EDITORIAL
Temos acompanhado praticamente o nascimento da Pós-Graduação em Ciências Agrárias no Estado de São Paulo, onde a vimos nascer na Esalq-USP (1965). Tivemos o privilégio de participar da criação na Unesp Jaboticabal (1975), bem como acompanhar o desenvolvimento em outros locais,como:Unesp Botucatu (1980), Unesp de Ilha Solteira (1994).
Esses dados fazem-nos ser mais otimistas de um lado, e um pouco pessimistas na outra ponta , quanto ao desenvolvimento brasileiro. Se considerarmos como se dá a produção dos conhecimentos científicos, inegavelmente através das pesquisas , e como ocorre sua difusão no Brasil, veremos que a pesquisa é fruto de um tripé, representado pela existência de orientadores qualificados, de mão-de-obra especializada para a execução e condução dos experimentos, e recursos suficientes destinados a esse fim.
Orientadores
Um dos pilares de bons projetos, inegavelmente , é a existência de bons orientadores, que foram mais estimulados na área de agrárias, com a criação das Universidades, que passaram a representar um fator positivo nessa formação. No Brasil , comparativamente a padrões internacionais, ainda somos muito jovens, senão vejamos: USP (1934), UFRRJ (1965), UNICAMP (1966), UFV (1969), UNESP (1976), dentre outras.
Vale destacar a criação de bons institutos de pesquisas, alguns já centenários , e empresas criadas para esse fim, podendo mencionar: IAC (1887),INCAPER (1958), EMBRAPA (1973), EPAMIG (1974).
MAO-DE- OBRA QUALIFICADA
Inegavelmente , a pós-graduação veio criar uma importante oferta quantitativa e qualitativa de mão-de-obra, chegando alguns pesquisadores a dizer "o estudante de pós- graduação é um escravo do sistema". Imaginemos o custo que representaria se toda a pesquisa fosse realizada com mão-de-obra contratada.
Sendo esse o grande diferencial norte-americano, para onde vão centenas de milhares de estudantes , anualmente, na maioria financiados pelos respectivos países de origem , sem vínculos trabalhistas, para desenvolverem seus projetos.
RECURSOS
Complementando esse tripé para o desenvolvimento de um bom projeto, desaguamos na existência de recursos, onde ainda somos muito embrionários comparativamente a padrões internacionais.Vejamos , por exemplo,que em São Paulo, a FAPESP, que segundo inúmeras opiniões é um bom modelo, teve o seu nascedouro em 1962, e que serviu de norte para a criação de fundações em outros Estados, como a FAPERJ( 1980) FAPEMIG(1985), FAPESB(2001), que vieram alocar recursos à pesquisa , independentemente de mudanças políticas que o Estado venha a sofrer.
Destaca-se , no plano nacional , a criação do CNPq (1951).
Uma vez gerada a informação científica , vamos debruçar-nos para ver , como é feita a difusão de informações técnicas.
Na tentativa de procurar motivar a discussão entre os diferentes segmentos da comunidade científica, passaremos a comentar alguns pontos desse questionamento, para que esse 'gap' seja minorado.
1) Um pesquisador precisa publicar suas informações em boas revistas?
É evidente que a resposta é altamente afirmativa, pois, desta forma ,estará construindo a base para nos aprofundarmos em um determinado assunto. Deve, portanto, o pesquisador selecionar boas revistas, com seleto corpo editorial, dentro da área objeto da pesquisa, para a ela encaminhar o fruto de seu árduo trabalho.
2) Só isso é suficiente para atingir a outra ponta, ou seja, aos que tenham interesse nesses resultados?
É claro que a resposta a essa questão é enfaticamente negativa. No caso específico das ciências agrárias, um trabalho publicado em uma boa revista, em muitos casos, não atinge o produtor, diretamente interessado nesses resultados.
3) Nas avaliações praticadas atualmente, leva-se em consideração o número de trabalhos?
A resposta é , infelizmente , negativa pois temos vivenciado, como Editor da RBF, ao longo desses quase 10 anos, o parcelamento de trabalhos que poderiam ser condensados em apenas um; a mesma postura é observada nos conselhos dos programas de pós-graduação, que estimulam os alunos a discutirem suas teses em capítulos, antevendo-se que cada um deles se transformará em um trabalho publicado, o que nem sempre acontecerá.
4) Existe pressão para publicar em inglês?
As revistas, de modo geral, têm sofrido "pressões" para publicar seus artigos na língua inglesa, para com isso procurar melhorar o impacto internacional.É evidente que a discussão de um assunto de ordem geral, como pesquisas na área médica, sendo publicada em inglês, facilitaria a discussão do tema a nível internacional; em certas áreas, porém, como a fruticultura, a quem interessaria publicar em inglês um trabalho, por exemplo, sobre o florescimento da jabuticabeira ? O que , por outro lado, traria maiores dificuldades na difusão dessas informações aos nossos técnicos.
5) Como o pesquisador se insere no contexto?
Como Editor da Revista Brasileira de Fruticultura, desde 1998, publicando em cada número de 40-50 trabalhos científicos, trimestralmente, temos convidado os pesquisadores para escreverem, também, seus trabalhos em uma forma mais jornalística para divulgação, tendo recebido , em média, cerca de 10% de retorno a essas indagações, sendo que algumas respostas são preocupantes:
1) "Professor, não vou escrever desta forma, porque não sei!"."
2)"Professor, não vou escrever, porque a Universidade não valoriza esse tipo de publicação." O que , infelizmente , é uma dura verdade.
6) O universo de informações, paradas nas escrivaninhas e bibliotecas!
Realmente é impressionante o volume de informações "paradas" nas escrivaninhas dos pesquisadores, dos conselhos de pós-graduações, arquivadas nas bibliotecas, nos institutos de pesquisas, etc.
Realmente, se conseguirmos transformar tudo o que existe hoje em uma linguagem mais palatável aos produtores, inegavelmente o Brasil estaria dando um enorme salto qualitativo.
Por exemplo: todo exame de qualificação, de mestrado e de doutorado nas Universidades de Agrárias, poderia gerar informações úteis aos produtores, No caso da Unesp de Jaboticabal, os trabalhos de graduação (aproximadamente 90 a cada ano), inserem-se neste contexto.
A aglutinação das Universidades, Institutos de Pesquisa , etc., nessa força-tarefa, trará resultados espetaculares. Um exemplo nessa área, poderemos auferir que ,se a tabulação de todos os dados de fertilidade do solo, realizada por faculdades, institutos, estações experimentais, cooperativas, laboratórios particulares, fossem aglutinados, trabalhados por uma equipe de especialistas, teríamos um maravilhoso mapeamento da fertilidade dos solos brasileiros, de uma maneira muito mais abrangente.
7) Entrevistas com produtores
Um bom produtor, para alcançar altos índices técnicos, tem inegavelmente por trás, como alicerce do seu sucesso, aquilo que a pesquisa proporcionou. Assim, ao utilizá-los em entrevistas bem elaboradas, estaremos encurtando caminho para que uma determinada informação chegue a seu destino final com baixo custo, evitando-se as barreiras existentes se a transmissão for feita direta do pesquisador ao produtor.
8) Novas formas de difusão de informações
Com o avanço dos meios de comunicação, temos de fazer a informação andar, ou seja, chegar ao produtor em uma forma mais barata, como "chats" técnicos, discussões "on line" e teleconferências , etc. Vale destacar o grande avanço que o SciELO (1997) proporcionou na aglutinação de trabalhos de um grande número de revistas indexadas, cujos trabalhos estão on line e de livre acesso aos internautas, sendo a Revista Brasileira de Fruticultura uma delas , com bom índice de visitação, no crescente movimento global para com o'Open Access'
Seria interessante que as Universidades, Institutos de Pesquisa,etc estimulassem os autores para que , ao encaminharem seus trabalhos a boas revistas, também fizessem um informe jornalísticos para divulgação nos canais escritos e eletrônicos.
Ficam aqui, realçados ,alguns pontos que julgo importantes para melhorarmos a difusão de informações técnicas, principalmente na área de ciências agrárias e, em particular , na fruticultura no Brasil.
Vale a Pena Sonhar. . . .
Carlos Ruggiero
Editor RBF
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
06 Maio 2008 -
Data do Fascículo
Mar 2008