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Resposta ao artigo: Prevalência e fatores associados à fragilidade em idosos usuários da Estratégia Saúde da Família

Para Renato Peixoto Veras

Editor da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Tubarão, 21 de maio de 2019.

Prezado Editor,

Esta carta foi escrita com o fito de tecer algumas considerações sobre o artigo Prevalência e fatores associados à fragilidade em idosos usuários da Estratégia Saúde da Família, publicado nas páginas 704-714, do volume 21, n.6, da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

O presente estudo evidenciou uma diversidade de fatores relacionados à fragilidade em diferentes aspectos, tanto do cotidiano como do próprio processo fisiológico do envelhecimento, visto que tais fatores podem influenciar na autonomia e qualidade de vida do idoso.

A idade avançada vem sendo o principal fator de risco para o desenvolvimento de certas comorbidades sistêmicas. Esse fator deve ser acompanhado com maior rigor, visando à redução de hospitalizações e mortalidades, haja vista a população brasileira ter aumentado significativamente no grupo etário acima dos 60 anos entre as décadas de 1940-2000, sendo estimado um crescimento de 917% até a década de 202511 RAMOS, Luiz Roberto; VERAS, Renato P. and KALACHE, Alexandre.Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Rev. Saúde Pública [online]. 1987, vol.21, n.3, pp.211-224. ISSN 0034-8910. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89101987000300006.
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.

Neste estudo, foram identificadas como principais variáveis associadas à fragilidade: ser divorciado, separado, viúvo ou solteiro; apresentar sintomas de depressão; dependência em atividades da vida diária; estar em risco nutricional e apresentar comorbidades.

A prevalência de fragilidade foi de 65,25%, considera-se um índice bem elevado, comparado a outras pesquisas que apontam como resultados uma baixa prevalência de fragilidade na mesma população estudada (idosos acima de 60 anos)2 .

Outro ponto importante a considerar com relação ao índice elevado de fragilidade observado é a aplicação do instrumento Tilburg Frailty Indicator (TFI). Esse método foi utilizado por englobar as três esferas que compõem essa síndrome - o estado físico, o psicológico e o social33 Santiago LM, Luz LL, Mattos IE, Gobbens RJJ. Adaptação transcultural do instrumento Tilburg FrailtyIndicator (TFI) para a população brasileira. Cad. Saúde Pública, 2012; 28(9):1795-801. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2012000900018
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159...
. Por outro lado, é importante considerar alguns estudos que utilizaram outros métodos que também englobam essas três esferas da síndrome como, por exemplo, a Escala de Fragilidade de Edmonton, mas que não apresentaram índices de fragilidade tão elevados4 .

Na perspectiva do TFI, observa-se que distintos fatores têm sido utilizados com o escopo de melhorar a precisão na identificação da fragilidade, tendo base no olhar clínico, na avaliação geriátrica e no acúmulo dos deficit55 Tribess S, Oliveira RJ. Síndrome da fragilidade biológica em idosos: revisão sistemática. RevSalud Pública [Internet]. 2011 [acesso em 28 Abr. 2019];13(5):853-64. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/rsap/2011.v13n5/853-864/
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. Portanto, entre esses instrumentos, o TFI parece ser o mais apropriado ao conceito atual da fragilidade66 Santiago LM, Luz LL, Mattos IE, Gobbens RJ, van Assen MA. Psychometric properties of the Brazilian version of the Tilburg frailty indicator (TFI). Arch Gerontol Geriatrics, 2013;57(1):39-45. Doi: 10.1016/j.archger.2013.03.001.
https://doi.org/10.1016/j.archger.2013.0...
,77 Gobbens RJJ, van Assen MALM. Frailty and its prediction of disability and health care utilization: the added value of interviews and physical measures following a self-report questionnaire. Arch Gerontol Geriatr, 2012 ;55(2):369-79. DOI: 10.1016/j.archger.2012.04.008.
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, sendo assim, considera-se esse o método mais adequado na identificação da fragilidade na sociedade brasileira.

Ademais, o artigo em questão demonstra que as outras variáveis independentes relacionadas à síndrome da fragilidade, tais como: sexo feminino; ter mais de 80 anos de idade; ser analfabeto; ser solteiro ou desacompanhado; ter outras morbidades relacionadas (depressão) estão em consonância com outros estudos recentes88 Pegorari, M., & Tavares, D. (2014). Fatores associados à síndrome de fragilidade em idosos residentes em área urbana. Revista Latino-Americana De Enfermagem, 22(5), 874-882. https://doi.org/10.1590/0104-1169.0213.2493
https://doi.org/10.1590/0104-1169.0213.2...
.

Com base nos resultados apontados no artigo em referência, concorda-se com os autores quando concluem que a temática apresentada contribuirá para o desenvolvimento da prevenção de adversidades à população idosa, sendo esta preponderante na diminuição das taxas de hospitalização e mortalidade.

Atenciosamente,

REFERENCES

  • 1
    RAMOS, Luiz Roberto; VERAS, Renato P. and KALACHE, Alexandre.Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Rev. Saúde Pública [online]. 1987, vol.21, n.3, pp.211-224. ISSN 0034-8910. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89101987000300006
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  • 2
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    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0633
  • 3
    Santiago LM, Luz LL, Mattos IE, Gobbens RJJ. Adaptação transcultural do instrumento Tilburg FrailtyIndicator (TFI) para a população brasileira. Cad. Saúde Pública, 2012; 28(9):1795-801. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2012000900018
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  • 4
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  • 5
    Tribess S, Oliveira RJ. Síndrome da fragilidade biológica em idosos: revisão sistemática. RevSalud Pública [Internet]. 2011 [acesso em 28 Abr. 2019];13(5):853-64. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/rsap/2011.v13n5/853-864/
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  • 6
    Santiago LM, Luz LL, Mattos IE, Gobbens RJ, van Assen MA. Psychometric properties of the Brazilian version of the Tilburg frailty indicator (TFI). Arch Gerontol Geriatrics, 2013;57(1):39-45. Doi: 10.1016/j.archger.2013.03.001.
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  • 7
    Gobbens RJJ, van Assen MALM. Frailty and its prediction of disability and health care utilization: the added value of interviews and physical measures following a self-report questionnaire. Arch Gerontol Geriatr, 2012 ;55(2):369-79. DOI: 10.1016/j.archger.2012.04.008.
    » https://doi.org/10.1016/j.archger.2012.04.008
  • 8
    Pegorari, M., & Tavares, D. (2014). Fatores associados à síndrome de fragilidade em idosos residentes em área urbana. Revista Latino-Americana De Enfermagem, 22(5), 874-882. https://doi.org/10.1590/0104-1169.0213.2493
    » https://doi.org/10.1590/0104-1169.0213.2493

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    2019
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