de análise: “A fome não é só a vontade de comer”; “O fantasma da fome”; “Um por todos e todos por um”; “Estamos seguros?” De maneira geral, os adolescentes percebem que a quantidade e variedade de alimentos mudam durante o mês e que o acesso a alimentos como frutas e carne é difícil. A preocupação com a possibilidade de o alimento faltar está presente na fala de todos os adolescentes entrevistados e se intensifica entre aqueles que vivenciaram a experiência de fome na infância. Em função disso, os adolescentes desenvolvem estratégias para o alívio da IA, para si mesmos e para suas famílias. No entanto, as responsáveis pelos adolescentes não consideram que seus filhos realmente se preocupam com a possibilidade de faltar alimentos no domicílio. Observou-se que os adolescentes percebem a situação de insegurança alimentar no domicílio e são capazes de responder de forma autônoma sobre essa situação.
Palavras-chave: Insegurança alimentar; Adolescentes; Fome; Programas e políticas de alimentação e nutrição
Abstract
Objective: To understand the perception of adolescents, participants of the Bolsa Família Program (PBF), about Food Insecurity (FI). Methods: This is a study with a qualitative approach. The corpus consists of interviews with 10 adolescents and their caregivers. Results were analyzed using Content Analysis (CA) technique. Results: Four categories were established: “Hunger is not just the desire to eat”, “The ghost of hunger”, “One for all and all for one”, and “Are we safe?”. Overall, adolescents perceive the amount and variety of food changes throughout the month and that access to meat and fruits is difficult. The concern with the possibility of running out of food permeates the interviewees’ statements and intensifies among those who experienced hunger during childhood. As a result, many statements reveal the strategies developed by adolescents to alleviate FI for themselves and their families. However, statements also points to the fact that caregivers do not consider their children are truly concerned with the possibility of running out of food at home. Conclusion: Adolescents perceive food insecurity in the home and are able to respond autonomously to the situation.
Keywords: Food insecurity; Adolescents; Hunger; Food and nutrition programs and policies
Resumen
Objetivo: Conocer la percepción de las y los adolescentes participantes del Programa Bolsa Familia (PBF) sobre la inseguridad alimentaria (IA). Métodos: Se trata de un estudio con abordaje cualitativo. El corpus consta de entrevistas a diez adolescentes y a sus tutores. Los resultados se analizaron mediante la técnica de análisis de contenido (CA). Resultados: Se establecieron cuatro categorías de análisis: El hambre no es solo el deseo de comer; El fantasma del hambre; Uno para todos y todos para uno, y ¿Estamos a salvo?. En general, las y los adolescentes perciben que la cantidad y la variedad de alimentos cambia durante el mes y que se les dificulta el acceso a carnes y frutas. La preocupación por la posibilidad de quedarse sin alimentos impregna sus declaraciones y se intensifica entre quienes pasaron hambre durante sus infancias. Como resultado, muchas afirmaciones revelan el desarrollo de estrategias para paliar la IA, para ellos y ellas mismas y para sus familias, pero señalan que sus tutores no consideran que sus hijos e hijas estén realmente preocupados por quedarse sin alimentos en el hogar. Conclusión: Los y las adolescentes perciben la situación de IA en el hogar y son capaces de responder de forma autónoma frente a ella.
Palabras clave: Inseguridad alimentaria; Adolescente; Hambre; Programas y políticas de nutrición y alimentación
Introdução
A insegurança alimentar (IA) diz respeito à não realização do direito ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para atender às necessidades dos indivíduos, sem que outras demandas básicas, como moradia, educação, saúde, lazer e transporte, sejam comprometidas. Enraizada em disparidades sistêmicas, a insegurança alimentar espelha a renda familiar. Quanto menor a renda mensal per capita por domicílio, maior é o risco de insegurança alimentar moderada ou grave, o que reflete a restrição tanto qualitativa quanto quantitativa de alimentos, bem como o fenômeno da fome nesses domicílios (SABÓIA, 2016; BEZERRA et al., 2020; IBGE, 2020b).
Os resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017/2018 mostraram que 68,9 milhões de domicílios brasileiros (36,7%) viviam com algum grau de IA (IBGE, 2020b). Entre a população de 5 a 17 anos, 7,3% conviviam com insegurança alimentar grave, ou seja, passaram por privação quantitativa de alimentos e a fome esteve presente em algum momento nos três meses de referência da pesquisa (IBGE, 2020b). Os grupos populacionais com maior vulnerabilidade social, física e mental, tais como idosos, gestantes, adolescentes e crianças, são os mais atingidos pela IA (SPERANDIO et al., 2017).
Em estudo de revisão sistemática que buscou avaliar a associação entre IA e fatores de risco cardiometabólicos na infância e na adolescência, Rocha et al. (2016) evidenciaram que a IA pode estar associada a fatores de risco como obesidade, estresse, desordens metabólicas e consumo de dietas inadequadas. A prevalência de IA na infância e adolescência entre os estudos analisados chegou a 82%.
A maioria das pesquisas que investigam a resposta e o comportamento das pessoas que enfrentam situações de insegurança alimentar e nutricional é baseada na perspectiva de adultos e idosos, sendo escassos os estudos específicos para o público infanto-juvenil (BERNAL et al., 2012). Os trabalhos geralmente se baseiam na informação relatada pelos responsáveis pelo domicílio para determinar se existe IA no ambiente doméstico. Sabe-se que dentro do mesmo núcleo familiar os indivíduos não experimentam de maneira uniforme a insegurança alimentar (FRAM et al., 2011).
A percepção dos pais em relação à experiência com insegurança alimentar pode ser diferente da experiência dos seus filhos. Estudos indicam que adolescentes possuem condições para relatar suas próprias experiências com a alimentação e a fome (FRAM et al., 2013; COELHO, 2015). Além disso, ao presenciarem as estratégias dos pais para gerenciar a insegurança alimentar e a escassez de recursos, adolescentes acabam criando suas próprias estratégias para enfrentar este problema (FRAM et al., 2011).
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo analisar e compreender a percepção da insegurança alimentar de adolescentes participantes do Programa Bolsa Família no município de Lavras (MG).
Métodos
Trata-se um estudo de abordagem qualitativa, o qual é parte integrante do projeto “Programa Bolsa Família: avaliação da segurança alimentar e nutricional das famílias participantes e acompanhamento das condicionalidades de saúde sob a ótica dos profissionais - ENSAN”, financiado pelo CNPq (edital 13/2017) e aprovado pelos Comitês de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Lavras (CAAE nº 79529017.3.0000.5148) e da Universidade Federal de São Paulo (CAAE nº 87117618.6.0000.5505), em conformidade com a Resolução 466/2012.
Estudos qualitativos se baseiam na investigação da dimensão sociocultural dos fenômenos por meio da expressão das crenças, práticas, valores, opiniões, formas de relação e simbologia dos sujeitos (MINAYO, 2014). A natureza subjetiva das pesquisas de percepção da insegurança alimentar permite captar a sensação de privação relatada pelos sujeitos, mesmo quando não existe a redução na ingestão de nutrientes, além de considerar a complexidade das experiências pessoais, a influência do meio social e a posição relativa de cada indivíduo na sociedade (OSMANI, 2002; PESSANHA et al., 2008).
Para esse estudo, optou-se pela utilização de entrevistas semiestruturadas, realizadas entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020, em ambiente escolar ou domiciliar, após contato prévio com as famílias e adolescentes e assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido e do Termo de Assentimento. As entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra pela pesquisadora responsável. Para garantir o anonimato, os entrevistados foram identificados com a letra A (adolescente) ou R (responsável) seguida de um algarismo numérico. Os adolescentes tiveram ainda sua idade adicionada à identificação.
O município de Lavras (MG), eleito como campo de estudo, possui população estimada, para 2021, de 105.710 habitantes (IBGE, 2023) e 3.974 famílias participantes do Programa Bolsa Família (BRASIL, 2020). Os sujeitos do estudo foram adolescentes participantes do PBF, com idade entre 10 e 18 anos, integrantes de famílias que se encontravam em situação de insegurança alimentar (previamente avaliadas utilizando a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar) (SEGALL-CORREA, 2014). Também foram entrevistadas as mães dos adolescentes.
Para o presente estudo foi empregada a saturação de dados (MINAYO, 2017), momento em que não surgem novas informações. As entrevistas aconteceram em seis domicílios, sendo que todos os adolescentes de cada núcleo familiar foram entrevistados, totalizando dez adolescentes e seis mães. A análise do material foi realizada à luz do referencial da análise de conteúdo, com ênfase na análise temática ou categorial (BARDIN, 2010; MINAYO, 2014). Após a sistematização dos dados emergiram as seguintes categorias: i) A fome não é só a vontade de comer; ii) O fantasma da fome: passado, presente e futuro; iii) Um por todos e todos por um: estratégias para alívio da insegurança alimentar; e iv) Estamos seguros? O processo de definição das categorias incluiu debate entre os pesquisadores responsáveis, além da revisão por pesquisador independente.
As quatro nuvens de palavras foram criadas a partir da transcrição dos trechos das entrevistas que compõem cada categoria de análise do presente estudo. As nuvens são compostas por 50 palavras utilizadas com maior frequência durante as entrevistas e que atendiam ao critério de conter o mínimo de três caracteres. Palavras como “uai”, “também”, “quando” e “ainda” foram excluídas manualmente, pois não integravam o contexto. Os resultados foram sistematizados por categoria, sendo que palavras de maior tamanho são as de maior ocorrência e relevância. O tratamento dos dados coletados e a construção da nuvem de palavras foram realizados com apoio do software NVivo (versão 1.5.1).
Apresentação dos resultados e discussão
A amostra final desta pesquisa é composta por sete adolescentes do sexo feminino e três do sexo masculino, pertencentes a seis famílias diferentes, sendo que em um mesmo domicílio foram entrevistados três adolescentes, em outros dois domicílios dois adolescentes cada e os demais integrantes de três domicílios diferentes.
Visto que o sujeito de pesquisa é o adolescente e sua percepção individual sobre a insegurança alimentar domiciliar, entrevistar adolescentes residentes em um mesmo domicílio não influenciou os resultados deste trabalho; pelo contrário, o enriqueceu e fortaleceu a hipótese de que adolescentes têm diferentes perspectivas sobre o fenômeno da insegurança alimentar.
Todos os domicílios dos adolescentes continham a figura materna, mas a paterna estava presente em apenas um domicílio. Os dez adolescentes sujeitos deste estudo residem na segunda região mais vulnerável do município. No que diz respeito à insegurança alimentar, cinco famílias estavam em situação moderada ou grave e uma em situação de insegurança alimentar leve.
Resultados das entrevistas qualitativas foram classificados nas quatro categorias distintas e complementares: i) A fome não é só a vontade de comer; ii) O fantasma da fome: passado, presente e futuro; iii) Um por todos e todos por um: estratégias para alívio da insegurança alimentar; e iv) Estamos seguros?
Categoria 1 - A fome não é só a vontade de comer
A dimensão nutricional da SAN considera as relações entre o indivíduo e o alimento: o consumo alimentar adequado; a disponibilidade de alimentos saudáveis; a adequada utilização dos alimentos consumidos; e as condições de promoção dos cuidados com sua própria saúde (BURITY; FRANCESCHINI; VALENTE, 2010). Nesse contexto, a categoria “A fome não é só a vontade de comer” descreve a percepção dos adolescentes em relação às suas práticas alimentares e à disponibilidade dos alimentos nos domicílios.
Arroz e feijão, alimentos tradicionais brasileiros, são apontados nos discursos dos adolescentes como aqueles que se mantêm acessíveis para alimentação da família, mesmo nos períodos do mês com menor disponibilidade de recursos financeiros. Por outro lado, carnes, frutas e verduras são mencionadas como alimentos de difícil acesso em função da escassez de recursos financeiros. Destaca-se a carne como o alimento de maior custo, menos presente e bastante desejado pelos adolescentes. A Figura 1 representa a nuvem de palavras desta categoria, com destaque para arroz, feijão e carne, sendo o arroz e feijão dois alimentos importantes para a alimentação e a segurança alimentar dos adolescentes. Já a carne, em virtude de sua escassez no cotidiano dessas famílias, é um fator que contribui para os adolescentes não considerarem sua alimentação como saudável. Dentre as palavras de segundo nível presentes na nuvem, sobressai a escola, que aparece como espaço importante para a segurança alimentar e nutricional, discussão que será aprofundada nas categorias 3 e 4.
Os adolescentes relataram instabilidade no acesso aos alimentos ao longo do mês, com redução tanto da qualidade quanto da quantidade de alimentos. A incerteza sobre a disponibilidade dos alimentos foi apontada como um fator de preocupação, conforme ilustrado na fala da adolescente A4 de 11 anos:
Geralmente os únicos alimentos que sobra é só arroz, só feijão e macarrão. É os únicos alimentos que sobra [...] Só quando a comida assim geralmente já tá pouca, que é final de mês, porque minha mãe faz compra todo mês de mais ou menos uns 200 reais, aí dura um mês e meio mais ou menos, aí eu fico preocupada assim no final do segundo mês porque parece que vai acabando mais rápido.
Quando questionados sobre o padrão de alimentação no domicílio, os adolescentes relataram redução da quantidade e da qualidade dos alimentos ao longo do mês. Alguns classificaram a alimentação da família como boa e saudável, indicando a presença de arroz, feijão e salada para justificar esse padrão. Outros destacam que a ausência de frutas e, especialmente, da carne compromete o padrão saudável. Os alimentos ultraprocessados (AUP) são reconhecidos pelos adolescentes como não saudáveis, e os mesmos associam a alimentação saudável ao custo elevado.
Ah normal. A gente não come bem, mas a gente come o básico né. O que a gente pode. A gente toma café de manhã, nem todo dia tem pão, mas tem sempre café. Na hora do almoço um arroz com feijão, quando tem alguma coisa tem, mas sempre tem arroz com feijão. (A10, 18 anos)
É fruta assim no final do mês acaba não tendo. E a carne também não. A carne acaba porque é carne. (A3, 11 anos)
Ah, é mais fruta né, a carne, esse tipo de coisa que passa vontade mesmo. (A8, 15 anos)
No Brasil, a participação percentual dos gastos com alimentação é maior entre as famílias em situação de IA, embora as despesas com determinados grupos de alimentos como frutas e carnes diminuem quanto mais grave for o nível de IA. Nestas famílias, o gasto com arroz e feijão é maior, com a diferença mais relevante observada no gasto mensal médio do arroz: 32% a mais nas famílias em situação de IA grave quando comparadas àquelas em segurança alimentar (SAN) (IBGE, 2020b).
Para os adolescentes entrevistados, o período de recebimento do recurso do Programa Bolsa Família (PBF) é marcado como o momento do mês em que existe maior disponibilidade de alimentos, incluindo a compra daqueles ultraprocessados. O consumo de AUP é bastante presente no discurso dos adolescentes entrevistados.
[...] eu acho até que é boa [a alimentação]. Não muito saudável às vezes, mas é boa. Ah porque eu como muita besteira [...] lanche, muito refrigerante. Mas nem é por conta da minha mãe, porque minha mãe fica sempre de olho, controlando. É por conta minha mesmo. Mas eu como muito essas coisas, tipo bolacha, miojo, lanche. (A5, 13 anos)
Apesar do elevado consumo de AUP entre a população de baixa renda, estudo que buscou avaliar o impacto do PBF no consumo de alimentos (SPERANDIO et al., 2017) apontou que mais de 60% da ingestão calórica diária dos participantes do programa advêm de alimentos in natura ou minimamente processados.
As condições socioeconômicas das famílias exercem influência nas duas dimensões da SAN, podendo comprometer o acesso, a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos pelos adolescentes (MORAIS et al., 2020). No que tange aos hábitos alimentares de adolescentes, cabe enfatizar a influência do contexto social para formação e manutenção de hábitos e comportamentos alimentares, podendo desaguar em desfechos de saúde negativos. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) estimou que 97,3% dos estudantes brasileiros com idade entre 13 e 17 anos consumiram pelo menos um alimento ultraprocessado no dia anterior à pesquisa (IBGE, 2021).
Embora adolescentes sejam um dos grupos etários vulneráveis à IA, estudos que objetivam demonstrar associações entre IA e ingestão alimentar entre adolescentes no Brasil são escassos. Nos domicílios onde habitam crianças e adolescentes de 5 a 17 anos há maior vulnerabilidade à IA, tendo sido observada nesses domicílios a maior prevalência de IA grave no Brasil, segundo grupos etários (IBGE, 2020b). Sabe-se que a insegurança alimentar associa-se à pior qualidade da alimentação, com aumento do consumo de alimentos ricos em gorduras e açúcares e redução da ingestão de frutas, verduras e legumes (ROCHA et al., 2016). Adolescentes que experenciam a IA são mais propensos a não consumirem o café da manhã, não participarem das refeições em família, apresentarem compulsão alimentar e consumirem AUP em maior quantidade, e frutas, verduras e legumes em menor quantidade (DUSH, 2020).
Adolescentes e jovens adultos de até 25 anos em IA tendem a apresentar menor satisfação com seus hábitos alimentares e reportar barreiras relacionadas ao acesso à alimentação saudável, como falta de tempo para cozinhar, alto custo de alimentos que consideram saudáveis e indisponibilidade de alimentos nos domicílios. O nível de insatisfação se mostra maior quanto mais grave é a IA (BAER et al., 2017). A despeito dessa insatisfação, adolescentes em IA possuem conhecimento e motivação para a adoção de hábitos saudáveis e, nesse contexto, a impossibilidade de atingir tal padrão pode ser uma fonte importante de estresse (BAER et al., 2017; DUSH, 2020).
Categoria 2 - O fantasma da fome: passado, presente e futuro
A segunda categoria engloba as experiências e sentimentos dos adolescentes em relação à fome, a partir dos discursos daqueles que vivenciaram tal situação e dos que vivem com receio de que ela possa ser uma realidade em suas vidas.
A Figura 2 apresenta a nuvem de palavras da categoria, destacando-se comer, arroz e mãe. A figura materna é bastante mencionada nos discursos dos adolescentes pela sua marcante presença nas situações de dificuldade financeira e insegurança alimentar. A mãe aparece como responsável pelo esforço de tentar conseguir alimentar os filhos, mesmo que em pouca quantidade. Também é a mãe que, por ser responsável pelo recurso do Bolsa Família, faz a gestão financeira na casa e decide quais alimentos poderão ser adquiridos. Por fim, para a maioria dos adolescentes entrevistados, a mãe era e é a única figura parental do convívio dos filhos. O arroz, assim como na categoria anterior, aparece como um dos alimentos mais presentes e acessíveis. Já a palavra comer vem expressar as narrativas das situações de insegurança alimentar.
Todos os adolescentes apresentaram algum grau de preocupação com a possibilidade de o alimento faltar em seus domicílios. Tal preocupação é ancorada pela percepção do que seus pais e mães falam e fazem e pela vontade dos adolescentes de manter o bem-estar da família em geral. A renda (representada pela palavra dinheiro na Figura 2) e o número de pessoas dentro do domicílio constituem um ponto de associação de risco de insegurança alimentar percebido pelos adolescentes.
A privação alimentar vivenciada em um passado distante, ou mesmo recente, parece marcar a vida dos adolescentes e de suas famílias. Mesmo os adolescentes mais novos dentro da composição familiar e que não cresceram em um ambiente acometido pela fome manifestaram preocupação e sabem relatar a tragédia familiar em detalhes, tornando, dessa forma, a fome um fenômeno ainda presente na vida das famílias.
[...] que quando os dois mais velhos eram menores ela (a mãe) precisava deixar (os filhos) com a minha tia, porque geralmente não tinha nada pra comer, e ela precisava trabalhar, tanto que meu irmão maior mamou com a minha prima. (A5, 13 anos)
Antes deu nascer assim, teve uma época que a minha mãe já passou fome com meus irmãos mais velhos. Por isso que meu irmão ajuda muito a minha mãe. É, teve época de ter só angu pra dar pra eles comerem. [...] Eu guardei. Fiquei meio cismada porque, é, eu penso, a minha mãe já passou por isso uma vez. Agora os prefeito fica com esse vai e vem, vai e vem, aí eu não sei. Eu fico com medo das coisas ficar muito caro e minha mãe não conseguir comprar tudo que precisa. (A3, 11 anos)
É, nessa época eu, meio que, não né. Porque tipo, tinha um projeto, nóis tinha um projeto lá. Aí nesse projeto nóis ia de manhã, aí lá tinha café, tinha almoço. Aí depois nóis ia pra escola, e na escola tinha merenda também, aí só ficava a partir da janta, entendeu? (A6, 18 anos)
A vivência de IA durante a infância está associada ao aumento do risco de ansiedade e de sintomas depressivos durante a adolescência. Quando vivenciada durante a adolescência, a IA associa-se a desfechos negativos para a saúde física e mental de adolescentes (HATEM et al., 2020). Estudo de revisão conduzido por Dush (2020) apontou que adolescentes em IA são mais propensos a desenvolverem comportamentos de risco, como consumo de bebidas alcóolicas e cigarro, realizam menos atividade física, apresentam tempo menor de sono e podem ter menor acesso aos serviços e cuidados de saúde. Além disso, os desfechos negativos relacionados à saúde mental e a comportamentos de risco apresentam maior correlação com a IA do que com fatores como renda e educação.
Um estudo a partir dos dados do Estudo Longitudinal Brasileiro de Envelhecimento evidenciou que idosos que relataram experiência de fome durante a infância tiveram 20% mais chances de desenvolverem diabetes na idade adulta e 38% mais chances de desenvolverem osteoporose. A exposição à fome foi mais comum entre pessoas não brancas e de menor escolaridade (FÉLIX-BELTRÁN; SEIXAS, 2021).
Além da preocupação com falta de acesso e de disponibilidade de alimentos, a possibilidade de interrupção no fornecimento de água e de energia elétrica é outro ponto de aflição para os adolescentes, que internalizam a preocupação dos pais em relação à escassez de recursos, mesmo quando não existe menção direta sobre a situação.
Eu pensei assim, ah como as coisas estão muito atrasadas, e meu pai também tava reclamando uns tempos, então eu comecei a pensar também: “Ué, e agora? Se faltou a água agora então pode faltar comida!!” Eu falei...eu pensei isso comigo [...] Comida!!! Água e luz que pode cortar qualquer hora. Isso é o que mais irrita né. Tipo assim, eu posso chegar aqui e não ter nem luz nem água... ai, nossa senhora. (A8,15 anos)
Não! Mas do jeito do meu pai, ele fala assim: “Ah, as coisas tá apertada, as coisa tá feia”. Desse jeito assim, sabe?! Aí só isso já dava pra pensar. (A9,13 anos)
Alguns adolescentes relataram que a preocupação com a IA e a escassez de recursos em geral provoca dificuldade para se concentrar nos estudos. Entre os adolescentes entrevistados, as duas de 18 anos de idade, e que relataram vivências marcantes de fome na infância, não concluíram os estudos. Para os adolescentes, garantir a alimentação é uma prioridade que, por vezes, se sobrepõe aos estudos.
Eu tento, tento me esforçar bastante. Mas eu fico com a mente aqui em casa, como que tá as coisas. Se está no conforme ou não. (A8, 15 anos).
[...] Eu até ia continuar (a escola), mas eu voltei a trabalhar de novo. Aí cansa muito. Tem que ficar até a noite, e depois acordar muito cedo pra ir pra escola. (A10, 18 anos)
Estudo de revisão sistemática conduzido por Tamiru e Belachew (2017) discute a contribuição da IA para o absenteísmo escolar, apontando o baixo rendimento escolar e o baixo desenvolvimento cognitivo como preditores comuns do absenteísmo. Ainda que a transferência de renda proporcionada pelo PBF tenha possibilitado a superação da extrema pobreza no país, as famílias participantes ainda convivem com diversas fragilidades e privações e, nesse contexto, seus esforços e objetivos são direcionados para o alcance de direitos e necessidades básicas, como a renda e a alimentação, sendo que outros direitos, como a educação, assumem papel secundário (SILVA, 2016; ARRUDA; BITTENCOURT, 2020).
Martín Caparrós (2016), em seu livro sobre narrativas de pessoas em situação de fome, pontua que a pobreza rouba a possibilidade dos indivíduos de pensar diferente, de traçar horizontes ou ter desejos, sendo a vida de pessoas em situação de fome marcada pela angústia, pela incerteza e pelo esforço em imaginar como aliviar a fome amanhã.
Para além da própria família, os adolescentes percebem e sensibilizam com amigos e vizinhos que vivenciam a IA e elencam características que os fazem crer que o outro está inseguro, mesmo que a situação não tenha sido verbalizada. Muitas vezes, essas são características que eles reconhecem como próprias, seja por situação de insegurança alimentar que tenham vivido no passado ou no presente. O tipo de vestuário, o local de moradia, o número de vezes que os outros adolescentes repetem a refeição na escola, a participação em projetos sociais de determinadas localidades são exemplos do que os adolescentes consideram como indício de que um indivíduo está inseguro. Por outro lado, os adolescentes também associam a participação no Programa Bolsa Família como um sinal de segurança mínima.
Eu tenho as minhas amigas, eu vou na casa delas, a gente conversa porque elas também passam por isso. Eu tenho uma amiga que na casa dela não tem nem água, nem luz. Ela vive tomando banho na casa dos outros. Mora aqui na rua debaixo. Aqui em casa a gente custa a pagar mas paga. Ela não. Na casa dela vive sem luz, sem gás, ela toma banho na casa dos outros. Nossa é muito ruim, é pior do que a minha situação. (A10, 18 anos)
Ah do jeito assim, aí eles comem, eles estudam lá no Dora também, os meninos dela. Aí dá pra ver quando eles comem, eles repetem umas 3 vezes assim de comida. (A9, 13 anos)
Os adolescentes se mostram bastante sensíveis à situação dos amigos, ou de outras pessoas do convívio que estão em situação de IA. Mesmo aqueles que não conseguiram apontar um conhecido que esteja passando fome possuem clareza da magnitude e importância do fenômeno. Na concepção deles, passar fome é vergonhoso, é algo difícil de se admitir, o que torna a situação ainda mais dolorosa.
Tinha uma amiga minha, que tava assim com essas necessidades na casa dela. Aí ela me contou. Ela falou que é, tava tendo um problema que é bem complicado de explicar. (A5, 13 anos)
Ah repete [a merenda]! Bastante. Mais no 6º ano, algumas pessoas do 8º também repete bastante. Mas nunca falou pra mim que tá faltando comida em casa não, mas tem pessoas que não assume né. Tem vergonha. Não é uma coisa boa. Porque os outros ri né. (A8, 15 anos)
Os adolescentes que relataram vivências e lembranças marcantes de IA no passado são aqueles que demonstram maiores preocupações com a possibilidade de o alimento faltar no futuro. A adolescente A6, de 18 anos, quando questionada sobre porque é tão preocupada com a possível falta do alimento em casa, respondeu:
Ah eu acho que é porque na minha fase de criança eu sofri muito [...] Aí eu tenho medo de acontecer a mesma coisa que aconteceu com a gente, acontecer com as minhas irmãs.
O receio de passar fome no futuro também motiva os adolescentes a fantasiarem possibilidades que poderiam amenizar a situação. O adolescente A7 (13 anos) relatou que gostaria de ter um kit de sobrevivência, caso o alimento venha faltar um dia. Além de alimentos, o kit contempla outros itens básicos, como sabonete e creme dental, e se apresenta, ainda que imaginário, como um conforto para os momentos de fome. Segundo o adolescente, quando a fome chega, ele sempre pensa no kit:
Eu queria juntar um kit de suprimentos para quando eu não tiver as coisas pra comer! Ia ter coisas gostosas e saudáveis, tipo maçãs, banana, pão com alguma coisa. [...] Teve um dia eu fiz um negócio sabe. Eu peguei três bolachas de amendoim, porque eu adoro amendoim, e coloquei em um pote de Nescau que eu já tinha lavado, e eu enterrei em um lugar [...] eu enterrei na areia. Aí depois eu desenterrei e comi, porque eu não sou de paciência de esperar muito [...] às vezes, eu queria que ele existisse, sabe?! (A7, 13 anos).
Categoria 3 - Um por todos e todos por um: estratégias para alívio da insegurança alimentar
A IA presente nos domicílios provoca diferentes reações e sentimentos nos adolescentes. A partir desta perspectiva, tal categoria apresenta as diferentes estratégias desenvolvidas pelos adolescentes para lidar com a IA, com intuito de protegerem a si e também aos seus familiares: irmãos protegendo irmãos, filhos tentando proteger os pais. Nesta categoria são ainda discutidas as opiniões dos adolescentes sobre as ações que o Estado deveria realizar para garantir o direito à alimentação e amenizar a preocupação que sentem. A Figura 3 ilustra esta categoria e, novamente, as palavras mãe e comer aparecem em destaque. Esta categoria discute sobre as relações sociais e familiares. No discurso dos adolescentes, a mãe representa a figura que em alguns momentos é a única pessoa que trabalha para tentar garantir a segurança alimentar de toda a família; e também os adolescentes, reconhecendo seu esforço, mobilizam-se para tentar ajudá-la e reduzir a carga de trabalho. A palavra casa tem o sentido de família e representa a relação forte que os adolescentes têm com seus irmãos e mães.
Reduzir a quantidade de alimentos ingeridos, solicitar que os pais porcionem a comida no prato, comer repetidas vezes durante as refeições na escola, negar a fome que sentem, frequentar a casa de vizinhos e familiares em busca de refeições, pedir dinheiro para a rede de apoio familiar e realizar trabalhos informais são estratégias desenvolvidas pelos adolescentes para lidar com a IA, e podem ser ilustradas pelos seguintes relatos:
Ah, foi meio constrangedor comer muito às vezes na escola. Isso é constrangedor, ficar repetindo, comer 1, 2, 3, 4 vezes na escola. Isso aconteceu foi ano passado agora. Aí eu pensei, eu vou comer bastante pra deixar o que tem lá [na casa] pra eles, pra não faltar. Porque aqui são 6 com uma criança. (A8, 15 anos)
Ah é porque aqui em casa, minha mãe que trabalha, e agora o meu irmão também tá trabalhando. E como aqui em casa agora é sete, porque minha cunhada também tá morando com nóis, aí eu preocupo demais. Igual esses dias mesmo tava meio que faltando aqui, aí eu dei o meu jeitinho, e eu fui e comprei. (A6, 18 anos)
Cabe destacar o papel do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE): os relatos dos adolescentes participantes do presente estudo reforçaram a importância do PNAE para a garantia da SAN. Apesar de alguns adolescentes terem relatado a presença frequente de AUP no cardápio oferecido nas escolas, o PNAE assume posição fundamental para a garantia da segurança alimentar e para o enfrentamento da fome (AMORIM et al., 2020; PARIZOTTO; BREITENBACH, 2021).
Os dados da PeNSE (2019) apontam que 48,4% dos estudantes de escolas públicas referiram hábito de nunca ou raramente consumirem a alimentação oferecida na escola (IBGE, 2021). No estudo de Burris et al. (2020), os adolescentes percebem a alimentação escolar como negativa, e sentem que as escolas priorizam o dinheiro em vez da segurança alimentar dos alunos. Os adolescentes também reportam que o bullying e o estigma são razões comuns que os impendem de utilizar os programas de alimentação na escola ou em suas comunidades. Assim como os participantes do presente estudo, os adolescentes dos grupos focais conduzidos por Burris et al. (2020) reportam sentimento de desconforto, vergonha e receio de serem julgados ou ridicularizados.
A baixa adesão à alimentação escolar pode estar associada tanto a fatores relacionados à escola (presença de cantina e porte da escola), quanto a determinantes individuais (sexo feminino, consumo regular de refrigerantes, menor número de moradores no domicílio, irregularidade do hábito de realizar as refeições do almoço ou jantar com os responsáveis) (VALE et al., 2021). A presença de preparações mais leves e com características de “lanche”, a quebra de estigma em relação à refeição servida na escola, a confiança em relação à qualidade da alimentação servida e a própria participação de professores no mesmo ambiente de refeição dos alunos constituem aspectos capazes de influenciar positivamente a adesão à alimentação escolar (FREITAS et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2019).
Vigiar a dispensa de alimentos da casa também é uma prática comum e cotidiana relatada pelos adolescentes. Eles compreendem que o maior número de pessoas no domicílio representa um problema frente à escassez de recursos financeiros, e eles mesmo reduzem o número de preparações durante as refeições na tentativa de dividir o que tem e conseguir chegar ao fim do mês com alimentos disponíveis para todos.
[...] de manhã eu vigiava, e a tarde eu ia pra escola. Era uma coisa que regulava né, uma hora podia comer, uma hora não. Tinha uma hora certa de comer. (A8, 15 anos)
Sempre!! A minha vida inteira. A vida inteira [...] Vigio [a dispensa]! Olha lá [apontou mostrando para os alimentos que ficam embaixo da pia: um saco de café, sal, óleo, e um pouco de arroz] tá acabando. Amanhã nóis recebe o Bolsa Família e compra. Eu fico de olho. Tem que preocupar né. Porque se acabar... (A10, 18 anos)
A realização de trabalhos informais é tida como uma maneira de aliviar a carga dos pais e contribuir para o aumento de alimentos em casa, a despeito das consequências que pode trazer para a vida dos adolescentes, como o prejuízo para as atividades escolares. Os adolescentes, principalmente os mais velhos, que não conseguem trabalho demonstram um sentimento de incômodo e culpa por não poder contribuir financeiramente.
Gosto! Porque eu vejo quando ela [a mãe] tá muito cansada, aí as coisas que ela não consegue fazer.... igual lá no doutor, um dia eu tinha que ficar de joelho esfregando o chão lá. Aí fiquei pra ela, porque ela não tá aguentando mais né. (A9, 13 anos)
Ah foi, nossa eu não sei explicar. É uma dor que, é igual, esse dia que eu falei do meu pai, que eu pedi pra ele [pediu dinheiro para comprar comida], dá um aperto no coração né. Aí eu acho que não sei, eu fico apertada né, porque eu não trabalho, aí eu fico, nossa, tô devendo isso pra minha mãe. (A6,18 anos)
Um estudo qualitativo realizado na Flórida, com 38 adolescentes, discute o papel da comunidade, dos programas de verão, dos amigos e da igreja, enquanto espaços que os adolescentes buscam para aliviar a fome. São citadas, também, a procura de trabalhos informais e até mesmo a realização de atividades ilegais para conseguir dinheiro e ajudar suas famílias (BURRIS et al., 2020).
No que diz respeito ao cuidado com os familiares, os adolescentes reconhecem o peso da fome para os pais e, somada a intenção de proteger os irmãos desta situação, eles relatam que, por vezes, fingem estar satisfeitos. A própria estratégia de aumentar a quantidade de alimentos consumida na escola também tem esta intenção. Ressalta-se a figura materna nesse contexto tanto pelo zelo e cuidado dos adolescentes com suas mães, quanto pelo papel que elas desempenham nessas famílias. A adolescente A10, de 18 anos, relata que, quando percebe que a refeição preparada não será suficiente para alimentar a todos, acaba reduzindo a quantidade que ela consome.
Fiquei [com fome]. Mas a preocupação não é comigo não, é com eles [irmãos]. O importante é eles. [...] Eu e meus irmãos mais velho, sabe? Aí fica um jogando pro outro: ‘não, pode comer. Pode comer’. ‘Não, pode comer’. Fica um jogando pro outro pra poder comer. Muitas vezes acontece isso.
Eu tava pensando neles aqui. Tipo conseguir chegar em casa e ficar de boa, ou comer uma fruta só, não precisar da janta, deixar pra eles. (A8, 15 anos).
A compreensão de que o recurso do PBF promove a segurança alimentar das famílias é marcante nos discursos dos adolescentes. A percepção dos impactos que a IA pode provocar na vida dos indivíduos, seja a partir das próprias vivências ou pelo convívio com outras famílias, faz com que adolescentes sugiram que parte do recurso do programa deveria ser de uso exclusivo para alimentação. O principal destino do recurso do Bolsa Família é a alimentação.
Minhas amigas tudo que eu sei que recebe [PBF] tem o que comer. (A4, 13anos)
Acho que o principal é nessa questão [alimentação]. Leite também. [...] Ah, alimentar né! Porque também o número de mães solteiras, não, mães solteiras não, mães que cuidam dos filhos sozinhas, tem aumentado muito né. Então eu acho que é tipo, conseguir dar comida pro seu filho. (A5, 13 anos)
Ah eu acho que além do Bolsa Família deveria ter um cartão, assim, só pra fazer compra. Porque a gente sabe que o Bolsa Família, o que que o povo faz né: eles podem pagar conta igual nóis. Pode pagar conta e faltar comida... ou pode comprar comida e faltar o dinheiro para pagar as contas. Então eu acho que podia ter tipo meio que um abono né, tipo só pro alimento. (A6, 18 anos)
Apesar da melhora proporcionada na alimentação pelo PBF, os adolescentes pontuam que o recurso não é suficiente para aliviar suas preocupações com a falta de alimento nos domicílios e também não é capaz de promover uma alimentação adequada e saudável para toda a família. Nesse contexto, os adolescentes citam que a associação de outros benefícios e programas sociais, como a doação de cestas básicas ou acesso à alimentação saudável e de baixo custo, seria estratégia que aliviaria suas preocupações e promoveria a segurança alimentar das famílias. O cenário de desemprego e a percepção da desigualdade social também emergiram da fala dos adolescentes.
Eu acho que poderia ter nas cidades menores os programas igual tem lá em São Paulo, por exemplo, um vale comida por um real, sabe? Um prato de comida por um real. Eu acho que isso é uma coisa que poderia ajudar bastante, sabe. [...] poderia além do PBF, ter um vale compras para as famílias também. Porque tipo, as vezes o dinheiro do PBF é muito pouco pra uma família, e como a gente tá em crise no Brasil, e isso todo mundo sabe, é bem difícil de conseguir empregos e tal. Então além disso poderia ter um vale compras para a família se alimentar, porque o Bolsa Família pode não ser tão seguro, sabe. (A5,13 anos)
O PBF é reconhecido pelo papel importante que desempenhou no combate à pobreza e à fome no Brasil. O PBF é associado como fator de proteção para insegurança alimentar leve e moderada, em domicílios urbanos, e para todos os níveis de insegurança alimentar na área rural. A avaliação da associação da IA com o acesso a benefícios e programas governamentais tem demonstrado que apenas a participação no PBF e o acesso à Cesta de Alimentos ainda não são suficientes para proteção contra insegurança alimentar grave no meio urbano (PALMEIRA et al., 2022). Cabe destacar que a situação de desigualdade social e econômica que ainda é vivenciada pelas famílias participantes do PBF expõe o caráter fragmentado que é impresso nas políticas públicas brasileiras (ARRUDA; BITTENCOURT, 2020).
Categoria 4 - Estamos seguros?
Esta categoria apresenta a percepção das mães em relação a vivências dos adolescentes frente à IA. Nenhuma das mães entrevistadas considera que seus filhos realmente se preocupem com a possibilidade de o alimento faltar dentro de casa, ou julgam que, se existe algum tipo de preocupação, ela é pequena.
Embora cientes de algumas das atitudes dos adolescentes para lidar com a IA, as mães ponderam que evitam que a preocupação com a escassez de alimentos no domicílio chegue até seus filhos, se esforçam ao máximo para não faltar alimento em casa e, por isso, desacreditam que exista um receio importante da parte deles. A Figura 4, que ilustra esta categoria, traz as palavras casa, gente e tenho em destaque, representando esse empenho das mães para garantir a segurança alimentar dentro dos domicílios.
Ainda, na percepção das mães, a imaturidade e o fato de os adolescentes não terem vivido a mesma experiência de fome já vivenciada por elas podem justificar a ausência de preocupação com a restrição alimentar no domicílio. A dificuldade de diálogo foi evidenciada em algumas das famílias entrevistadas nesse estudo, especialmente quando o assunto é a fome.
É porque a gente nunca passamos isso pra eles. Entendeu? E assim, graças a Deus também nunca faltou nada. Então eles nunca tiveram que preocupar com esse tipo de coisa. Eu nunca cheguei pra eles e falei: “olha hoje a gente vai ter que comer menos porque amanhã ou depois vai faltar.” Não! Nunca aconteceu isso na nossa casa. (R1)
Ah eu acho que não [se preocupam]. Até porque quando falta qualquer coisa elas já vêm: “mãe a senhora tem dinheiro? Porque oh, tá precisando comprar isso”. Elas mesmo vigiam, então eu acho que elas nem preocupam muito com essa parte não. (R3)
Ao longo das entrevistas com as mães ficou evidente que a maior parte das estratégias desenvolvidas pelos adolescentes para lidar com a insegurança alimentar, discutidas na categoria 3, é desconhecida por elas. As falas a seguir, de uma mãe e seu filho, a respeito do papel da alimentação escolar em tempo de suspensão das aulas escolares, ilustram essa situação.
Não, porque os meus filhos não merendam na escola. Na minha casa, eu não sei dizer referente a isso [se a greve escolar afeta a alimentação dos filhos], mas na minha casa, os meus não merendam na escola. Não altera nada. (R4)
Como, como sim [alimentação na escola]. Como todo dia. Tem vez que é sopa, arroz e feijão, carne moída. [...] Ah, aí eu como menos aqui né [em tempos de greve], pra tentar ajudar mesmo assim. (A8, 15 anos)
No entanto, a realização de trabalhos informais por parte dos adolescentes é de conhecimento de suas mães, que consideram esta uma atitude importante para a garantia da segurança alimentar no domicílio, ainda que estejam cientes da ilegalidade da situação.
Nas férias os meus filhos fazem biquinho e me ajudam a comprar as coisas. Na roça, ajudante de servente. Paga um gás, paga uma água, compra cesta pra mim. [...] Eles são de menor, não pode né? Mas eles fazem uns biquinhos por aí, não tem problema. É melhor do que ficar na rua. Todo mundo ajuda, compra uma coisinha pra controlar e não faltar nada pra ninguém. (R6)
No Brasil, 1,8 milhão de crianças e adolescentes estavam em situação de trabalho infantil em 2019. A população negra é proporcionalmente mais afetada por esta condição, e 29% das crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos que realizam atividades econômicas residem em domicílios que recebem o benefício do PBF ou Benefício de Prestação Continuada (IBGE, 2020a). Situações de vulnerabilidade social e de insegurança alimentar podem contribuir para o aumento do trabalho infantil (FAO; WFP, 2021). Cabe destacar que famílias chefiadas por mulheres e com crianças em seus núcleos, como é o perfil das famílias do PBF, estão em maior risco para a IA. Segundo os resultados do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, no Brasil, a insegurança alimentar grave esteve presente em 19,3% dos domicílios chefiados por mulheres e em 25,7% dos domicílios com três ou mais moradores menores de 18 anos (REDE PENSSAN, 2022).
Um estudo qualitativo, que buscou explorar a experiência de 15 adolescentes que viviam em situação de IA, agrupou as estratégias para enfrentamento da IA em autoiniciadas e estratégias que foram desenvolvidas observando o comportamento dos pais (FATMANINGRUM et al., 2016). Ganhar dinheiro para comprar comida, reduzir o tamanho das porções e pular refeições foram estratégias elencadas como autoiniciadas, enquanto pedir comida aos vizinhos e vender produtos produzidos pelas famílias são estratégias iniciadas pelos pais e seguidas pelas adolescentes. Os autores discutem que, embora as mães reconheçam a situação de IA vivenciada pela família, elas desconhecem os sentimentos e a maioria das estratégias desenvolvidas pelas filhas. A dificuldade das mães em reportar a situação de IA vivenciada por seus filhos tem sido indicada e abordada por outros autores (FRAM et al., 2011; CAPARRÓS, 2016). Frutoso e Viana (2021) discutem sobre como a responsabilidade do combate à fome acaba incidindo sobre aqueles que a sentem, a despeito do cenário de desigualdade de acesso, produção e consumo de alimentos. Nesse sentido, falar sobre a fome que atinge os filhos pode significar para os pais, para além da responsabilidade, a admissão de impotência ou de fracasso.
Considerações finais e recomendações para políticas públicas
Os achados e reflexões do presente estudo refletem a realidade vivenciada pelos adolescentes que é anterior à pandemia de Covid-19. As reflexões feitas a partir dos dados coletados demonstram que os adolescentes são capazes de responder de forma autônoma sobre a insegurança alimentar e desenvolvem estratégias para mitigar essa situação dentro de seus domicílios, as quais, muitas vezes, são desconhecidas por seus responsáveis. A vivência da IA durante a infância intensifica a preocupação com a possibilidade de o alimento faltar dentro do domicílio.
A avaliação da insegurança alimentar a partir da percepção dos adolescentes é praticada em outros países, a exemplo dos Estados Unidos, dentro do contexto dos serviços de saúde e de desenvolvimento social, com o intuito de mitigar os riscos e as consequências dessa situação para a população. Nesse sentido, e considerando a piora da insegurança alimentar dos últimos anos, é importante que a situação de insegurança alimentar dos adolescentes seja avaliada e incorporada na rotina dos serviços de saúde, educação e/ou de desenvolvimento social, a partir de uma abordagem ampliada que considere, além dos indicadores de saúde, os determinantes ambientais, sociais e do comportamento individual que marcam essa fase do curso da vida.
As condicionalidades de saúde do Programa Bolsa Família são acompanhadas no âmbito da Atenção Primária à Saúde, podendo esse ser um espaço estratégico para realização da avaliação da situação de segurança alimentar dos adolescentes, enquanto ações de cuidado para os adolescentes participantes do PBF.
Considerando as desigualdades de acesso à rede de saúde e o fato de que o PBF não contempla todos os adolescentes em situação de vulnerabilidade social do país, a avaliação da IA poderia ainda ser realizada em todas as oportunidades de contato com essa população, como o ambiente escolar e os serviços de assistência social, podendo também ser incluída nos inquéritos nacionais. Cabe reforçar que essa avaliação deve ser direcionada aos adolescentes, os quais possuem condições de relatar suas próprias experiências.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo apoio e financiamento, e a todas as famílias, em especial aos adolescentes voluntários deste estudo.
Referências
- AMORIM, A. L. B.; RIBEIRO, J. R. S.; BANDONI, D. H. Programa Nacional de Alimentação Escolar: estratégias para enfrentar a insegurança alimentar durante e após a COVID-19. Revista de Administração Pública, v. 54, n. 4, p. 1134-1145, 2020.
- ARRUDA, P.; BITTENCOURT, Z. Desafios e possibilidades do Programa Bolsa Família: houve mudanças nas condições de vida de seus beneficiários? Serviço Social em Revista, v. 22, n. 2, p. 385-407, 2020.
- BAER, T. E.; SCHERER, E. A.; RICHMOND, T. K.; FLEEGLER, E. W.; HASSAN, A. Food insecurity, weight status, and perceived nutritional and exercise barriers in an urban youth population. Clinical Pediatrics, v. 57, n. 2, p. 152-160, 2017.
- BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2010.
- BERNAL, J.; FRONGILLO, E. A.; HERRERA, H. A.; RIVERA, J. A. Children live, feel, and respond to experiences of food insecurity that compromise their development and weight status in peri-urban Venezuela. The Journal of Nutrition, v. 142, p. 1343-1349, 2012.
- BEZERRA, M. S.; OLINDA, R. A.; PEDRAZA, D. F. Insegurança alimentar e nutricional no Brasil e sua correlação com indicadores de vulnerabilidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 10, p. 3833-3846, 2020.
-
BRASIL. Ministério da Cidadania. Relatórios de informações sociais. Cadastro Único/Bolsa Família. Brasília, 2020. Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/bolsafamilia/relatorio-completo.html.
» https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/bolsafamilia/relatorio-completo.html. - BURITY, V.; FRANCESCHINI, T.; VALENTE, F. Direito humano à alimentação adequada no contexto da segurança alimentar e nutricional. Brasília, DF: ABRANDH, 2010.
- BURRIS, M.; BRADLEY, S.; RYKIEL, K.; HIMMELGREEN, D. Teen food insecurity: finding solutions through the voices of teens. Human Organization, v. 79, n. 1, p. 13-23, 2020.
- CAPARRÓS, M. A fome. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2016.
- COELHO, S. E. A. C.; VIANNA, R. P. T.; SEGALL-CORREA, A. M.; PEREZ-ESCAMILLA, R.; GUBERT, M. B. Household food insecurity in Brasilian adolescents: a validation study. Revista de Nutrição, v. 28, n. 4, p. 385-395, 2015.
- DUSH, J. L. Adolescent food insecurity: a review of contextual and behavioral factors. Public Health Nurs, v. 37, p. 327-338, 2020.
- FATMANINGRUM, D.; ROSHITA, A.; FEBRUHARTANTY, J. Coping strategies for food insecurity among adolescent girls during the lean season in East Nusa Tenggara, Indonesia: a qualitative study. The British Journal of Nutrition, v. 116, (suppl. 1), p. 42-48, 2016.
- FÉLIX-BELTRÁN, L.; SEIXAS, B. V. Childhood hunger experiences and chronic health conditions later in life among Brazilian older adults. Revista Panamericana de Salud Publica, v.45, e39, 2021.
-
FAO - Food and Agriculture Organization; WFP - World Food Program. Food security, nutrition, and ending child labour in agriculture for recovery and resilience. 2021. Disponível em: https://www.fao.org/3/cb5187en/cb5187en.pdf Acesso em: 5 jul. 2022.
» https://www.fao.org/3/cb5187en/cb5187en.pdf - FRAM, M. S.; FRONGILLO, E. A.; JONES, S. J.; WILLIAMS, R. C.; BURKE, M. P.; DELOACH, K. P.; BLAKE, C. E. Children are aware of food insecurity and take responsibility for managing food resources. Journal of Nutrution, v. 141, p. 1114-9, 2011.
- FRAM, M. S.; FRONGILLO, E. A.; JONES, S. J.; WILLIAMS, R. C.; BURKE, M. P.; DELOACH, K. P.; BLAKE, C. E. Development and validation of a child report assessment of child food insecurity and comparison to parent report assessment. Journal Hunger Envir Nutrition, v. 8, n. 1, p. 128-145, 2013.
- FREITAS, M. C. S.; MINAYO, M. C. S.; RAMOS, L. B.; SANTOS, L. A.; SOUZA, E. C.; SANTOS, A. C.; MOTA, S. E.; PAIVA, J. B.; BERNARDELLI, T. M.; DEMÉTRIO, F.; MENEZES, I. Escola: lugar de estudar e de comer. Ciência e Saúde Coletiva, v. 18, n. 4, p. 979-985, 2013.
- FRUTUOSO, M. F. P.; VIANA, C. V. A. Quem inventou a fome são os que comem: da invisibilidade à enunciação - uma discussão necessária em tempos de pandemia. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 25, e200256, 2021.
- HATEM, C.; LEE, C. Y.; ZHAO, X.; REESOR-OYER, L.; LOPEZ, T.; HERNANDEZ, D. C. Food insecurity and housing instability during early childhood as predictors of adolescent mental health. Journal of Family Psychology, v. 34, n. 6, p. 721-730, 2020.
- IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: primeiros resultados. Rio de Janeiro: Coordenação de Trabalho e Rendimento, 2019.
- IBGE - Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: trabalho de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade 2016-2019. Rio de Janeiro: Coordenação de Trabalho e Rendimento, 2020a.
- IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Fmiliares 2017-2018: análise da segurança alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: Coordenação de Trabalho e Rendimento, 2020b.
- IBGE - Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar: 2019. Rio de Janeiro: Coordenação de População e Indicadores Sociais, 2021.
-
IBGE - Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades. [internet] 2023. Acesso em: 20 jan. 2023. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/lavras/panorama.
» https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/lavras/panorama. - MINAYO, M. C. S. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 5, n. 7, p. 1-12, 2017.
- MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2014.
- MORAIS, D. C.; LOPES, S. O.; PRIORE, S. E. Indicadores de avaliação da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados: revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 7, p. 2687-2700, 2020.
- OLIVEIRA, S. E.; SANTOS, L. A.; DANTAS, S. M. Interações entre práticas alimentares e identidades: ressignificando a escola pública e a alimentação escolar. Cadernos de Saúde Pública, v. 35, n. 11, e00217918, 2019.
- OSMANI, S. R. Measuring hunger and malnutrition. Discussant report. In: INTERNATIONAL SCIENTIFIC SYMPOSIUM ON MEASUREMENT AND ASSESSMENT OF FOOD DEPRIVATION AND UNDERNUTRITION. Proceedings […]. Rome, 2002.
- PALMEIRA, P. A.; BEM-LIGNANI, J.; SALLES-COSTA, R. Acesso aos benefícios e programas governamentais e insegurança alimentar nas áreas rurais e urbanas do Nordeste brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 7, p. 2583-2595, 2022.
- PARIZOTTO, J.; BREITENBACH, R. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e os hábitos alimentares: o que revela a produção científica da última década? Agricultura Familiar: Pesquisa, Formação e Desenvolvimento, v. 15, n. 1, p. 35-56, 2021.
-
PENSSAN - Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. II VIGISAN - Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert; Rede PENSSAN, 2022. Disponível em: https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf Acesso em: 01 ago. 2022.
» https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf - PÉREZ-ESCAMILLA, R.; SEGALL-CORRÊA, A. M.; MARANHA, L. K.; SAMPAIO, M. F. A.; MARÍN-LEÓN, L.; PANIGASSI, G. An adapted version of the U.S. Department of Agriculture Food Insecurity Module is a valid tool for assessing household food insecurity in Campinas, Brazil. Journal of Nutrition, v. 134, p. 1923-8, 2004.
-
PESSANHA, L.; VANNIER-SANTOS, C.; MITCHELL, V. Indicadores para avaliar a segurança alimentar e nutricional e a garantia do direito humano à alimentação: metodologias e fontes de dados. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 16. Anais [...]. Caxambu, MG: Abep, 2008. Disponível em: http://www.abep.org.br/~abeporgb/publicacoes/index.php/anais/article/viewFile/1753/1713.
» http://www.abep.org.br/~abeporgb/publicacoes/index.php/anais/article/viewFile/1753/1713. - QSR INTERNATIONAL. NVivo 12 Plus for Windows. 2020.
- ROCHA, N. P.; MILAGRES, L. C.; NOVAES, J. F.; FRANCESCHINO, S. C. C. Associação de insegurança alimentar e nutricional e fatores de risco cardiometabólicos na infância e na adolescência: uma revisão sistemática. Revista Paulista de Pediatria, v. 34, n. 2, p. 225-33, 2016.
- SABÓIA, R. C. B.; SANTOS, M. M. Determinants of food security of families in scenarios of the family health strategy in Teresina. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 9, n. 3, p. 121-129, 2016.
- SEGALL-CORRÊA, A.M.; MARIN-LEÓN, L.; MELGAR-QUIÑONEZ, H.; PÉREZ-ESCAMILLA, R. Refinement of the Brazilian household food insecurity measurement scale: recommendation for a 14-item EBIA. Revista de Nutrição, v. 27, n. 2, p. 241-251, 2014.
- SILVA, M. O. S. O Bolsa Família: verso reverso. Campinas: Papel Social, 2016.
- SPERANDIO, N.; RODRIGUES, C. T.; FRANCESCHINI, S. C. C.; PRIORE, S. E. The impact of the Bolsa Família Program on food consumption: a comparative study of the southeast and northeast regions of Brazil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 6, p. 1771-1780, 2017.
- TAMIRU, D.; BELACHEW, T. The association of food insecurity and school absenteeism: systematic review. Agriculture & Food Security, v. 6, n. 5, p. 1-4, 2017.
- VALE, D.; LYRA, C. O.; SANTOS, T. T.; SOUZA, C. V. S.; RONCALLI, A. G. Adesão à alimentação escolar por adolescentes brasileiros: determinantes individuais e do contexto escolar. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, n. 2, p. 637-650, 2021.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
11 Ago 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
05 Dez 2022 -
Aceito
20 Maio 2023