Resumos
O ácaro-da-erinose-da-lichia, Aceria litchii (Keifer), é relatado pela primeira vez no Brasil, na região central do Estado de São Paulo, causando dano severo a folhas e frutos jovens. Esta espécie era citada como praga quarentenária A1 para o Brasil.
Litchi chinensis; praga quarentenária; ácaro-da-erinose-da-lichia
The litchi erinose mite, Aceria litchii, is reported for the first time in Brazil in the central region of the State of São Paulo, causing severe damage to newly developed leaves and fruits. This species was listed as an A1 quarantine pest in Brazil.
Litchi chinensis; quarantine pest; litchi erinose mite
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
DEFESA FITOSSANITÁRIA
Primeiro relato de Aceria litchii (Keifer) (prostigmata: eriophyidae) em plantas de lichia no Brasil1
First report of Aceria litchii (Keifer) (prostigmata: eriophyidae) on litchi trees in Brazil
Adalton RagaI; Jeferson Luiz de Carvalho MineiroII; Mário Eidi SatoIII; Gilberto José de MoraesIV; Carlos Holger Wenzel FlechtmannV
IEngº Agrº, Pesquisador Científico, Doutor, Instituto Biológico, Pesquisador do CNPq, Campinas, SP, adalton@biologico.sp.gov.br
IIBiólogo, Doutor, Instituto Biológico, Campinas, SP, jmineiro@biologico.sp.gov.br
IIIEngº Agrº, Pesquisador Científico, Doutor, Instituto Biológico, Pesquisador do CNPq, Campinas, SP, mesato@biologico.sp.gov.br
IVEngºAgrº, Professor Associado, Universidade de São Paulo, ESALQ, Pesquisador do CNPq, Piracicaba - SP, gjmoraes@esalq.usp.br
VEngºAgrº, Professor Aposentado, Universidade de São Paulo, ESALQ, Pesquisador do CNPq, Piracicaba - SP, chwflech@esalq.usp.br
RESUMO
O ácaro-da-erinose-da-lichia, Aceria litchii (Keifer), é relatado pela primeira vez no Brasil, na região central do Estado de São Paulo, causando dano severo a folhas e frutos jovens. Esta espécie era citada como praga quarentenária A1 para o Brasil.
Termos para indexação:Litchi chinensis, praga quarentenária, ácaro-da-erinose-da-lichia
ABSTRACT
The litchi erinose mite, Aceria litchii, is reported for the first time in Brazil in the central region of the State of São Paulo, causing severe damage to newly developed leaves and fruits. This species was listed as an A1 quarantine pest in Brazil.
Index terms:Litchi chinensis, quarantine pest, litchi erinose mite
A lichieira, Litchi chinensis Sonn. (Sapindaceae), é oriunda da China meridional, onde é cultivada há 40 séculos, sendo hoje extensivamente cultivada no sudoeste asiático (GOMES, 1975; MARTINS et al., 2001). A cultura da lichia vem despertando crescente interesse no Brasil, devido ao aumento da demanda no mercado varejista e ao valor no mercado internacional. Até o início deste século, a lichieira era cultivada em cerca de 350 ha no Estado de São Paulo (MARTINS et al., 2001). Aceria litchii (Keifer) (Eriophyidae), conhecido como ácaro-da-erinose-da-lichia, é uma das principais pragas da cultura de lichia na Austrália, China, Havaí, Índia, Pasquistão e Taiwan (JEPPSON et al., 1975; SABELIS; BRUIN, 1996; WAITE; HWANG, 2002; HUANG, 2008). Este ácaro infesta brotações, provocando deformações nas folhas e erinose na página inferior (JEPPSON et al., 1975), além de inflorescências e frutos (MARTINS et al., 2001), provocando perda na produção (ALAM; WADUD, 1963). Waite e Hwang (2002) afirmam que A. litchii pode transmitir uma alga, indutora da erinose, com a qual estabelece uma relação simbiótica. Segundo Alam e Wadud (1963), os estômatos da planta ficam bloqueados pela erinose, prejudicando o processo de fotossíntese, além de provocar queda de folhas e frutos.
As fêmeas de A. litchii ovipositam na superfície inferior da folhas, no interior do eríneo, provocado por sua alimentação. Os ovos medem 0,032 mm de diâmetro, têm formato esférico e são colocados isoladamente e, translúcido. Cerca de 13 dias após a oviposição, emergem os adultos, medindo cerca de 0,13 mm de comprimento. No Paquistão, vivem cerca de oito meses na forma ativa e quatro meses em condições de dormência (ALAM; WADUD, 1963). O ácaro-da-erinose também infesta plantas de Dimocarpus longan (HUANG, 2008), também uma Sapindaceae.
De acordo com Waite (1999), além da disseminação espontânea, espécimes de A. litchii ficam aderidos ao corpo das abelhas, quando estas visitam as inflorescências, sendo esses ácaros transportados e disseminados para outras plantas do mesmo pomar.
No Brasil, A. litchii foi listada em 2007, como praga quarentenária A1, de acordo com a Instrução Normativa 52 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2007). Em um levantamento de ácaros em plantas de lichia, realizado em anos anteriores no Estado de São Paulo, não foi constatada a presença do ácaro-da-erinose (MINEIRO; RAGA, 2003). Nos meses de julho e agosto de 2007, foram observados sintomas severos do ataque de A. litchii em plantas de lichia nos municípios paulistas de Tambaú e Casa Branca, contudo não foi capturado nenhum ácaro dessa espécie. Em fevereiro de 2009, sintomas severos provocados pelo ácaro-da-erinose foram observados pelos autores em pomar de lichia, no município de Mogi-Guaçu (SP), sem a obtenção de ácaro nas amostras coletadas. Em abril de 2008, no município de Limeira, em pomar comercial da variedade Bengal, com 13 anos de idade, foi detectada a presença de A. litchii em folhas, cujos sintomas de erinose foram inicialmente observados pelo proprietário em janeiro do mesmo ano. Nessa ocasião, as 3.000 plantas do referido pomar apresentavam folhas novas e desenvolvidas com algum grau de sintoma de A. litchii, sendo que parte das plantas com nível severo de ataque. Trata-se do primeiro registro de A. litchii em lichieiras no Brasil.
Tendo em vista que o controle de E. litchii exige medidas de alto custo financeiro, como poda das plantas e pulverização de acaricidas, é necessária uma rigorosa vistoria de mudas em viveiros, para evitar a disseminação da praga para novas áreas de produção. Tais medidas de controle e prevenção da disseminação do ácaro-da-erinose são fundamentais para evitar a dispersão e o estabelecimento da praga, visto que, segundo Waite (1999), todas as cultivares de lichia são suscetíveis ao ácaro-da-erinose na Austrália.
Recebido em: 07-04-2009.
Aceito para publicaçaõ em: 25-09-2009.
Referências bibliográficas
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
21 Maio 2010 -
Data do Fascículo
Jun 2010
Histórico
-
Recebido
07 Abr 2009 -
Aceito
25 Set 2009