RESUMO
A literatura infantil brasileira tem sido um campo de poder disputado por diferentes projetos político-ideológicos desde o seu surgimento. Neste artigo, visamos evidenciar que, independentemente das variadas inclinações políticas de seus proponentes, a correspondência entre a “infância brasileira” e o fenótipo europeu foi hegemônica na produção dirigida aos futuros cidadãos. Paralelamente, o apagamento da diversidade populacional, por meio do embranquecimento da população de origem africana e da associação dos povos originários à selvageria - dentre outros artifícios textuais -, contribuiu para naturalizar a imagem de brasileiros e brasileiras como brancos. Malgrado a pouca atenção que a historiografia costuma dedicar à literatura infantil, o argumento apresentado aponta para o papel que as práticas de edição e mediação dessas leituras assume na manutenção do racismo estrutural, negando os mais fundamentais direitos e cidadania a considerável parte da população infantil e juvenil do Brasil.
Palavras-chave:
literatura infantil brasileira; infância nacional; racismo estrutural; cidadania; literatura cívica